sábado, 31 de dezembro de 2011

2012, me surpreenda

 MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA


As melhores coisas do ano sempre foram aquelas que eu não previ 

Ano-Novo é uma convenção. Os dias correm em sequência. De 31 de dezembro para 1º de janeiro ocorrerá apenas mais uma sucessão de 24 horas em que nada mudará, tudo seguirá do mesmo jeito. Pois é, sei disso, mas é um ponto de vista sem nenhuma alegria. Sou das que compram o pacote de Ano-Novo com tudo que ele traz em seu imaginário: balanço de vida, reafirmação de votos, desejos manifestos e esperança de uma etapa promissora pela frente. 

Faço lista de projetos e tudo mais. Só que, quando chega o fim do ano e avalio o que consegui cumprir, descubro que o inesperado superou de longe o esperado. As melhores coisas do ano sempre foram aquelas que eu não previ. Então tomei uma decisão: nessa virada, não vou planejar coisa alguma e aguardar as resoluções que 2012 tomará para mim, à minha revelia. 

Mas poderia dar algumas sugestões? 

2012, anote aí: que as coisas mudem, mas não alterem meu estado de espírito. Não deixe que eu me torne uma pessoa ranzinza, mal-humorada, desconfiada, sem tolerância para as diferenças. Aconteça o que acontecer, que eu me mantenha aberta, leve e consciente de que tudo é provisório. 

Não quero mais. Quero menos. Menos preocupações, menos culpa, menos racionalismo. Pode cortar os extras. Mantenha apenas o estritamente necessário para me manter atenta. 

Está anotando? 

Espero que você esteja com ótimos planos para sua amiga aqui. Lançarei livro novo? Permita que eu seja abusada: dois. Sendo que nenhuma coletânea de crônicas, nem romance. Me ajude a variar. 

Que lugares conhecerei que ainda não conheço? Que pessoas entrarão na minha vida que, quando cruzo com elas na rua, ainda não as identifico? Que boas notícias ouvirei das minhas filhas? Quantos shows terei o prazer de assistir? Estou curiosa para saber o que você está aprontando para incrementar os meses que virão. 

Prometo que estarei preparada para receber o abraço afetuoso de quem antes me esnobava, para a frustração por tudo o que for cancelado, para voltar atrás nas minhas teimosias, para me dedicar a algo que nunca fiz antes.

Estarei disposta a tirar de letra os espíritos de porco e assumir a responsabilidade pelas asneiras que eu mesma cometer. E estarei pronta também para uma grande surpresa, ou até duas. Três, meu coração não aguenta. 

Se a dor me alcançar, que me encontre com energia e sabedoria para enfrentá-la. Que eu não me torne dura diante dos horrores, nem sentimentaloide diante das emoções. 2012, os acontecimentos são da sua alçada. Da minha, cabe recepcioná-los com categoria. 

Quais são seus planos para mim, afinal? Talvez nem todos sejam do meu agrado, portanto, que eu não tenha constrangimento em dizer “não, obrigada”, caso seja preciso. Mas que eu me sinta mais predisposta para o sim. 
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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

SER PILOTO!




QUEM VOA SABE...






Por Francis Gary Powers, famoso piloto da USAF, derrubado na Rússia em 1960.

Existem dois tipos de pilotos, aqueles que levam em seu sangue a necessidade de voar, pelas mesmas razões que precisam dormir, comer ou respirar, e aqueles que o fazem apenas pela tarefa, por obrigação ou por não ter outra alternativa. Esses últimos normalmente chegam à profissão por acaso ou outra forma não planejada. Os primeiros frequentemente tem a inquietude desde pequenos, quando viam nos aviões algo notável, místico, sublime, talvez muitos destes começaram desde pequenos a construir modelos de aeroplanos, ou acumulando fotos e pôsteres ou qualquer outra coleção com motivos aéreos. Conheciam as especificações e dados de qualquer avião com riqueza de detalhes.

Quando crescem e têm a sorte de realizar seu sonho de criança, desfrutam plenamente do seu trabalho e sentem-se os homens mais sortudos do planeta.

Os pilotos são uma classe à parte de humanos, eles abandonam todo o mundano para purificar seu espirito no céu, e somente voltam à terra depois de receber a comunicação do infinito. Esse grupo conhece a diferença entre voar para sobreviver e sobreviver para voar. A Aviação os ensina orgulho como também humildade e apesar de que voar é uma magia, eles caem voluntariamente vítimas de seu feitiço. Quando estão na terra, durante dias ensolarados, observam continuamente o firmamento com saudades de estar ali, durante dias chuvosos e nublados revêem os procedimentos de voo em suas mentes. O piloto sabe que o melhor simulador de voo esta em si mesmo, em sua imaginação, em sua atitude, porque a mente do piloto esta sempre acessível a elementos novos e compreende que para voar é preciso acreditar no desconhecido.

No mais, os pilotos são homens lógicos, calmos e disciplinados, que pela necessidade precisam pensar claramente, de outra maneira se arriscam a perder violentamente a vida ao sentar-se na cabine. O verdadeiro piloto não amarra seu corpo ao avião, pelo contrário, através do arnês ele amarra o avião em suas costas, em todo seu corpo. Os comandos da aeronave passam a ser uma extensão de sua personalidade, essa simples ação une o homem ao aparelho na simetria de uma só entidade, numa mistura única e indecifrável, cada vibração, cada som, cada cheiro tem sentido e o piloto os interpreta apropriadamente.

Não há duvida de que o motor é o coração do avião, mais o piloto é a alma que o governa. Os pilotos não vêem seus objetos de afeição como máquinas, ao contrário, são formas vivas que respiram e possuem diferentes personalidades, em alguns momentos falam e até riem com eles.

Esses seduzidos mortais percebem os aviões com uma beleza incondicional, porque nada estimula mais os sentidos de um Aviador que a forma esquisita de uma aeronave, não podem evitar, estão infectados pelo feitiço, e viverão o resto de suas vidas contemplados pela magia de sua beleza.

Para o piloto perceber um avião é como encontrar um familiar perdido, uma e outra vez.

Quando o destino trágico mostra sua inexorável presença e vidas se perdem em acidentes a essência do piloto se entristece pelo acontecido, mais não poderá evitar, talvez por infinitesimal segundo, que a sombra de seu pensamento volte aos aparelhos, e um golpe de afeição pelo amigo caído seja inevitável.

Para o Aviador o som dos pistões é uma bela sinfonia, o som de um jato a síntese da força. Aviões perigosos não existem, somente não são pilotados adequadamente, para eles os aeroportos são altares ao talento humano. Ali se realizam diariamente os desafios e os milagres frente às energias da natureza e a força da gravidade. São lugares sagrados, onde o ritual de voar se exalta e se glorifica, de onde caminhos e fronteiras se encontram e o mundo fica pequeno, nos que se chora de alegria e também de tristeza, onde nascem esperanças e sucumbem ideais, onde o som do silêncio habitam as lembranças.

No ar o piloto esta em seu elemento, em sua casa, ao que pertence, é ali que ele se liberta da escravidão que o sujeitam na terra. É um dom de Deus que ele aceita com respeito e alegria. Este privilégio lhe permite escalar as prodigiosas montanhas do espaço, e alcançar dimensões no firmamento que outros mortais não alcançarão. Este presente permite apreciar a perfeição do criador e o absurdamente pequeno humano.

Permite-lhe igualmente reconhecer que ninguém há visto a montanha dali, como sua sombra do céu. Distinguir uma pessoa que deu sua alma à Aviação é fácil, em meio à multidão quando um avião passa seu olhar volta-se imediatamente ao firmamento buscando-o e não descansará até que o veja. Não importa quantas vezes haja visto o mesmo avião, é preciso vê-lo novamente, é algo inconsciente e espontâneo. Os pilotos talvez possam explorar os elementos físicos do voo, mas descrever o que ocasiona sua existência é impossível  porque explicar a magia de voar esta além das palavras.
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A pessoa do ano

A pessoa do ano

CONTARDO CALLIGARIS
FOLHA DE SP

"Nem sempre se trata de uma figura admirável. O critério da escolha é a influência. Prova disso: em 1938, a pessoa do ano foi Adolf Hitler, e Stálin ganhou em 1939"


Tradicionalmente, no fim de dezembro, a revista Time elege a "pessoa do ano" e lhe dedica sua capa.

