quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Estatais - despolitização e meritocracia

Nossa idiossincrasia cultural e social não aceita bem a meritocracia, a proximidade com quem detém o  poder e o cumpadrio desenvolvido ao longo do Brasil Colônia penetrou profundamente em nosso dna social. Contudo, em função do esgotamento de nosso modelo econômico, a sociedade precisa encarar este problema de frente.

Estatais - despolitização e meritocracia 
CLAUDIO J. D. SALES
O ESTADÃO 

Empresas estatais - como bem diz o nome - pertencem ao Estado, e não ao governo, partidos, bancadas ou políticos individuais.

Por causa das paixões que desperta, é sempre desafiador tratar da atuação de empresas estatais sem se deixar influenciar por referências ideológicas. A única forma adequada de abordar o desafio é por meio de constatações factuais e numéricas, a partir das quais se pode construir a base para os testes das hipóteses a respeito da maior ou menor eficiência estatal.

Isso foi feito e o cálculo de um conjunto de indicadores permitiu constatar o baixo desempenho médio das empresas estatais em relação às privadas, tanto em termos econômico-financeiros quanto em termos operacionais (estudo disponível em www.acendebrasil.com.br/estudos, White Paper n.º 10 - Gestão Estatal (Parte 1): Despolitização e Meritocracia).

Com base nos resultados obtidos, foram mapeadas as causas das diferenças de desempenho entre a atuação estatal e a privada.

Os principais entraves à eficiência das empresas estatais são: 1) objetivo indefinido: estatais tipicamente carecem de foco e seus objetivos são muito amplos, dando margem a múltiplas interpretações, às vezes contraditórias; 2) falta de disciplina orçamentária: por terem como acionista majoritário o governo, estatais tendem a carecer de disciplina orçamentária, pois eventuais déficits serão necessariamente cobertos por aportes governamentais (soft budgets); 3) uso político: as estatais sofrem de interferências políticas, ocasionando descontinuidade nas orientações da empresa de governo a governo; e 4) administração inepta: seus dirigentes são, muitas vezes, nomeados pela sua proximidade e lealdade aos governantes, desconsiderando as qualificações requeridas para o cargo.

Com o diagnóstico acima, fica evidente a necessidade urgente de promover a despolitização na gestão das estatais. Afinal, o baixo desempenho e a ineficiência estatal prejudicam a sociedade como um todo, seja pela elevação dos custos dos bens e serviços, seja pela redução dos rendimentos financeiros (de fundos de previdência, fundos de pensão e aplicações financeiras), seja pelo prejuízo às contas públicas governamentais.

O loteamento político precisa ser atacado com rigor porque, no melhor dos casos, as indicações políticas sujeitam a gestão das estatais a interferências visando a interesses partidários e interesses de curto prazo com vista ao calendário eleitoral. No pior dos casos, resultam em ineficiência, superfaturamento e concessão de benesses a amigos, com prejuízo aos contribuintes e acionistas dessas empresas. Resulta, ainda, no que talvez seja o pior legado do sistema de indicações: a falta de competência dos indicados para os cargos, que acarreta perdas substanciais para a sociedade na forma de ineficiência.

Os políticos deveriam limitar a sua interferência nas estatais à delimitação de diretrizes a serem perseguidas por elas. Tais diretrizes deveriam ser explicitadas na forma de metas para as quais deve ser dada publicidade com o objetivo de proporcionar transparência. Somente dessa forma pode-se assegurar que as estatais serão geridas de forma a prestar adequadamente o serviço público, sem desvios de finalidade.

O ponto de partida para bloquear o uso político das estatais deve ser o recrutamento profissional dos seus dirigentes, com ampla divulgação para os cargos buscados. Se a ênfase na ocupação dos cargos que definem os destinos das estatais passar a ser meritocrática e concentrada nas qualificações acadêmicas e profissionais dos candidatos, o espaço para o jogo político e de apadrinhamento será drasticamente reduzido.

Se profissionais qualificados tomarem as rédeas das estatais, os políticos passarão a olhar as estatais não mais como uma ferramenta para seus objetivos pessoais e político-eleitorais, mas como patrimônio público que requer profissionalismo e competência.
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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Urubus do Congresso

Se nossa sociedade fosse madura o Congresso se sentiria fiscalizado, as Assembléias e Câmaras de Vereadores nas 5 565 cidades idem.

O que nos falta é o cidadão assumir seu papel nos 363 dias além dos dias nos quais ele coloca o voto na urna. Mas não somos tampouco queremos atingir este nível de maturidade.

Em um país com 53 denominações religiosas, mais de um milhão de templos espalhados no país e com 28 partidos políticos esbanjando mais de 300 mil (despachantes e procuradores) políticos para pensar e agir pelo cidadão este nível de maturidade JAMAIS será alcançado.

Com esta postura dificilmente deixaremos de ser um país subdesenvolvido, apesar do neologismo inútil e politicamente correto do "emergente". JAMAIS seremos um país desenvolvido.



Urubus do Congresso
FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP 

Ninguém sabe quantas leis o Brasil tem. Seriam perto de 300 mil. Leis não faltam. O que falta é serem cumpridas.

Mas basta uma tragédia para o Congresso sacar do coldre uma nova proposta de lei. Querem agora uma legislação federal de prevenção contra incêndios -tendo como pano de fundo as mais de 200 mortes na boate Kiss, em Santa Maria.

Aperfeiçoar normas estaduais, municipais ou criar uma lei federal não fará mal. Entretanto o benefício dessas ações é limitado. As regras já existem. A iniciativa do Congresso só comprova o fetiche brasileiro pelo "governo federal nhonhô". Na realidade distorcida do país, se há um problema, Brasília precisa resolvê-lo.

Alguém se lembra da lei exigindo o registro do nome completo, endereço etc. de cada novo portador de celular pré-pago para evitar o uso por criminosos nas prisões? Não deu em nada, embora o cadastro inútil continue a existir. Custa dinheiro e quem paga a conta são os consumidores.

A cidade gaúcha de Santa Maria já tem a lei 3.301, aprovada há mais de 20 anos, em 1991. Proíbe "material de fácil combustão e/ou que desprenda gases tóxicos em caso de incêndio" em locais como "boates e assemelhados". Determina também a instalação de saídas de emergência "com respectiva sinalização".

O que faltou então? Faltou poder público. Um empresário inescrupuloso tem responsabilidade pela falta de rotas de fuga em uma boate. Mas o agente político eleito para comandar a cidade é corresponsável.

Para cumprir a lei são necessários fiscais decentes e preparados. Sem propensão ao achaque. Profissionais que não estejam ali para cobrar propina e depois repartir uma parte com os políticos que os nomearam.

No Congresso, deputados preferem propor uma nova lei. Garantem alguns minutos de fama na TV. Há exceções, claro, mas a maioria ali só pensa em surfar na desgraça alheia.
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Faltou Liderança na Boate

O administrador disse tudo, absolutamente tudo.

Com a experiência de dezesseis anos investigando acidentes aeronáuticos e de trabalho posso garantir que a comoção social acaba inibindo a lógica por detrás da lição. É natural, justo e humano se comover, se condoer, todavia é isso tudo e sinal de maturidade e ponderação evitar que ocorra novamente com outros.

