segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O custo de enterrar a fiação

Gostaria que ao lerem este editorial, considerem algumas questões na busca da infra-estrutura para redução de desigualdade (considerar este tipo e dimensão de projeto para os 5 565 municípios -afinal não devemos ser excludentes tampouco preconceituosos, ou seja, TEM que ter dinheiro para TODAS cidades, SÃO 5 565, jamais se esqueçam desse número!!):

- a promoção, também, de saneamento básico de qualidade;
- o aumento do poder aquisitivo das classes E e D;
- aumento do acesso a itens de tecnologia avançada;
- o impacto ambiental e a "indústria indenizatória" ambiental;
- a carência de 8 milhões de unidades habitacionais.

Tendo tais parâmetros em foco, agora prossigam na leitura e considerem o quão difícil se é gerir um país como o nosso.


O custo de enterrar a fiação
O Estado de S.Paulo

Desde que foi aprovada, há oito anos, pela Câmara Municipal a Lei 14.023, que obriga concessionárias, empresas estatais e operadoras de serviço a enterrar todo o cabeamento instalado no Município - redes elétrica, telefônica, de TV e assemelhados -, São Paulo ensaia a execução de planos destinados a tornar isso realidade. A regulamentação da lei, que data de 2006, estabelece a necessidade de, a cada ano, transferir 250 quilômetros de cabo dos postes para o subsolo. Apesar disso, a capital tem hoje somente 7% de mais de 30 mil quilômetros de fios e cabos enterrados.

O problema é que a lei determina o que fazer, mas não estabelece quem vai pagar a conta dessa obra que, pelos cálculos da AES Eletropaulo, chegaria a R$ 100 bilhões - o equivalente a duas vezes o seu patrimônio. A empresa não quer assumir esse custo - pelo menos não sozinha -, porque a seu ver estão em jogo principalmente questões de urbanismo. Mas, para a Prefeitura, quem usa espaço público para explorar uma atividade comercial lucrativa não pode fugir a essa responsabilidade.

Há exageros de todos os lados. A estimativa da Eletropaulo, de R$ 5,8 milhões por quilômetro de fiação transferida para o subsolo, é considerada alta demais, uma vez que em outros países, como os Estados Unidos, o custo foi a metade disso. Ela calcula que somente para enterrar a fiação do centro expandido seriam gastos R$ 15 bilhões e as obras durariam no mínimo dez anos.

Pressionada pelos planos divulgados no início do ano pelo prefeito Fernando Haddad, que anunciou sua intenção de fazer valer a lei, a Eletropaulo divulgou as conclusões de um estudo feito pela consultoria McKinsey a respeito. Um dos modelos sugeridos nesse trabalho prevê que 80% dos custos sejam financiados por meio de isenção fiscal sobre serviços relacionados ao enterramento (ISS) e aos equipamentos (ICMS). Esse total incluiria também contribuições a serem feitas pelo governo federal e pelas demais empresas que utilizam a rede aérea. Os 20% restantes seriam repassados à tarifa paga pelos consumidores, o que representaria aumento de 5% a 10%.

O reajuste seria gradual, conforme o andamento das obras, por um prazo de 30 anos, correspondendo ao período de amortização dos investimentos. Conta de luz de R$ 100,00, por exemplo, aumentaria progressivamente até atingir R$ 110,00, valor que seria mantido, com os reajustes normais, por pelo menos três décadas.

O investimento é alto, mas os ganhos por ele proporcionados são incontestáveis, considerando as questões de urbanismo, segurança e qualidade do serviço prestado. Dados da Eletropaulo mostram que os desligamentos na rede aérea são de quatro a cinco vezes mais frequentes do que na subterrânea. A cada ano, os paulistanos permanecem no escuro pelo menos dez horas. Esse total seria reduzido para duas horas.

Em seguida ao anúncio feito em janeiro, de que pretende livrar São Paulo do emaranhado de fios que polui a paisagem urbana, o prefeito Fernando Haddad criou a Câmara Técnica de Gestão de Redes, que trabalha no planejamento dessa operação em conjunto com as empresas concessionárias de energia, telecomunicações, telefonia e dados. Uma das ideias em discussão, considerando que a maior parte dos custos decorre da perfuração do subsolo, é entregar o projeto para empreiteiras no modelo de parceria público-privada. Elas construiriam as galerias para abrigar os cabos e as alugariam para as companhias que precisam dessas estruturas. O custo seria dividido, reduzindo o impacto na tarifa para o consumidor e nos cofres públicos.

A melhoria trazida pelo enterramento das redes vai muito além da redução do desconforto causado pelos desligamentos frequentes. São Paulo é uma cidade de serviços e um apagão de uma hora nos eixos comerciais, onde empresas atuam conectadas a todo o mundo, traz prejuízo incalculável à economia do País. No trânsito, nas escolas e no comércio, o impacto é igualmente muito grande. Todos ganharão, portanto, com o fim das redes aéreas de fiação.
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domingo, 24 de novembro de 2013

Todos querem roubar o Estado

 Cid Gomes
Veja 

O governador do Ceará diz que enfrentar as empresas que se juntam para superfaturar os contratos e emperrar as obras públicas é um desafio permanente dos governantes

Cid Gomes lembra muito seu irmão mais velho, o ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes, no quesito da língua solta. Em três horas de conversa em seu gabinete, criticou políticos, tribunais de contas, órgãos de fiscalização e empreiteiras que só querem "tirar um pedaço do governo do estado”. Defendeu-se das acusações recentes que recebeu envolvendo o uso de dinheiro público (“Quem fez a lei de licitação acha que todo governante é ladrão") e arriscou um prognóstico para as eleições de 2014: Marina Silva, por simbolizar o “novo", engolirá Eduardo Campos, que personifica o velho político. Mas, como o mundo ideal não existe, no fim, os eleitores acabarão escolhendo o “mundo real", personificado por Dilma Rousseff, a quem ele apoia.

O que é essa marca de bala aqui na janela de seu gabinete? É de tiro?

Não. é de bilada de baladeira.

De quê?

“Bila" é bola de gude em “cearês”. “Baladeira” é estilingue. Uns black blocs tentaram invadir o palácio e arremessaram várias dessas em direção à janela. Uma pegou. Mas o Ceará não é um lugar em que o radicalismo tenha a conivência do Estado, como em outros lugares. Black blocs aqui não é coisa que se sustente. Aqui nós prendemos, não tivemos tolerância

 O que as manifestações de junho ensinaram aos governantes?

Essas manifestações são cíclicas. Já aconteceram, diminuíram e vão se radicalizar de novo. A essência foi o questionamento de como um país que consegue fazer a Copa e construir estádios como o Castelão (em Fortaleza) não tem capacidade para resolver os problemas de saúde. educação e segurança. Isso comprometeu a popularidade dos governantes e levou as pessoas à busca por  nomes novos. Mas esses nomes não apareceram. O cabra pensa: "Não estou satisfeito, mas quem tem para votar? Aécio? Serra? Marina? Eduardo?”. Quando as pessoas veem as alternativas,acabam voltando para a Dilma. O mundo ideal não existe. No mundo real, a Dilma é a melhor alternativa.

 0 que a presidente Dilma tem a mostrar para convencer o eleitorado a lhe dar mais quatro anos?

Ela tem o compromisso com o brasileiro que precisa mais do governo. Tem muita gente que gostaria que nem existisse Estado — o sujeito que produz, entrega parte para o Estado e recebe de volta uma infraestrutura toda deficiente, por exemplo. Mas, para a maioria da população, o Estado é a solução. E, para esse povo, a Dilma tem o que mostrar. O governo dela é realizador. Sei que há projetos que não foram concluídos, mas a dificuldade de fazer uma obra no Brasil é enorme.

 Por quê?

O Executivo não está capacitado para acompanhar o nível de exigência das instâncias licenciadoras e fiscalizadoras. Eu vivo isso aqui no Ceará. Foi-se o tempo em que, para fazer alguma coisa, você precisava só do projeto e do recurso. Hoje isso é menos da metade.

0 senhor se refere aos mecanismos de controle? Acha que seria o caso de afrouxá-los?

Fiscalizar é sempre bom, mas tem um problema. Como o Brasil passou muito tempo sem fazer obras, os órgãos fiscalizadores se aparelharam mais do que os realizadores. Há mais engenheiros no Tribunal de Contas do que no DNIT. E essa turma tem muito poder. Ela diz que há um suposto so-brepreço numa obra e para tudo sem ter a certeza do problema. Os governantes têm de enfrentar simultaneamente as duas faces da moeda.