Nem sempre se trata de uma figura admirável. O critério da escolha é a influência, o peso -para o bem ou para o mal. Prova disso: em 1938, a pessoa do ano foi Adolf Hitler, e Stálin ganhou o título em 1939 por causa dos possíveis efeitos catastróficos do pacto germano-soviético de não agressão (certamente pouco apreciado pela Time e por seus leitores). Stálin foi pessoa do ano novamente (desta vez, por razões lisonjeiras) em 1942, pela vitória de Stalingrado, que mudou o curso da Segunda Guerra (1939-45).

Como já sabíamos antes que a Time desta semana fosse publicada, a pessoa do ano de 2011 é "The Protester" - o protestador, no sentido de manifestante que contesta e protesta.

A Time reconhece que há diferenças consideráveis entre as três categorias principais de protestadores do ano, ou seja, entre: 1) os insurrectos da Primavera Árabe, que pediram (e muitos deles ainda pedem) uma mudança de regime; 2) os indignados europeus, desempregados e/ou ameaçados pela crise de seus Estados assistenciais; e 3) os revoltados norte-americanos do movimento "Ocupe Wall Street", descontentes com a desigualdade e com o poder do capital financeiro (um pouco no espírito da revolta de Seattle em 1999).

Mas a revista julga que os traços comuns a esses grupos são mais importantes que suas diferenças: nos três casos, a massa dos protestadores é composta de jovens, instruídos, de classe média, que não se identificam com partidos políticos oficiais e acreditam "que o sistema político e a economia de seu país tenham se tornado disfuncionais e corruptos - democracias de fachada, manipuladas para favorecer a ricos e poderosos".

Há outra diferença aparente entre os grupos: como nota Kurt Andersen, os manifestantes europeus e de Wall Street se queixam da falta de democracia nos seus regimes, enquanto muitos combatentes da Primavera Árabe apontariam esses regimes como modelos desejáveis de funcionamento democrático.

Contradição? Nem tanto. A democracia é um sistema que sobrevive à condição de que nunca paremos de lutar, ou seja, ela é sempre perfectível e se perde se a consideramos perfeita e deixamos de lutar por ela - para estabelecê-la (como os árabes) ou para aprimorá-la (como europeus e americanos), tanto faz.

Além disso, a Time não escolheu um grupo: a pessoa do ano é um indivíduo, "o" protestador. Algo análogo tinha acontecido em 1956, quando os tanques da União Soviética esmagaram a resistência popular húngara. A revista elegera pessoa do ano o "Hungarian Freedom Fighter", o lutador húngaro pela liberdade. Nesse caso também, não fora honrado um grupo, mas "o" lutador, um indivíduo - anônimo, mas um indivíduo mesmo assim, como o "protester" de 2011.

Isso não acontece apenas porque "a pessoa do ano" teria que ser necessariamente singular (uma pessoa, justamente). Há outra razão: a revista escolheu "o" indivíduo que manifesta porque (como escreveu Rick Stengel na apresentação), independentemente da razão pela qual ele protesta, pelo simples fato de protestar, essa figura "literalmente encarna a ideia de que a ação individual pode acarretar mudanças coletivas e colossais".


Em suma, alguns dirão que a escolha do protestador como pessoa do ano de 2011 não foi certa, porque, por exemplo, o foco dos protestos é vago e seus efeitos futuros ainda incertos - eles perguntarão: "Não será cedo para dizer se esses protestos transformaram alguma coisa para melhor?".

Mas a Time enxergou outra coisa: a atitude do indivíduo que protesta é a matriz de qualquer democracia. A coragem do manifestante, mesmo que, às vezes, a gente o julgue inoportuno, mesmo que discordemos de suas razões, de seus pedidos e dos meios pelos quais ele se expressa, não deixa de ser a grande garantia da democracia.

Sempre me esforço para me lembrar disso quando sou aprisionado no meu carro por uma manifestação que paralisa o trânsito da cidade: o protestador acredita na possibilidade de seu ato mudar o mundo, e é graças a essa fé que a democracia se afirma e insiste - para todos nós.

Enfim, ao ler as retrospectivas, 2011 parece ter sido um ano de alegrias, dores e incertezas, um ano intenso. Espero que o próximo seja, para todos nós, tão interessante quanto este, se não mais.
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A escolha é sua


A escolha é sua

Você pode curtir ser quem você é, do jeito que você for, ou viver infeliz por não ser quem você gostaria.Você pode assumir sua individualidade, ou reprimir seus talentos e fantasias, tentando ser o que os outros gostariam que você fosse.
Você pode produzir-se e ir se divertir, brincar, cantar e dançar, ou dizer em tom amargo que já passou da idade ou que essas coisas são fúteis.
Você pode olhar com ternura e respeito para si próprio e para as outras pessoas, ou com aquele olhar de censura, que poda, pune, fere e mata, sem nenhuma consideração para com os desejos, limites e dificuldades de cada um, inclusive os seus.
Você pode amar e deixar-se amar de maneira incondicional, ou ficar se lamentando pela falta de gente à sua volta.
Você pode ouvir o seu coração e apaixonadamente viver, ou agir de acordo com o figurino da cabeça, tentando analisar e explicar a vida antes de vivê-la.
Você pode deixá-la como está para ver como é que fica, ou com paciência e trabalho conseguir realizar as mudanças necessárias na sua vida e no mundo à sua volta.
Você pode deixar que o medo de perder paralise seus planos, ou partir para a ação com o pouco que tem e muita vontade de ganhar.
Você pode amaldiçoar sua sorte, ou encarar a situação como uma grande oportunidade de crescimento que a vida lhe oferece.
Você pode mentir para si mesmo, achando desculpas e culpados para todas as suas insatisfações, ou encarar a verdade de que, no fim das contas, sempre é você quem decide o tipo de vida que quer levar.
Você pode escolher o seu destino e, através de ações concretas, caminhar firme em direção a ele, com marchas e contramarchas, avanços e retrocessos, ou continuar acreditando que ele já estava escrito nas estrelas e nada mais lhe resta a fazer senão sofrer.
Você pode viver o presente que a vida lhe dá, ou ficar preso a um passado que já acabou - e portanto não há mais nada a fazer -, ou a um futuro que ainda não veio e que portanto não lhe permite fazer nada.
Você pode ficar numa boa, desfrutando o máximo de coisas que você é e possui, ou se acabar de tanta ansiedade e desgosto por não ser ou não possuir tudo o que você gostaria.
Você pode engajar-se no mundo, melhorando a si próprio e, por conseqüência, melhorando tudo que está à sua volta, ou esperar que o mundo melhore para que então você possa melhorar.
Você pode celebrar a Vida e a Energia Universal que o criou, ou celebrar a morte, aterrorizado com a idéia de pecado e punição.
Você pode continuar escravo da preguiça, ou comprometer-se com você mesmo e tomar atitudes necessárias para concretizar o seu Plano de Vida.
Você pode aprender o que ainda não sabe, ou fingir que já sabe tudo e não precisa de aprender nada mais.
Você pode ser feliz com a vida como ela é, ou passar todo o seu tempo se lamentando pelo que ela não é.A escolha é sua.E o importante é que você sempre tem escolha.
Pondere bastante ao se decidir, pois é você que vai carregar - sozinho e sempre - o peso das escolhas que fizer.
Colaboração de Wilma Santiago

Esqueceram do custo socioambiental

ANDRÉ VILLAS-BÔAS e MARCELO SALAZAR
O GLOBO


Amais polêmica obra do PAC, a Hidrelétrica de Belo Monte, é parte de um projeto antigo do governo brasileiro, cujas modificações ao longo dos anos geram desinformação. A iniciativa do grupo de artistas que compõe o movimento gota d"água surge no momento em que o início da construção da obra suscita questionamentos. O vídeo dos artistas está provocando um debate amplo e necessário sobre a política energética do país.

