domingo, 11 de setembro de 2016

Educação: De péssima a medíocre

23 AGO 2000

Ainda me recuperando do Ideb, que me deu uma sensação de luz se apagar no fim do túnel após 13 anos de administração petista, segue um artigo do ano de 2000 que serviu de base para as contumazes críticas de Lula para levar o  PT para o cume da vida nacional.

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Claudio de Moura Castro é economista (claudiomc@attglobal.net)

Ponto de Vista Veja Ed 23 AGO 2000

"De péssima a medíocre

"O problema da educação brasileira não foi resolvido, mas começou um processo que se vem revelando firme e contínuo"

No ensino fundamental está o cerne de tudo o mais que sai errado em nossa educação. Logo nos primeiros anos havia um entupimento, bloqueando o avanço e limitando o aprendizado. Mas, na década passada, deu-se uma grande revolução: de catastrófica (para um país com o nosso desenvolvimento), a educação passou a medíocre.

O problema não foi resolvido, mas começou um processo que se vem revelando firme e contínuo. As graduações no 1º grau passaram de 1 milhão em 1990 para 2,5 milhões no final de 1998. E já encurta o período necessário para chegar ao fim desse ciclo.

O crescimento seria uma vitória de Pirro se obtido à custa da qualidade, como se deu com a expansão anterior do 1º grau. Mas os testes do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb/Inep) mostram que não aconteceu nada parecido. Pelo contrário, com altos e baixos, a qualidade se agüenta. As boas idéias se esparramam, e o MEC passou a ajudar nesse processo.

Porém, para que continue avançando, é preciso entender a dinâmica do processo de reforma. O salto inicial resultou da decisão de lidar com problemas concretos e fáceis: construir, contratar, comprar livros, acertar os erros óbvios e visíveis a olho nu. Essas medidas agradam a todos, sejam sindicatos, políticos, pais ou empresas.

Mas o problema é que estamos chegando ao limite do conserto fácil. Em muitas escolas já estamos entrando na fase em que tudo vai ficando mais difícil. É necessário melhorar a administração, aprender a prestar contas, aumentar o controle local e a eficiência e, o mais difícil, mudar comportamentos. Acima de tudo, é preciso aprender a lidar com a multidão de alunos mais pobres hoje matriculados em todos os níveis do fundamental.

Se comprar mais livros é indolor, substituir professores incompetentes ou displicentes é penoso. Descobrir quem são os melhores para louvar e premiar é pecado mortal na cartilha ideológica de alguns. Poucos ousam tirar o privilégio dos políticos para usar nomeações como moeda de troca. E bulir no vespeiro da formação de professores?

Mas, em uma instituição cheia de vícios e problemas, somente arrostando as forças vivas da sociedade é possível transpor os umbrais de uma educação medíocre e conseguir boa qualidade. Porém, que razões teriam políticos e administradores para pagar os custos políticos de uma reforma? À primeira vista, nenhuma. A lógica dita que as reformas não deveriam acontecer, já que os responsáveis por elas têm tudo a perder e pouco a ganhar, pelo menos no horizonte de seu mandato.

Mas as reformas acontecem, mesmo neste nosso Brasil. Não fora isso, permaneceríamos travados. Vivemos um momento único e precioso. Hoje, a educação entrou na agenda política e na primeira página dos jornais justamente porque entrou na agenda do brasileiro comum. Com a modernização econômica e a globalização, sem o 1º grau não há emprego estável e sem o 2º não há emprego razoável.

Os radares dos políticos e administradores detectaram que educação pode dar voto. Agora existem prêmios. Atenuam-se os medos de tomar medidas que pisam nos calos alheios e aumentam os temores de ser punido por não fazer nada. E, sem pisar em muitos calos, não se reforma – mexer no fácil não é reforma.

O que falta, então, para que alguém se atreva a enfrentar os sustos e as assombrações de uma reforma? Faltam lideranças, pessoas que vejam mais longe e apostem no futuro. Na década passada, os ventos da reforma vieram do Paraná, de São Paulo e, sobretudo, das Minas Gerais. Onde estarão na presente década? A Bahia e o Ceará parecem apostas interessantes. Dão-se hoje muitos pequenos passos por todos os cantos e, somados, eles trazem avanços sérios. Há um dramático aumento na qualidade dos secretários de Educação. Mas, sem os grandes saltos, ficaremos aquém do necessário. Estadistas ou camicases, precisamos de secretários que ousem mais e de eleitores que não se contentem com menos."
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sexta-feira, 2 de setembro de 2016

E não é que a pedra rolou antes da hora!?