Quais são essas duas faces?

Fui fazer o cinturão das águas, a maior obra hídrica do estado. Dividi em cinco lotes e coloquei os preços. Mas todas as grandes construtoras queixaram-se de que o preço estava  baixo e fizeram um boicote para que não aparecessem interessados e a licitação fosse anulada. Queriam, com isso, forçar o governo a elevar os preços. Briguei e fui em frente sem as grandes construtoras. Aí o Tribunal de Contas apontou que havia um suposto sobrepreço. Enfrentei as duas críticas, de quem achava o preço alto e de quem achava o preço baixo. Depois de um tempo o tribunal liberou. Mas perdi com isso seis meses. O Brasil precisa urgentemente de uma tabela de preços para obras e compras públicas.


O senhor é acusado de ter gastado dinheiro em excesso na compra de carros para a polícia. Essa tabela evitaria esse problema?

Vão criticar sempre. Criticam quando a polícia não tem carro e criticam quando compro carro bom. Falavam da Hilux (caminhonete da Toyota) da polícia do Ceará. O poder público tem que comprar sempre o mais barato? Isso é um barato que sai caro. Quem fez a lei de licitação acha que todo governante é ladrão.

O senhor levou sua sogra de carona para a Europa em um jatinho alugado pelo governo estadual. As críticas também foram injustas?

Já pedi desculpas públicas por isso. Não fiz de má-fé. Legalmente, todos os processos concluíram que não houve prejuízo para os cofres públicos. Mas, pela comoção que isso causou, pedi desculpas. Nem eu viajei mais de jatinho para fora do país nem levei mais minha sogra.

E a contratação de um bufê com caviar e escargot para seu gabinete, ela foi correta?

Não é o governador que escolhe o cardápio. é um funcionário de terceiro escalão. Isso é pura demagogia. Um dos itens era uma bombinha de camarão com caviar, uma entradinha que custa 50,80 reais o cento. Isso não é para eu comer no dia a dia. Quando estou aqui, mando comprar um franguinho assado com baião de dois em uma televisão de cachorro. O bufê é para eventos. É um contrato de 3 milhões de reais em quatro anos. Sinceramente, é esse o problema do estado? Sabe quanto economizei na contratação da linha leste do metrô? Duzentos milhões de reais. É aí que se economiza. Não com demagogia, mas brigando com todo mundo.

 Brigando com quem?

Com todo mundo. Economizar não é fácil. Você se indispõe, deixa gente insatisfeita. E não é gente fraca não, é poderosa: empreiteira, construtora. Os cabras juntam quatro ou cinco construtoras grandes e se acertam no Brasil inteiro: "Você fica com o metrô de São Paulo, eu fico com o de Brasília e eu com o de Fortaleza". Chegam aqui na cara de pau para dizer o resultado da licitação que você ainda vai fazer. Aí, o governo tem de lutar para ter gente interessada, atrair concorrentes. Só nessa linha leste do metrô foram sete ações judiciais, todas para impedir a participação de alguém. E o Estado sempre querendo o maior número de participantes. Entre o preço orçado e o preço que, no final, ganhou, consegui economizar 200 milhões de reais. Mas foi uma batalha. Todo mundo só quer ganhar o seu, tirar um pedaço do dinheiro do Estado.

Não há obra pública sem corrupção?

O governo está sempre correndo atrás. O único reconhecimento que um governante tem é quando entrega uma obra. É uma briga danada para projetar, para licenciar, para fazer concorrência. Minha angústia é essa. Nesse caso do metrô, economizei dinheiro e, o mais importante, vou conseguir concluir a obra no meu governo. Mas é difícil demais, homem. O projetista se junta com a construtora para acertar sobrepreços. O concreto é superestimado, o asfalto é superestimado. É brabo, amigo. Todo mundo quer pegar dinheiro do Estado.

As empresas envolvidas no cartel de trens em São Paulo atuaram no Ceará?

Se não tivesse havido essa investigação, eu teria levado fumo aqui, teria levado um prejuízo de mais de 1 milhão de reais. Como aconteceu esse negócio lá a turma ficou com medo.

 Seu irmão Ciro também gosta de uma briga. É uma característica de família?

Deve ser. Eu sou mais condescendente, o Ciro não aguenta ver um cartaz de "Fora, Cid”. Ele acha isso fascismo, nazismo. No sábado mesmo (há duas semanas) rasgou o cartaz de um manifestante. O Ciro é um cara extraordinário, mas é inegável que tem um pavio curto que o impediu de chegar mais longe.


0 seu grupo político, com uma interrupção de quatro anos, está no poder desde 1987. Mas o Ceará ainda apresenta indicadores sociais muito abaixo da média nacional. Não é um resultado fraco? Os resultados demoram, mas aparecer. Na educação, por exemplo, o Ceará em 2007 era o  11  estado entre os dezesseis do Norte e do Nordeste. Em 2011, pulamos para o primeiro lugar. São dados objetivos.

Mas há outros setores em que o seu governo fracassa, como a segurança pública. Só no último ano os homicídios cresceram 18%.

O que é de estrita responsabilidade do poder público é mais fácil. Construir uma escola, comprar equipamento e colocar professores só depende do poder público. Já segurança não depende só da infraestrutura. Eu dupliquei o número de delegacias de polícia e a melhora não apareceu. Há um fenômeno de chegada do crack no Nordeste e no Norte — 75% dos homicídios estão relacionados ao narcotráfico. Se não tivesse havido tanto investimento, estaria ainda pior.


0 senhor defende uma reforma política que fortaleça os partidos, mas acaba de se filiar ao Pros, um partido de aluguel. Não é uma contradição?

Eu não tinha de mudar de partido, mas fui forçado a deixar o PSB. Aí fui ver as alternativas e o Pros foi a melhor escolha possível. É um pequeno esforço de criar um partido que lute pela redução de impostos. No absoluto, isso contrasta com o que eu penso. Defendo a necessidade de um Estado forte, Estado forte pressupõe impostos.

Mas um partido que defende um Estado mais forte não é justamente o PSB?

Eu me identifico com o PSB, mas não tinha como ficar e apoiar a candidatura de Eduardo Campos.
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sábado, 23 de novembro de 2013

Cuide de Sua Integridade Intelectual


Stephen Kanitz


O futuro é para ser feito, não para ser previsto.

Esta é a grande linha divisória que divide administradores de um lado, e os sociólogos, cientistas políticos e acadêmicos de outro.

Muitos cientistas sociais tentam prever o futuro, para administradores o futuro é feito com suor e lágrimas.

A maioria dos administradores não pretende ficar rico assessorando especuladores, porque a maioria acredita que o futuro não dá para ser previsto.

O máximo que cada um de nós pode fazer é ter uma vaga ideia do que poderá acontecer, podemos saber o jeitão da coisa, e nada mais.

Existe sim uma luta de classe neste país, mas é entre aqueles que acham que o futuro é científico e previsível e aqueles que acham que o futuro traz surpresas que precisam ser bem administradas.

É a luta de classes entres os intelectuais que acham que sabem, e o resto da população que acha que não sabe tanto, mas trabalha produzindo coisas todo dia, não ideias.

E, para piorar a situação, a maioria dos intelectuais não é motivada por dinheiro. Se fossem não escolheriam a profissão de acadêmicos.

Intelectuais são movidos por prestígio, entrevistas na imprensa, plateias e programas de televisão.

Aparecer em público ou simplesmente aparecer, é a sua moeda de troca, a sua motivação.

E aí a questão que todo intelectual é forçado a enfrentar é: devo dizer o que eu penso, ou devo dizer o que a plateia quer ouvir.

Se meu compromisso é com a integridade intelectual, a minha opção é a primeira.

Se meu compromisso é com a vaidade, a segunda opção é que vence.

Ser pobre e ao mesmo tempo desconhecido é a morte para o intelectual.

Pobreza foi o preço que ele pagou para conseguir a fama intelectual.

Todo professor reclama de seus baixos salários, e com razão.

Intelectual paga um preço muito alto se disser algo que nenhum veículo publica ou jornalista quer ouvir.

Woody Allen retrata este personagem no filme Zelig. Zelig é uma pessoa tão amável, tão desejosa de agradar que concorda com tudo o que a pessoa ao lado diz. 