Minha filha, aos seis anos, treinava esses "drills" que o administrador alerta no Rosemont Elementary Scholl, pública, em Rockville MD. Lá se treina, no Brasil é bobagem fazer isto, é perda de tempo e dinheiro a PREVENÇÃO. Ademais o que ocorreu em Santa Maria não ocorre nos EUA não por falta de fiscalização, algo impensável lá, mas PORQUE A SOCIEDADE NÃO ACEITA OU PERMITE.

Há inúmeras boates como esta no Brasil que assim funcionam porque A SOCIEDADE DEIXA.
Isso caracteriza nossa leniente idiossincrasia.

Já separei e coletei parte de corpos em acidentes aeronáuticos, ajudei a desenterrar em enchentes sempre lamentando a falta da PREVENÇÃO que não nos é comum, essencial e natural. O mais duro e difícil é ser simpatético com os que perdem seus entes queridos.

Nós, brasileiros, só colocamos a fechadura após o arrombamento. Sinal de imaturidade social, duradoura, eterna e lamentável imaturidade social.

Enfim, é perda de tempo falar isto no país da Economia da Felicidade. Não há métricas, para se usar métricas tem que se ter fiscalização e cobrança sociais.



Faltou Liderança na Boate
Stephan Kanitz


Numa entrada e saída de 4 metros de largura, 7 pessoas conseguem sair por vez, ao ritmo de 21 pessoas por segundo, lentamente. 

Em sessenta segundos são 21x60, 1260 pessoas por minuto.

Portanto, não foram as 260 pessoas a mais a causa do desastre. Mesmo diminuindo pela metade, em dois minutos sairia todo mundo.

Faça o teste você mesmo. Cronometre quanto tempo você leva para andar 80 metros. 

Tanto é que os 5 membros da Banda, os que estavam mais longe da porta, saíram tranquilos, na base do "com licença, com licença", que é muito, mais muito mais demorado. 

O que faltou foi liderança e responsabilidade social. E o líder natural naquele momento era o chefe da banda, único com o microfone e de posse de um meio de comunicação.

Ele tinha o poder de avisar a todos para ficarem calmos e saírem lentamente.
"Atenção pessoal, todos levantem as mãos para cima assim, e virem de costas para mim. Repito. 

Agora vão saindo lentamente porque temos um probleminha, e precisamos de espaço para resolvê-lo.

Todos de costas para mim com mãos levantadas, os da frente saindo primeiro. Temos bastante tempo para sair deste local."

Levantar as mãos reduz a possibilidade do empurra-empurra e o uso de força.

Mas nenhum jornal sequer comentou a falta de capacidade de liderança, por não saberem o básico da matéria.

Líder é o que tem em seu poder os meios de comunicação, mesmo que não o seja.

O chefe da Banda e os demais integrantes agiram como capitães que abandonam os seus barcos em primeiro lugar. 

E muitos morreram porque não sabiam do problema, quem sabia ficou mudo e saiu de mansinho.

"Eu só percebi o que estava ocorrendo 5 minutos depois que a música parou, e falei ué, algo está acontecendo?"

5 minutos muito preciosos, e todos os jovens ficaram parados, por falta dos líderes do momento. 

Pior, o guitarista voltou na contramão para buscar a guitarra, atrapalhando uns 200 que queriam sair. 

Mas a manchete do Estadão foi Donos da Boate foram presos, omitindo que dois integrantes da banda, também o foram, que seria o óbvio.

Novamente, a imprensa solta seu vitriol sobre a ganância, o fato de os seguranças tentarem exigir pagamento dos primeiros que saíram voando, que o extintor não funcionava, (nem poderia pois o fogo era no teto, e quem o usou, o vocalista, não sabia como usar), que não havia alvará, (foi pedido mas a burocracia demora).

São os "Donos" sempre os culpados, e nunca quem realmente causou o problema, e como goleiros, os donos deveriam ter evitado o erro dos outros. 

Honestamente, eu nem teria pensado em colocar no Contrato de Locação, "proibido soltar fogos de artifício no salão, jogar ácido nos olhos dos presentes, dar tiros na plateia" , e assim por diante. 

Soltar "fogos" de artifício dentro de um salão faz parte do bom senso.

O Ministério da Saúde recomenda "não estourar foguetes próximos às residências e sempre usar um equipamento de proteção, como cabos com mais de cinco metros de comprimento".

Nem passa pela cabeça do próprio governo que alguém soltaria fogos ao lado de 1200 pessoas, em ambiente fechado. 

Novamente culpam os "donos", e não quem por imprudência colocou fogos para aparecer, em vez de cantar bem para aparecer, que deveria ser sempre o objetivo principal. 
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domingo, 27 de janeiro de 2013

Qual o caminho?


[...] O Brasil já foi o destaque da semana, nos tempos do Plano Real e em alguns anos do governo Lula. O próprio ex-presidente já foi a grande estrela de Davos, [...] mas em anos de baixo crescimento já houve até quem sugerisse que se retirasse a letra B do acrônimo BRICS, deixando para a Rússia, índia, China e agora a África do Sul as glórias de liderarem os mercados emergentes.

[...] O fato é que não somos o foco de nenhum painel, ninguém está muito preocupado com o país. Mas também ninguém tem a coragem de dizer que o Brasil não tem importância. Houve até uma ou outra voz em painéis sobre a América Latina que garantiu que o Brasil sempre será o país do futuro, incapaz de realizar a promessa.

[...] No entanto, persistem entre os empresários sensações de insegurança com relação ao futuro do país num governo que dá sinais de ser mais intervencionista do que incentivador dos investimentos privados.





Qual o caminho?
MERVAL PEREIRA
O GLOBO

O Brasil já passou por várias situações aqui em Davos, no Fórum Econômico Mundial. Já foi o destaque da semana, nos tempos do Plano Real e em alguns anos do governo Lula. O próprio ex-presidente já foi a grande estrela de Davos, mas em anos de baixo crescimento já houve até quem sugerisse que se retirasse a letra B do acrônimo BRICS, deixando para a Rússia, índia, China e agora a África do Sul as glórias de liderarem os mercados emergentes. Mas este ano está diferente, não há uma compreensão exata da situação do Brasil.

O fato é que não somos o foco de nenhum painel, ninguém está muito preocupado com o país. Mas também ninguém tem a coragem de dizer que o Brasil não tem importância. Houve até uma ou outra voz em painéis sobre a América Latina que garantiu que o Brasil sempre será o país do futuro, incapaz de realizar a promessa. Mas esse pensamento não reflete uma tendência.

A declaração da diretora-geral do FMI Christine Lagarde de que tem dúvidas sobre a capacidade de crescimento do Brasil reflete a sensação generalizada. Todos querem entender para onde está indo o país. Ontem, num painel coordenado pela BBC, o presidente do Banco Central Alexandre Tombini foi questionado sobre o intervencionismo do governo Dilma Rousseff, culpado pela falta de investimentos dos últimos anos.

Tombini garantiu que o país está preparando um ambiente favorável aos investidores, tanto estrangeiros quanto nacionais. Confrontado com o crescimento pobre do PIB brasileiro nos últimos dois anos, o presidente do Banco Central garantiu que as medidas que estão sendo tomadas nos últimos meses, como redução das tarifas de energia elétrica, redução de encargos em folhas salariais, redução de impostos para estimular o consumo, tudo prepara um ambiente favorável aos investimentos, para garantir um crescimento mais robusto a partir deste ano.

