quarta-feira, 30 de junho de 2010

QUAL TRASEIRO CHUTAR NA SUA EMPRESA?

Por Floriano Serra


            Nos Estados Unidos, o leite já foi derramado - ou melhor, o petróleo.
Até o momento em que escrevo este artigo (junho de 2010) ainda não foi encontrada uma maneira de impedir o vazamento de óleo iniciado em abril e a catástrofe continua no Golfo do México, provocando o maior desastre ambiental da história daquele país.  Muitos meses (talvez anos) se passarão antes do mundo se refazer dos prejuízos e eliminar as seqüelas para o meio ambiente e os seres humanos - a exceção das vidas perdidas. A respeito dos culpados, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em entrevista à NBC, disse recentemente que está tentando descobrir “o traseiro de quem vai chutar...”
O que essa introdução tem a ver com o mundo corporativo? Tudo, se usarmos o poder da analogia.
Em grande parte das empresas há “petróleo” vazando todos os dias: gastos descontrolados ou desnecessários, cronogramas atrasados, contas não pagas ou não recebidas, turn-over altíssimo, elevado número de faltas, atrasos, licenças e saídas antecipadas de pessoal, conflitos por disputas de poder, reuniões longas e inúteis, perda de participação da empresa no mercado, falta de sintonia entre produção e vendas (há demanda, mas não há produtos ou há produtos estocados que não conseguem ser vendidos), devolução de produtos, diminuição crescente dos lucros, prejuízos acumulados – são os mais relevantes. E que, tal qual o outro, se não forem rápida e corretamente corrigidos, provocarão prejuízos inestimáveis e deixarão seqüelas por muito tempo.
O vazamento do óleo no oceano é um problema visível, o que nem sempre acontece com os “vazamentos” corporativos. E como estes podem ser evitados ou descobertos antes que se tornem um problema?
Esses acontecimentos – incluindo a explosão da plataforma, bem como os sucessivos recalls da indústria automobilística – me fazem pensar: cadê o Controle de Qualidade? Cadê os Selos de Garantia? Cadê as Boas Normas de Fabricação? Cadê o acompanhamento das supervisões (com check-lists, follow-ups e outros instrumentos que permitem a checagem do correto cumprimento das etapas do trabalho)? E finalmente: cadê as lideranças?
Sei que acidentes acontecem e problemas existem para serem vencidos – frases que costumam ser ditas mais como desculpas do que como constatações – mas, dentre outras funções, as lideranças existem para motivar e orientar os funcionários a produzirem com o máximo de acerto e o mínimo de erro – de preferência nenhum.
Acontece que motivar e orientar significa saber relacionar-se e comunicar-se adequadamente com seus colaboradores, e é aqui que o “óleo” costuma começar a vazar. São os pontos comportamentais mais vulneráveis numa empresa.
É evidente que chutar traseiros não é a melhor forma de corrigir  problemas – não se deve levar muito a sério as figuras de retórica usadas pelos políticos. No mundo corporativo, essa expressão pode significar demissão, suspensão ou apenas advertência. Mesmo assim, esse tripé pode e deve ser evitado.
Em qualquer área da atividade humana em que problemas possam ocorrer, o melhor a fazer ainda é usar a velha e boa prevenção. Só que isso requer interesse, tempo e competência. O líder que passa a maior parte do seu expediente fazendo política, enviando e recebendo e-mails, trocando amenidades ao telefone ou debruçado sobre sua mesa de trabalho elaborando relatórios que ninguém vai levar a sério ou “bolando” projetos que jamais serão implantados porque inviáveis, não terá tempo nem estará interessado em descobrir “vazamentos”. Só por essa postura já poderá ser questionada sua competência como gestor.
A confortável poltrona onde geralmente os lideres se sentam, deveria ser o lugar menos ocupado numa empresa. Ela deveria servir apenas para abrir e encerrar o expediente com os necessários despachos e assinaturas. Para o restante do tempo, vale o “pernas pra que te quero”. Delegar não significa omitir-se. Confiar não significa abrir mão do acompanhamento. A responsabilidade final sempre será do líder.
Ver de perto o que está sendo feito – não com sentido policialesco, mas com a firme disposição de estimular, de tirar dúvidas, de mostrar ao colaborador que está lado a lado jogando no mesmo time e pronto para compartilhar responsabilidades – este é o perfil do líder que evita “vazamentos de óleo”.
Se não for esse o perfil das lideranças numa empresa e se ela decidir apurar ou corrigir seus “vazamentos” – haja “traseiros”!

Floriano Serra é psicólogo, palestrante e facilitador de seminários comportamentais. É diretor-executivo da SOMMA4 Gestão de Pessoas, autor de vários livros e inúmeros artigos sobre o comportamento humano no trabalho. Ex-diretor de RH de empresas nacionais e multinacionais.  
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As ferrovias da China

É o motivo básico sobre o qual a China se categoriza para ser a segunda economia mundial.

Sugiro uma leitura na íntegra considerando o território da China que possui um índice menor do que 20% de terras baixo-plano, as demais são cadeias de montanhas, desertos (de terra ou gelo) e charcos onde aglomeram-se 1,4 bilhões de pessoas.

O texto tangencia assuntos já abordados neste blog (cujo principal objetivo é lhes proporcionar grandes e necessários temas para leitura e reflexão) onde abriga artigos que mostram a fragilidade de nossa malha viária (rodo, ferro e aquaviárias) para um país que busca ser quinta economia no mundo onde mais de 60% de sua população vive aglomerada em torno de grandes centros causando os problemas já conhecidos que finalizam em violência urbana e inseguridade social.

É uma decisão de sociedade, de Estadista que conta com uma idiossincrasia social de pessoas de cultura milenar que pensam no desenvolvimento coletivo.

A propósito, este avanço não seria possível se movimentos sociais de ambientalistas estivessem prevalecendo nas decisões de Estado. Se assim fora eles ainda seriam colônia da Inglaterra.

Muitos não concordarão, mas dou razão ao que, acidentalmente, a Dilma Roussef falou quando disse que "O meio-ambiente é a maior ameaça ao desenvolvimento." Primeiro temos que desenvolver, diminuir a desigualdade social para, então, nos darmos ao luxo de conduzir a sociedade para preocupações com meio-ambiente, pois em função de nossa baixa capacidade de educação e formação, a expressiva quantidade de postos de trabalho necessários, infelizmente, impactam o meio-ambiente, de uma forma ou de outra. Entre as araras azuis e os mico-leões dourados e a criança no meio-fio limpando pára-brisas sou mais este último e que se lasquem os primeiros. Curto e grosso.