Só que Zelig acaba indo ao psiquiatra com sério problema. Ao querer ser todo mundo, ele acaba sendo ninguém.

Sendo ninguém, e não tendo opinião própria, ele acaba esquecido, o contrário do que o intelectual politicamente correto maria vai com a onda do momento pensa.
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Produtividade: dá para conciliar trabalho e estudos?



Existem métodos de planejamento que ajudam a lidar com o volume de tarefas e auxiliam você a manter o equilíbrio


Por Christian Barbosa


A maioria das pessoas tem o primeiro contato com a real necessidade de administrar o tempo e suas atividades, de maneira mais efetiva e rigorosa, ao conquistar o primeiro emprego e, ao mesmo tempo, iniciar em um curso de graduação – alguns alunos lidam com isso ainda no ensino médio. É nessa fase que o número de tarefas aumenta e que muitos alunos pensam em desistir do primeiro estágio, para dedicarem tempo somente aos estudos. Não é fácil, mas é possível ter tempo para trabalho e estudos, e abdicar do trabalho pode não ser uma boa alternativa logo de começo.

Primeiro porque, ao terminar o curso, vai ser mais difícil achar vaga para profissionais que não tiveram nenhuma experiência de estágio ou qualquer tipo de vivência prévia. Segundo, quem deixa de trabalhar, acaba tendo a tendência de abusar de atividades circunstanciais (afinal, você não estuda todos os dias, não é verdade?) como as redes sociais, passeios com a mãe, baladas fora de hora, etc. E terceiro: não adianta deixar para depois, mais cedo ou mais tarde você terá de aprender a se organizar e ser mais produtivo em menos tempo, do contrário, esqueça a ideia de ser um profissional de resultados no mercado de trabalho.

Sabendo disso, não enlouqueça! Existem métodos de planejamento que ajudam a lidar com o volume de tarefas e auxiliam você a manter o equilíbrio. Veja cinco passes básicos para que trabalho e estudos entrem em harmonia:

1- Escreva suas atividades: não deixe nada na cabeça, registre o que tem para fazer em uma agenda, caderno, celular ou um software de planejamento. Se você não anota, fica impossível de planejar e logo de arrumar tempo! A dica é ter apenas um lugar para registrar, ou você vai se perder! Registre tudo, da vida, escola, trabalhos, TCC e outras atividades que precisam ser realizadas no trabalho;

2- Trace seu planejamento: com todas as atividades em mãos (tente conseguir o máximo que puder de um semestre), passe para o seu método de anotações todas as tarefas, distribuindo-as com a antecedência de ao menos três dias do termino do prazo. Isso lhe dará mais mobilidade no dia a dia, fazendo com que cumpra tudo no prazo e ainda ganhe um tempo para descansar ou adiantar novas tarefas;

3- Cuidado com as urgências: atividades urgentes são aquelas que não estavam programadas para acontecerem, e o tempo para realizá-las está curto, ou já acabou. São as atividades que chegam em cima da hora, que não podem ser previstas, mas que geralmente causam estresse. Para evitá-las, reserve de 30 minutos a 1 hora do seu dia para esses imprevistos. Não esqueça de colocar tempo nas suas anotações!

4- Evite as atividades circunstanciais: sabe aquela atividade que, se você não tivesse perdido seu tempo com ela, não faria a menor diferença? Essas são as tarefas circunstanciais, aquelas que nos fazem perder tempo a toa, como navegar por horas na internet sem propósito. Lute contra elas! Dica: a noite, ao chegar em casa, vá direto para o banho e comece a se preparar para o próximo dia. Evite deitar no sofá para assistir TV – com o cansaço e a preguiça, certamente você passará horas em frente a TV e irá dormir mais tarde do que realmente precisa, sem ter produzido nada neste período, nem ter descansado;

5- Foco! Mas nenhuma dessas dicas pode ser realmente eficaz se você não tiver definido de maneira clara quais são os seus objetivos (ex. conquistar determina vaga dentro da empresa, ou terminar no menor tempo possível o curso, para iniciar outro). Além disso, é de extrema importância que você esteja 100% focado em conquistar esses objetivos, o que significa que, algumas vezes, a preguiça pode até aparecer, mas você terá de ser mais forte e seguir com o seu planejamento.

Preparado para iniciar sua vida profissional e acadêmica de uma maneira mais produtiva? Foco nos estudos e objetivo claro no trabalho, essas são as peças chaves para conciliar ambas as atividades de maneira equilibrada e sem estresse.
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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Memórias do século XXI




As previsões sobre o futuro estão quase sempre erradas. Mas quem disse que é para as pessoas saberem o que vai acontecer com elas amanhã?
Por Max Gehringer

Hoje é 20 de agosto de 2124, quarta-feira, que no Brasil agora chama Wednesday, já que o português foi oficialmente banido quando nos tornamos o 67o Estado dos United States of Wide America, em 2095. Teve quem não gostou, claro, principalmente depois que a Floresta Amazônica virou a Tropical Disney World, mas a maioria apoiou porque finalmente pôde tirar passaporte americano sem aporrinhação e passou a receber salário em dólar. É verdade que muitos brasileiros ainda conservam um ranço xenófobo, o que é meu caso, por isso este relatório está sendo escrito em nossa antiga língua-mãe, que eu só domino porque nasci lá no distante 1980. Fiz 144 anos, trabalho há 126, estou forte e saudável, mas já ouço insinuações de que minha carreira entrou no plano vegetativo. A vida corporativa do século XXII não é justa com o pessoal da sexta idade, como eu: basta a gente chegar aos 140, e começa a ser discriminado no trabalho... 

Os velhos tempos me dão saudade (uma de nossas poucas palavras que entraram no Mega Dicionário Americano, como sinônimo para "senseless feeling"), apesar de quase mais nada ser como era. Por exemplo, eu nasci com unha, cabelo e dente, últimos resquícios de nossa ascendência selvagem. E na juventude pratiquei zelosamente um ato denominado "sexual" para a reprodução da espécie, coisa que, hoje, a ciência simplificou muito: basta ir a qualquer McDonald's, comprar um kit de óvulo e espermatozóide (o número 3 tem sido o preferido pelos consumidores, porque acompanha uma Coca-Cola grátis) e inseri-lo num tubo plugado a um sistema embrionário - cujo nome técnico é "tamagoshi". Aí, é só redigitar a configuração desejada do genoma e depois ir clicando os comandos para as cargas vitais de proteínas. Simples. Em seis semanas, aparece a ficha fitoergométrica da criança, os custos de alimentação e educação e a mensagem "Are you sure you want to give birth?" Meu filho mais novo, o 365A27W648, vulgo "8", agora deu de ser curioso e me perguntar porque no meu tempo as coisas eram tão complicadas. Eu tentei explicar para ele que o tal ato ia além da simples reprodução, que a gente sentia prazer em copular, e ele fez aquela cara de nojo, típica de adolescente recém-saído da universidade. Mas, tudo bem, ele tem só 4 anos, um dia talvez entenda melhor. 

Eu sei, estou divagando, desculpem. Não é das reviravoltas da natureza que este relatório trata, e sim das relações no trabalho. Meu hiperboss vai fazer uma apresentação no mês que vem, em Urano - com o criativo título de "Como Enfrentar os Desafios do Século XXII" -, e pediu minha colaboração. Ele quer mostrar às novas gerações a evolução da interação entre empresas e funcionários ao longo dos últimos 150 anos, desde a chamada "Era Jurássica Trabalhista" (1980-2020) até o aparecimento do "Homo Pizza", no final do século XXI. E me escolheu porque eu vivi todas as etapas do processo, além de ser o único por aqui que ainda sabe usar algarismos romanos. Então, vamos lá: 

TRANSPORTE 
Os empregados acordavam de manhã e iam para seu local de trabalho dirigindo um veículo pesadão e lerdo, que funcionava queimando derivados do extinto petróleo, chamado "automóvel" - não sei bem por que esse nome, que significa "move-se por si mesmo", já que o tal veículo só se movia sob comando humano e, algumas vezes, nem assim. Mas a maior dificuldade era enfrentar o "trânsito", do latim transire, "ir para a frente", e esse era exatamente o problema, já que o trânsito quase nunca ia em frente, e daí originou-se uma frase de uso muito comum, "Atrasei por causa do trânsito", que literalmente significa "Fiquei para trás porque fui para a frente". Ou seja, aquele povo era duro de entender. O mais incrível é que, apesar de tanta confusão e contrariando a lógica, as pessoas ainda conseguiam chegar ao que chamavam "local de trabalho". 