No entanto, persistem entre os empresários sensações de insegurança com relação ao futuro do país num governo que dá sinais de ser mais intervencionista do que incentivador dos investimentos privados. A mesma redução de tarifa de energia elétrica dada como medida favorável aos investimentos pode ser usada como exemplo de intervenção governamental que deu prejuízos às companhias de energia que aderiram ao plano imposto. A ponto de a estatal

Eletrobrás estar prestes a ser extinta justamente pelos prejuízos que teve que assumir com a medida imposta pelo governo. A proximidade do governo brasileiro com a Venezuela de Chávez é outro ponto que chama a atenção dos empresários internacionais, que querem entender até onde vai a simpatia do governo brasileiro pelos métodos bolivarianos espalhados pela região.

Esse paradoxo de uma região onde a democracia predomina ser dominada politicamente por governos de características autoritárias, quando não puras ditaduras, se reflete na comissão que reúne países da América Latina e do Caribe, que passará a ser presidida por ninguém menos que o ditador cubano Raul Castro. Será ele o porta-voz da região nas negociações com a União Européia que serão realizadas este fim de semana no Chile.

A América Latina era até há bem pouco tempo dividida em dois grupos, os países capitalistas onde estão Peru, Chile, Colômbia, e os da órbita chavista, entre os quais Equador, Bolívia e até mesmo a Argentina. O Brasil, sempre colocado entre os de economia aberta, desta vez ficou no meio termo em um painel sobre a América Latina, como se com um capitalismo de Estado cada vez mais presente, e a sistemática intervenção do governo nas questões econômicas, já não fosse mais possível identificar-se imediatamente o país com o capitalismo liberal, com o capital privado tendo papel preponderante no processo econômico.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, garantiu que o governo vê um papel importante do capital privado nas obras de infraestrutura que precisam ser feitas no país. Pelo ambiente arredio revelado aqui em Davos, vão ser necessários atos concretos, mais que declarações oficiais, para convencer o empresariado de que não estamos nos transformando em uma Argentina.
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O eclipse do Brasil





[...] Ficou menos desigual, para no entanto continuar ainda um dos países mais desiguais. Tornou-se algo menos violento, mas é um dos lugares onde mais se morre de tiro e acidente,

[...] A gente quase toda continua naquela alegria inadvertida de quem pode comprar mais coisas, ver TV em telas maiores e enfiar a cabeça de toupeira em milhões de celulares equipados de bobagem, os novos antolhos e hábitos de quem não tem educação de qualquer espécie.

[...] O Brasil está a um passo de começar a envelhecer sem ter ido à escola, de perder a oportunidade de formar bem a maior geração de pessoas economicamente ativas -de perder a oportunidade de enriquecer, para nem falar de outras utilidades da educação, em geral menosprezadas por economistas (civilidade, democracia etc.). Alguém parece exasperado com tal coisa?



O eclipse do Brasil
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP


País vive um momento de baixa econômica e tolice habitual ou enveredou por um novo mau caminho?

O Brasil despirou, a gente dizia faz uns três, quatro anos. Cresceu um pouco, embora menos que vizinhos pobrinhos. Ficou menos desigual, para no entanto continuar ainda um dos países mais desiguais. Tornou-se algo menos violento, mas é um dos lugares onde mais se morre de tiro e acidente, onde se encarcera gente com mais vontade, de resto em muquifos revoltantes.

A gente quase toda continua naquela alegria inadvertida de quem pode comprar mais coisas, ver TV em telas maiores e enfiar a cabeça de toupeira em milhões de celulares equipados de bobagem, os novos antolhos e hábitos de quem não tem educação de qualquer espécie.

Não se trata de fazer troça dos pobres que entraram no mercadinho (da esquina), mas de dizer que é muito pouco e que está difícil de haver mais.

Seria este um mau humor dos tempos das depressões recorrentes no Brasil, típico das conjunções de economia lerda com irrupções mais agressivas de burrice e primitivismo?

Pode ser. Espera-se que o país pelo menos volte a crescer, por sorte, por motivos que ninguém viu ou pelos imprevistos da história do mundo, o que muita vez foi o nosso caso. Mas há movimentos com cheiro de inércia, maus passos num mau caminho de onde é difícil escapar.

Considere-se o caso da política. Já vimos, claro, a política dar cambalhotas. Mas o quanto já não seria sistemática a existência de um PMDB (ou similares), uma instituição de chantagem política e de distribuição de favores entre membros maiores e menores de elites regionais toscas? Não é nova essa geringonça política: tem um quarto de século. Já durou mais que a ditadura militar.

Esse PMDB deve eleger presidentes da Câmara e do Senado, que então estarão sob o mando de gente com notória ficha corrida, todos mandões nos Estados mais pobres e socialmente violentos do país.

O Congresso não tem lideranças relevantes que não sejam os negocistas ou líderes da bancada disso ou daquilo, que atuam especificamente para clientes ou interesses menos gerais. Os novos líderes políticos no Executivo, entre 40 e 50 e poucos, têm a capivara (ficha) algo mais limpa, assim como a cabeça, limpa de qualquer ideia.

Esse tipo de gente é capaz de propor mudanças institucionais? Alguma reforma social profunda, como dar conta do desastre educacional? São capazes de entender problemas da nova diplomacia econômica ou qualquer outra, aliás? De ciência e tecnologia? Parceiros, cracas, quando não sanguessugas ou salteadores, do Estado balofo e errado são capazes de reformá-lo?

O Brasil está a um passo de começar a envelhecer sem ter ido à escola, de perder a oportunidade de formar bem a maior geração de pessoas economicamente ativas -de perder a oportunidade de enriquecer, para nem falar de outras utilidades da educação, em geral menosprezadas por economistas (civilidade, democracia etc.). Alguém parece exasperado com tal coisa?

O presente governo popular e democrático parece preocupado com algo mais do que malabarismos para remendar os índices econômicos do mês que vem? Faz mais de década que, em economia, vivemos do remendo. Já é quase uma "era", outra era de insensatez, de burrice grudenta. Já era.
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sábado, 26 de janeiro de 2013

Larry DePrimo NYPD

Do Prof Dr Afonso Farias Junior


O que era para ser unicamente uma atitude pessoal ganhou o mundo graças a uma turista do Arizona que registrou com a câmera de seu celular e postou no Facebook a imagem de um ser humano agindo com humanidade.

Estranho mundo esse nosso...
O que deveria ser corriqueiro casou espanto e admiração...
Foram mais de 400.000 compartilhamentos.

Tudo começou quando o Larry DePrimo um policial de Nova York de 25 anos fazia sua ronda normal pela 7º Avenida na altura da Rua 44...
DePrimo, observou sentado numa calçada um morador de rua que tremia de frio...
Sem ter com que se cobrir e descalço o homem tentava se aquecer mantendo-se encolhido e silencioso.
Diante da cena, o jovem policial se aproximou olhou, deu meia volta, entrou uma loja e com o dinheiro que carregava em seu bolso, comprou um par de meias térmicas e uma bota de inverno - gastou 75 dólares.
De volta à presença do morador de rua, DePrimo, lhe entregou as meias e as botas.
O homem, segundo DePrimo, deu um sorriso de orelha a orelha e lhe disse: "Eu nunca tive um par de sapatos em toda a minha vida".