Esse tipo de projeto e de assunto, meus amigos, deveria ser assunto de mesa de jantar de todo e qualquer brasileiro. Sem infra-estrutura não há geração de emprego, sem geração de emprego não há diminuição da desigualdade social e sem esta diminuição a violência urbana e rural não dimunuirão, simples assim.





No ano que vem, quando entrar em funcionamento a linha de alta velocidade Pequim-Xangai, que cobrirá os 1.318 km que separam as duas principais cidades da China em quatro horas, contra as dez atuais, o país terá dado um passo de gigante para se transformar em uma das primeiras potências do mundo em transporte ferroviário veloz. O trem se somará assim a outros setores em que Pequim quer ocupar um lugar de liderança, como o aeronáutico e o automobilístico.


Os planos chineses de investimento em alta velocidade são vertiginosos. Em 2008, por ocasião dos Jogos Olímpicos, o país inaugurou sua primeira linha de longa distância, que vence em 30 minutos os 117 km que separam Pequim da cidade portuária de Tianjin. Desde então, entraram em funcionamento outras duas: Wuhan-Guangzhou (1.068 km) e Xian-Zhengzhou (505 km).


Para 2012, a China prevê que sua rede ferroviária chegue a 110 mil km, contra os 86 mil atuais. Deles, 13 mil serão de alta velocidade - contra 6.500 hoje -, mais que qualquer outro país do mundo. O trajeto entre Pequim e Hong Kong ficará reduzido a oito horas, em vez das 23 atuais. Para 2020 as redes se estenderão por 120 mil e 50 mil quilômetros, respectivamente.


Contar com boas infraestruturas - como rodovias, aeroportos e ferrovias - foi uma das prioridades do governo desde que lançou o processo de abertura e reforma em 1978. "É muito importante para desenvolver a economia. Quando se melhora o transporte, podem-se utilizar os recursos de forma mais eficiente e fabricar com menores custos. Além disso, é importante para atrair investimentos", afirma Lu Huapu, diretor do Instituto de Comunicações da Universidade Qinghua, em Pequim.


A China distingue dois tipos de alta velocidade: linhas destinadas a trens que circulam a 350 quilômetros por hora e linhas para comboios que rodam a 200-250 km/h. As segundas são compartilhadas com trens regionais de carga. Desde 2004 também tem a primeira linha comercial de levitação magnética, que liga o aeroporto de Pudong com a cidade de Xangai (30 km) em pouco mais de sete minutos.


A alta velocidade chinesa é um coquetel de desenvolvimentos próprios e tecnologia estrangeira: alemã (Siemens), francesa (Alstom) e japonesa (Shinkansen), entre outros. Graças a essa prática, os engenheiros chineses estão desenvolvendo um novo trem-bala para o trajeto Pequim-Xangai, capaz de alcançar 420 km/h, o que permitirá garantir velocidades de 380 km/h.


A China busca movimentar rapidamente grandes massas de pessoas, produtos e matérias-primas para responder às necessidades de seus 1,3 bilhão de habitantes e sua economia. A rede ferroviária sofre sérios congestionamentos há anos. "Queremos evitar que o principal meio de transporte seja o rodoviário", afirma Lu. Prevê-se que o mercado chinês de equipamentos ferroviários se multiplique por cinco, de uma média de US$ 10 bilhões anuais (período 2004-2008) para US$ 50 bilhões ao ano entre 2009 e 2013.


Os planos de Pequim não se limitam ao mercado interno, mas cruzam as fronteiras e se estendem pela geografia asiática, ao longo de três rotas, até a Europa, com quem Pequim quer estar ligada por trens velozes até 2025, segundo revelaram recentemente acadêmicos chineses. "Se o sistema for concluído, será mais fácil conseguir recursos naturais, especialmente petróleo e gás, em Mianmar, Irã e Rússia", disse Wang Mengshu, membro da Academia Chinesa de Engenharia, na imprensa oficial.



Os projetos chineses estão mudando o panorama mundial da alta velocidade, até agora nas mãos de companhias ocidentais e japonesas. Empresas chinesas estão construindo linhas velozes na Turquia e na Venezuela. E outros países, como EUA, Rússia e Brasil, demonstraram interesse pela oferta asiática.



A China South Locomotive and Rolling Stock (CSR), o maior fabricante do setor, se associou à alemã Siemens para licitar uma linha de alta velocidade na Arábia Saudita, enquanto o Ministério de Ferrovias assinou em novembro passado um acordo com a General Electric pelo qual a companhia americana participará da expansão ferroviária do país mais populoso do mundo, em troca de cooperar com empresas chinesas nas licitações americanas de alta velocidade. A CSR pretende que as exportações passem de 5% do faturamento que representaram em 2009 para 20% antes de cinco anos.


Os investimentos em infraestrutura foram reforçados com o plano de estímulo no valor de 4 bilhões de iuanes (478 mil euros) aprovado em novembro de 2008 para enfrentar a crise econômica global.


Mas as ambições velocistas de Pequim têm seus críticos. Alguns especialistas duvidam de sua rentabilidade e sustentabilidade. A influente revista chinesa "Caijing" qualificou o esforço como o novo salto para a frente, referência à catastrófica industrialização promovida por Mao Tse ung entre 1958 e 1960. A publicação aponta a dívida gerada pelas ferrovias. A isso somam-se as críticas de muitos passageiros pelo alto preço das passagens. "Isto é um grande desafio. A política de preços ainda está em discussão", afirma Lu.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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Sobre ricos e pobres

Grato Dária!!




Os ricos e os pobres
Martha Medeiros.



Anos atrás escrevi sobre um apresentador de televisão que ganhava R$ 1 milhão por mês, e que em entrevista, vangloriava-se de nunca ter lido um livro na vida. Classifiquei-o imediatamente como um exemplo de pessoa pobre.

Agora leio uma declaração do publicitário Washington Olivetto em que ele fala sobre isso de forma exemplar. Ele diz que há no mundo os ricos-ricos (que têm dinheiro e têm cultura) os pobres-ricos (que não têm dinheiro mas são agitadores intelectuais, possuem antenas que captam boas e novas idéias) e os ricos-pobres, que são a pior espécie: têm dinheiro mas não gastam um único tostão da sua fortuna em livrarias,shows ou galerias de arte, apenas torram em futilidades e propagam a ignorância e a grosseria.