LOCAL 
O sistema jurássico de trabalho era coletivo, e as empresas até usavam jargões como "teamwork" para incentivar essas aglomerações, sem atentar para o fato de que elas eram uma fonte de proliferação de micróbios. O ponto de encontro era o escritório, um lugar onde os funcionários escreviam, daí a origem da palavra. Eram áreas enormes, onde pessoas se amontoavam em cubículos e passavam a maior parte do tempo produzindo "documentos", cuja principal finalidade era a de servir como evidência física de que as pessoas estavam ocupadas. Após produzidos, os documentos eram imediatamente "arquivados", de preferência em lugares onde nunca mais pudessem ser localizados. Isso na época tinha o mesmo nome de hoje, "burocracia". A diferença é que os atrasados do século XX faziam tudo com oito cópias, e nós, 150 anos depois, conseguimos reduzir para sete. 

INDIVIDUALIDADE 
O primeiro passo para erradicar o coletivismo inútil foi o "SoHo" (Small office, Home office), uma sigla surgida aí por 2000, que permitia aos funcionários trabalhar, confortável e produtivamente, em suas próprias casas. No Brasil, uma das conseqüências imediatas do SoHo foi o aparecimento de uma variante esperta, o "SoNo". O que obviamente implicou num aumento brutal da quantidade de documentos produzidos, porque só assim os chefes acreditariam que seus funcionários estavam acordados em suas casas. Depois do SoHo veio o "SoCo", aí por 2050. O "Co", todo mundo sabe, significa Chip office. Foi quando as corporações conseguiram implantar um microchip em cada funcionário para controlá-lo 24 horas por dia, desde o batimento cardíaco até o nível de atividade dos neurônios. Uma das características do SoCo que mais agradou às chefias - além do comando de "wake up call" - foi a possibilidade de emitir um choque elétrico remoto quando o funcionário atrasasse a remessa de um documento. 

JORNADA 
Trabalha-se oficialmente 2 horas por semana, mas já há rumores de que a jornada será reduzida para 100 minutos semanais. O que, tirando o tempo necessário para o sono e as inconveniências fisiológicas - que não sofreram alterações nos últimos 100 000 anos -, dá umas 120 horas ociosas por semana. O professor Domenico De Mais (autor do livro o Ócio Criativo), que vive em estado de hibernação metafísica na Itália, afirma que isso é um absurdo, e defende a tese de que no futuro trabalharemos 100 minutos por ano. Mas o problema, mesmo, é que nunca conseguimos nos acostumar com o ócio. Por isso, nossa maior fonte de renda atual é a hora extra - fazemos, em média, 14 delas por dia, inclusive aos sábados. 

EFEITOS COLATERAIS 

Hoje, as megacorporações vêm se questionando se essa troca do trabalho grupal pelo individual foi realmente um progresso. Primeiro, porque ninguém mais conhece ninguém, já que os "colegas" viraram imagens digitalizadas. Segundo, porque todo mundo ficou sedentário e engordou uma barbaridade. E terceiro porque os antigos executivos eram estressados, e os novos sucumbem à depressão, o que acarreta muitos suicídios (ou, em linguagem ciberneticamente correta, self alt+ctrl+del). O maior guru de administração do século XXII - Tom Peters, vivendo confortavelmente em estado gasoso, num tubo de ensaio - publicou recentemente um artigo que está causando uma comoção corporativa. Ele defende a tese de que "nada substitui o contato humano". Incrível, dizem seus fiéis admiradores, que ninguém tivesse pensado nisso ainda. 

EMPREGO 
Conseguir um bom emprego hoje em dia não é difícil. O duro é se manter nele, porque as exigências para resultados de curtíssimo prazo aumentam cada vez mais. O tempo médio de permanência num emprego é de 28 horas. Daí o conceito em moda ser o da habilidade para saltar de galho em galho, ou "businessbilidade", que se resume a três fatores: experiência cósmica, formação galáctica e ser bem relacionado com quem manda. 
SEXO 
As diferenças entre sexos não são mais limitantes para o preenchimento de um cargo. Não porque tenha acabado a discriminação, mas porque acabaram os sexos. A antiga classificação "masculino/feminino/outros" caiu em desuso a partir do momento em que os assim chamados "homens" e "mulheres" equilibraram seus níveis de testosteronas e estrógenos. A ambivalência chegou a tal ponto que hoje os dicionários só registram a palavra "testículo" como sinônimo de "pequeno teste aplicado a estagiários". 

HIERARQUIA 
Nos tempos primitivos, as posições hierárquicas eram decididas ou por competência ou por protecionismo. Mas levava vantagem quem acumulava mais diplomas. Tudo mudou a partir do momento em que foi implantado o sistema de "Transferência Integral de Informações", pelo qual qualquer ser humano, quando completa 2 anos de idade, é acoplado a um megacomputador Deep Blue e absorve, em 15 minutos, o conhecimento acumulado pela espécie nos últimos dez milênios. Tem aí uma novíssima teoria dizendo que isso nos transformou numa raça de esponjas, e que o grande diferencial atual é saber pensar por conta própria, em vez de enfiar o dedo no nariz e dar um "retrieve". Segundo a teoria, há uma minoria de pensantes que consegue se perpetuar nas chefias porque tem "Inteligência Psicoemocional", ou seja, uma combinação balanceada de "instinto", "conhecimento" e "autocontrole". Eu acho que já ouvi isso antes, só que não me lembro bem quando foi. 

RELACIONAMENTO 
Os funcionários têm abertura para se comunicar fora do trabalho, desde que respeitem o conceito-chave do século XXII: Lógica Absoluta, ou seja, os assuntos devem ficar restritos aos negócios. Sentimentos e emoções, manifestações consideradas contraproducentes, estão proibidas desde 2104. Mas sempre tem quem não sabe aproveitar a liberdade: nosso maior problema social são os subversivos que se reúnem escondidos para praticar o maior delito da atualidade: rir e contar piadas. Não é por acaso que o maior best-seller desta semana é o cibertexto de auto-ajuda "Você Pode Ser Feliz, Desde Que Ninguém Saiba". 

INFERNET 
A arcaica Internet, uma rede de comunicação que causou furor no fim do século XX, e que hoje é citada como exemplo de paranóia coletiva, foi substituída pela Infernet, à qual todos somos plugados logo ao nascermos. A palavra veio do latim infernus, "subterrâneo", uma analogia a seu formato de raízes que alimentam o caule central. O caule, de onde saem e para onde convergem todas as informações, é a Suprema Inquisição, cuja regra é "Todos somos iguais perante Deus". Sendo que Deus, como todos sabem, é Bill Gates. Embora corra por aí o boato de que quem manda, mesmo, é o ACM. 

CONCLUSÃO 
Em meus 144 anos, vi o futuro ir acontecendo, e aprendi pelo menos uma coisa: as previsões estavam sempre erradas. Acho que descobri o porquê. Outro dia achei um livro antigo, que já caiu em desuso por ser a negação da lógica. De qualquer forma, lá foi escrito, há milhares de anos, que cada dia é diferente do outro, exatamente "para que o homem nunca possa descobrir nada sobre seu próprio futuro" (Eclesiastes, 7, 14). 

Em 1999, no auge de uma carreira bem-sucedida que o levou à direção de grandes empresas (Pepsi, Elma Chips e Pullman), MAX GEHRINGER tomou uma decisão raríssima no mundo corporativo: abriu mão do poder e das mordomias de alto executivo para dedicar seu tempo a escrever e a fazer palestras pelo Brasil. Max escreve regularmente para VOCÊ s.a., Exame, Revista da Web!, Vip e Placar (todas publicadas pela Editora Abril). Recentemente, Max lançou seu segundo livro, Comédia Corporativa (Editora Campus). O humor e a sensibilidade dos textos de Max vêm de sua vivência prática num mundo que ele conhece degrau por degrau: seu primeiro emprego, aos 12 anos, foi de auxiliar de faxina. O último: presidente da Pullman. 
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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

E o fim do ano está chegando...

Caros amigos, gostaria de lhes convidar a uma singela reflexão e ela tem muito a ver com a enorme quantidade de notícias veiculadas na mídia acerca de um evento banal, sim, no fundo banal, mas que a própria sociedade está se encarregando de dar vestes de essencial, a prisão dos mensaleiros.