No entanto, o gesto não se conclui na entrega do presente...
Percebendo que o morador de rua tinha dificuldade em se mover, o policial se agachou, colocou as meias, as botas, amarrou os cadarços e pergunto: ficou bom?
A resposta foram dois olhos felizes, lagrimejados e um novo sorriso.
Ao se despedir, DePrimo perguntou se o homem queria um copo de café e algo para comer...
"Ele me olhou e cortesmente declinou a oferta. Disse que eu já havia feito muito por ele".

Aqui deveria ser o fim da cena.
O pano cairia e todos iriam para casa...
Mas não foi.

Jennifer Foster, autora da foto, foi para casa abriu seu computador e postou em sua página a foto e escreveu o seguinte texto, dirigido ao Departamento de Policia de Nova York:

"Hoje, me deparei com a seguinte situação. Caminhava pela cidade e vi um homem sentado na rua com frio, sem cobertor e descalço. Aproximei-me e justamente quando ia falar com ele, surgiu por trás de mim um policial de seu departamento. O policial disse: 'tenho umas botas tamanho 12 para você e umas meias. As botas servem para todo tipo de clima. Vamos colocar'?" "Afastei-me e fiquei observando. O policial se abaixou, calçou as meias no homem, as botas e amarrou seus cadarços. Falou alguma coisa a mais que não
entendi, levantou e falou, cuide-se".

"Ele foi discreto, não fez aquilo para chamar a atenção, não esperou reconhecimento, apenas fez".
"Se foi sem perceber que eu o olhava e que havia fotografado a cena. Pena, me faltou coragem para me aproximar, lhe estender a mão e dizer obrigado por me fazer crer que a policia que sonho é possível".

"Bem, digam a ele isso por mim".

Jennifer Foster.

Em poucas horas, o texto e a foto de Jennifer pipocaram por todo o território americano e por boa parte do mundo.
Larry DePrimo, soube por um colega que lhe telefonou para contar...
Quando voltou ao trabalho e se preparava para sair às ruas foi chamado por seus superiores, ouviu um elogio, recebeu abraços de seus companheiros e quando seu chefe lhe disse que o departamento iria lhe ressarcir o dinheiro gasto de seu próprio bolso, Larry recusou e disse: "Não senhor, obrigado. Com meu dinheiro, faço coisas nas quais acredito".


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Por que razão um ato tão simples se tornou objeto de repercussão nas redes sociais?
Justamente por que esse "simples ato" vem sendo ignorado pela maioria esmagadora da população, pela humanidade, diante da falta de amor, de atenção, até mesmo de simpatia para com aqueles que padecem de sofrimentos e necessidades.
Esse exemplo ilustra com muita propriedade um dos objetivos maiores do Evangelho pregado e anunciado pelo Senhor e Salvador Jesus Cristo, no entanto, pouco seguido e imitado por todos aqueles que seguem os princípios ensinados por Jesus.
Fica o exemplo, pelo menos para ser lido e, quem sabe, imitado...





Espremido no avião - Drauzio Varella


Drauzio Varella

Sofro para encaixar as pernas nos aviões atuais. Se as deixo juntas, meus joelhos ficam prensados contra as costas do banco da frente; quando tento abri-las, incomodo quem está ao meu lado.

Num voo para Manaus, o único lugar que consegui foi na fileira do meio. Na janela, estava um rapaz de camiseta e boné, com as pernas maiores do que as minhas.

Enquanto meus companheiros de infortúnio entravam em fila ordenada e arrumavam seus pertences nos bagageiros, só não rezei para que o banco à minha direita permanecesse vazio porque não compreendo como os crédulos podem imaginar a existência de um ser superior com discernimento, perspicácia e tempo livre para as pequenas desventuras de cada um dos 7 bilhões de seres humanos espalhados pelo planeta.

Quando vislumbrei na fila um passageiro com mais de cem quilos, tremi nas bases. Não sei se você, leitor, é menos azarado, mas a meu lado jamais senta uma mulher bonita e agradável. No embarque, quando vejo alguma com tais atributos, tenho certeza absoluta de que a meu lado não ficará.

Como estava no fundo do avião, a esperança de que meu viçoso companheiro de viagem encontrasse seu assento mais à frente só me abandonou quando ele parou sorridente:

- Lamento, mas você foi sorteado para sofrer esse aperto junto comigo, nas próximas três horas e quarenta e cinco minutos.

A simpatia foi uma punhalada em meu coração. Para chegar se desculpando daquele jeito, em quantos voos o pobre homem não teria notado a rejeição estampada na face de idiotas como este que vos escreve.

Apesar da culpa, reconheci que não seria fácil viajar entre o rapaz de boné, com uma das pernas invadindo o espaço microscópico teoricamente reservado para mim, e o passageiro de corpo avantajado, que me forçava a manter encolhidos o braço e o ombro.

Entre os dois, onde apoiar o computador para terminar o trabalho? Situação pior, só a do cidadão à minha direita, com o corpo que transbordava os limites da poltrona.

Com muita dificuldade, consegui acomodar o computador no colo, numa posição desajeitada que me permitia enxergar a tela e tocar no teclado, contanto que permanecesse imóvel.

Às tantas, meu vizinho transbordante me cutucou:

- Acabei de ler esse seu livro, "Carcereiros". Você devia escrever sobre os spas.

- Spa?

- Porque os spas são iguais às cadeias.

Ele havia ganhado mais de 30 quilos nas últimas décadas. Preocupados, a esposa e os filhos insistiram durante anos para que se internasse num spa. Diante da resistência do principal interessado, planejaram uma chantagem terrível: não levariam mais os netos para ver o avô.

- Quando me deixaram na porta do spa com a malinha, senti que nunca mais recuperaria a liberdade. Deu vontade de chorar.

A rotina diária confirmou suas piores expectativas:

- No almoço, cem gramas de frango grelhado, meia cenoura cozida e duas folhas de alface. No jantar, um caldo tão ralo que nem a sede matava. De manhã, um pedacinho de mamão, uma fatia de pão de forma com requeijão com gosto de isopor e uma xícara de chá.

Depois do café, caminhada ao ar livre e uma hora de hidroginástica. À tarde, exercícios na academia. No terceiro dia, sentiu o organismo fraquejar; no quarto, simulou um quadro gripal para passar o dia na cama. Em uma semana, perdeu três quilos, mas ficou revoltado.

Tinha vivido na pobreza extrema quando criança. Trabalhar até ficar bem de vida para passar fome novamente não fazia sentido para ele.

Nesse estado de espírito, perguntou para o guarda da noite quem vendia os melhores salgadinhos da cidade. O rapaz lhe disse que vinha gente de longe atrás das empadas de palmito e coxinhas de frango com catupiry que uma senhora fazia. Meu vizinho de poltrona não se fez de rogado:

- Subornei o guarda para me trazer meia dúzia de cada.

Nos dias seguintes cometeu uma imprudência, no entanto:

- Caí na besteira de oferecer para outro gordo que também passava mal de tanta fome.

Infelizmente, o companheiro não respeitou o sigilo combinado:

- Começou uma romaria noturna no meu quarto. Precisei comprar duas dúzias por dia. Vinha tanta gente que fui obrigado a pregar um aviso na porta: "Depois das 23 horas, não atendo mais ninguém".