Breves considerações sobre a arte de se auto enganar por factóides.
Não saiu como eu esperava. Reconheço ter sido surpreendido. Também pudera! Estava totalmente alheio ao que ocorria ao meu redor.
Mas, peraí!! E se eu estivesse "ligadaço"! Proferindo pareceres, excertos de teses constitucionais alimentadas por jornais e posts em mídias sociais absolutamente sensacionalistas. Alimentando, sempre, a instigação...JAMAIS o esclarecimento. Enfim, se ligadaço eu estivesse o que adiantaria? Pois é!! Talvez a emenda saia pior do que o soneto. Afinal, a mídia deu uma mãozona a Lula e o PT que, com seus acólitos sistematicamente colocados em posições cruciais na estrutura pública, urdiram um golpe na sociedade...Desculpem...MAIS um golpe. Enfim, de que adiantou a sociedade estar "conscientemente ligada" nos fatos atuais? De que adiantou?! Nada.
Bem, vivi a agonia de não ter ninguém para conversar, debater ou explicar os sutis aumentos que vi nos preços, sobretudo os que tinham controles públicos. A cebola chegou a variar de 9,00 até centavos em questão de semanas nos grandes centros. E o feijão sumiu. Aliás, a mídia dedurou onde estaria o feijão e...ficou por isso mesmo!!! Nada ocorreu, sequer entrou nos "autos" do "golpe". Afinal, vi aumento de pequeninas taxas nos serviços bancários e na conta de energia pública. Meu orçamento consegui reduzir o consumo perto de 20% mas as despesas subiram 13%. Como pode?! Será que sou um administrador familiar incompetente? Não, o Brasil estava desgovernado...pertinho de Mariana e a mídia congelando nosso rosto e olhar para Paris...Aliás, como SEMPRE faz.
Bem, o golpe já foi dado. Estou curioso acerca de que novos "factóides" irão alimentar os papos nas mídias sociais e nos "leads" dos jornais na web. Passei em duas livrarias, consegui folhear alguns livros didáticos que sobraram (os paradidáticos estão um horror!! ou de platitudes ou de "novos olhares" sobre eventos de nossa história).
E por falar de "novos olhares" lembrei da psicóloga em Macaé RJ me entrevistando ao querer saber a celeuma sobre a mudança do nome da ponte Rio-Niterói...os "politicamente corretos" conseguiram mudar, na marra, o nome da ponte subtraindo fatos importantíssimos de nossa história contemporânea. Falo isso porque já perguntei o que fez de bom Costa e Silva, um falecido general-presidente, merecer o nome em uma ponte (acho maneiro a forma que o americano fala: "name after"...legal, um quê de romântico).
Pois é, sem surpresa alguma pouquíssimos sabiam. O que chegou mais perto já havia ultrapassado a curva, já adentrou nos "enta", quarENTA e um anos. E ainda assim não sabia a resposta. Bem, para surpresa geral não foram os militares que deram o nome, foi o Congresso Nacional e, pasmem, sem nenhum fuzil na nuca. Incrível!! Os deputados de plantão resolveram batizar o nome da ponte de Costa e Silva. Mas por que? Bem...bem.
Houve um pequenino estado no Brasil, conseguia ser menor que Sergipe, chamado Guanabara. Era maneiro cruzar o rio Pavuna em Olinda e sair do Rio (roça) para a Guanabara. Ah!! Isso era loooonge da zonal sul, isso era coisa de suburbano. Tanto é que lembro que garoto, ainda, no trem Japeri, quando o trem parava por panes na linha (e como tinha panes, suburbano sofria e muito), buscávamos o vagão que ficava "parado" sobre o rio Pavuna. Era divertido correr para o norte do vagão: "Tô no Rio!!" e depois para o sul: "Tô na Guanabara!!" Brincadeirinha babaca pacas...mas muito divertida.
Enfim, nossa irrefragável burocracia, nosso “dna burocrático” tornava concepções e demais licenças de construção extremamente demoradas, difíceis e sempre com um "porfora prá molhar a mão" da "turma da repartição". Dentre várias e demoradas licitações não feitas no conjunto, as construtoras sublocadas "pool" vencedor da obra (talvez seja prudente não falar o nome, vai que a "Lava Jato" consdera irregular e mandam demolir a ponte?! Sei lá! É melhor ficar quieto. O fato é que precisou da "mão pesada" do presidente Costa e Silva avocar a si a coordenação da construção. Bem, isso era o que o Stanislaw Ponte Preta, maledicente que só, mas muito engraçado, dizia. Uma ponte entre dois estados precisava andar e somente um presidente é que "tocava a obra". Absurdo, não? Mas o que difere das envolvidas nas investigações hoje? Para mim é a natureza do problema que, se não conhecido e entendido, ele se repetirá por várias vezes precisando apenas de um breve período na moita, encubado, aguardando o "brasileiro esquecer".
A vantagem de eu ser estudante em 1972, no Pedro II, é que meu professor de história, carioca da gema, sabia dos "metier" da ponte e aprendi muita coisa ainda adolescente. E a moçada de hoje? Vai estar "sempre inventando a roda" se lidar com eventos que já ocorreram e tiveram o seu "Lessons Learned" subtraídos pela manipulação dos livros. É quando eu me pergunto: E se a sociedade gostasse de ler e não tivesse vários eventos históricos subtraídos de seu ensino pelos professores "não-golpistas"? Será que o show de corrupção descoberto (creio que muito virá, ainda) teria tanta chance de acontecer? Com tanta profusão?
D U V I D O!!!
Sorte a minha. Sorte da patota dos sessentinha, que teve chance de estudar livros bons, sem manipulação ideológica e consegue ver e entender o Brasil mais rápido do que as gerações Y e Z! Aliás para esses faço uma pergunta: A minha geração e a que precedeu a minha construiu pontes, estradas, hospitais, escolas, enfim, vários itens sociais objetivos, reais e não virtuais e, sobretudo, concretos que até hoje as novas gerações usam. A pergunta: Será que podemos nos abrigar, andar, comer e ser atendidos dentro de aplicativos e músicas de qualidade duvidosa? Como pode uma sociedade querer sair da crise se menos de 13% dos diplomas de quarto e quintos graus de ensino nacional são para a área de exatas enquanto mais de 60% vai para a área de humanas...o virtual prevalece, irrefragavelmente, sobre o real, objetivo e concreto.
Bem, sobre a rocha, a pedra: Nada, absolutamente nada das abstrações filosóficas orquestradas pela mídia, goela adentro, enquanto a sociedade olhava Paris, ajudou-a a manter, sopro morro acima, a rocha rolada por Sisyphus, até chegar ao topo em 31 de dezembro. Renan e Levandowisck empurraram-na lá de cima e a trupe, uma vez mais decepcionada, apenas a lamentar e gritar: "Corre Sisyphus, na próxima vai que dá!!"

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