domingo, 5 de dezembro de 2010

AMNÉSIA ELEITORAL



ZERO HORA (RS)


Frequentemente apontada como uma das razões para tantas mazelas na política brasileira, a falta de cuidado por parte dos eleitores na escolha de seus candidatos, aliada à rapidez com que esquecem suas opções diante das urnas, acaba de ser quantificada em pesquisa de opinião pública. Levantamento encomendado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ao instituto Sensus apenas um mês depois da realização do segundo turno demonstra que a falta de atenção dos cidadãos é maior nos casos de escolhas de parlamentares e menor na votação para os cargos de governador e da Presidência da República. A confirmação nos números do que já é percebido na prática deveria merecer um pouco mais de atenção por parte de políticos interessados em moralizar a atividade.

A pesquisa de opinião pública aplicada a 2 mil eleitores de 136 municípios demonstrou que 23% disseram não lembrar de quem escolheram para deputado estadual, 21,7% para federal e 20,6% para senador. No caso de presidente da República, 89,7% continuam lembrando e, no de governador, 80,6%. Um aspecto importante é que 40% alegaram não estar bem informados sobre o papel exercido por seus representantes no Legislativo. Além disso, mais da metade dos entrevistados garante não confiar nem na Assembleia, nem na Câmara dos Deputados.

As conclusões do levantamento indicam uma associação direta entre o distanciamento do eleitor com os políticos e o índice de desconfiança dos brasileiros nas instituições de maneira geral. Além disso, parte do descaso pode ser atribuída ao alegado desconhecimento dos entrevistados sobre o que compete exatamente a um deputado federal e a um senador e qual o papel delegado a eles na defesa dos interesses de seus eleitores. Os parlamentares deveriam ser os principais interessados em fazer com que sua relação com os cidadãos não terminasse no momento de digitar o voto na urna. Demonstrar o que fazem, recorrendo a todos os meios de comunicação disponíveis para assegurar o máximo de transparência, precisa ser visto como um passo importante para facilitar o acompanhamento, por parte dos brasileiros, de quem integra os Legislativos nas três instâncias da federação.

Boa parte do pouco-caso dispensado pelos eleitores aos parlamentares que elegem pode ser atribuída à falta de conteúdo programático das legendas pelas quais os candidatos concorrem. Na maioria das vezes, o que distingue hoje os diferentes partidos é se atuam na situação ou na oposição, não os estatutos pelos quais os filiados deveriam se orientar. A questão, crônica, vem se agravando com o tempo e só poderia ser resolvida a médio e longo prazos com uma mudança cultural sustentada por ampla reforma política. Esse, porém, é um tema que, de maneira geral, continua longe de sensibilizar os parlamentares. 
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