Drauzio Varella é médico cancerologista. Por 20 anos dirigiu o serviço de Imunologia do Hospital do Câncer. Foi um dos pioneiros no tratamento da Aids no Brasil e do trabalho em presídios, ao qual se dedica ainda hoje. É autor do livro "Estação Carandiru" (Companhia das Letras). Escreve aos sábados, a cada duas semanas, na versão impressa de "Ilustrada".
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Honduras, Paraguai e Venezuela

O Senado Federal é o forum adequado para determinar os rumos da política externa da sociedade brasileira. Quando a ideologia prevalece nesse mister a sociedade e a economia são significativamente prejudicados.
Segue uma madura e pertinente análise de um dos maiores tributaristas brasileiros.
Vale a reflexão.




Honduras, Paraguai e Venezuela 
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS
O ESTADO DE S. PAULO 

A coerência não é a maior virtude dos ideólogos. O respeito à lei é algo descartável quando a ideologia a ser preservada está em jogo.

Todos acompanharam o burlesco episódio de Honduras (em 2009). Determina o artigo 239 da Constituição desse país que o dirigente que pretenda alterar o regime eleitoral,para admitir um segundo mandato, seja afastado do poder e inabilitado para exercê-lo por dez anos.Ora, o então presidente Manuel Zelaya, contrariando determinação do Parlamento e da Justiça,convocou plebiscito para obter a reeleição e foi, por essa razão, destituído da presidência.O eminente constitucionalista Dalmo Dallari, em brilhante artigo para a Folha de S.Paulo, demonstrou o rigoroso cumprimento da Lei Suprema na deposição daquele mandatário.

E tanto foi perfeito o "impeachment" que, no prazo constitucional, houve novas eleições e foi, democraticamente, eleito um presidente. Assim não entenderam,entretanto, o presidente Lula e seus parceiros bolivarianos.O mesmo ocorreu com o Paraguai. O artigo 225 da Constituição paraguaia permite o afastamento do presidente por crimes políticos, crimes comuns e má administração. O presidente Fernando Lugo, sem nenhum apoio popular, no Senado e na Câmara dos Deputados, foi deposto por incompetência.Afastado por má administração pelo Parlamento e com confirmação pela Suprema Corte, continuou morando livremente em Assunção, sem que houvesse manifestações populares de expressão a seu favor e sem necessidade de tropas nas ruas para garantirem a decisão do Parlamento e da Justiça.

Novamente os ideólogos do poder, afinados com os governos de Hugo Chávez, Cristina Kirchner, Evo Morales e Rafael Correa,além de José Mujica,declararam que houvera rompimento da democracia, suspenderam o Paraguai do Mercosul- em decisão muito mais rápida que a do afastamento do presidente Lugo - e aceitaram, de imediato,a Venezuela como participante do bloco,nada obstante não ter esse país aprovado o acervo normativo comunitário.

Em meu depoimento no Senado Federal sobre o tema, cheguei a ironizar o pedido de ingresso, por falta de aceitação da totalidade do acervo normativo, sugerindo aos senadores: "Não digam sim nem não, digam talvez", pois só após sua aceitação poderia a Venezuela ser admitida.

Sem ter essa garantia e sem o apoio do Paraguai - afastado por ter cumprido rigorosamente sua Constituição-a Venezuela foi admitida,sendo sua admissão resumida em gráfica frase do presidente do Uruguai: "A nossa decisão não foi jurídica, foi política".

Agora,em relação ao novo parceiro, em que, nitidamente, sua Constituição foi dilacerada, pois a governa desde 11/1/2013 um ditador que não foi eleito pelo povo - visto que lá o vice-presidente é de livre nomeação do presidente e seu mandato se encerrou em 10 de janeiro -, o Brasil, contra a clareza do artigo 231 da lei imposta pelo próprio Chávez,dá pleno apoio ao golpe,sob a alegação de que o enfermo presidente, cujo mandato se iniciaria em 10/1/2013, foi eleito pelo povo,ignorando que o vice-presidente, que é quem está governando a Venezuela, não o foi!

É de lembrar que a incapacidade física ou mental permanente do presidente (artigo 233) deveria ser atestada por uma junta médica designada pelo Tribunal Superior de Justiça, que, após o expurgo realizado por Chávez na Justiça, não só pisoteou o artigo 231, como não cumpriu o 233. Até hoje ninguém sabe, na Venezuela e no mundo, qual o seu real estado de saúde.

Ora, o Itamaraty, sob o comando dos presidentes Lula e Dilma - que, pessoalmente, admiro, mas de quem, neste ponto, divirjo diametralmente -, utiliza-se de dois pesos e duas medidas, esfrangalhando o Direito Internacional e desfigurando por inteiro a respeitadíssima Casa de Rio Branco.

Estou convencido de que parte dos problemas brasileiros de alta inflação, baixo PIB, último lugar de desenvolvimento entre os países latino-americanos, sem grande perspectiva de crescimento - pois amarrado a uma esclerosa da máquina administrativa e deliberadamente complexo,confuso e arcaico sistema tributário-,são decorrentes dessa postura ideológica, que leva o Brasil a submeter-se às políticas de nossos vizinhos, esquecendo-se de que,como nação soberana, nos deveríamos comportar como os grandes emergentes, livres de posições ideológicas arraigadas, tratando de igual para igual os países desenvolvidos e superando antigos complexos de inferioridade. Sem isso não passaremos ao mundo a mensagem de um país onde existem segurança jurídica e robustez das instituições democráticas.

Como presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomércio, tenho sido algumas vezes consultado por investidores estrangeiros e quando exponho a complexidade do sistema tributário brasileiro sinto um desinteresse crescente em terem o Brasil como opção de investimentos - o que me faz lamentar profundamente.

Creio que a presidente Dilma, que é economista, poderia refletir sobre as verdadeiras razões que estão levando o Brasil a esta situação de desfiguração institucional.Certa vez, em palestra proferida na Universidade de Coimbra com o ex-presidente Mário Soares, fez-me ele, durante o almoço que se seguiu às conferências, a observação pitoresca de que administrara Portugal sem ser influenciado por ideologias. Disse-me ele: "O povo não com e ideologia,come pão". E para que coma pão não é necessária apenas uma política de incentivo ao consumo, mas, principalmente - o que inexiste -, uma filosofia de gerar produção, competitividade, tecnologia, para podermos, no futuro,manter o consumo, e não vê-lo reduzido, por falta de crescimento.
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China e Índia e demanda por alimentos



Um bom tema para se acompanhar e se discutir nas empresas: A ascensão das classes E e D na Índia e China estão pressionando a demanda de alimentos. 

Com a crise internacional a dificuldade dos países produtores de atenderem esta demanda coloca o Brasil em posição de destaque. 

O que nos é de arrasto é nossa sofrível infra-estrutura de portos, estradas, energia e capacidade de formação de estoques reguladores.

A carência de mão-de-obra especializada e o analfabetismo funcional elevado também contribuem para que os custos da cadeia produtiva sejam, desnecessariamente, majorados.
A diplomacia do atual governo deveria reduzir o viés ideológico e focar mais na melhoria de nossas condições estruturais e conjunturais para estimular os produtores e a cadeia produtiva com foco naqueles mercados e consumo interno.

Vale a pena refletir sobre este tema.
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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Pagãos


FERNANDA TORRES
FOLHA DE SP 


Passei dias atormentada com a ceia, pensando no quanto a arte perdeu terreno para a tecnologia

Um rapaz de 15 anos, abastado, inteligente e educado, me disse que pagar R$ 0,99 por uma música na internet era uma exploração sem precedentes.