Os ricos-ricos movimentam a economia gastando em cultura, educação e  viagens, e com isso propagam o que conhecem e divulgam bons hábitos. 

Os pobres-ricos não têm saldo invejável no banco, mas são criativos, efervescentes, abertos. 
A riqueza destes dois grupos está na qualidade da informação que possuem, na sua curiosidade, na inteligência que cultivam e passam adiante.

São estes dois grupos que fazem com que uma nação se desenvolva. Infelizmente, são os dois grupos menos representativos da sociedade brasileira. O que temos aqui, em maior número, é um grupo que Olivetto nem mencionou, os pobres-pobres, que devido ao baixíssimo poder aquisitivo e quase inexistente acesso à cultura, infelizmente não ganham, não gastam, não aprendem e não ensinam: ficam à margem, feito zumbis.

E temos os ricos-pobres, que têm o bolso cheio e poderiam ajudar a fazer deste país um lugar que mereça ser chamado de civilizado, mas que nada, eles só propagam atraso, só propagam arrogância, só propagam sua pobreza de espírito.

Exemplos? Vou começar por uma cena que testemunhei semana passada. Estava dirigindo quando o sinal fechou. Parei atrás de um Audi preto do ano. Carrão. Dentro, um sujeito de terno e gravata que, cheio de si, não teve dúvida: abriu o vidro automático, amassou uma embalagem de cigarro vazia e a jogou pela janela no meio da rua, como se o asfalto fosse uma lixeira pública. O Audi é só um disfarce que ele pôde comprar, no fundo é um pobretão que só tem a oferecer sua miséria existencial. 

Os ricos-pobres não têm verniz, não têm sensibilidade, não têm alcance para ir além do óbvio. Só têm dinheiro.
Os ricos-pobres pedem no restaurante o vinho mais caro e tratam o garçom com desdém, vestem-se de Prada e sentam com as pernas abertas, viajam para Paris e não sabem quem foi Degas ou Monet, possuem tevês de plasma em todos os aposentos da casa e só assistem programas de auditório, mandam o filho pra Disney e nunca foram a uma reunião da escola. E, claro, dirigem um Audi e jogam lixo pela janela. Uma esmolinha para eles, pelo amor de Deus.

O Brasil tem saída se deixar de ser preconceituoso com os ricos-ricos (que ganham dinheiro honestamente) e sabem que seu dinheiro serve não só para proporcionar conforto, mas também para promover o conhecimento e valorizar os pobres-ricos, que são aqueles inúmeros indivíduos que fazem malabarismo para sobreviver mas, por outro lado, são interessados em teatro, música, cinema,literatura, moda, esportes,gastronomia, tecnologia e, principalmente, interessados nos outros seres humanos fazendo da sua cidade um lugar desafiante e empolgante.

É este o luxo de que precisamos, porque luxo é ter recursos para melhorar o mundo que nos coube. 
E  recurso não é só money: é atitude e informação.
(Fonte: Zero Hora - 30/6/2006)
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terça-feira, 29 de junho de 2010

Em defesa do voto obrigatório

Amigos boa noite.


Esta foi uma das defesas mais bonitas e bem articuladas que já li sobre o voto obrigatório apesar do fecho ser opinativo e necessitando de mais dados convincentes.


Todavia, gosto muito de ler pessoas com facilidade de articulação e que tragam densidade crítica em seus escritos.
Vale a pena ler e refletir.
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Em defesa do voto obrigatório