Enquanto esta ação diversionária orquestrada pela mídia sempre preocupada no sensacionalismo muito mais do que no esclarecimento, algo de podre no reino da Dinamarca ocorre no planalto central.

Estamos encerrando o mês de novembro e dezembro terá menos do que quinze dias úteis antes do recesso parlamentar. Sei que o tema é árido, a esmagadora maioria não gosta de política, mas o ano que vem será crítico em termos de gestão pública no limite de uma sufocante carga tributária, ou seja, majoração de preços essenciais no intuito de se fazer caixa para municípios pois o que eles terão que recolher aos cofres federais tenderá a aumentar. Ou seja, para este ano que finda, 2013, a presidente ainda não passou o restante dos orçamentos municipais e estaduais para que governadores e prefeitos cumpram com seus calendários orçamentários. Em outras palavras, se iniciar dezembro, em menos de quinze dias, a exemplo do ano passado, partidos e deputados terão que deliberar por uma nova redistribuição de recursos por intermédio dos fundos de participação de municípios e dos estados. Equivale a dizer que nem todos os 5 565 municípios receberão o tanto que recolheram para a presidente e, pior ainda, terão que rolar para o ano que vem as dívidas atuais com fornecedores, construtoras, empresas de transporte, lixo etc etc. A lei determina que no ano que vem, pague-se, primeiro, estas dívidas (restos a pagar) e depois o funcionalismo (este em torno de 47% do orçamento de muitos municípios.

Chato este papo, não? Chato falar de política e não de futebol, não? Mas é que ano que vem começa com grandes despesas, haverá calor, incidência de epidemias, aumento nos consumos de energia, apagões, problemas de mobilidade urbana, enchentes, problemas com renegociação de coleta de lixo, manutenção de obras de orçamento etc, etc, etc e os prefeitos, todos no vermelho devido ao atraso do ano corrente, tendo que usar os minguados repasses de fim de ano para pagar os débitos deste corrente ano, pagamento de pessoal e juros e serviços de dívidas com a União. 

Enquanto isto, na mais gritante crise de gestão pública, a presidente lança mão da mídia para desviar a atenção da sociedade com os casos dos mensaleiros, depois os da PEC 122, PEC 300 e várias outras artimanhas.

A redução da desigualdade está cobrando sua fatura, ou seja, com pouquíssimo investimento em infra-estrutura, para se ter a sensação de bem-estar geral dos eleitores, os financiamentos e redução de linha branca irão continuar, ou seja, em crise de infra-estrutura de distribuição de energia elétrica, geladeiras, máquinas de lavar, ar-condicionados, liquidificador, ferrros de engomar, chuveiros elétricos serão vendidos aos montes com o mesmo padrão de suprimento de energia cujo HBV, horário de verão, não permitirá, sequer, uma manutenção descente.

Amigos, ainda mais por ser ano eleitoral e uma flagrante dificuldade em se gerir, a contento, os graves desafios do país, haverá uma forte tendência a, novamente, se investir no consumo. Não temos infra-estrutura para tal, tampouco capacidade de fornecimento de energia, para ficar com apenas estes dois problemas. Ademais, o aumento de carros nos pátios das montadoras impeliu o governo a manter a redução de IPI e aumentar o financiamento facilitado, ou seja, mais carros nas ruas sem melhoras, significativas, na mobilidade urbana. 

Enfim, amigos, minha parte estou fazendo. Muito mais urgente do que se saber a consistência do coco dos mensaleiros na prisão, é saber o quando e como o restante do orçamento de sua cidade será repassado, ou não. Os aumentos de tarifas e impostos municipais, se forem autorizados pelos vereadores, É LEI!! E vai pesar no bolso.

Procuro lhes ajudar a ver nossa situação além do canto de sereia governamental. Ano que vem será crítico para muitos de nós.
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Em defesa do voto obrigatório

João Feres Júnior e Fábio Kerche

Uma das consequências das manifestações de junho foi ter colocado a reforma política mais uma vez em pauta. O grupo de trabalho constituído na Câmara apontou para avanços importantes, como a questão do financiamento de campanhas e das coligações nas eleições proporcionais. Entretanto, o fim do voto obrigatório é uma proposta que pode piorar o que se busca consertar.

Não há qualquer comprovação do argumento de que o voto obrigatório prejudica a qualidade de nossa democracia. O único dado concreto é que mantemos altas doses de participação em nosso processo eleitoral, mesmo sendo a obrigatoriedade do voto no Brasil muito mais simbólica do que real.

O eleitor pode justificar seu voto em qualquer seção eleitoral do país e aqueles que nem sequer isso fazem recebem a multa irrisória de
R$ 3,50! Além disso, o eleitor pode inclusive manifestar sua indignação ao escolher anular seu voto nas modernas urnas de nosso sistema.

Nas últimas três eleições presidenciais, tivemos o comparecimento de quase 75% dos eleitores, uma marca invejável para qualquer democracia do planeta. O estudo da política comparada mostra que onde o voto é facultativo, os pobres têm maior probabilidade de não votar. Com exceção da Índia, na maior parte das democracias contemporâneas que adotam o voto facultativo, os pobres e os jovens são os grupos que mais se abstêm das urnas.

Se a inclusão dos setores populares na cidadania política ao longo da história correspondeu a sua inclusão nas políticas de proteção do Estado, o contrário também é verdadeiro: seu alijamento da política eleitoral redunda em sua exclusão dessas mesmas políticas. Seria simplesmente irracional para um político eleito implementar políticas populares em um contexto onde o eleitorado de baixa renda vota menos.

A obrigatoriedade do voto também faz da eleição um momento especial de informação do eleitorado. De dois em dois anos, somos levados a nos atualizar acerca dos assuntos que dizem respeito a nossa vida coletiva e decidir por pessoas, ideias e projetos, em detrimento de outras pessoas, ideias e projetos.

Em países onde o voto não é obrigatório, como nos Estados Unidos, esse processo é mais diluído, e boa parte dos cidadãos passa incólume pelo processo eleitoral. Não no Brasil. Nossas eleições são um evento cívico vivido por quase todos nós.

Por fim, resta o argumento pífio de que votar é um direito, e não um dever. Mas nossa vida coletiva nos força, por meio das leis do Estado, a tantas coisas: registro civil, vacinação, educação fundamental, alistamento militar etc. Por serem fundamentais a nossa vida coletiva, esses são deveres aos quais não podemos fugir. Por que então o voto não pode ser mais um desses deveres?

O voto é mais que a possibilidade de se escolher os governantes. Ele legitima o processo democrático. Ao trocar esse compromisso com o corpo dos cidadãos pelo direito individual de não perder 30 minutos, uma hora de seu tempo, uma vez a cada dois anos, o cidadão estará não só se amesquinhando, mas tornando o Brasil menor.

JOÃO FERES JÚNIOR, 48, doutor em ciência política pela Universidade de Nova York, é professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
FÁBIO KERCHE, 42, doutor em ciência política pela USP, é pesquisador da Fundação Casa de Rui Barbosa
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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Passárgada, onde te encontras?


Procuro entender o que ocorre no Brasil, mas não é uma tarefa muito fácil, sobretudo quando se olha para as preferências nacionais ou aquilo que prende a atenção do brasileiro, cidadão, eleitor.

O paroxismo que a sociedade vivencia nos últimos três dias deixa-me perplexo, pois não faço a menor idéia do que ocorreu em uma transmissão, ao vivo, onde sabendo por intermédio de artigos, notícias e inúmeras postagens nas redes sociais, sobre a decretação da prisão dos mensaleiros.

Conforme já me alertaram, eu deveria tomar conhecimento, caso contrário passaria a impressão de alienado. Sei lá, pode ser que eu seja mesmo.

Bem, do alto de minha ignorância para com estes eventos passageiros, risíveis e fátuos, pergunto-me se o Brasil acordou melhor com a condenação deles. Há algum projeto para modificação da Lei 8666, que permite alguns escalabros nas licitações? Ou da Lei de Responsabilidade Fiscal que sufoca prefeitos e gestores públicos para acabar com gastos excessivos mas, sobretudo, garantindo o pagamento da uma ENORME folha de pagamentos e de Restos a Pagar que sufocam toda e qualquer administração pública. Bem, como bom alienado, venho acompanhando avidamente esta matéria. Quantos dos que acompanham o affair dos mensaleiros sequer fazem idéia do que e como isto ocorre?