Graças a um certo atraso geracional, vivo alheia às questões de direitos autorais das novas mídias, mas, dessa vez, me senti algo indignada. Rebati perguntando o porquê de ele achar correto o preço de uma barra de chocolate e se sentir tão ultrajado com o singelo custo da composição. Ele respondeu que não teria como arcar com as mais de 2.500 músicas arquivadas no seu drive.

Sugeri que quem possui um computador caríssimo, jeans custosíssimos, além de iPads, iTouches e afins na sua parafernália de entretenimento, tem, sim, condições de arcar com o ônus de uma canção.

Com a calma de quem vive uma realidade que eu desconheço, o infante me explicou que a internet dá ao artista a chance de divulgar seu trabalho e não há lógica em cobrar por uma oportunidade.

Um outro jovem, esse com tendências mais à esquerda do que o primeiro, completou aos brados que o verdadeiro artista não trabalha por dinheiro e lembrou que os pobres devem ter acesso à cultura tanto quanto os endinheirados. Essa alegação empurrou a discussão para o campo da insensibilidade social, emudecendo a velha guarda.

Os adultos só tiveram chance porque a babá de um dos imberbes se manifestou, afirmando que toda a vez que um rico quer defender o seu ponto de vista apela para o direito dos menos favorecidos. "Pobre não tem computador." Lembrou ela.

Animados com o apoio da classe trabalhadora, os de maior contra-atacaram dizendo que o que parecia cultura para todos não passava de uma apropriação indevida das grandes corporações que faturavam trilhões em cima do conteúdo de terceiros.

"E os milhões que os cantores acumulam nos shows?" Devolveram os adolescentes. "E o direito autoral dos compositores?!" Vociferaram os mais velhos. "Eles não entendem", concluíram os menores, como se os nascidos antes da virada do milênio fossem matusaléns sem cura, presos ao tempo em que era possível numerar o vinil, o livro ou o celuloide.

Um dos poucos antenados da segunda idade lembrou que Gilberto Gil, o mais apto membro da MPB a lidar com as novas diretrizes do mercado fonográfico, liberou parte de sua obra para ser "downloadada" de graça, ao mesmo tempo que protegeu o melhor de sua discografia da ferocidade da pirataria. Hipócrita! Bradou ultrajado o mais à esquerda dos pequenos.

A noite terminou em lágrimas, com os pais afrontados com as crias e os de menor aviltados pelo atraso das gerações pregressas.

Passei dias atormentada com a violência da ceia, pensando no quanto a arte perdeu terreno para a tecnologia. E assim entramos na Scuola di San Rocco, em Veneza, onde Tintoretto preencheu cada milímetro de parede do exuberante prédio renascentista com a sua extraordinária versão da Bíblia. E descemos a bota com os rebentos, arrastando-os por capelas cobertas por Giotto, Michelangelo, Da Vinci e

Fra Angelico.

É impressionante como esse levante de artistas, bancados pela igreja e por "dodges" e príncipes alinhados com o Papa, conseguiram se superar diante de uma restrição temática tão acirrada. E tome madona, crucificação e santa ceia, ressurreição e batismo, manjedoura e Menino Jesus.

A arte sempre caminhou entre a marginalidade e o sistema. O século 20 foi o último a viver sobre a influência do humanismo, cuja explosão ocorreu lá, no renascimento. Hoje, vivemos um ateísmo tecnológico sem precedentes, tão bem representado pela indiferença do rapaz que despreza o conteúdo artístico e venera sua nave virtual.

Fiz essa viagem para apresentar às crianças o berço do Ocidente, que pode até ter sido a Grécia, mas que se desenvolveu à plena potência na Itália. Depois de uma via crucis por igrejas, notei o ar de vingança no rosto dos moleques ao adentrarem o Coliseu.

O sofrimento cristão é mesmo de uma melancolia sem fim, admirar o vigor das estátuas realistas de Trajano, Adriano e Marco Aurélio encoraja o espírito. Mas as novas gerações não se miram nem em Roma nem em Cristo, seu paganismo é de outra ordem.

O iPhone é a nova Pietá.
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Crônicas do fim do mundo


FERNANDO GABEIRA
O ESTADÃO


Feliz fim de mundo dizia a manchete do jornal venezuelano Tal Cual no dia de dezembro marcado para ser o último, com base no calendário maia. De certa forma, o mundo acabou e, de tão felizes, não nos demos conta.

Como baratas que sobrevivem ao inverno nuclear, o PMDB prepara-se para assumir o controle do Congresso Nacional. São os mesmos de sempre, como diz o personagem de Beckett ao perguntarem quem lhe deu uma surra na rua.

O calendário de Marco Maia terminou com uma ação importante: a compra de 1.500 iPads para os deputados. Medida econômica destinada a poupar montanhas de papel. Acontece que os iPads serão pregados nas mesas. É compreensível o medo de serem subtraídos. Tantos recursos, conhecimento e inovação foram gastos para criar uma tecnologia móvel e os deputados vão usá-la pregada. A esquerda no poder sempre pode argumentar: se a aristocracia reacionária pregou Cristo na cruz, qual o problema de pregar uma conquista tecnológica? O problema é que, se fizessem um aplicativo para celular, poderiam economizar os iPads, montanhas de papel e, naturalmente, os pregos. Todos os deputados têm celulares e do bolso dos assessores brotam celulares como dinheiro amassado do bolso dos bicheiros.

Do iPad vamos para o Photoshop. É um programa, com muitas funções, para tratar imagens. Com o Photoshop, os políticos sempre parecem mais novos do que sua idade real e as contas, mais arrumadinhas do que autoriza a crise real. Algumas rugas em forma de débito foram suprimidas. Dizem as notícias que as manobras feitas pelo governo para formalizar a maquiagem, mobilizando estatais e o BNDES, deram um prejuízo de R$ 4,7 bilhões, via mecanismo, forçado pela urgência, de comprar ações na alta e vendê-las na baixa.

Na energia, Edison Lobão é a cara do fim do mundo. Ele aconselhou a usar energia à vontade num momento em que os reservatórios estão baixos, as empresas hidrelétricas se desidratam na Bolsa e as térmicas a todo vapor emitem milhões de toneladas de gases de efeito estufa. Em todo o mundo, o conselho dos dirigentes é usar energia com critério e procurar economizá-la sempre que possível. 

Lobão é generoso. Como Dilma, que nos promete uma redução de 20% na conta de luz, nesta conjuntura complicada. Como as térmicas encarecem a energia, a única saída será subsidiar uma parte da redução. Parte do que Dilma nos dá com toda a pompa devolvemos silenciosamente ao pagar a conta.

O sistema brasileiro é considerado bom por muitos analistas do setor. Precisa de investimento e gestão. Hidrelétrica fechada há quase 20 anos e central eólica funcionando sem linhas de transmissão para distribuir a energia são sinais de desgoverno. Costumo dizer que Barack Obama escolheu um Prêmio Nobel de Física para a pasta de Energia; quis o destino, graças à coligação vitoriosa, que nosso ministro fosse Lobão. Os vitoriosos impõem-nos condições constrangedoras. No passado, decisões brasileiras com repercussão continental eram pelo menos comunicadas às Comissões de Relações Exteriores do Congresso. Em alguns casos, falava-se até com a oposição.