Isabel Lustosa - O Estado de S.Paulo
No último dia 9 de junho, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou projeto de lei do senador
 Marco Maciel (DEM-PE) que altera o Código Eleitoral, reduzindo de nove para duas as penalidades impostas aos eleitores que não comparecem às urnas nos dias de votação. Disse o senador que sua intenção é apenas tornar menos rigorosas as punições aos faltosos. Mas os favoráveis ao fim da obrigatoriedade do voto comemoram a decisão como um primeiro passo nesse caminho. Tema tão relevante não deveria passar sem uma ampla e profunda discussão na sociedade civil. Discussão que, aliás, faz parte da história do sistema eleitoral brasileiro. Os defensores do voto facultativo sempre se escudaram, e ainda hoje é assim, no argumento de que o cidadão não pode ser obrigado a votar porque ninguém pode ser obrigado a exercer a cidadania.
Será? Creio que não e cito dois exemplos.
No Rio de Janeiro do começo do século 20, a chamada campanha da vacina obrigatória enfrentou forte resistência da população. Oposição liderada por políticos positivistas sob o argumento de que o cidadão tinha total direito sobre seu corpo e, portanto, ninguém podia ser obrigado a se deixar inocular. Oswaldo Cruz, idealizador e coordenador do programa, contra-argumentaria: quem não se quer vacinar poderá ser infectado. E, ao sê-lo, transmitirá a doença a quem não deseja ser doente. Se colidir com o bem comum, aí, sim, a liberdade individual se converte em tirania. A campanha da vacina obrigatória é hoje um marco na história da saúde pública no Brasil.
Exemplo mais recente diz respeito à preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural dos brasileiro. Esta só se tornou viável depois que, com a instituição da Lei de Tombamento em 1937, concebida por Mário de Andrade e Rodrigo de Mello Franco, medidas punitivas foram adotadas contra os que destruíssem ou descaracterizassem bens tombados. Aliás, durante o malfadado governo Collor, e bem dentro do espírito neoliberal que começava a se impor no contexto brasileiro, surgiu a proposta de fazer a preservação dos bens históricos ser transformada em matéria facultativa. Ou seja, dever-se-ia deixar ao critério do proprietário de um imóvel de valor histórico preservá-lo, demoli-lo ou descaracterizá-lo.
Com a mesma candura com que naquele tempo se acreditava que a mão livre do mercado acabaria por fazer o pão chegar à mesa dos famintos (mesmo que isso demorasse um pouco e algumas gerações fossem sacrificadas), acreditava-se que a mão livre do mercado imobiliário salvaria o que fosse para ser salvo da destruição e destruiria o que fosse necessário para o crescimento do mesmo mercado. Tal política não prosperou, mas talvez tenha influído no fato de que, somente agora, no último dia 10 de junho, tenham sido estabelecidos os critérios para a aplicação das multas àqueles que causarem danos a bens tombados pela União. Até então só restava ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) o recurso às ações judiciais. Esta conquista demonstra que em tal matéria se optou pela ideia de que há uma razão de Estado pela qual o bem comum se sobrepõe ao bem individual. E é este o princípio que está na origem da própria ideia de República.
Ideia que também orientou a adoção do voto obrigatório a partir da reforma da Lei Eleitoral de 1932. Cristina Buarque, em tese defendida no Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), analisou as razões por que o projeto de Código Eleitoral apresentado por Assis Brasil durante a Constituinte de 1891 só foi adotado quase 40 anos depois. Nas quatro primeiras décadas da República, o pragmatismo dos barões do café, que dominavam a economia e, com ela, a política brasileira, preferiu o "jeitinho brasileiro". No contexto da "política dos governadores", optou-se por um arremedo de democracia que, sustentada no voto aberto, possibilitava o controle total dos poderosos locais sobre o eleitorado. O voto a bico de pena, por se prestar facilmente à adulteração, completava a farsa. Só após a Revolução de 1930, com o objetivo de moralizar e tornar realmente democrático o processo eleitoral, foi adotada a fórmula proposta por Assis Brasil. De um lado, o voto secreto, protegendo a liberdade de escolha do eleitor; de outro, o voto obrigatório, garantindo, com o pleno comparecimento da população às urnas, a representação da vontade da maioria.
Em estudo sobre o tema, disponível na internet, a cientista política Luzia Herrmann demonstra que, se adotado no Brasil o voto facultativo, isso acarretaria uma queda de 30% a 35% de comparecimento do eleitorado às urnas. Votariam os mais mobilizados, os mais informados, os com interesses bem definidos. É o que tem acontecido na Venezuela, onde a reforma eleitoral de 1993 não eliminou o voto obrigatório, mas sim as penalidades para os não-votantes.
As eleições ocorrem no Brasil de dois em dois anos. Em muitos casos, quando não há segundo turno, o cidadão só tem de sair de casa uma única vez, num domingo, para se dirigir a lugar, em geral, perto de sua residência e votar. Não é sacrifício demasiado e a lei faculta o voto aos que, por serem muito jovens ou analfabetos, podem não ter certeza do que querem, ou aos que, velhos ou doentes, não tenham condições físicas de comparecer às urnas.
O voto deve ser obrigatório pela mesma razão que a educação deve ser obrigatória. Os que não votam devem ser punidos pela mesma razão que devem ser punidos os que deixam as crianças sem escola, os que liquidam o patrimônio histórico do País, os que dirigem embriagados, etc. Votar também é parte da educação de um povo: o dever de escolher seus representantes e dirigentes o obriga a refletir periodicamente sobre seu destino.


DOUTORA EM CIÊNCIA POLÍTICA PELO IUPERJ, É HISTORIADORA DA CASA DE RUI BARBOSA NO RIO DE JANEIRO 
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Oceanos

Os oceanos são feitos de gotas d'água...
Para ser ouvido, fale,
Para ser compreendido, exponha claramente suas idéias sem jamais abrir mão daquelas que julga fundamentais apenas para que os outros o aceitem.
Acima de tudo, busque o prazer antes do sucesso, a auto-realização antes do dinheiro,
O fazer bem feito antes de pensar em obter qualquer recompensa.
Nenhum reconhecimento externo vai substituir a alegria de poder ser você mesmo.
Para poder recomeçar sempre, perdoe-se pelos fracassos e erros que cometer, aprenda com eles e, a partir deles, programe suas próximas ações.
Nunca se deixe iludir que será possível fazer tudo num dia só ou quando tiver todos os recursos: tal dia nunca virá.
Para se manter motivado, sonhe.
Para realizar, planeje, pensando grande e fazendo pequeno, um pouco a cada dia e todos os dias um pouco,
Porque são pequenas gotas d'água que fazem todo o grande oceano...

Marina Cassino de Almeida
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O voto e o barro

Não é a minha primeira vez nessa experiência, aliás, uma de minhas primeiras missões operacionais voando helicópteros foi em calamidades públicas.

Esse tipo de missão humanitária muito nos ensina. É uma escola de vida quase que completa: Vê-se de tudo, inclusive solidariedade humana. Contudo, em meio a tanto sofrimento, por incrível que pareça, é o que menos prevalece, o que mais se destaca é a velhacaria e o aproveitamento de quem sofre.

Novamente deparo-me com preços de víveres e alimentos triplicando tendo-se como vendedores vizinhos comerciantes com melhor sorte. A pilhagem de mantimentos e bens de casas destroçadas é ponto comum em focos quaisquer, isolados ou não.

Há os donativos, claro, grande ajuda, sem dúvida. Também entre eles há muitos alimentos vencidos e de qualidade questionável. Aliás, fazer os doadores entenderem que quem precisa de comida não tem onde cozinhar é perder tempo. Surgem sacas e sacas de cestas básicas sem muita serventia. Cozinha-se em "arranjadinhos" ou galpões improvisados e o risco dos mais fortes tomarem é iminente.

Lembra-me o romance de Victor Hugo, os Miseráveis, onde os "tigres rondam a noite".  A miséria humana apesar de pitoresca é, infelizmente, repetitiva. O que presenciei quando tenente novo, piloto arrojado, voluntário sem hora para dormir, ouço de relatos de pessoas "in field" trabalhando em uma coordenação setorial.

A grande lição que, aliás, já esperava, é o indefectível "mis en scene" que os políticos fazem e da situação se apropriam. Camisas "arremangadas" para se dar uma impressão de marketing político de estarem com a mão na massa, mas longe do barro, do fedor, da putrefação, da miséria humana...e há quem acredite, há quem vote, aliás, uma penca de iludidos, aliás, ser iludido é mais confortável e mais seguro.

Surpreendo-me com a notícia de pessoas isoladas, em locais cuja responsabilidade não era nossa, de militares, estes sempre cobrindo os inexoráveis furos dados por pessoas da área pública...diga-se de passagem, muitos dos públicos sequer compareceram, apesar dos que sofrem também lhes pagar os salários via impostos.