Outra matéria de minha predileção alienativa são os parcos recursos aplicados em infra-estrutura para melhorar o saneamento público. Em minha vã ignorância, creio que um bairro ou cidade alagadas, propriedades, bens e vidas perdidas devem, ou deveriam, captar mais a atenção do eleitor que uma mera ação judicial. 

Ainda tenho minhas dúvidas e agonias de ficar preso em engarrafamentos, sobretudo no Rio, mediante o congestionamento causado por construções e reformas de vias a fim de se dar consecução a obras de mobilidade urbana. Claro que adicionado a itens legalmente cumpridos em questionável quesitos atendidos na Lei 8 666, permitirá alguns sobrepreços e a inexorável e decorrente paralisação da obra pelo TCU ou Min Público.

Enfim, em minha visão há muito mais agendas fundamentais a merecem a atenção do cidadão eleitor, mas o prazer que ele sente em acompanhar momentos, falas e movimentos dos recém-encarceirados deixa-me perplexo, com uma enorme e incidente sensação de ser um peixe fora d´água e, sobretudo, de perda de tempo. Ou, quem sabe, um arauto nas areias do deserto do agreste, tendo somente mandacarús e cipós selvagens como testemunhas.

Ademais, os condenados estarão seguros, vigiados e protegidos sob os olhares da Lei e de 190 milhões de brasileiros menos eu. Quanto a mim, resta-me o cagaço de andar nas ruas e cidades, principalmente durante chuvas, rezando para ficar invisível durante um eventual arrastão promovido por menores protegidos por Rosários e súcia.

Enfim, devo respeitar escolhas alheias e em nome da harmônica e politicamente correta convivência democrática e padecer sob escolhas erradas, de outrem. É a vida, é assim nosso país, será assim, nosso futuro. Passárgada, onde te encontras? 
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sábado, 16 de novembro de 2013

Ambientalismo e suas consequências sociais.


Horário Brasileiro de Verão, Apagão (como os ocorridos, uma vez mais na região sudeste), Belo Monte, crise no setor energético, aumento da criminalidade urbana e aumento da carga tributária são “resultados” sociais conectados - em relação direta de causa e efeito-, diretamente, a agenda ambientalista e suas “impactos ambientais”.


Eles são muito mais urgentes, imediatos, do que a “histórica” condenação dos mensaleiros sobejamente festejada pela sociedade.

Aqueles temas são maiúsculos e carecem da ação imediata da sociedade. A pergunta é: Ela está preparada para tal?

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Fim do ano e exercício financeiro



Amigos, sei que o momento e atenção para os próximos dias será o paroxismo sob o qual a sociedade viverá ao ver os mensaleiros condenados presos. Todavia, há coisas mais importantes e urgentes a, também, merecerem a atenção da sociedade.

Ao final do exercício financeiro, ainda este mês, deverá ser executado todo orçamento da União onde uma considerável parte dos recursos ainda permanece retida no cofre cuja chave pertence a presidente. Ela, por lei, deverá descentralizar para estados e municípios além de ministérios e demais órgãos públicos. O dinheiro deve ser empenhado na execução de alguma despesa prevista no orçamento público para o corrente exercício, 2013.

Como tudo para ser executado requer um ritual, normalmente licitação, esta ferramenta requer tempo. E considerando feriados, fins de semana e recessos, é o momento da urgência e dos vícios administrativos acontecerem.

Ano passado a presidente Dilma deixou para descentralizar os recursos para os estados e municípios para a decisão dos deputados federais faltando menos de dez dias para o recesso daqueles parlamentares. Pelo que venho acompanhando, dificilmente este ano será antes do que o necessário. Este é o momento no qual aquelas empresas “de fundo de quintal” acabam por, legitimamente, ganhar licitações para execução até o ultimo dia útil do ano. Detalhe importante: tudo isto somente se operacionaliza por intermédio de funcionários públicos.

É um singelo lembrete sobre uma antiquíssima prática de gestão pública (criticada pele esquerda fora do poder e mantida, com avidez, por esta já quando no poder): a execução orçamentária atabalhoada até o encerramento do exercício financeiro e as "licitações" executadas em exíguo espaço de tempo.


Detalhe: São 5 565 municípios, 26 estados e uma enorme quantidade de órgãos públicos, um excepcional "mercado" com dinheiro no bolso para TER que gastar até o último dia útil do ano.

Bom momento para se praticar a governança social ou a auditoria cidadã, não acham?

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O Brasil tem de ir para o mato

Izabella Teixeira e Gastão Vieira

Os brasileiros têm uma relação contraditória com seu patrimônio natural. Orgulham-se, mas não se apropriam dele. Frequentemente, referem-se ao verde da nossa bandeira apenas como "o mato". E o mato é, invariavelmente, um estorvo, antônimo de desenvolvimento. Portanto, o melhor a fazer é eliminá-lo --como, aliás, muitos têm proposto.

Para nós, o inverso é verdade: o mato é onde mora a galinha dos ovos de ouro. Nossos ambientes naturais, protegidos por 750 mil quilômetros quadrados de unidades de conservação federais, são o principal ativo turístico do Brasil.

Os parques nacionais poderiam gerar, só com visitação, R$ 1,6 bilhão por ano, numa estimativa conservadora. Isso sem contar as cadeias produtivas dentro e em volta desses parques, cujo potencial de negócios não foi nem sequer estimado.

Foi para colocar os parques nacionais na conta do PIB brasileiro que tomamos uma decisão inédita: elevamos o tema a prioridade conjunta e decidimos conhecer os potenciais e os problemas de alguns parques próximos às cidades-sede da Copa do Mundo de 2014.

O giro começa neste mês pelos parques nacionais de Brasília, Anavilhanas e do Jaú, no Amazonas, e deve terminar em dezembro na Chapada Diamantina. Nosso objetivo, no curtíssimo prazo, é dotar 15 parques de sinalização e acesso para uso público e prepará-los para o aumento do número de visitantes que se projeta durante o mundial.

Não só isso, queremos ver os parques como uma das razões pelas quais brasileiros e estrangeiros viajarão para as sedes do mundial. Para 2016, queremos ter cadeias produtivas de turismo e concessões de serviços turísticos funcionando nos parques do Estado do Rio de Janeiro, sede da Olimpíada. Em 2020, queremos ter os 68 parques nacionais brasileiros abertos à visitação.

Abrimos uma série de conversas com empresários, ambientalistas e governos locais para definir o plano de ação no médio prazo.

Colocar os parques a serviço do turismo é uma ideia tão óbvia que espanta como ninguém tenha pensado nela antes. O Brasil é o número 1 do mundo em atrativos naturais num ranking de competitividade em turismo do Fórum Econômico Mundial, que avalia 140 nações.

Equador, Peru e Chile já deram esse passo, com sucesso. A Costa Rica, menor que a Paraíba, atrai 260 mil visitantes todos os anos para Monte Verde, um parque de apenas 10,5 mil hectares. Por que a maior potência tropical do planeta ainda não fez isso?

Carvall

As razões são variadas: vão do gigantismo do país e de fragilidades na implantação das áreas protegidas até o fato de o setor privado ainda não ter despertado para o potencial dos parques.

Poucas empresas brasileiras têm capacidade para operar serviços em unidades de conservação ou para disputar concessões públicas para a operação de parques. O setor privado precisa de coragem para desbravar novos territórios econômicos e assumir riscos numa empreitada desta monta.

Mesmo com gargalos, o Brasil conseguiu elevar o número de unidades de conservação dotadas de plano de manejo --conjunto de regras que define seu uso-- de 77 em 2006 para 132 em 2013. O número de visitantes triplicou no mesmo período, de 1,9 milhão para 6 milhões.

Ainda é menos do que recebe por ano o parque campeão de visitas dos EUA, o Great Smoky Mountains, com 9 milhões de usuários. Mas tamanho salto num período tão curto indica o potencial brasileiro.

Ao Estado cabe sinalizar quais são as regras e qual é a orientação política, para dar segurança aos investidores. Acima de tudo, é preciso levar os brasileiros para o mato. Quem não conhece não conserva.

