quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Agora vamos?

Antonio M. Buainain e Carlos A. Pacheco
O Estado de S. Paulo

O novo ano começa em clima de grande otimismo, associado tanto ao bem-estar produzido pelo forte crescimento como à percepção generalizada de que "agora é para valer" e que desta vez o País deslancha. Exageros à parte, há boas razões para celebrar os progressos alcançados, desfrutar a atual bonança e apostar no futuro, sem cair na ilusão de que o caminho já está pavimentado. Os resultados do último Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), exame que avalia o nível de aprendizado dos jovens de 15 anos, reconfirmam que a maioria dos jovens brasileiros tem graves déficits de aprendizado e mostram quanto o País real ainda está longe do "País do futuro".

O cenário traçado para os próximos anos parece claro. Não será possível repetir taxas tão altas de crescimento, como a de 2010. Mas é evidente que o potencial de crescimento da economia brasileira é maior hoje do que há alguns anos. O problema é como administrar as tensões macroeconômicas desse crescimento: a inflação, a valorização cambial e os déficits em conta corrente. E aqui não há consenso.

A expectativa é de que 2011 traga uma prudência maior na área fiscal, com menores pressões no gasto do governo, para além do que já esta contratado. Muita gente considera que a elevação dos juros será necessária para sinalizar o compromisso com a meta inflacionária; outros pensam que um maior controle dos gastos e uma restrição ao crédito sejam suficientes para controlar esses desequilíbrios ou para abrir espaço para mudanças estruturais mais relevantes. Nesse último cenário, o desafio seria promover o realinhamento das contas públicas e das variáveis chaves sem interromper o atual ciclo de expansão e os resultados sociais alcançados nos últimos anos. E sem violentar os compromissos assumidos na eleição. Não é uma equação fácil de fechar, embora seja viável se o governo conseguir conter as pressões que já se manifestam por todos os lados.

Parece claro, no entanto, que o simples (porém difícil) realinhamento da política macro - com maior controle de gastos e maior cautela na expansão do crédito - não é suficiente para assegurar a continuidade do ciclo virtuoso de crescimento com redistribuição de renda e redução da desigualdade. Para isso será necessário estimular ainda mais o investimento, dar atenção redobrada à área externa e atentar para reformas que se voltem ao aumento da produtividade privada e da eficiência do setor público.

Esse reposicionamento exige retomar uma agenda de reformas que foi abandonada depois que o País passou a se beneficiar da elevação do nível do mar, na expressão que o ex-ministro Delfim Netto usou outro dia para explicar o boom recente da economia brasileira. Essa agenda inclui desde as reformas mais difíceis, como a tributária, trabalhista e previdenciária, até as reformas microeconômicas, voltadas para melhorar o ambiente de negócios, estimular o empreendedorismo e as inovações. Inclui também os ajustes em marcos regulatórios de setores-chaves para atrair investimentos, proteger os direitos dos consumidores e estimular a inovação. Reformas que sintonizem esses setores com objetivos de longo prazo do País, tanto em relação ao meio ambiente como em relação a metas sociais e de desenvolvimento local e regional.

Grande parte dos nossos desequilíbrios recentes é resultado do próprio crescimento: carências graves na infraestrutura; déficits elevadíssimos em conta corrente; falta de mão de obra qualificada, etc. São dores do parto. Mas parte é também resultado da longa lista de problemas que afetam a competitividade do conjunto do sistema produtivo.

Uma boa macro pode dar margem para trabalhar, nos próximos dois anos, tanto essas restrições físicas ao crescimento como para adequar o câmbio e o nível de juros a patamares mais condizentes com o crescimento de longo prazo. Mas, para isso, é preciso olhar para um horizonte mais amplo, que não se limite a gerir apenas os problemas reais e importantes do curto prazo. O que não está claro é quanto essa agenda colide com as visões ideológicas que dominarão a nova administração.


PROFESSORES DO INSTITUTO DE ECONOMIA DA UNICAMP

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