terça-feira, 21 de outubro de 2014

Minhas irritações com a presidente


IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, 79, advogado, é professor emérito da Universidade Mackenzie, da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército  e da Escola Superior de Guerra



Em 16 de março de 2011, publiquei nesta Folha um artigo  em que apoiava a presidente Dilma e seu vice, Michel Temer – meu confrade em duas Academias  e companheiro de conferências universitárias – pelas ideias apresentadas para o combate à corrupção e a promoção do desenvolvimento nacional.

Como mero cidadão, não ligado a qualquer partido ou governo, tenho, quase quatro anos depois, o direito de expressar minha irritação com o fracasso de seu governo e com as afirmações não verdadeiras de que o Brasil economicamente é uma maravilha e que seu governo é o paladino da luta contra a corrupção.

Começo pela corrupção.
Não é verdade que, graças a ela, os oito anos de assalto à maior empresa do Brasil, estão sendo rigorosamente investigados.

Se quisesse mesmo fazê-lo, teria apoiado a CPI para apurar os fantásticos desvios, no Congresso Nacional.

A investigação se deve à independência e à qualidade da Polícia e do Ministério Público federais que agem com autonomia e não prestam vênia aos detentores do poder.

Nem é verdade que demitiu o principal diretor envolvido. Este, ao pedir demissão, recebeu alcandorados elogios pelos serviços prestados!
Por outro lado, não é verdade que a economia vai bem.
Vai muito mal.
Os recordes sucessivos de baixo crescimento, culminando, em 2014, com um PIB previsto em 0,3% pelo FMI, demonstram que seu ministro da Fazenda especializou-se em nunca acertar prognósticos.

Acrescente-se que também não é verdade que controla a inflação, pois, se o PIB baixo decorresse  de austeridade fiscal, estaria ela sob controle.

O teto das metas, arranhado permanentemente, demonstra que a presidente gerou um baixo PIB e alta inflação.
Adotando a pior das formas de seu controle, que é o congelamento de tarifas, afetou a Petrobras e a Eletrobras, fragilizando o setor energético, além de destruir a indústria de etanol, sem perceber que desde Hamurabi (em torno de 1700 a.C.) e Diocleciano (301 d.C.)  o controle de preços, que fere as leis da economia de mercado, fracassou, como se vê nas economias argentina e venezuelana, que estão em frangalhos.

O mais curioso é que o Plano Real, que tanto foi combatido por Lula e pelo PT, é o que ainda dá alguma sustentação à Presidência.

Em matéria de comércio internacional, os governos anteriores aos atuais conseguiram expressivos saldos na balança comercial, que foram eliminados pela presidente Dilma.

Apenas com artimanhas de falsas exportações  é que conseguiu obter inexpressivos saldos.

O "superavit primário" nem vale a pena falar, pois os truques contábeis são tantos, que, se qualquer empresa privada os fizesse, teria autos de infração elevadíssimos.

Seu principal eleitor (o programa Bolsa Família) consome apenas 3% da receita tributária. Os 97% restantes são desperdiçados entre 22 mil cargos comissionados, 39 ministérios, obras superfaturadas, na visão do Tribunal de Contas da União,  e incompletas.

Tenho, pois, como cidadão que elogiou Sua Senhoria,  no início – para mim Sua Excelência é o cidadão, a quem a presidente deve servir –, o direito de, no fim de seu governo, mostrar a minha profunda decepção com o desastre econômico que gerou e que  me preocupa ainda mais, por culpar os que criam riqueza e empregos em discurso que pretende, no estilo marxista,
promover o conflito entre ricos e pobres.

Gostaria, neste artigo – ao lembrar as palavras de apoio daquele que escrevi neste mesmo jornal quase quatro anos atrás –,
dizer que, infelizmente, o fracasso de seu projeto reduziu o país a um mero exportador  de produtos primários, 
tornando este governo um desastre econômico.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Entre a promessa e a propina


[...] parece-me necessário nos lembrarmos de que nem sempre o nosso interesse pessoal imediato corresponde ao interesse da sociedade.
"[...] ao votarmos só pensando em nosso interesse próprio, votamos contra nós mesmos.
[...] avaliemos, com objetividade, as promessas que fazem, se o que prometem é factível, como têm atuado e quais são os seus aliados.
[...] quase metade dos candidatos mais votados nestas eleições de agora estão sob investigação policial. [...]  40 dos 108 deputados federais mais votados e senadores eleitos para a próxima legislatura estão sendo investigados pela polícia ou pelo Ministério Público.
As acusações vão desde o desvio de recursos públicos e improbidade administrativa a crime de tortura e falsidade ideológica. Entre os suspeitos, estão ex-governadores, ex-ministros, parlamentares reeleitos e que foram eleitos pela primeira vez.
Todos eles, portanto, detentores de mandatos populares para fazer leis que pautarão a vida de todos nós. E isso, muito embora exista a Lei da Ficha Limpa, que pretende impedir a eleição desse tipo de políticos.
O que se pode esperar de pessoas como essas, transgressoras das leis e dos princípios éticos?
São personagens como esses que se valem da autoridade que lhes foi delegada para infiltrar-se nas empresas estatais e nos ministérios e usá-los em proveito próprio e dos partidos a que pertençam."