A Venezuela está sendo governada por aparelhos. Eles são o vínculo de Hugo Chávez com a vida. Os chavistas poderiam respeitar a Constituição e eleger Nicolás Maduro dentro de um mês. Resolveram suprimir esse caminho, afirmando ser apenas uma formalidade constitucional. 

Um assessor especial brasileiro viaja para Havana, discute com cubanos e venezuelanos e afirma: a posição do Brasil é apoiar o adiamento das eleições na Venezuela. Os vitoriosos não deveriam poder tudo. A política externa do Brasil não precisa coincidir totalmente com a do PT. Ela é o resultado de um pacto com a maioria que elegeu Dilma. E quando se trata de decisão de peso é preciso ao menos comunicar à oposição.

Marco Aurélio Garcia encarnou o PT, o governo e o Brasil. Que viagem! Enquanto espera as malas na esteira, proclama: a posição do Brasil é pelo adiamento das eleições na Venezuela. 

Com o esfacelamento da oposição, os vitoriosos deixaram de fazer política. Desfilam solitários. Um partido substitui o País, que, por sua vez, é substituído por um assessor especial.

Na crise energética de 2001, fazíamos comissões, íamos ao Planalto, chamávamos o Pedro Parente, responsável pela gestão do problema, ao Congresso. Hoje está tudo morto por lá. E o PMDB prepara-se para roer os escombros. Esses dois momentos em que um setor vital como a energia invade a agenda revelam a devastadora decadência da política no Brasil.

Aos vencedores, as baratas. Pena que a paisagem na oposição seja também tão desoladora. O calor do debate político poderia levar-nos a pensar numa alternativa para tudo isso. A alternativa não é fácil. Os grandes partidos da oposição parecem não se interessar por ela. No mínimo, estariam se reunindo, discutindo os temas, lançando notas sobre a energia, a posição do Brasil nas eleições da Venezuela, a maquiagem das contas públicas.

Se a imprensa se tornou o único setor que questiona tudo isso, melhor talvez fosse distribuir os iPads aos repórteres. De que vale ser eleito como oposição e não realizar a tarefa?

Um certo mundo acabou. Ainda não apareceram aquelas brumas do amanhecer nos rios do Pantanal. Elas nos dão a ilusão de uma nova gênese, um outro mundo despontando gradualmente da névoa. Não espero nenhum paraíso. É pedir muito que o Brasil tenha um ministro da Energia à altura da importância do tema, que a política externa seja mais democraticamente exercida, que as contas públicas não sejam maquiadas? E que o Congresso funcione, a oposição se oponha?

Começam pregando iPads, daqui a pouco vão comprar aviões para a linha de ônibus Madureira-Central do Brasil, desativando sua capacidade de decolar. Começam com o ministro da Energia estimulando o consumo e, daqui a pouco, o da Saúde aconselhará a fumar.

O mundo acabou de certa forma. De tão felizes, não percebemos que está de pernas para o ar.
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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O Estado brasileiro e nossa "competitividade" global

Uma análise sensata acerca da gestão da "tentativa e erro" do governo, e não Estado, quando assume o papel de gerente-geral do desenvolvimento econômico, ao invés de mero facilitador.
É um assunto de grande importância pois causa impacto em absolutamente todos os segmentos empresarias de nossa economia, seja formal ou informal.
Comum em "democracias socialistas e totalitárias" a prevalência do Estado na economia gera favorecimento, cumpadrios e ineficiência. Afinal, vender para o governo é a palavra de ordem, a salvação, sobretudo para os "empresários eleitos".
É um assunto onde a sociedade deveria estar atenta e atuante. Ao contrário, infelizmente, delega a políticos sem o necessário e fundamental acompanhamento.





Na verdade, todos esse apoios e subsídios são ilusórios, e os empresários não vão se tornar mais competitivos; estão apenas fechando o mercado para a competição externa.

Enquanto não se convencerem de que têm de lutar contra impostos e burocracia estatal, a indústria vai continuar desaparecendo lentamente no Brasil, por mais que se busquem "soluções" ilusórias desse tipo.
Paulo Roberto de Almeida

A margem preferencial dada à indústria nacional
Editorial 
O Estado de S.Paulo

A indústria brasileira produz a um preço elevado, em razão de diversos fatores sobejamente conhecidos, e exibe baixa produtividade. Foi por isso que o governo aceitou instituir, na compra de equipamentos, uma preferência que pode chegar a até 20% a mais do que o preço do produto importado.

Trata-se de uma margem importante, que mostra ser muito reduzida a competitividade de nossa indústria, mas o governo tomou essa medida com caráter provisório e fixando em R$ 15 bilhões, no máximo, os gastos nos leilões realizados para estimular a indústria nacional por meio das suas compras. A ideia dessa preferência ao produto nacional foi apresentada no governo Lula, mas se concretizou no de Dilma Rousseff. Até agora, foram gastos R$ 2,5 bilhões, sinal de que o sistema de preferências demora a deslanchar, o que, aliás, é uma característica das iniciativas do governo.

Mas interessa examinar quais foram os principais produtos comprados pelo governo com a margem de preferência, pois dão uma ideia de em quais ramos a indústria nacional ostenta uma produtividade melhor. São tratores, escavadeiras, caminhões, ambulâncias e uniformes escolares. São todos produtos para os quais a demanda interna é elevada, o que permite auferir as vantagens de uma produção de massa.

A maioria desses bens, no entanto, tem componentes importados, o que reduz o valor dos incentivos. Existem algumas dúvidas a respeito do efeito dessa margem preferencial no desenvolvimento de tecnologias inovadoras. As compras do governo, porém, estão possibilitando ganhos de produção efetivos, especialmente no caso dos tratores, que têm função importante no desenvolvimento da agricultura, assim como no caso das escavadeiras para a construção civil e obras de infraestrutura.

Porém, se consideramos que o gasto efetivo do governo foi até agora de apenas R$ 2,5 bilhões, não se pode considerar a preferência como fator de salvação da indústria.

Existe, ainda, o risco de que os setores favorecidos se acostumem a viver com a participação do governo e não se mobilizem para desenvolver inovações tecnológicas ou know-how que reduza o custo dos bens oferecidos.

Mas, já que isso tem caráter provisório, seria útil exigir que as empresas beneficiadas comprovem que a margem preferencial auferida permitiu investimentos que reduzem de maneira constante o preço e aumentem a qualidade dos produtos oferecidos, pois os 20% representam, de fato, um gasto da sociedade.
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Sem contar os espaços



ARTHUR DAPIEVE
O GLOBO 


‘Um livreiro ambulante como o França havia se tornado um belo de um anacronismo’

Jornalistas leem menos do que gostariam. Depois dos outros jornais, das revistas semanais, do material de arquivo, do resultado das pesquisas, dos diários oficiais, dos boletins de ocorrência, dos projetos de lei, das medidas provisórias, dos programas partidários, dos relatórios das CPIs, dos processos judiciais, dos balanços das empresas, dos manuais de instrução, dos boletins médicos, dos releases, das dezenas de mensagens diárias e, quando se tem sorte, dos livros a resenhar, sobra pouca vista para ler de verdade, ler por prazer aquele livro vadio, seja não ficção, literatura, poesia.