IZABELLA TEIXEIRA, 51, é ministra do Meio Ambiente
GASTÃO VIEIRA, 67, é ministro do Turismo (PMDB)

O verde do crescimento


Suzana Kahn e Renata Cavalcanti
O Globo


Recentemente foi instituído, por decreto estadual, o Fundo Verde de Desenvolvimento e Energia para a Cidade Universitária da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O objetivo da iniciativa é o de fomentar a elaboração e implantação de projetos de infraestrutura sustentável no campus da UFRJ. Os recursos que alimentam o fundo vêm da isenção do ICMS da conta de energia elétrica, referente ao campus, paga pela universidade.

Olhando-se mais atentamente à lógica desta iniciativa, percebe-se que o objetivo do Fundo Verde alinha interesses que usualmente não convergem, quais sejam, os interesses ambientais e os de desenvolvimento. Não por acaso, a concepção do decreto foi resultado de uma ação conjunta das secretarias do Ambiente e de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio de Janeiro, e que, pela sua robustez, obteve o apoio da Secretaria de Fazenda e a aprovação do governador.

A escolha da Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, também não foi por acaso. O local reúne características ideais para implantação de um projeto desse tipo: é um espaço circunscrito, como um bairro; apresenta números de população e consumo compatíveis com os de uma cidade média; possui área suficiente para instalação de novas tecnologias; tem suporte acadêmico de reconhecimento internacional; e abriga o maior parque tecnológico do Brasil.

Adicionalmente, o fato de existirem inúmeras instalações que demandam eletricidade, água, frio e calor permite que se promova o uso compartilhado destes recursos, através do emprego de uma central de utilidades, possibilitando mais eficiência.

Com estas características, é possível a implementação de tecnologias verdes e práticas mais sustentáveis com monitoramento do desempenho de cada uma das iniciativas adotadas. Teremos então em mãos um verdadeiro laboratório urbano. Isso em um momento em que se confirma a importância das cidades nas estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

O projeto certamente trará uma série de desdobramentos como, por exemplo, definição de métricas de cidade sustentável, avaliação de desempenho de indicadores urbanos (consumo de água, energia, mobilidade, resíduos, espaço público), propostas de novo código de construção, aprovação do uso de novas tecnologias e práticas, modelos de governança e bem-estar da população, entre vários outros que ainda irão seguramente surgir.

Pretende-se que esta iniciativa sirva de exemplo de inovação no uso de recursos financeiros, direcionando impostos recolhidos para medidas sustentáveis, como um Green New Deal.

Esperamos que o sucesso desta empreitada, iniciada este ano, comprove que as preocupações ambientais não conflitam com o desenvolvimento. O local escolhido, um campus universitário, não poderia ser mais apropriado, já que é frequentado por milhares de estudantes que certamente irão difundir as ideias vivenciadas por eles ao longo de suas vidas e futuras funções.

Assim, o Rio dá um exemplo do que vem a ser a economia verde.

Continente da violência

EDITORIAL 
FOLHA DE SP


Uma ou duas décadas atrás, era um lugar-comum sociológico atribuir a criminalidade à pobreza. O mito está em crise há algum tempo, e nada melhor para demoli-lo do que a América Latina, a única região do planeta em que a violência letal aumentou de 2000 a 2010.

A refutação aparece com clareza no relatório "Segurança Pública com Face Humana", do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

Apesar do crescimento econômico e da melhora na distribuição de renda, a região teve 100 mil assassinatos anuais no período. Em 11 dos 18 países analisados, a taxa de homicídios ainda está acima de 10 por 100 mil habitantes, um nível considerado preocupante (no Brasil são cerca de 20 por 100 mil).

Segundo o estudo, responsabilizar só o crime organizado e o narcotráfico é um erro. Eles se combinam com cinco outros fenômenos em alta: delitos de rua, como roubos; criminalidade juvenil; crimes de gênero (contra mulheres e homossexuais); violência policial; e o binômio corrupção/impunidade.

Uma atmosfera de brutalidade perpassa toda a sociedade, mesmo quando esta logra melhorar a distribuição de renda, mas em paralelo descura de ampliar os canais de ascensão social e de realização pessoal. A negligência com a educação, por exemplo, deixa multidões de jovens sem esperança de usufruir plenamente do crescimento econômico baseado no aumento do consumo.

O Brasil aparece em quinto lugar no ranking das mais altas taxas de homicídio de jovens, com 51,6 por 100 mil. Antes dele estão El Salvador (92,3), Colômbia (73,4), Venezuela (64,2) e Guatemala (55,4).

Se não melhora com a bonança da economia, a criminalidade pode, no entanto, contribuir para tolhê-la. Os milhões de anos de vida perdidos acarretam uma quebra de pelo menos 0,5% no PIB latino-americano, calcula o relatório.

Embora essas contas embutam premissas difíceis de verificar, tal projeção não parece implausível.

A deterioração da qualidade do ensino e seus reflexos negativos na produtividade engendraram reações sociais importantes, como o Movimento Todos pela Educação no Brasil. Já passa da hora de cada país latino-americano se unir em torno de pactos nacionais contra a epidemia de insegurança pública.

Má gestão e corrupção


O Estado de S. Paulo

Incompetência e desídia são duas características da administração pública que emergem de declarações - serenas e de tom muito mais técnico do que político, ressalve-se - do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro Augusto Nardes. São muitas as falhas de gestão dos recursos públicos detectadas pelo TCU que revelam essas duas características. Entre outras, Nardes apontou a má qualidade da gestão financeira, a falta de planejamento e o despreparo do pessoal técnico do setor público, deficiências que abrem o caminho para o sobrepreço das obras e das compras públicas e para a corrupção.

Uma dessas falhas, em particular, deixa nítidas algumas das piores características da administração pública brasileira. Trata-se da forma generosa como o governo federal concede benefícios tributários a diferentes setores e classes de contribuintes, que resultam anualmente em cifras bilionárias, sem que nunca tenham sido avaliados os efeitos práticos dessas medidas. São as chamadas renúncias fiscais.

Só em 2012, as renúncias somaram nada menos do que R$ 212 bilhões, como informou o presidente do TCU. Trata-se de um valor que vem crescendo rapidamente nos últimos anos, em razão das sucessivas isenções tributárias concedidas pelo governo Dilma para tentar estimular determinados setores da economia escolhidos pelo próprio governo, com resultados até agora pouco visíveis para o País.

O total de renúncias fiscais no ano passado foi 15,3% maior do que em 2011 (R$ 187,3 bilhões), que, por sua vez, fora 30,1% maior do que em 2010 (R$ 144 bilhões). São valores maiores do que a soma dos orçamentos das áreas de saúde, educação e assistência social.

Há tempos, o TCU, no exame das prestações anuais de contas do governo federal, vem cobrando do Executivo a apresentação de indicadores da eficácia da utilização dessa forma de benefício tributário, para que seja possível a avaliação de seu impacto sobre o crescimento da economia e sobre a qualidade de vida da população.

"A informação que temos é de que não há acompanhamento dos impactos", disse Nardes. O governo não consegue avaliar o efeito das medidas. No caso dos incentivos para a área de tecnologia, o TCU conseguiu aferir que as medidas ajudam a sustentar o nível de emprego, mas não sabe se elas resultaram em melhoria da competitividade da economia, como era seu objetivo. Há dois meses, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, retirou das Secretarias de Política Econômica e do Tesouro a competência para fazer esse trabalho, transferindo-a para a Secretaria da Receita Federal, que, como mostraram episódios recentes, está sob inteiro domínio do ministro.
A falta de controle sobre as renúncias fiscais é apenas um dos males da administração pública - que são antigos e existem em todos os níveis, como fez questão de destacar o presidente do TCU. Há muitas outras, mas algumas dessas deficiências se tornaram agudas nos governos chefiados pelo PT. O fato de, só nos últimos cinco anos, as auditorias do TCU terem forçado a revisão de contratos que resultaram em economia de R$ 102 bilhões para os cofres públicos parece comprovar isso.

Projetos mal elaborados ou incompletos, mesmo em áreas críticas como rodovias, aeroportos e ferrovias, são outros exemplos conhecidos de falhas dé gestão que implicam perdas para o contribuinte ou atraso nos programas do governo. A incapacidade do governo Dilma de executar o que está no Orçamento da União é outro exemplo. No ano passado, dos investimentos previstos para transportes, o governo aplicou apenas 33%, o que explica a persistência ou o agravamento das deficiências de infraestrutura do País. Em saneamento, os investimentos não passaram de 28% do valor orçado e, em urbanismo, de 9%. Entende-se por que não avançam as políticas de mobilidade urbana e por que continuam ruins as condições do saneamento básico. Também se entende por que o governo do PT acumula restos a pagar, despesas contratadas, mas não liquidadas no mesmo exercício.