Belo Monte é tida como a terceira maior usina hidrelétrica do mundo. No entanto, a energia firme de Belo Monte é de 4.571MW dos 11.233MW instalados. Sua Eficiência energética é de aproximadamente 39% enquanto a média brasileira está entre 50% e 60%. Isso ocorre porque é necessário, ao desviar a água do Xingu para um lago artificial, garantir a manutenção de uma vazão mínima para os cerca de cem quilômetros da região da Volta Grande do Xingu, onde vivem índios e ribeirinhos que, apesar de não terem suas áreas alagadas, serão afetados.

O valor total da obra é incerto. De acordo com Norte energia será de 27,46 bilhões de reais, porém já foram feitas estimativas muito diferentes disso. Historicamente grandes obras na Amazônia custam até duas vezes mais do que o anunciado inicialmente.

O tamanho da área alagada, de acordo com o edital do leilão de Belo Monte, é de 668km2, mas em 2009 registravam-se 440km2 e em 2010, 516km2. A destruição da floresta associada à Belo Monte, entretanto, será muito maior do que a área do lago, podendo chegar, nos próximos 20 anos, a 5.316km2.

Uma hidrelétrica é, geralmente, considerada geradora de "energia Limpa". Porém, os impactos socioambientais diretos e indiretos da construção de uma usina da magnitude de Belo Monte na Amazônia geram consequências que vão além da emissão de gases causadores de efeito estufa e das áreas afetadas diretamente com as construções. Deslocamento de milhares de pessoas, desmatamentos, acirramento de conflitos de terra em função da atração de pelo menos 96 mil pessoas para uma região com situação fundiária instável e sem infraestrutura.

Todos esses impactos poderiam ser previstos, compensados ou mitigados, caso os estudos tivessem sido feitos prévia e conclusivamente, e o processo de licenciamento previsto por lei respeitado. O tratamento da obra na lógica de fato consumado, sob o fantasma do apagão, fez com que direitos constitucionais dos diversos povos não fossem respeitados e investimentos preventivos não fossem realizados. O Estado se vê na contingência de remendar ações mitigatórias cuja conta não é agregada ao valor real da obra.

O Brasil deveria investir na diminuição da perda gerada nas linhas de transmissão, estimada atualmente em 20%, quantidade correspondente à geração de Belo Monte por ano e em outras fontes. A geração de eletricidade por Biomassa tem potencial de 28 mil MW e o potencial eólico é de 143 mil MW. Com a média anual de radiação no Brasil entre 1.742 e 2.300 KWh/m2, apenas 5% da energia atenderia toda a demanda brasileira atual por eletricidade. O Brasil deve ainda considerar no Planejamento energético a construção de hidrelétricas, porém de forma seletiva e considerando os custos socioambientais associados.

Falta vontade política para fazer investimentos em energias alternativas de forma a torná-las viáveis em curto prazo e para discutir de fato a política energética do país.

ANDRÉ VILLAS-BÔAS e MARCELO SALAZAR são integrantes do Instituto Socioambiental
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Impressora do futuro

Malthus versão século 21

Malthus versão século 21 

MARIO CESAR FLORES
O ESTADÃO


O fantasma da tese de Malthus - a dissonância entre o aumento da população e o da produção de alimentos - foi exorcizado pela produtividade moderna, ou pode sê-lo onde a fome persiste, se complementada pela capacidade institucional, interna e internacional (OMC, FAO). Há bolsões de fome trágica, a exemplo do Sudão, mas a desnutrição ainda manifesta mundo afora resulta mais da falta de renda para adquirir o alimento que da produção insuficiente. Em contrapartida, preocupa a nova versão do fantasma malthusiano: a distância entre, de um lado, demandas essenciais à vida digna de 7 bilhões de seres humanos e crescendo (193 milhões no Brasil), como são emprego e renda, educação, atendimento à saúde, energia, transporte, habitação, água potável, saneamento, seguridade social, e por aí vai, a que se somam as demandas do modelo consumista e lascivo (o uso do carro...), e, do outro, a capacidade do Estado, da sociedade e da natureza (ameaça ambiental, exaustão de recursos naturais) de satisfazê-las. O tema é global, mas vamos desenvolvê-lo referenciado ao Brasil.

Até os anos 1970 o aumento populacional do Brasil era apoiado na ideia, avalizada pela doutrina da segurança nacional da época, que associava progresso e segurança de país extenso à população grande (difícil explicar Canadá e Austrália...) e via a população grande como mercado naturalmente também grande. Essa ideia vem sendo revista e já é consensual que população grande, pobre e mal preparada compromete o progresso em tranquilidade, o meio ambiente, a segurança e a qualidade da democracia. Não acompanhado pelo desenvolvimento com dimensão social, diferente do mero crescimento econômico, o aumento da população é socialmente aviltante, culturalmente mediocrizante e ambientalmente predatório. Haja vista a favelização desordenada, que cria preconceitos prejudiciais à solidariedade social, degrada o meio ambiente e induz a convivência conformada com o delito.

Nossa população aumentou de 30 milhões em 1920 (o Canadá hoje) para 193 milhões em 2011. Nesse período nosso PIB cresceu a ponto de ser o sexto do mundo. A produção agropecuária acompanhou e ajudou a propulsar o crescimento econômico e demográfico (menos fome, mais saúde), mas a satisfação do imenso rol das demais demandas essenciais do povo, ou nele inculcadas pela sedução da modernidade, não ocorreu em ritmo similar - descompasso transparente no nosso modesto ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), no mundo. Muitas dezenas de milhões de brasileiros vivem hoje prejudicados pela educação medíocre, pelo caótico atendimento à saúde e pelo apoio social e infraestrutural precário, na ilusão da ascensão social via consumo em ene prestações. Ou sobrevivem na informalidade, no subemprego e assistencialismo, que envilecem a dignidade cidadã. Atraídos pelo fascínio do consumismo, mas não compelidos pela fome, muitos milhares praticam o delito como meio de vida.

É bem verdade que o poder público não foi competente na busca da compatibilização da evolução econômica com a social. De qualquer forma, teria sido difícil construir infraestrutura de apoio, instituições de ensino e de saúde e moradias decentes, organizar um modelo socioeconômico com empregos dignos e uma seguridade social eficiente e correta, para quase cinco Argentinas atuais em 90 anos, uma Argentina a cada 22 anos! O ritmo de crescimento da população vem caindo há 40 anos e se aproxima do (ou já é) razoável - o que exigirá (já exige na Europa) a revisão da previdência, que responda ao problema "envelhecimento das gerações da época prolífera versus inserção ativa de menos jovens". Mas se aproxima do razoável com distorções interativas que complicam a redução do déficit: a base da pirâmide social o reduz mais lentamente que os estratos superiores e o Sul e o Sudeste relativamente ricos, mais rapidamente que as regiões onde a dívida social é maior. Quadro similar ao do mundo, como mostra a diferença entre a natalidade europeia e a africana.

A versão século 21 do fantasma malthusiano está longe de resolvida. Sua solução implica o complexo e demorado atendimento das demandas essenciais esboçadas acima e a revisão do imaginário que, a despeito das limitações, inclusive da natureza, pretende a população idilicamente motorizada e equipada com a miríade de utensílios de última geração, travestidos de necessários - iPads, notebooks, smartphones, videogames, TVs de alta definição, celulares, micro-ondas... -, turistando pelo ar ou em cruzeiros marítimos. Imaginário crescente na metade inferior da pirâmide social, cuja tradição conformista vem sendo aluída pela pressão da lógica do modelo em que a oferta cria a necessidade e a pretensão aos padrões dos estratos superiores. Estes, egoisticamente insensíveis ao fato de que a solução depende também do comedimento em seus padrões hedonistas instigadores de inquietante frustração de bilhões - da classe média (ou "oficialmente" assim interpretada no Brasil...) insatisfeita aos despossuídos.