Temo que a partir de agora os jornalistas cariocas passem a ler ainda menos. Porque aposentou-se o França, o livreiro ambulante que corria as redações dos jornais, revistas e emissoras de rádio e TV do Rio havia 40 anos. Carlos Alberto França foi o único “colega de trabalho” presente em todos os meus empregos na imprensa. Lembro-me dele no sexto andar do prédio do velho “JB”, ali onde hoje funciona o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, na Avenida Brasil. Lembro-me dele e de sua bolsa na sucursal da “IstoÉ”, nas redações da “Veja Rio”, do GLOBO, do extinto site NO. Pois o incansável França cansou e foi perdendo a saúde. Merece repouso.

Para quem não foi jornalista no Rio de Janeiro nas últimas quatro décadas, vou explicar melhor o que fazia o França. Ele selecionava as últimas publicações, com um olho atento àquelas que mais obviamente poderiam interessar aos coleguinhas, fossem livros-reportagem, livros de História ou livros escritos por outros coleguinhas (que nunca venderam tanto, tenho certeza, graças inclusive ao doce constrangimento da pergunta “não vai comprar o livro do Dapieve?”). Conhecendo cada um, o França ia de mesa em mesa oferecendo este ou aquele título. Bingo. Seu índice de acerto era enorme.

Para um profissional cuja carga de trabalho jamais foi pequena e que costuma sair da redação depois de o comércio fechar ou de a noite de autógrafos ter acabado, o França não só valia por uma visita semanal a uma boa livraria de rua (ou de shopping) como por uma boa batida de perna pelos sebos da cidade. Porque ele também aceitava encomendas de títulos fora de catálogo e saía feliz a campo. Tenho a impressão de que quanto mais difícil de achar, maior era a sua satisfação. “Sabe aquele primeiro volume esgotado do Walter Benjamin na Brasiliense? Achei!”, disse-me certa tarde. Antes dos sites de vendas de livros, o França era a Livraria Cultura mais a Estante Virtual.

Contemplando as estantes abarrotadas cá em casa, consigo me lembrar das circunstâncias em que quase todos os títulos foram ganhos ou adquiridos (coisa de neurótico, certo). O França rivaliza até com a antiga Entrelivros, com a Travessa, a Argumento ou a Amazon. Quando precisei juntar a bibliografia do meu mestrado, chamei o França. Quando precisei editar uma retrospectiva do século XX para este jornal, chamei o França. Muitos de nós devemos a ele um bocado de nossa cultura e informação (sempre falha, certo). Porém, era ele que volta e meia dava um presentinho de Natal aos fregueses mais fiéis. Está aqui na prateleira o pequeno volume de bolso dos “Lusíadas”, capa dura, da Lello & Irmão Editores, do Porto, impresso em 1980.

Décadas atrás, no tempo em que produtos importados eram menos acessíveis, as redações tinham os seus contrabandistas de confiança, os caras que passavam na mesa dos jornalistas que bebiam socialmente — e alguns era incrivelmente sociáveis — para vender uísque escocês. Alguns aceitavam escambo por LPs ou relógios usados. Isoladas do mundo, na falta de tempo e na abundância do espaço, as redações também ofereciam oportunidades de negócios para quem vendia empadas, sanduíches naturais, calcinhas. O negócio do França era o livro (e, com os anos, os deliciosos doces de sua esposa).

No momento em que os gigolôs do apocalipse tanto falam, babando, no “fim do livro” ou no “fim das livrarias”, como se a literatura fosse sinônimo de um objeto de papel ou como se o negócio fosse apenas vender livros e não reunir pessoas, um livreiro ambulante como o França havia se tornado um belo de um anacronismo. Havia algo de romântico naquela figura discreta que, no meio do pega pra capar dos fechamentos, se aproximava para nos oferecer “Fama e anonimato” ou “O deserto dos tártaros”.

Mais de dez anos atrás, jogando conversa fora com ele e com o Paulo Roberto Pires na redação do NO., na Avenida Presidente Wilson, eu prometi escrever uma coluna sobre o França no dia em que se aposentasse. Promessa é dívida, meu amigo, mas a minha dívida contigo é muito maior do que 3.877 toques, sem contar os espaços.
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Berço esplêndido e as saídas para a redução da desigualdade social

Falta só a sociedade acompanhar de perto, posto que afetará, sobremaneira, nossa economia, o dia-a-dia do cidadão comum.
E estes temas, maiúsculos e essenciais, prosseguem sem que a sociedade se manifeste, a não ser por delegação a terceiros.



A volta dos leilões de petróleo e a licitação de gás de xisto 
ADRIANO PIRES
BRASIL ECONÔMICO 


O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, anunciou a 11ª Rodada de Licitação e, também, a realização de uma rodada de licitação de áreas para exploração de gás de xisto para dezembro de 2013.

A rodada de gás de xisto foi anunciada apenas como intenção do governo em diversificar a matriz energética brasileira, mas depende ainda do resultado da coleta de dados na Agência Nacional da Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) sobre a localização e volumes potenciais nas bacias.

Caso todos os blocos sejam arrematados, a área exploratória brasileira, que atualmente é de 114,3 mil km², e vinha diminuindo nos últimos anos, terá um crescimento de 106%.

Entre as áreas anunciadas, o destaque será a região conhecida como Margem Equatorial Brasileira, formada pelas bacias da Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar, todas de fronteira exploratória.

Essas áreas apresentam um potencial petrolífero promissor, caracterizado pelas descobertas comerciais nas bacias do Ceará, Pará-Maranhão e Potiguar, além dos numerosos indícios de petróleo registrados nos poços perfurados.

O petróleo identificado nessas bacias é considerado leve, de excelente qualidade, de até 44° API, e recentes descobertas na costa oeste africana, por exemplo, nas bacias de Gana e Costa do Marfim, com características geológicas análogas às bacias da margem equatorial brasileira, comprovam o potencial da região.

Em 2011, a ANP estimava em, aproximadamente, R$ 200 milhões o volume a ser arrecadado com bônus de assinatura pelos blocos, mas este valor poderá ser ainda mais expressivo, devido às condições de competitividade esperadas, com tantos anos de atraso de leilões.

O Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) estima que os bônus possam alcançar US$ 1 bilhão (R$ 2,04 bilhões).

Outra questão importante é que a falta de solução para a divisão dos royalties entre os entes federativos traz um risco regulatório para a 11ª Rodada, na medida em que tanto estados produtores como os não-produtores podem levar o assunto para a justiça.

A indefinição poderia permitir que algum agente entrasse com uma liminar impedindo a realização do leilão. É esperado que o processo de debates para a apreciação do veto da presidente Dilma ao artigo 3º do Projeto de Lei aprovado no Congresso e para a votação em relação à Medida Provisória editada pela Presidência seja iniciado a partir de fevereiro.

Em relação a rodada relativa à exploração de gás de xisto para dezembro de 2013, a ANP está conduzindo um estudo que está previsto para até o final de 2013, o que pode atrasar o processo licitatório.

Os estudos envolvem as bacias do Parecis (MT), do Maranhão, do Piauí, do Tocantins e do São Francisco. É importante ressaltar que a falta de uma legislação e regulação especifica para o gás não convencional desestimula a sua produção.

Se o objetivo é tentar aumentar a produção de gás no Brasil, a ANP deveria propor uma legislação própria para o gás de xisto e, até mesmo, criar incentivos como a cobrança de royalty diferenciado para o gás não convencional.
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