Enfim, a grande lição que revi é que em poucos meses mais uma vez o cidadão brasileiro se preocupará com o presidente a ser escolhido sem notar para a fundamental importância de quem governará o Estado ou estará em uma Assembléia Legislativa, como deputados. Estes indicam pessoas para trabalharem em cargos públicos, nos níveis estaduais e municipais. Estes deveriam ser os primeiros nos locais afetados, muito antes de nós, militares, mas não foram, aliás, devem estar esperando que a terra seque para não comprometer o coro italiano dos sapatos.

Como comum neste governo, o aumento, o inchaço é notório, resta saber se são competentes, se ao menos aparecessem para ver o que estava ocorrendo. O que seria uma ação coordenada vira um exército de Brancaleone. Se os militares não estiverem à frente, jamais com os créditos que lhes são devidos, pouco se faz de objetivo.

Descobri ontem, pelo relato de quem deveria receber apoio de setores públicos do Estado, de que havia uma ou duas comunidades ainda isoladas desde o início da calamidade, há mais de uma semana.

Garanto que essas pessoas votaram no presidente achando que teriam uma vida melhor. Acredito, até, que se importaram com o governador que, por sua vez, escolhe seus secretários, que por sua vez....cadê eles mesmo???

Bem, todos já sabem do resto da história, pois a mídia está lá, atuante. Faz a conexão quem quer ou quem pode. Enlaçar as pontas soltas é uma questão de se querer, não de inteligência ou escolaridade, aliás, o matuto isolado percebeu isto logo.....Ele votou consciente para presidente, e agora está comendo barro, até que os que foram nomeados bem abaixo do conhecimento do presidente aprendam seu ofício e tirem ele do isolamento e lhes proveja comida, abrigo e conforto.

Enfim, o argumento já está repetitivo, mas a distração está cobrando vidas...O voto foi coerente, mas o barro foi inesperado.
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segunda-feira, 28 de junho de 2010

As estatísticas e a pobreza no Brasil


Quando por ocasião da primeira campanha de Lula, frei Beto vivia alardeando a quatro ventos que no Brasil havia mais de 50 milhões de miseráveis. Quando algum incauto, contra a corrente prevalente na época, lhe perguntava as fontes sob as quais ele se apoiava havia respostas lacônicas e quase moralmente incriminadores em direção ao repórter.

Dizia a meus amigos que era um exagero, pois éramos pouco mais de 180 milhões de pessoas e 50 milhões era quase um terço. Um terço que qualquer amostragem é extremamente significativo, representava um em cada três, ou seja, se andássemos nas ruas um terço era de miseráveis. Se eles não eram vistos nas ruas das cidades os argumentos eram o de que eles estavam no interior inacessível do país, ao que eu retrucava: Como então um terço está no interior e o interior é o que está produzindo grandes riquezas agrícolas e minerais, seriam os 50 milhões a mão de obra de tal pujança...

Enfim, desistia de elucidar a coerência nos argumentos  pois a propaganda era muito forte. Pessoas que tinha como coerentes e sensatas usavam, fartamente, tais argumentos para incitarem o voto em Lula.

Vê-se, uma vez mais, pois até o frei, depois de Lula eleito adimitiu entre sorrisinhos cínicos, que havia exagerado mas que era época de campanha, que dados em nosso país, onde institutos de pesquisas estão permeados de ideologia, que dificilmente teremos dados concretos e críveis para se debruçar, em trabalhos científicos, para se ter uma melhor noção acerca do país que vivemos.


Pobreza no País é 35% menor que estimado, diz estudo

Por AE
São Paulo - A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008 e 2009, divulgada na semana passada, reservou uma surpresa ao economista Marcelo Neri, um dos maiores especialistas da área social no Brasil: o País tem 10,6 milhões de pobres a menos do que constava nas suas últimas estimativas, baseadas no resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2008. A diferença entre as duas pesquisas deve-se basicamente à inclusão, na POF, da economia de subsistência, a chamada "renda não monetária".

A diferença é muito grande, e significa que a pobreza no Brasil é 35% menor do que se pensava. Em vez de 29,8 milhões, resultado extraído da Pnad, são 19,9 milhões, a partir da POF. Neri, que chefia o Centro de Políticas Sociais (CPS), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, observa que a comparação mais correta é do número da Pnad ajustado pela estimativa da população da POF, o que o leva para 30,5 milhões - ou 10,6 milhões a mais que os 19,9 milhões revelados pela POF.
"Isso significa uma diferença muito importante no custo de se acabar com a pobreza - ele cai aproximadamente pela metade", diz Neri. Na verdade, transferências perfeitamente focalizadas de R$ 11,2 bilhões por ano (um pouco menos do que o gasto com o Bolsa-Família) seriam capazes de acabar com a pobreza retratada pela POF. No caso do número de pobres que sai da Pnad 2008, aquele custo sobe para R$ 21,8 bilhões. 

A linha de pobreza utilizada pelo pesquisador foi criada pelo Centro de Políticas Sociais, e equivale a uma média de R$ 140 de renda familiar per capita em janeiro de 2009. O valor varia de região para região do País, de acordo com o custo de vida. Essa linha de pobreza, na verdade, é relativamente baixa e, por vezes, os que estão abaixo dela são considerados miseráveis. Neri ressalva, entretanto, que, como linha de indigência, seria um pouco alta. A razão principal para a diferença entre o número de pobres nas duas pesquisas é o registro que a POF faz da economia de subsistência, ou "economia primitiva", como se refere Neri. Basicamente, trata-se do consumo que não passa pelo mercado e consiste primordialmente na agricultura de subsistência. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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Saudades




Saudades


Saudades! Sim... talvez... e por que não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer! Para quê?... Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão!
Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!
Florbela Espanca

Saneamento e eleição

Um fato como este é pitoresco, bem como muito elucidativo.

Um projeto de tal magnitude e importância para o desenvolvimento social e econômico não pode transitar de forma tão discreta que o presidente de um país como o Brasil não saiba como ele se desenrola.

É por isso que eu digo que é bobagem achar que uma pessoa só pode conduzir ou fazer um país como o nosso crescer. Como se vê, quando outros não querem, não há carisma, popularidade ou desempenho em pesquisas que faça, de fato, as coisas acontecerem. Mais uma lição que, acredito, não vá surtir muito efeito nos eleitores.

Neste particular gostaria de registrar que estou presenciando uma lamentável, deplorável e inacreditável falta de coordenação dos gestores de saúde e saneamento públicos dos estados e municípios afetados pelas chuvas em AL e PE. Coisa de amador...e a moçada achando que votar em uma pessoa para presidente esquecendo dos seus gestores públicos imediatos vão ter uma vida melhor...ledo engano.