As reformas na China


O Estado de S. Paulo 

A economia chinesa, a segunda maior do mundo, com PIB de US$ 6,25 trilhões nos primeiros nove meses do ano, vai continuar mudando e as decisões sobre como usar os recursos vão depender cada vez mais do mercado, anunciou o Comitê Central do Partido Comunista depois de quatro dias de reunião. Os planos ainda serão detalhados e o ritmo da inovação vai depender do jogo político, mas o dado mais importante parece bastante claro. O programa de abertura e liberalização esboçado em 1978 e acelerado a partir de 1993 será mantido, mas com as adaptações incluídas na agenda a partir da crise global de 2008. O avanço nas adaptações foi até agora modesto. Mas o compromisso com um novo estilo de crescimento, com mais ênfase no consumo e no mercado interno e menor dependência das exportações, tem sido reafirmado pelas autoridades. Os objetivos sacramentados nos últimos dias pela cúpula do governo e pelo partido incluem a agenda elaborada a partir da crise, mas são mais ambiciosos em termos técnicos e ideológicos.

Especialistas ouvidos pela imprensa tanto na China quanto em outros países, depois de anunciadas as diretrizes para o período até 2020, lamentaram a falta de detalhes e de metas numéricas. Essas críticas têm algum fundamento, mas seria um evidente exagero cobrar do
Comitê Central mais precisão do que oferecem os dirigentes dos principais bancos centrais do mundo quando anunciam os rumos da política monetária. A cúpula do Federal Reserve, por exemplo, alvoroçou todos os mercados quando indicou, em maio, a intenção de reduzir os estímulos à economia americana. Mas nunca se comprometeu com prazos ou com indicadores bem definidos de crescimento econômico.

O Comitê Central foi bastante claro ao indicar a busca da "relação adequada entre governo e mercado" como o ponto central da reforma econômica. A grande mudança consistirá em deixar ao mercado o "papel decisivo" na alocação de recursos e em permitir ao governo o desempenho de "um papel melhor", segundo a agência estatal Xinhua.

O compromisso parece inequívoco. A importância do mercado passou de "básica", nas definições anteriores, para "decisiva". Além disso, a divisão de atribuições apontada no documento tem um sentido estratégico mais amplo do que parecem ter reconhecido os comentaristas. Não se trata aperías de conferir maior responsabilidade ao mercado. A mudança deve também resultar em melhor cumprimento das tarefas governamentais.

Delimitar as funções do mercado e do poder público é outra história e, além disso, caberá ao governo a decisão sobre o ritmo e sobre o alcance progressivo das reformas. O dado notável, por enquanto, é o reconhecimento dessa delimitação como importante para o aumento da eficiência tanto dos negócios como da gestão pública. Essa noção foi perdida em alguns países latino-americanos, onde os governos têm cedido cada vez mais à tentação do intervencionismo inepto.

A pauta chinesa inclui várias outras mudanças políticas e econômicas, como a simplificação dos processos de investimento, a melhor distribuição de renda entre cidade e campo, a liberação progressiva da comercialização de terras urbanas e rurais e a reforma do sistema judicial. Não se trata, obviamente, de uma transformação radical do regime político nem do sistema econômico e muito menos de um plano de transferência de poder. Mas a agenda, apesar dos pontos indefinidos, ficou mais ambiciosa.

Um comitê deverá detalhar o plano e supervisionar sua implementação. A tarefa deverá envolver, entre outros pontos, mudanças na política fiscal, com maior disciplina para os governos locais, hoje muito endividados. Será preciso pensar em novos esquemas de aposentadoria e em novas opções de poupança. Falta saber se o governo estará disposto a reformar o sistema de empresas estatais. O assunto é um dos mais complicados e perigosos, por suas implicações técnicas e pelos interesses dos atuais beneficiários do sistema. Se houver disposição, será uma grande briga política.

Maior desânimo, alguma fé

 CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO


Mais propriedade privada, inclusive da terra, mais salário, mais renda pessoal, mais consumo interno e menos poupança


De um ouvinte da CBN, por e-mail, depois de acompanhar reportagens sobre, por exemplo, os gastos crescentes com seguro desemprego em um momento de quase pleno emprego:

“Meu nome é Marcos, sou comerciante e gostaria de uma oportunidade para desabafar o meu sofrimento com relação à lei trabalhista no Brasil. Sou uma pessoa que procura o melhor para o bem-estar de todos e o mais correto possível.

“Atualmente, tenho dois comércios e em ambos trabalho com funcionários devidamente registrados.

“Não faço nada que prejudique meus colaboradores, tudo que eles têm de direito, é tudo devidamente pago.

“Trato-os com respeito e incentivos, mas, quando comentem infrações, são devidamente punidos.

“O meu desabafo é o seguinte: apesar de estar tudo correto perante a lei trabalhista, enfrento diversos problemas com relação aos colaboradores, eles sempre estão me testando. Mesmo sempre estando sob consulta da lei, eles sempre arranjam algo para se beneficiar e se escorar nos braços do FGTS e do Seguro-Desemprego.

“Na maioria dos casos, após 6 meses de registro, o colaborador se acomoda na esperança de se beneficiar dos recursos que o governo oferece. Concordo que a parte mais fraca deve ser protegida pela lei, mas, nos tempos atuais, estes benefícios emperram a evolução do brasileiro. O colaborador se acomoda por estar amparado pelo benefício.

“Acho que o governo deveria se atentar para a formação de profissionais e não sustentar gente que se acomoda nas custas do FGTS e do Seguro-Desemprego. Concordo que o FGTS e o Seguro-Desemprego ajudam os mais desfavorecidos, mas este sistema está levando nosso povo à acomodação.

“Do meu ponto de vista, o povo carente precisa de ajuda para a sobrevivência, mas também precisa de uma certa pressão pra levá-lo para o progresso próprio. Espero que este desabafo seja analisado e publicado por um especialista, para que o futuro do nosso povo seja mais produtivo e competitivo diante o mundo que não para de evoluir.”


À chinesa

Papel “decisivo” é certamente mais forte do que papel “básico”. Logo, o governo chinês do presidente Xi Jinping decidiu implementar as reformas na direção de mais capitalismo privado. Tal foi a conclusão de todos que leram, na última terça, o comunicado da reunião plenária do Comitê Central do Partido Comunista. Simplesmente disseram que o Partido continua mandando, mas o livre mercado passa a ter um “papel decisivo”.

Vinte anos atrás, também introduzindo uma série de reformas, os dirigentes da época atribuíam ao mercado uma função apenas “básica”.

Foi também em 1993 que os chineses inventaram uma pérola, a “economia socialista de mercado”. Não propriamente a coisa, mas a expressão, introduzida na Constituição como uma resposta às críticas de esquerda. Estas acusavam a direção do Partido Comunista e do governo de se desviarem dos ideais socialistas para cair na economia de mercado, aberta aos capitais privados nacionais e estrangeiros.

Sim, há na China uma economia de livre mercado, disse o grupo dirigente, então liderado por Jiang Zemin, mas sob controle do Partido e com o objetivo de construir... o socialismo. Daí a contradição em termos, socialismo de mercado, mas quem se importava com essas, digamos, sutilezas?

O fato é que o período do governo de Zemin foi de forte desestatização. Foram fechadas nada menos que 125 mil companhias estatais, com a eliminação de 35 milhões de empregos.

Ocorre que sobraram outras 130 mil estatais, com ainda mais empregados do que os postos eliminados. Seria isso socialismo de mercado? Na verdade, a descrição mais adequada seria capitalismo de Estado, na economia, com uma ditadura, na política. Manda o partido e as estatais dominam setores chaves, como o financeiro, por exemplo. Mas há todo um setor privado em torno disso.

Pois agora o Comitê Central decidiu que é o momento de uma nova onda de reformas. Está todo mundo entendendo que se trata de mais mercado e menos Estado. Os atuais dirigentes falam em reformas modernizadoras e distribuição a todos dos benefícios do progresso recente.

Ou seja, mais propriedade privada, inclusive da terra, mais salário, mais renda pessoal, mais consumo interno, e menos poupança e exportação. Não é fácil operar essa mudança, especialmente quando é preciso fazer uma coisa e dizer outra.

Mas parece que eles são mestres nessa arte.

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