A continuar o cenário atual de distanciamento (em algumas regiões, aumentando) entre a realidade e o desejado (o de fato justo e o incutido na aspiração popular), no correr deste século a ordem global será tumultuada pela intranquilidade social e política. Tendência já sintomática, por exemplo, na inversão da migração: ao tempo da ameaça original de Malthus, de europeus pobres para os espaços da esperança. Sob a pressão da versão século 21 da ameaça, a migração inversa, de asiáticos (decrescente com o desenvolvimento regional), africanos e latino-americanos para o suposto nirvana europeu e norte-americano, que, além de estar vivendo uma sucessão de crises, já é refratário à imigração, vista como carga social, competidora no mercado de trabalho e fonte de violência e delito.
Em suma, um desafio neomalthusiano para estadistas, no mundo e no Brasil.
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2012 - tempos interessantes



Roberto Abdenur 

Continuarão a ser fonte de instabilidade as situações ainda indefinidas da Primavera Árabe

Conforme o antigo vaticínio chinês, estamos fadados a viver, ao longo de 2012, "tempos interessantes". Tempos difíceis, de preocupações, riscos e incertezas. Depois de três décadas de prosperidade, o mundo entrou em 2008 em período de crise econômica com precedentes apenas na Depressão dos anos 1930. 

A crise financeira transformou-se em crise "estrutural". Passou a abarcar, ademais dos problemas no setor bancário, as dívidas soberanas de países do euro. Estagnação e, em alguns casos, recessão marcarão o ano na Europa.

Nos Estados Unidos, alguma expansão ainda ocorrerá. Mas subsistem inquietações sobre até onde se conseguirá, com sistema político polarizado e em impasse, obter reativação econômica a curto prazo. 
Na China, com a contração dos mercados europeu e americano, exportações e investimentos devem perder força. Enquanto o país procura aumentar o consumo interno, o crescimento cai da casa dos 10% para a dos 8% -índice perigosamente próximo do mínimo necessário para evitar descontentamento. E resta ver até que ponto possa a economia evitar o risco de estouro do que parece ser uma bolha imobiliária.

O Brasil precisa fomentar as forças domésticas para compensar a perda de mercados (sobretudo o de alguns produtos vendidos à China, como minério de ferro) e de créditos externos. Em quadro de generalizadas dificuldades e baixo crescimento na economia internacional, precisaremos esforçar-nos para manter crescimento de entre 3 e 4%.

No plano político internacional, continuarão a ser fonte de instabilidade as situações ainda indefinidas da Primavera Árabe no Egito, Síria, Iêmen e partes do Golfo, como no Bahrein. Novos desdobramentos podem dar-se no conflito entre israelenses e palestinos. E deverão ganhar força as tensões em torno do Irã, por conta do programa nuclear em acentuada evolução e do que representa Teerã como perigo para Israel e para a estabilidade regional.

O futuro do Iraque após a retirada norte-americana se mostra incerto. Não é de todo impossível a eclosão de uma guerra civil.

Uma certa guerra fria já em curso entre Irã e países do Golfo, de uma parte, e EUA, de outra, pode chegar a entreveros militares de graves repercussões para a economia global, pelos efeitos sobre o petróleo. 
Com a estagnação nos EUA e na Europa, continuará na direção da Ásia-Pacífico o deslocamento dos eixos principais de dinamismo econômico. Mas a região será também palco de novas tensões. Há a incógnita da agora renovada imprevisibilidade do governo norte-coreano pós-Kim Jong-il. Prossegue a surda, mas crescente disputa por espaços geopolíticos entre a China e os EUA. E, mais ao Sul, entre Índia e China. 
Uma China que tenderá a beneficiar-se do distanciamento entre EUA e Paquistão e do possível surgimento de um Afeganistão que não mais terá mais presença americana.

Em meio a isso, a grande incógnita: que desfecho terá a eleição presidencial nos EUA. Se a continuidade, num segundo mandato de Obama, de um mínimo de sobriedade e comedimento no plano externo, ou o retrocesso para posturas unilaterais e agressivas, como pregam pré-candidatos republicanos. 
Serão tempos interessantes, sem dúvida.

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O pedágio urbano é uma necessidade

O tema é mobilidade urbana e desenvolvimento sustentável.
O caos citado pelo autor é o resultado do desenvolvimento econômico ao qual as classes E, D e C passaram a ser atores atuantes, ou seja, compraram carros e ajudaram a economia e municípios com geração de empregos e impostos. Em outras palavras, "as dores do crescimento".


O aumento da disponibilidade de moradias e de empresas e escritórios também gera maior quantidade de veículos nas ruas, dessa forma o assunto precisa da participação da sociedade.


Eis um tema farto e controverso onde a ação responsável dos ambientalistas se faz necessária.


Acredito que em breve este tema será, também, obrigatório em concursos públicos e ENEM. Portanto, vale a pena já ir se familiarizando.




O pedágio urbano é uma necessidade
EDUARDO JORGE MARTINS ALVES SOBRINHO
FOLHA DE SP


É preciso ação mais severa contra o uso insustentável de carros movidos a combustível fóssil; sugiro um plebiscito municipal sobre o pedágio.

Li com entusiasmo o artigo de Ricardo Abramovay publicado na Folha, no último dia 14 ("Mobilidade versus carrocentrismo"), sobre o impasse entre expansão acelerada de veículos privados individuais (automóveis e motos) e mobilidade dos grandes centros urbanos.

Sua tese é o conflito entre desenvolvimento sustentável e trânsito progressivamente paralisado. Ele cita três questões ligadas ao problema: ineficiência energética dos veículos, necessidade de oferta maior de opções de locomoção e um possível compartilhamento dos carros.

Nesse caso, o conflito com o chamado desenvolvimento sustentável -que é o equilíbrio entre os fatores social, econômico e ambiental- não se refere somente ao drama do trânsito ou da mobilidade.

Além desse ponto, outros temas são diretamente afetados pela hegemonia dos veículos individuais: a saúde pública e a crise climática (aquecimento global).

Em São Paulo, Rio, Brasília, Salvador, Porto Alegre etc., não há provavelmente fator de morbidade e mortalidade mais agressivo do que o produzido pelo impacto dos veículos na saúde pública. Seja a poluição que nos adoece e mata lentamente, seja a epidemia de acidentes que mata entre 40 e 50 mil brasileiros por ano.

Dos mesmos escapamentos saem também outros gases que atacam a saúde do planeta. No caso do Brasil, cerca de 50% das emissões são veiculares por uso de combustível fóssil, nossa principal contribuição para o aquecimento global.

Em São Paulo, desde 2005 algumas políticas públicas foram implementadas. Aumentamos a oferta de transporte público ampliando o número de ônibus, expandindo o metrô e modernizando os trens.

A Secretaria Municipal de Transporte, que coordena o trabalho de 15 mil ônibus, já conseguiu em pelo menos cerca de 1.800 deles ter ação inovadora de substituição do diesel: a recuperação dos ônibus elétricos, o início da frota de ônibus a Etanol, o uso de 20% de Biodiesel, os ônibus híbridos elétricos/diesel e os ônibus com diesel de cana.

O apoio ao uso da bicicleta também ajuda, e tudo isso é orientado pela lei climática municipal aprovada em junho de 2009.

A inspeção veicular diminui o impacto dos poluentes nos nossos sistemas respiratório e circulatório, além de reduzir o consumo de combustível fóssil e ser uma ação positiva para o clima.

No entanto, o conflito entre desenvolvimento sustentável e uso insustentável de veículos privados movidos a combustível fóssil precisa de uma ação mais severa.

O que está dando certo em cidades como Londres, Estocolmo e Singapura é o pedágio urbano. Ele não vem sozinho, porém apenas a sua implantação já faz cair em 15% o uso de veículos.

O recurso arrecadado pelo pedágio deve ficar em um fundo próprio vinculado à expansão da quantidade e da qualidade do transporte público. Isso permite que a cidade avance celeremente na oferta de mobilidade pública.

Kassab, Marta, Alckmin e Maluf, na última eleição para prefeito, em 2008, prometeram não implantar o pedágio urbano e tiveram 95% dos votos. A democracia, portanto, diz que o povo não aprovou o pedágio naquela ocasião.

Sugestão: fazer um plebiscito municipal fora do período eleitoral, para fugir da demagogia. Dois comitês, um favorável e outro contrário, teriam tempo suficiente para expor argumentos técnicos sobre o tema em um ambiente menos contaminado pela paixão política e pelo desejo de poder.