O governo Lula às vezes parece movido a susto. Na semana passada, ao participar da assembleia-geral da Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento (Assemae), em Uberaba, Minas Gerais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confessou ter se assustado ao saber que, aprovada por unanimidade no Senado e por aclamação na Câmara dos Deputados e por ele próprio sancionada há mais de três anos, a Lei de Saneamento Básico não tinha sido inteiramente regulamentada, faltando um decreto seu. Reconheça-se que, nesse caso, pelo menos, o presidente agiu com presteza e, na segunda-feira passada, menos de uma semana depois de ter levado o susto, assinou o decreto que completa a regulamentação da Lei de Saneamento (Lei 11.445/07).
O presidente da República ficou sabendo do problema não por informação de sua equipe, mas pelo discurso do presidente da Assemae, Arnaldo Luiz Dutra, que lembrou o fato de que o decreto regulamentando o setor de saneamento básico já tinha sido amplamente discutido pelos interessados - governo federal, governos estaduais, prefeituras, empresas públicas, organizações não-governamentais que atuam no setor e grupos privados que pretendem investir em saneamento básico -, seu texto estava pronto, mas continuava parado em alguma gaveta ministerial. "Fico sabendo apenas hoje que o decreto não foi publicado porque tem ministro que ainda não assinou", disse então Lula, diante de dois ministros de Estado, do prefeito de Uberaba e de uma plateia de 1,2 mil gestores da área de saneamento básico e representantes de movimentos sociais ligados à habitação e ao saneamento.
Não foi uma confissão surpreendente. A desarticulação administrativa, que resulta em ineficiência ou até paralisia do governo em diversas áreas, tem sido motivo de críticas frequentes à administração petista. Na área de saneamento básico, atrasos decorrentes de falhas de gestão podem impor custos muito altos para a população que não dispõe de serviços adequados de abastecimento de água tratada e de coleta e tratamento de esgotos e, por isso, convive com índices muito altos de doenças que afetam sobretudo as crianças.
Acertadamente, o presidente da República afirmou, em Uberaba, que "é preciso gastar dinheiro com saneamento básico neste país", pois "coletar e tratar esgoto significa cuidar da saúde da população de forma preventiva". Falou também da necessidade de mudar a visão do administrador público que não se sente estimulado "a colocar manilha debaixo da terra", pois isso não aparece para o eleitor.
Quanto a aparecer para o eleitor, em seus sete anos e meio de governo, Lula tem dado grandes provas de competência, inclusive no setor de saneamento básico. A principal diretriz da Lei de Saneamento Básico é garantir a universalidade do atendimento - isto é, estender a rede de água e esgoto a todas as habitações do País -, o que exige marco regulatório adequado, que facilite os investimentos públicos e privados, programas governamentais eficientes e disponibilidade de recursos.
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), principal peça de propaganda do governo em favor de sua candidata à Presidência, previu a aplicação de R$ 10 bilhões por ano em saneamento básico entre 2007 e 2010 e de R$ 11,4 bilhões em 2011. Mas, para esse dinheiro chegar aos municípios necessitados, é necessário que suas prefeituras disponham de planos aprovados pelas respectivas Câmaras Municipais, exigência que somente umas poucas centenas de municípios, entre os mais de 5,5 mil do País, tinham condições de cumprir. O prazo para a aprovação desses planos terminava em 31 de dezembro deste ano. A prorrogação do prazo, no decreto de regulamentação da lei, era um dos itens pelos quais mais se empenhavam os prefeitos e os representantes dos serviços municipais de saneamento básico.
Mais uma vez demonstrando sua grande sensibilidade eleitoral, Lula assinou o decreto regulamentando a Lei de Saneamento durante a 4.ª Conferência Nacional das Cidades, realizada em Brasília, que ele conseguiu transformar numa grande festa política, com a ostensiva presença de grupos que apoiam a candidata governista à Presidência.
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domingo, 27 de junho de 2010

Plaquetuda Calibrosa

Sensacional!
Grato querida irmã Dária.

Plaquetuda Calibrosa
 Fernanda Torres

 Marília Gabriela me perguntou uma vez numa entrevista se eu já havia  atingido a idade em que não queria mais ser reconhecida pela minha inteligência, mas sim pela beleza.. Respondi que, sem dúvida, eu me encontrava justamente nesse momento da vida. Não fui a menina mais popular da sala de aula, melhorei com o passar dos anos e agora, aos 40 e alguns, começo a perceber a curva descendente acenando com força moderada. E não é que nessa hora tão delicada dois elogios estranhos e  inusitados me devolveram um certo orgulho da carne? Explico.

 Fui doar sangue. Não é moleza doar sangue. Não pelo ato em si, que não dói nada e resolve a vida de muita gente. A dureza é ser aprovado no questionário minucioso, feito numa sala privada antes da doação. Parceiro fixo? Hepatite A, B, C? Sífilis? Gonorreia? HPV? HIV? Herpes? Fuma? Bebe? Toma algum remédio? Drogas injetáveis? Não injetáveis? Doença de Chagas? Diabetes? Pressão alta? Baixa? Históricos familiares... Conforme se avança na prova, é quase inevitável fazer uma revisão do passado, dos riscos da juventude, dos excessos, mancadas e bobeiras, das heranças, dos vícios, dramas e arrependimentos da vida toda. Funciona quase como uma boa sessão de análise.

 Passado o teste, fui encaminhada para a cadeira astronáutica do banco de sangue. Passaram o garrote no meu braço, e o olho da enfermeira faiscou ao ver a veia saltar.

– Hummmm... Calibrosa! – disse ela, já chamando a colega do lado para dar uma olhada. As duas trocaram sorrisos interessados. Percebi nas hematologistas uma enorme ganância de veias bojudas. Pareciam vampiras do bem. Deixei meio litro de sangue para elas e, com o tal orgulho da carne, ou seja, do meu sistema venoso, prometi voltar para doar as plaquetas.

Voltei. Doar plaquetas é outro capítulo. Além das veias fartas, é preciso ter um fluxo grande de circulação sanguínea para encher a máquina, uma geringonça impressionante que retira o sangue, separa as plaquetas e depois devolve o plasma e as hemácias para você. Foi lá que recebi outro cumprimento esdrúxulo:
 – Hummmmm... Plaquetuda!