Eles lá foram colocados pelo democrático voto do eleitor...consciente?!?!
Estamos, de fato, preparados para uma democracia madura e estável?!?!



Entre a promessa e a propina
FERREIRA GULLAR
FOLHA DE SP 


Paremos para pensar: Paulo Roberto Costa só terá sua pena reduzida se o que disser for verdade

Faltando sete dias para que decidamos, com nosso voto na urna, quem governará o país, parece-me necessário nos lembrarmos de que nem sempre o nosso interesse pessoal imediato corresponde ao interesse da sociedade.

E que, por isso mesmo, muitas vezes, ao votarmos só pensando em nosso interesse próprio, votamos contra nós mesmos.

É exatamente desse equívoco que se valem os políticos espertos, que visam o poder pelo poder. A nós, cidadãos, cabe distinguir entre esse tipo de político e o outro, imbuído de espírito público, que deve merecer nosso voto.

Entendo que nem sempre é fácil perceber, no que dizem os candidatos, o que é sincero e o que corresponde a intenções honestas do que é mera embromação. Mas não é impossível, desde que avaliemos, com objetividade, as promessas que fazem, se o que prometem é factível, como têm atuado e quais são os seus aliados.

Dá trabalho, mas compensa, porque só assim se evita que mais vigaristas se tornem legisladores ou governantes.

Esse cuidado, infelizmente, não tem estado presente na escolha que os eleitores fazem dos candidatos. A prova disso está no que a imprensa tem divulgado e que, por incrível que pareça, ainda nos espanta.

Um jornal publicou recentemente a seguinte notícia: quase metade dos candidatos mais votados nestas eleições de agora estão sob investigação policial.

A reportagem informava que 40 dos 108 deputados federais mais votados e senadores eleitos para a próxima legislatura estão sendo investigados pela polícia ou pelo Ministério Público.

As acusações vão desde o desvio de recursos públicos e improbidade administrativa a crime de tortura e falsidade ideológica. Entre os suspeitos, estão ex-governadores, ex-ministros, parlamentares reeleitos e que foram eleitos pela primeira vez.

Todos eles, portanto, detentores de mandatos populares para fazer leis que pautarão a vida de todos nós. E isso, muito embora exista a Lei da Ficha Limpa, que pretende impedir a eleição desse tipo de políticos.

O que se pode esperar de pessoas como essas, transgressoras das leis e dos princípios éticos?

São personagens como esses que se valem da autoridade que lhes foi delegada para infiltrar-se nas empresas estatais e nos ministérios e usá-los em proveito próprio e dos partidos a que pertençam.

É o caso espantoso do que ocorreu na Petrobras e que, a cada dia, escandaliza mais a nação. Às revelações envolvendo figuras e partidos do governo, a presidente da República alegou não poder levar em conta acusações sem prova.

Por sua vez, o PT, principal implicado, tratou de qualificar as denúncias de calúnias.

Paremos para pensar. Essas acusações foram feitas por Paulo Roberto Costa, como delação premiada, que só terá sua pena reduzida se o que disser for verdade.

Se não for, ele não ganhará nada com isso, a não ser, para o resto da vida, o ódio daqueles que acusou injustamente. Para fazer isso, o cara, além de corrupto, teria que ser débil mental.

Sucede que, depois daquelas denúncias, foi divulgado um vídeo em que Paulo Roberto confirma o que foi divulgado antes, acrescentando que as propinas eram de 3% do valor dos contratos firmados entre as empreiteiras e a Petrobras, o que montava a muitos milhões de reais, dinheiro esse que era dividido entre PT, PMDB e PP.

O PT ficava com a maior parte (2%), que era entregue a João Vaccari Neto, tesoureiro do partido. Esse dinheiro, em 2010, financiou a campanha eleitoral do partido, cuja candidata à Presidência da República era Dilma Rousseff.

Sem mais poder negar a procedência das acusações, Dilma passou a afirmar que é graças a ela que a Polícia Federal tem combatido a corrupção, embora seja essa função da polícia que, para exercê-la, não necessita da permissão de ninguém.

Como se não bastasse, passou ela a pôr em dúvida a isenção da Justiça do Paraná, que apura os escândalos da Petrobras.

A Associação de Juízes Federais contestou a acusação de Dilma e a Procuradoria Geral da República, no Paraná, afirmou em nota oficial que a atuação da Polícia Federal e do Judiciário é "estritamente técnica, imparcial e apartidária".
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