Uma última observação: o caso é grave e não pode esperar muito.
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O Brasil na corrida global

O artigo ressalta a sexta posição do Brasil no ranking das economias mundiais ao mesmo tempo que evidencia algumas prioridades a serem, em caráter de urgência, adotadas a fim de manter-se tal posição.
Cabe ressaltar, contudo, que a Inglaterra perdeu a sexta posição em função de seus financiamentos nas economias dos países que hoje passam por crises na Europa, notadamente Grécia, Portugal, Espanha e Itália, ou seja, quando aquela crise acabar volta-se ao que era.
Temos que, como sociedade, nos envolvermos mais na sustentabilidade da nova posição.




O Brasil na corrida global
O Estado de S. Paulo


O Brasil é hoje a sexta maior economia do mundo, mas poderá levar até 20 anos para alcançar o padrão de vida europeu de antes da crise, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorando com louvável comedimento a notícia de mais um avanço do País na classificação global. O Brasil deve fechar 2011 com um Produto Interno Bruto (PIB) maior que o do Reino Unido, segundo levantamento do Centro de Pesquisa de Economia e Negócios, uma entidade britânica, divulgado pelo jornal The Guardian. Muito investimento social e econômico ainda será necessário para chegar a um nível de vida semelhante ao da Europa, afirmou o ministro. Mas a economia nacional continuará crescendo, nos próximos anos, em velocidade só inferior à de alguns emergentes, acrescentou.

Ele está certo quanto à necessidade de mais investimentos. Isso será indispensável não só para a melhora das condições de vida, mas também para o País conservar uma posição razoável na corrida internacional. Índia e Rússia poderão ultrapassar o Brasil nos próximos anos, segundo algumas projeções, e assim o sexto lugar será perdido.

Mas o governo brasileiro deve preocupar-se menos com isso do que com as condições necessárias para reforçar o dinamismo da economia nacional. Elevar a proporção entre o investimento e o PIB para uns 25% é uma dessas condições. Nos últimos anos, a taxa tem sido inferior a 20%. Será preciso, portanto, aumentar a poupança do governo e reduzir o custo do investimento privado. Não bastará aumentar a oferta de crédito barato. As empresas pagam impostos pesados para ampliar e modernizar sua capacidade produtiva e esse é um dos primeiros entraves ao aumento do seu poder de competição e ao seu crescimento.

Será indispensável aumentar a eficiência das políticas públicas. Dinheiro no orçamento e capitais privados são insuficientes para a realização de obras de infraestrutura, quando o governo é incapaz de produzir e de executar projetos e também de coordenar o envolvimento das empresas privadas nos seus programas.

Segundo levantamento do Estado, o governo adiou para o próximo ano o início de nove projetos ou conjuntos de projetos no valor de R$ 46,7 bilhões por falhas estritamente gerenciais - atrasos em licitações, falta de licenciamento ambiental, erros em editais, defeitos em modelos de contratação e fraudes. A lista inclui as obras do trem-bala, de aeroportos, de estradas e de hidrelétricas, entre outras.

Planos de saneamento estão emperrados na maior parte do País, principalmente por falhas na elaboração de projetos e, em muitos casos, pelo absoluto despreparo dos governos locais para projetar as obras necessárias. Os órgãos de financiamento ficam impossibilitados de repassar o dinheiro disponível por causa do despreparo técnico e gerencial dos tomadores potenciais.

Investir em saneamento básico é uma das condições mais importantes para a elevação do padrão de vida de milhões de brasileiros. A maior parte da população dispõe de abastecimento de água, mas há uma enorme deficiência de serviços de esgotamento sanitário.

É igualmente indispensável cuidar da qualidade do investimento. Parte do dinheiro investido pelo governo federal é destinada a projetos de interesse estritamente clientelístico e paroquial, por meio de emendas de parlamentares. Algumas dessas obras podem ter utilidade local, mas essa forma de investir pulveriza dinheiro e torna seu uso pouco eficiente. É um problema político e será necessária muita disposição para enfrentá-lo.

Enfim, é preciso cuidar do aspecto mais nobre de todas as políticas de desenvolvimento econômico e social: o binômio educação e tecnologia. O Brasil nunca poderá alinhar-se de fato às economias mais avançadas enquanto seu sistema educacional for insuficiente até para universalizar um domínio razoável da linguagem e das técnicas básicas da matemática.

Os efeitos da demagogia, do populismo e das prioridades erradas são evidenciados pela má formação dos alunos diplomados nos cursos fundamentais e médios. Ou se corrigem esses defeitos ou o Brasil, hoje uma economia grande, nunca será uma economia capaz de integrar a primeira divisão.
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Mobilidade versus carrocentrismo

O artigo abaixo fala de mobilidade urbana veicular e desenvolvimento sustentável.
É uma excelente amostra de um estudo científico mais amplo onde a sociedade deveria conhecer com mais profundidade para melhor decidir acerca de seus destinos.

O tema é de maior urgência e importância do que a "eterna vigilância da Amazônia" por parte das ONG estrangeiras que muito influenciam nossos cidadãos "neo-ambientalistas de mídias sociais". 

Mobilidade urbana e Código Nacional de Resíduos Sólidos estão interligados e são decididos sem o interesse da sociedade nas reuniões plenárias nas assembléias legislativas onde são decididas e implementadas.


Em breve, o tema suscitará um significativo impacto na produtividade e na vida organizacional brasileira o que irá requerer novas formas de abordagem e de treinamentos dignos de serem antecipados nas empresas.

A sociedade merece o desenvolvimento econômico e social para fugir da desigualdade social e violência urbana que vem, sempre, a reboque, todavia precisa conhecer mais sobre os demais fatores inseridos nessa complexa equação.

Um atual e excelente tema que iremos nos defrontar nos próximos anos.



Mobilidade versus carrocentrismo
Artigo de Ricardo Abramovay


Ampliar espaços de circulação para automóveis individuais é enxugar gelo, como já bem perceberam os responsáveis pelas mais dinâmicas cidades.

[Folha de S.Paulo] Automóveis individuais e combustíveis fósseis são as marcas mais emblemáticas da cultura, da sociedade e da economia do século 20.

A conquista da mobilidade é um ganho extraordinário, e sua influência exprime-se no próprio desenho das cidades. Entre 1950 e 1960, nada menos que 20 milhões de pessoas passaram a viver nos subúrbios norte-americanos, movendo-se diariamente para o trabalho em carros particulares. Há hoje mais de 1 bilhão de veículos motorizados. Seiscentos milhões são automóveis.

A produção global é de 70 milhões de unidades anuais e tende a crescer. Uma grande empresa petrolífera afirma em suas peças publicitárias: precisamos nos preparar, em 2020, para um mundo com mais de 2 bilhões de veículos.

O realismo dessa previsão não a faz menos sinistra. O automóvel particular, ícone da mobilidade durante dois terços do século 20, tornou-se hoje o seu avesso.

O desenvolvimento sustentável exige uma ação firme para evitar o horizonte sombrio do trânsito paralisado por três razões básicas.

Em primeiro lugar, o automóvel individual com base no motor a combustão interna é de uma ineficiência impressionante. Ele pesa 20 vezes a carga que transporta, ocupa um espaço imenso e seu motor desperdiça entre 65% e 80% da energia que consome.

É a unidade entre duas eras em extinção: a do petróleo e a do ferro. Pior: a inovação que domina o setor até hoje consiste muito mais em aumentar a potência, a velocidade e o peso dos carros do que em reduzir seu consumo de combustíveis.

Em 1990, um automóvel fazia de zero a cem quilômetros em 14,5 segundos, em média. Hoje, leva nove segundos; em alguns casos, quatro.

O consumo só diminuiu ali onde os governos impuseram metas nesta direção: na Europa e no Japão.

Foi preciso esperar a crise de 2008 para que essas metas, pela primeira vez, chegassem aos EUA. Deborah Gordon e Daniel Sperling, em “Two Billion Cars” (Oxford University Press), mostram que se trata de um dos menos inovadores segmentos da indústria contemporânea: inova no que não interessa (velocidade, potência e peso) e resiste ao que é necessário (economia de combustíveis e de materiais).

Em segundo lugar, o planejamento urbano acaba sendo norteado pela monocultura carrocentrista. Ampliar os espaços de circulação dos automóveis individuais é enxugar gelo, como já perceberam os responsáveis pelas mais dinâmicas cidades contemporâneas.