 Não soa tão bem quanto calibrosa, parece mais xingamento, mas não me incomodei. Estou naquela fase que a Marília citou, qualquer elogio à matéria é bem-vindo. Podem espalhar por aí que sou uma dona plaquetuda calibrosa. Vai ser o meu mais novo cartão de visita.

 Depois dos 40 é comum receber más notícias dos médicos e, invariavelmente, uma batelada de exames para fazer. Mamografia, curva glicêmica, para os homens o temível toque de próstata, isso sem falar na colonoscopia, nos incontáveis ultrassons e no raio X dos joelhos, para quem nunca perdeu o futebol. Aos 20, a gente torce o pé e continua andando. Aos 30, o doutor te receita um analgésico por telefone e recomenda repouso. Aos 40, ele já vai te engessar, medicar e botar na fisioterapia. Aos 50, te interna, abre e mete um pino.

 Meu clínico geral me disse, rindo, que chegamos à era da reposição de peças. Se uma civilização futura (será que isso vai existir?) for cavucar as nossas tumbas, só vai encontrar implante de silicone, osso de platina, joelho artificial... Vai-se a carne, ficam as próteses.

Se tivermos a sorte de viver muito, enfrentaremos as inevitáveis doenças degenerativas. Hoje eu entendo a importância de poder contar com um banco de sangue confiável e bem fornido. A gente nunca sabe  quando vai precisar. Gostei de doar sangue, é algo que todos os que têm condições deveriam fazer por si mesmos, pelos seus e pelos outros.

Se você tem fator RH negativo, então, pense seriamente no caso. A necessidade é grande. Peça ao seu médico que lhe indique um banco adequado. Quem sabe você ainda não sai coberto de novos adjetivos?


 Revista Veja Rio - 13/03/2009
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A juíza e os militares

*Os militares precisam descobrir a força que a instituição tem, BRASIL.*

Há anos venho acompanhando as notícias sobre o desmantelamento das Forças Armadas e sobre a relu tância dos governos de FHC e de Lula em reajustar dignamente os salários dos militares.

O cidadão ingênuo até pensaria que os sucessivos cortes no orçamento do Ministério da Defesa e a insis tência em negar os reajustes salariais à categoria poderiam, mesmo, decorrer de uma contenção de gastos, dessas que
as pessoas honestas costumam fazer para manter em equilíbrio o binômio receita/despesa, sem com prometer a dignidade de sua existência.

Mas, depois de tanto acompanhar o noticiário nacional, certamente já ficou fácil perceber que não é esse o motivo que leva o governo a esmagar a única instituição do país que se pauta pela ampla, total e irrestrita seriedade de seus integrantes e que, por isso mesmo, goza do respaldo popular, figurando sempre entre as duas ou três primeiras colocadas nas pesquisas sobre credibilidade.

A alegação de falta de dinheiro é de todo improcedente ante os milhões (ou bilhões?) de reais que se des viaram dos cofres públicos para os ralos da corrupção política e financeira, agora plenamente demonstrada pelas CPIs em andamento no Congresso Nacional.

O reajuste salarial concedido à Polícia Militar do Distrito Federal, fazendo surgir discrepâncias inadmissí veis entre a PM e as Forças Armadas para os mesmos postos, quando o dinheiro provém da mesma fonte paga dora - a União - visa criar uma situação constrangedora para os que integram uma carreira que sempre teve entre suas funções justamente a de orientar todas as Polícias. Militares do país, consideradas forças auxiliares e reser va do Exército (art. 144, § 6º da Constituição Federal).

Mas agora a charada ficou completamente desvendada. E se você, leitor, quer mesmo saber por que raios o governo vem massacrando as Forças Armadas e os militares, a ponto de o presidente da República sequer re ceber seus Comandantes para juntos discutirem a questão, eu lhe digo sem rodeios: é por pura inveja e por medo da comparação que, certamente, o povo já começa a fazer entre os governos militares e os que os sucede ram. Eis algumas das razões dessa inveja e desse medo:

1) Porque esses políticos (assim como os 'formadores de opinião'), que falam tão mal dos militares, sabem que estes passam a vida inteira estudando o Brasil - suas necessidades, os óbices a serem superados e as soluções para os seus problemas - e, com isso, acompanham perfeitamente o que se passa no país, podendo detectar a verdadeira origem de suas mazelas e também as suas reais potencialidades. Já os políticos profissionais - salvo exceções cada vez mais raras - passam a vida tentando descobrir uma nova fórmula de enganar o eleitor e, quando eleitos, não têm a menor idéia de por onde começar a trabalhar pelo país porque desconhecem por com pleto suas características, malgrado costumem, desde a candidatura, deitar falação sobre elas como forma de impressionar o público. Sem falar nos mais desonestos, que, além de não saberem nada sobre a terra que pre tendem governar ou para ela legislar, ainda não têm o menor desejo de aprender o assunto. Sua única preocu pação é ficar rico o mais rápido possível e gastar vultosas somas de dinheiro (público, é claro) em demonstra ções de luxo e ostentação.

2) Porque eles sabem que durante a 'ditadura' militar havia projetos para o país, todos eles de longo prazo e em proveito da sociedade como um todo, e não para que os governantes de então fossem aplaudidos em comícios (que, aliás, jamais fizeram) ou ganhassem vantagens indevidas no futuro.

3) Porque eles sabem que os militares, por força da profissão, passam, em média, dois anos em cada região do Brasil, tendo a oportunidade de conhecer profundamente os aspectos peculiares a cada uma delas, dedicando-se a elaborar projetos para o seu desenvolvimento e para a solução dos problemas existentes. Projetos esses, diga-se de passagem, que os políticos, é lógico, não têm o mínimo interesse em conhecer e implementar.

4) Porque eles sabem que dados estatísticos são uma das ciências militares e, portanto, encarados com seriedade pelas Forças Armadas e não como meio de manipulação para, em manobra tipicamente orwelliana, justificar o injustificável em termos de economia, educação, saúde, segurança, emprego, índice de pobreza, etc.

5) Porque eles sabem que os militares tratam a coisa pública com parcimônia, evitando gastos inúteis e conservando ao máximo o material de trabalho que lhes é destinado, além de não admitirem a negligência ou a malícia no trabalho, mesmo entre seus pares. E esses políticos por certo não suportariam ter os militares como espelho a refletir o seu próprio desperdício e a sua própria incompetência. 