A consequência é que qualquer estratégia de crescimento econômico apoiada na instalação de mais e mais fábricas de automóveis e na expectativa de que se abram avenidas tentando dar-lhes fluidez é incompatível com cidades humanizadas e com uma economia sustentável. É acelerar em direção ao uso privado do espaço público, rumo certo, talvez, para o crescimento, mas não para o bem-estar.

Não se trata -terceiro ponto- de suprimir o automóvel individual, e sim de estimular a massificação de seu uso partilhado. Oferecer de maneira ágil e barata carros para quem não quer ter carro já é um negócio próspero em diversos países desenvolvidos, e os meios da economia da informação em rede permitem que este seja um caminho para dissociar a mobilidade da propriedade de um veículo individual.

Eficiência no uso de materiais e de energia, oferta real de alternativas de locomoção e estímulo ao uso partilhado do que até aqui foi estritamente individual são os caminhos para sustentabilidade nos transportes. A distância com relação às prioridades dos setores público e privado no Brasil não poderia ser maior.

Ricardo Abramovay é professor titular do Departamento de Economia da FEA, do Instituto de Relações Internacionais da USP e pesquisador do CNPq e da Fapesp.
Site: www.abramovay.pro.br
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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O grande saco de Papai Noel

 ROBERTO DaMATTA
O Estado de S. Paulo 

Quem se interessa pelo saco de Papai Noel? O trenó puxado pelas renas, suas roupas vermelhas, e casa em pleno Polo Norte - que nos trouxe a chamada "civilização ocidental" - têm um certo interesse. O mesmo ocorre com a sua logística que intriga os que, no futuro, serão doutores em gestão e finanças. Como é que ele faz com aquelas infindáveis listas de presentes que recebe do mundo inteiro? Como seleciona os presentes certos num mundo que não tem mais noção de quem é bonzinho ou levado? E num Brasil onde malfeitos são bem feitos? Quem, afinal, confecciona os presentes que levam a etiqueta made in China?

Daí o inusitado da pergunta que embaraçou meus pais: o que está no gigantesco saco de Papai Noel? Pois se tem presentes, deve também ter venenos.

Num primeiro momento o saco de Papai Noel é o baú mágico onde cabem todos os desejos. Caixa de Pandora do consumo, o saco produz aquela escuridão brilhante da publicidade que nos faz querer ter. Ademais, ele não está hermeticamente fechado, pois que se abre e fecha no ritmo do nosso desejo infindável de consumir, de ter e de gastar. Papai Noel vem e volta, mas o seu grande saco faz parte de nossas fantasias de riqueza fácil.

Quando eu ganhei um Cadillac-rabo-de-peixe de brinquedo, num Natal passado com os Mendonça Vianna, em São João Nepomuceno, eu sabia que essa piada de bom gosto havia saído do grande saco de Papai Noel. No mesmo modo que as obrigatórias Missas do Galo estavam todas dentro daquele apêndice natalino que continha tudo. Soube, na mesma época, de uma contraditória morte em pleno Natal.

O saco de Papai Noel pode ser o mundo e o mundo é o Brasil. Claro que ele é global, mas o seu "aqui e agora" da vida, da doença, do amor, da comida, do ódio, da mentira, do perdão e da morte ficam aqui - ao alcance desta mesma mão que tecla esse texto. Cada qual, disse meu pai, tem o saco de Papai Noel que merece. E ganha o que pediu! - completou sério.

Eu, entretanto, estava numa crise de desejo. Apaixonado pela irmã do Décio (eu beijava respeitoso sua fotografia) eu oscilava entre pedir a Papai Noel um laboratório de química, uma máquina fotográfica ou um trem elétrico, esse brinquedo que foi o sonho de todos os meninos de minha idade. Em nossa rua, apenas vi o tal trem com um filho balofo de "alto funcionário público" que, graças a uma dessas sinecuras nacionais, havia residido nos Estados Unidos. Afora isso, todos ganhavam sempre o que não haviam pedido.

Vi logo que era raro receber exatamente o que se desejava. O primeiro erro do desejo é imaginar que ele pode ser satisfeito pelo saco de Papai Noel. Um saco que ao longo da vida vai mudando de significado.

Dentro dele há de tudo. Tem o automóvel comprado em 700 prestações, tem a dívida impagável do cartão, tem as ONGs nutridas por verbas governamentais ou por uma prefeitura ou ministério. O saco pode também transformar-se num casamento desandado ou um copo de uísque com soda. Ou ainda numa doença ou loteria. Mais das vezes, é apenas um simples desejo de tomar um copo d"água ou comer um pão quentinho com manteiga. O saco vai mudando conforme a vida que depende do mundo e da idade que faz esse mundo. Crianças, cabemos nele; adultos, temos que carregá-lo nas costas e ele às vezes fica muito pesado. Quando somos jovens, ele é esvaziado pelos nossos desejos. E no final da vida, quando o passado conta mais do que o presente, o futuro não existe e o ressentimento do que poderíamos ter recebido é insanável e, por isso, aceito; o saco do Papai Noel é um saco!

Há no mundo um sério problema com merecimentos.

Um frade conhecido meu achava que se havia justiça quando um pai punia um filho notoriamente errado, deveria haver uma justiça cósmica. Se há leis em algum lugar, dizia ele, deve haver leis (e justiça) em todos os lugares. A propósito, a frase é do antropólogo Edward B. Tylor e serve como epígrafe para o livro As Estruturas Elementares do Parentesco, que transformou Claude Lévi-Strauss em Lévi-Strauss e que foi publicado no Brasil numa coleção que dirigi.

Pois bem. Como um menino no Natal, o frade buscou essa lei que regeria os elos entre bem-aventuranças e sofrimentos - aquilo que os filósofos chamam de teodiceia - e nada descobriu. Na sua paróquia, numa gigantesca favela do Rio de Janeiro, ele registrava que os generosos, os trabalhadores, os honestos e os que tinham fé eram alvos de assaltos, falcatruas, falsas promessas, deslizamentos e tragédias; ao passo que os mentirosos, os hipócritas e os vis viviam bem. Alguns ficavam muito ricos, seus próximos estavam bem e, mais que isso, eles próprios se achavam o sal da terra.

Será que Papai Noel recebeu mesmo a minha carta ou ela se extraviou tangida pelos ventos fortes e gelados do ártico? Será que ele leu o que eu queria ou simplesmente leu e resolveu não me dar o que pedi? Será, porém, que no ano que vêm (se houver ano que vêm...) eu vou ganhar o que não ganhei neste ano?

Será que o grande saco de Papai Noel vai nos envergonhar novamente em 2012, fazendo crescer nossas favelas que irão ficar do tamanho da França? Com a palavra os que acreditam. E acreditar faz parte da aventura humana na qual nenhum de nós entra por querer. Trata-se de um saco infinito. Um saco de Papai Noel...
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O mensalão, a mentira ideológica e a vergonha do Exército

O artigo abaixo do ex-Min da Justiça e da Educação e ex-senador e governador do Pará, faz uma revisão de como a leniência da sociedade com os crimes contra o patrimônio público, que pertence ao brasileiro, não só permite como também estimula crimes semelhantes cada vez mais sofisticados.

Ele também ressalta a falta de isenção da mídia, esta quando comprada pelos dirigentes governamentais cuja postura dificulta o cidadão de conhecer a real dimensão e veracidade dos fatos.

Relembrando que a Sec de Comunicação Social do Planalto, a que compra profusos e caros espaços publicitários nos jornais, notadamente daqueles que são mais solidários e simpáticos ao governo, foi comandada e reestruturada por Franklin Martins, um ex-terrorista que passou mais de vinte e cinco anos dentro do Congresso como jornalista da Globo.

Entenderão, agora, os argumentos do autor do artigo abaixo. Dele eu sugiro a leitura do excelente livro "O hibrido fértil" e entenderão os motivos pelos quais o Pará é um estado de cidadania complexa.



O mensalão, a mentira ideológica e a vergonha do Exército 

JARBAS PASSARINHO
CORREIO BRAZILIENSE 

O mensalão chega ao limite dos prazos judiciais para a sua apuração às vésperas de consumar a absolvição coletiva dos denunciados, por efeito da prescrição voluntária. Os quatro anos decorridos, entre hoje e a denúncia da “organização criminosa”, assim denominada pelo honrado procurador-geral da República, Antônio Souza, ao Supremo Tribunal Federal, em agosto de 2007, foram fruto de manobras protelatórias dos advogados e da tardança tradicional da Justiça. Já causaram a prescrição do crime de formação de quadrilha que pesa sobre José Dirceu, “chefe da quadrilha dos 40”, assim qualificado na denúncia. Daí a preocupação com a possível prescrição total em 2012, ano final para o voto do relator, Joaquim Barbosa.

O processo avança a passo de cágado, agora sob a ameaça da declaração pública, intempestiva do voto anunciado pelo ministro Ricardo Lewandowski, revisor do processo, a quem cabe falar imediatamente e obrigatoriamente após receber o relatório, para opinar. Dizendo-se compelido a ler e opinar sobre mais de 2 mil páginas do processo, de que já recebera cópia e acaba de receber o original das mãos do ministro Barbosa, alega só poder fazê-lo em 2013.

Nessa data, estaremos há um ano de cumpridos todos os prazos para o voto final do ministro Joaquim Barbosa. Então dois ministros de conhecida inclinação para votar contra os mensaleiros terão deixado o STF por terem mais de 70 anos, obrigando-os à aposentadoria compulsória. Informa a revista Veja — edição de 21 de dezembro de 2011 — que “o voto anunciado do ministro Lewandowski criou um enorme mal-estar entre os colegas do Supremo Tribunal Federal”, pois tornaria o processo totalmente perempto.

Certamente não esperava que o relator, mediante grande esforço físico e mental, iria remeter-lhe o processo pronto para a revisão, como já o fez. Antecipou sua disposição de, recebido de volta o relatório com o parecer do revisor, estará pronto para apresentar seu voto final habilitando o STF a iniciar o julgamento em abril. No relatório, antecipa voto, condenando desde logo José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, líderes do PT e Marcos Valério, organizadores “do mecanismo que possibilitou ao governo de Lula desviar milhões de reais dos cofres públicos para financiar campanhas políticas e subornar deputados”.

O desafio do maior escândalo ocorrido logo no segundo ano do primeiro mandato de Lula abateu muito o então presidente. Sua popularidade desabou de 80% para 20%. Dizendo-se traído, foi acreditado. Cumpriu o conselho do seu ministro da Justiça, criminalista famoso, e passou a dizer que se tratava de “inocente caixa dois”. Desde então, os mensaleiros viraram vítimas de uma farsa.

A leniência de ontem é trocada hoje pelo combate aos acusados de má conduta, exceção para o companheiro de guerrilha. O atual ministro de Estado Fernando Pimentel é o caso. Companheira de crença ideológica que perfilhou quando, ainda estudante, a hoje presidente deixou-se empolgar pela paixão revolucionária que dominou o século 20. No discurso de posse na Presidência da República declarou que não se arrependia e tinha orgulho desse passado.

Já o ministro Pimentel, não. Em resposta aos que o atacam da prática de suspeita relação financeira com a Federação das Indústrias de Minas Gerais, quando deixou a Prefeitura de Belo Horizonte, sempre foi democrata toda a sua vida e pela defesa da democracia lutara contra a “ditadura militar”. Não é verdade. Desde sua filiação à facção marxista Colina, de estudantes de Minas Gerais, usando codinome, foi colega da jovem que hoje é presidente da República e do destacado líder Daniel Aarão Reis, mais tarde preso e exilado. Pois é Daniel quem o desmente por escrito para os jornais. Afirma que nenhum documento da guerrilha fala em luta pela democracia. Confirma-o também para a mídia Fernando Gabeira, enquanto José Dirceu acrescenta que a versão falsa foi um artifício usado a partir da luta pela anistia, por ser mais aceitável para com a opinião pública.

Quando eclodiu a série de desonestidades no Dnit do Ministério dos Transportes, o noticiário da mídia foi profuso em relação às fraudes em vários dos convênios para transposição de águas do Rio São Francisco para a região do semiárido do Nordeste. Obra de vulto faraônico do PAC, está praticamente paralisada por falta de verba para prosseguir os trabalhos. Aproveitando-se disso, houve quem se utilizasse da ausência da fiscalização permanente e desviasse máquinas do patrimônio da União para uso próprio ou para projetos do mesmo programa em curso, não importa.

Havia, entre os convênios, alguns a cargo do Exército. Fiquei confiante como sempre na tradicional reputação respeitável colhida pela Engenharia Militar de Construção. Os civis responsáveis pelos desvios foram demitidos. A honestidade, nunca antes manchada e por isso dela colhida em obras civis associadas, horrorizou-me vê-la pela primeira vez moralmente ofendida. Temos orgulho desde a existência do Exército, de centenas de anos, de conduta inatacável. Antes da eclosão pública e política das fraudes, o Exército já havia aberto inquérito que certamente trará consequências cuja gravidade é incompatível com generosidade para com quem enlameou a honra da instituição.
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Décadas de fracasso

Para termos redução da desigualdade social  e fim da violência urbana precisamos ter desenvolvimento. Desenvolvimento se dá com energia, saúde, saneamento, habitação, transporte, telecomunicações dentre um complexo grupo de atividades industriais, comerciais e tecnológicas que, necessariamente, causam impactos ao meio-ambiente.

Como farão para reduzir a pobreza no mundo com a economia verde sustentável eu não sei, todavia vejo que, no mundo, suas alternativas, hoje, são economicamente inviáveis.

Duvido muito que os países europeus com aquela economia em crise, irão ser os primeiros signatários inexoráveis do que vier a surgir de prático e pragmático na Rio+20. De fato, será para "inglês ver".

Entretanto o tema merece ser encarado com seriedade e, sobretudo, com maturidade livre das ideologias.



Décadas de fracasso 
RUBENS BARBOSA
O Globo 


A 17ª Conferência da convenção sobre mudança do clima, realizada em Durban, na África do Sul, teve como principal prioridade a busca de acordo para a extensão do Protocolo de Kioto e a criação de um fundo para financiamento de ações climáticas urgentes nos países em desenvolvimento.

Embora seus resultados possam ser vistos como limitados e tendo deixado no ar muitas incertezas, o fato é que a Plataforma de Durban alcançou os objetivos políticos mais importantes: a extensão do Protocolo de Kioto para depois de 2012, a negociação até 2015 de um novo protocolo, que inclua todos os países com iguais obrigações, a entrar em vigor até 2020, e a criação do Fundo Verde.

Como em todas as negociações internacionais de difícil conclusão, o mérito foi deixar ambiguidades criativas no documento final e estender o prazo para sua negociação, o que tornou oneroso politicamente para EUA, China, Europa e Índia se manifestarem contra o consenso.

Na prática, todos os países, desenvolvidos e em desenvolvimento, passarão a ter compromissos obrigatórios de redução da emissão de gás de efeito estufa, visto que se omitiu referência ao princípio da obrigação comum, porém diferenciada. O Brasil mudou de posição e aceitou a redução obrigatória de emissões.

O Fundo Verde, no valor de US$100 bilhões, também foi criado com ambiguidades semelhantes: os países desenvolvidos se comprometeram a contribuir anualmente com recursos até 2020, mas os aportes financeiros e os mecanismos de longo prazo ainda terão de ser negociados.

O Brasil atuou de forma construtiva para salvar a conferência e evitar um fracasso antecipado da reunião do Rio em junho de 2012.

Na visão do governo brasileiro, a Rio+20 deverá ser uma conferência sobre o desenvolvimento em suas dimensões econômicas, social e ambiental. O principal objetivo será a renovação do compromisso internacional com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas por cúpulas anteriores sobre o assunto e do tratamento de temas novos.

A agenda da Conferência - que não se confunde com a pauta discutida em Durban - terá dois temas principais: a economia verde, no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza, e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável.

O tema da "economia verde", proposto pelos países desenvolvidos, encontrou resistência de diversos países em desenvolvimento, devido ao temor de que a "economia verde" substituísse o conceito de desenvolvimento sustentável, que preserva o equilíbrio entre os objetivos do desenvolvimento econômico, da proteção ambiental, e da promoção do bem-estar social. Como país-sede tanto da Rio-92, que consagrou, no plano internacional, o conceito do desenvolvimento sustentável, quanto da Rio+20, que se pauta por esse legado, o Brasil procura ressaltar as oportunidades de complementaridade e de sinergia que podem ser exploradas nesse novo debate. A Fiesp tem manifestado a preocupação de que o conceito de economia verde seja distorcido e usado no comércio internacional como guarda-chuva de novas e sofisticadas barreiras não tarifárias.