6) Porque eles sabem que os militares, ao se dirigirem ao povo, utilizam um tom direto e objetivo, falando com honestidade, sem emprego de palavras difíceis ou de conceitos abstratos para enganá-lo.

7) Porque eles sabem que os militares trabalham duro o tempo todo, embora seu trabalho seja excessivo, perigoso e muitas vezes insalubre, mesmo sabendo que não farão jus a nenhum pagamento adicional, que, de resto, jamais lhes passou pela cabeça pleitear.

8) Porque eles sabem que para os militares tanto faz morar no Rio de Janeiro ou em Picos, em São Paulo ou em Nioaque, em Fortaleza ou em Tabatinga porque seu amor ao Brasil está acima de seus anseios pessoais.
 agarrar-se à imagem romântica de um guerrilheiro ou de um traidor revolucionário para fazer dele um símbolo popular e uma bandeira de campanha.

17) Porque eles sabem que para os militares, o dinheiro é um meio, e não um fim em si mesmo. E que se há anos sua situação financeira vem se degradando por culpa de governos inescrupulosos que fazem do verbo inútil - e não de atos meritórios - o seu instrumento de convencimento a uma população em grande parte ignorante, eles ainda assim não esmorecem e nem se rendem à corrupção.

18) Porque eles sabem que se alguma corrupção existiu nos governos militares, foi ela pontual e episódica, mas jamais uma estratégia política para a manutenção do poder ou o reflexo de um desvio de caráter a contaminá-lo por inteiro.

19) Porque eles sabem que os militares passam a vida estudando e praticando, no seu dia-a-dia, conhecimentos ligados não apenas às atividades bélicas, mas também ao planejamento, à administração, à economia o que os coloca em um nível de capacidade e competência muito superior ao dos políticos gananciosos e despreparados que há pelo menos 20 anos nos têm governado.

20) Porque eles sabem que os militares são disciplinados e respeitam a hierarquia, ainda que divirjam de seus chefes, pois entendem que eles são responsáveis e dignos de sua confiança e que não se movem por motivos torpes ou por razões mesquinhas.

21) Porque eles sabem que os militares não se deixaram abater pelo massacre constante de acusações contra as Forças Armadas, que fizeram com que uma parcela da sociedade (principalmente a parcela menos esclarecida) acreditasse que eles eram pessoas más, truculentas, que não prezam a democracia, e que por dá cá aquela palha estão sempre dispostos a perseguir e a torturar os cidadãos de bem, quando na verdade apenas cumpriram o seu dever, atendendo ao apelo popular para impedir a transformação do Brasil em uma ditadura comunista como Cuba ou a antiga União Soviética, perigo esse que já volta a rondar o país.

22) Porque eles sabem que os militares cassaram muitos dos que hoje estão envolvidos não apenas em maracutaias escabrosas como também em um golpe de Estado espertamente camuflado de 'democracia' (o que vem enfim revelar e legitimar, definitivamente, o motivo de suas cassações), não interessando ao governo que a sociedade perceba a verdadeira índole desses guerrilheiros-políticos aproveitadores, que não têm o menor respeito pelo povo brasileiro. Eles sabem que a comparação entre estes últimos e os governantes militares iria revelar ao povo a enorme diferença entre quem trabalha pelo país e quem trabalha para si próprio.

23) Porque eles sabem que os militares não se dobraram à mesquinha ação da distorção de fatos que há mais de vinte anos os maus brasileiros impuseram à sociedade, com a clara intenção de inculcar-lhe a idéia de que os
guerrilheiros de ontem (hoje corruptos e ladrões do dinheiro público) lutavam pela 'democracia', quando agora já está mais do que evidente que o desejo por eles perseguido há anos sempre foi - e continua sendo - o de
implantar no país um regime totalitário, uma ditadura mil vezes pior do que aquela que eles afirmam ter combatido.

24) Porque eles sabem que os militares em nada mudaram sua rotina profissional, apesar do sistemático desprezo com que a esquerda sempre enxergou a inegável competência dos governos da 'ditadura', graças aos quais o país se desenvolveu a taxas nunca mais praticadas, promovendo a melhoria da infra-estrutura, a segurança, o pleno emprego, fazendo, enfim, com que o país se destacasse como uma das mais potentes economias do mundo, mas que ultimamente vem decaindo a olhos vistos.

25) Porque eles sabem que os militares se mantêm honrados ao longo de toda a sua trajetória profissional, enquanto agora nos deparamos com a descoberta da verdadeira face de muitos dos que se queixavam de terem sido cassados e torturados, mas que aí estão, mostrando o seu caráter abjeto e seus pendores nada democráticos.

26) Porque eles sabem que os militares representam o que há de melhor em termos de conduta profissional, sendo de se destacar a discrição mantida mesmo frente aos atuais escândalos, o que comprova que, longe de terem tendências para golpes, só interferem - como em 1964 - quando o povo assim o exige.

27) Porque eles sabem que os militares, com seus conhecimentos e dedicação ao Brasil, assim como Forças Armadas bem equipadas e treinadas são um estorvo para quem deseja implantar um regime totalitarista entre nós, para tanto se valendo de laços ilegítimos com ditaduras comunistas como as de Cuba e de outros países, cujos povos vêem sua identidade nacional se perder de forma praticamente irrevogável, seu poder aquisitivo reduzir-se aos mais baixos patamares e sua liberdade ser impiedosamente comprometida.

28) Porque eles sabem que os militares conhecem perfeitamente as causas de nossos problemas e não as colocam no FMI, nos EUA ou em qualquer outro lugar fora daqui, mas na incompetência, no proselitismo e na desonestidade de nossos governantes e políticos profissionais.

29) Porque sabendo que ninguém pode enganar todo mundo o tempo todo, o governo temia que esses escândalos, passíveis de aflorar a qualquer momento pudessem provocar o chamamento popular da única instituição capaz de colocar o país nos eixos e fazer com que ele retomasse o caminho da competência, da segurança e do desenvolvimento.

30) Porque eles sabem, enfim, que todo o mal que se atribui aos militares e às Forças Armadas - por maiores que sejam seus defeitos e limitações – não tem respaldo na Verdade histórica que um dia há de aflorar.

Juíza Dra. Marli Nogueira,
Juíza do Trabalho em Brasília.

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