O tema da "estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável" deve ser entendido no quadro mais amplo da necessidade de adequação das estruturas multilaterais de governança às realidades e desafios contemporâneos: melhor coordenação entre o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que foi criado pela Conferência de Estocolmo de 1972, e a Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS), resultado da Rio-92, ou a criação de nova instituição.

Jeffrey Sachs, conhecido economistas americano, deixando de lado sutilezas, prevê que o encontro do Rio deve servir para admitir duas décadas de fracasso no campo ambiental e deve oferecer oportunidade para o mundo reconhecer que não tem resposta para a crise. A reunião de Durban serviu para adiar essa previsão para os próximos três ou quatro anos quando ocorrerão negociações muito difíceis para dar corpo e substância aos limitados resultados agora alcançados.
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Faltam deveres de casa para o Brasil

Desenvolvimento econômico e social é o que trata o artigo abaixo.
É importante que a sociedade se mobilize, pelo menos em termos de querer tomar conhecimento para melhor traduzir o que quer no voto.
Ainda temos graves deficiências tais como saúde, saneamento, educação, habitação etc
Já se propagou que a dívida externa fora paga com os demais indicadores denunciando a mentira todavia, o que interessa é que, mantendo-se as insipientes condições para se melhorar a vida de TODA sociedade é que o PIB, por si só, não se mantém como referencial legítimo.
Outra grande parcela de responsabilidade direta do cidadão é seu compromisso com o ambiente e o desperdício, seja de alimentos, de matérias-primas e, sobretudo, de energia.
Vale a pena inciar uma boa reflexão acerca de nossa real capacidade de nos mantermos neste patamar.
Se a cabeça do cidadão não melhorar, poderemos ser, até, a segunda economia, todavia, sem sustentabilidade, seremos eternamente, "em desenvolvimento".


Faltam deveres de casa para o Brasil
EDITORIAL O GLOBO
O Globo 

Não é desprezível o PIB brasileiro ter ultrapassado o da Inglaterra, com US$2,51 trilhões, e o país ser agora a sexta maior economia do mundo. Mas, antes que bravatas nacionalistas prejudiquem a percepção da realidade, cabe relativizar o feito, sem reduzi-lo de importância. Bem fez o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao lembrar que, para o brasileiro atingir o padrão de vida inglês, serão necessárias mais uma ou duas décadas de crescimento contínuo. Pois, se a renda per capita brasileira é de US$12.916, a inglesa está em quase US$40 mil. Algo semelhante acontece com a China, segunda potência econômica mundial, mas com uma renda per capita de US$5.183, menos que a metade da brasileira.

O PIB - o valor de tudo o que é produzido num país - é um indicador relevante, mas apenas um indicador. Para se ter uma ideia abrangente de um país, é necessário reunir uma série de dados. Mais ainda quando se trata do Brasil, terra de grandes disparidades - regionais, de renda, sociais, etc. Há vários outros índices que mostram como o Brasil ainda precisa avançar. Um deles é o do Desenvolvimento Humano (IDH), bem mais abrangente que o PIB. É sugestivo que a sexta economia tenha apenas o 73º IDH.

A trajetória cumprida pela sociedade depois da redemocratização, em 1985, lançou as bases para o país chegar ao ponto atual. Em 1994, com o Plano Real, veio a estabilização da economia, sem a qual nada seria possível. De 2003 a 2010, Lula resistiu à tentação de "mudar tudo isso que está aí", manteve os conceitos básicos da política econômica anterior e conseguiu combater a miséria - seria impossível se a inflação voltasse. Atingido o patamar de sexta "potência", o Brasil tem de se lançar sobre uma agenda da qual tenta escapar nos últimos nove anos. Para repetir em outros índices o crescimento do PIB, com inclusão social, terá de fazer reformas como a da Previdência. Ela é vital a fim de impedir um futuro europeu para aposentados e pensionistas brasileiros, e ainda abrir espaço nas contas públicas com o objetivo de se ampliar os gastos em educação, chave para o crescimento ter sustentabilidade. E se também aperfeiçoar a arcaica legislação trabalhista, o país ampliará ainda mais a formalização no mercado de trabalho, fonte de financiamento do próprio sistema previdenciário.

Também com o mesmo objetivo de mudar a composição dos gastos públicos, Brasília precisará abrir de fato portas de saída para beneficiários do grande sistema assistencialista montado nos últimos 16 anos. Ele só terá êxito quando liberar pessoas para o mercado de trabalho.

Gastos públicos proporcionalmente menores - um estado do tamanho de 40% do PIB precisa ser menos pantagruélico -, permitirão, ainda, o aumento da taxa de poupança, hoje na faixa dos 20% do PIB, cinco pontos aquém do necessário para a economia se manter em crescimento sem sustos.

Ministra de Lula, Dilma Rousseff viveu parte dessa história por dentro. Deve saber que seria ruinoso repetir a falácia da ditadura militar de tentar crescer com inflação. Depois do Plano Real, o Brasil precisa de novo salto: crescimento equilibrado, juros "normais", com um sistema educacional de bom padrão, infraestrutura ampliada e modernizada, para o que será necessária uma maior participação privada no setor e, portanto, menos preconceito ideológico em Brasília. É a missão da atual geração de dirigentes brasileiros.
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Quem tem medo de 2012?


 Luiz Marins


 O País do futuro parece estar chegando para muitos brasileiros que investiram em qualidade e produtividade profissional,empresarial e pessoal nos últimos anos. O gigante adormecido parece estar despertando. Os dados internacionais nos mostram que em 2012 já seremos a sétima maior economia do mundo. Em 2014 seremos a sexta, em 2016 a quinta e em 2040 a quarta maior economia, na frente da Alemanha, Reino Unido, França, Itália,Espanha e muitos outros.


 Já em 2012 estaremos abaixo apenas dos Estados Unidos (1º.) , China (2º.) , Japão (3º.) , Alemanha(4º.) , França (5º.)e Reino Unido(6º.), segundo o Banco Mundial. Como sétima economia mundial, os investimentos diretos internacionais crescerão. Segundo pesquisa da UNCTAD - Conferência dasNações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento - o Brasil será o terceiro país do mundo a receber mais investimentos internacionais, à frente dos Estados Unidos (4º.) e apenas atrás de China e Índia.


 Assim, no próximo anoteremos uma visibilidade mundial nunca antes alcançada e isso nos trará benefícios e exigências. Os benefícios são óbvios, mas seremos também cobrados por mais qualidade, produtividade, excelência, transparência e postura de país desenvolvido.


 Dessa forma terá medo de 2012 aquele que não acreditar nesses números e na verdade de que estamos construindo um Brasil diferente, cuja previsão é a de que teremos apenas 8% de pessoas consideradas tecnicamente pobres, uma queda de quase 70% desde 1993,quando 35% da nossa população era considerada pobre. A previsão é de que em 2015 se somarmos as classes A+B+C teremos 72% - o que fará do Brasil um país de classe média, que hoje já ultrapassa os 50%.


 Em 2012 teremos que enfrentar nossas mazelas, dificuldades e problemas que são muitos. Isso sim nos amedronta e deve nos amedrontar. Da educação à saúde, da infraestrutura ao combate a corrupção. Teremos que colocar o dedo em nossas feridas e tratá-las com seriedade e coragem.


 Agora é, pois, hora de agir com seriedade e cautela, mas também com muito vigor para aproveitar esse momento histórico que estamos vivendo. Terá medo de 2012 quem continuar pensando como sempre, negativamente, olhando para o retrovisor, não acreditando em nossa capacidade de fazer a diferença num mundo cheio de dificuldades e de vencer as nossas com inovação, criatividade e honestidade.Terá medo de 2012 quem ficar esperando e não agir, não construir as condições básicas de acesso a esse novo Brasil.


 Pensenisso. Sucesso! Feliz 2012.

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