sábado, 9 de março de 2019

PIB 2010 e projeção para 2060 OCDE




O gráfico da OCDE Organização para Cooperação e para o Desenvolvimento Econômico apresenta o PIB dos países em 2010 e uma projeção para 2060.

Observem que o Brasil tinha em 2010 desempenhos semelhantes aos demais países dos BRICs. Todavia, observem a projeção do PIB da Índia (1,2 bilhões de habitantes) em 2060 e o da China (1,4 bilhões de habitantes). Brasil com apenas 210 milhões de habitantes (seis vezes menos que a índia e sete vezes menos que a China) não consegue "decolar".

Os ingredientes dessa incipiência precisam ser analisados pela sociedade eleitora estadista. Já estamos patinando no desenvolvimento há mais de três décadas. Há mais de três décadas não saímos da categoria de "em desenvolvimento"...









quinta-feira, 7 de março de 2019

A volta da rotina

Roberto DaMatta - O Estado de S. Paulo / O Globo

Hoje, nessas minhas cinzas, só posso ousar sugerir a criação dos Ladrões Anônimos

Todos voltamos à dura realidade da vida e esta quarta-feira, que há décadas, inexoravelmente, pauta minha crônica, é de cinzas. A partir de hoje, entramos, pelo calendário litúrgico católico romano, nos 40 dias de regeneração e exame de consciência afins à disciplina do corpo e da carne, essa quarentena que precede a Paixão de Cristo, aval da nova aliança de Deus Pai com a nossa pobre e carnavalesca humanidade. Hoje abrimos a esquecida Quaresma das penitências e arrependimentos reveladores de quanto o tal “Brasil laico” como estado nacional é, como sociedade, estruturado pelo Natal, pela Semana Santa e pelo Sábado de Aleluia, quando todos carnavalescamente – e à brasileira – ressuscitavam com Cristo Nosso Senhor.

Parece piedoso demais para o seu gosto moderno e também para o meu, mas esse é um lado esquecido do significado do carnaval que faz demandas financeiras absurdas quando lidas pelo código burguês do equilíbrio fiscal, mas que são parte de uma cosmologia formada pelo catolicismo ibérico que permeia o nosso perfil espiritual e transborda inclusive nos nossos impulsos ideológicos político-revolucionários.

Somos marxistas, mas não somos materialistas. Marx e Engels arregalariam os olhos com essa combinação que, na Europa, trouxe à história humana um progresso material extraordinário e uma visão de mundo que dispensava a transcendência religiosa do (e no) outro mundo.

Mas eis que todo ano celebramos o carnaval no qual todos viram foliões (malucos proto-transgressores) e usam fantasias, abandonando seus uniformes rotineiros. Eu uma vez escrevi sobre desfiles, paradas militares e procissões como três modos de revelação ou leitura esteticamente enquadradas do Brasil por si mesmo.

Nos desfiles, você provavelmente tomou parte fantasiado disso ou daquilo – certamente investindo de uma mensagem contra as classificações rotineiras, preconceituosas e em geral dicotômicas (homem ou mulher, rico ou pobre, sério ou galhofeiro) –, mas inconsciente de seu próprio lado, o qual necessariamente exclui um outro, pois não se pode ser nem a favor nem contra tudo todo o tempo. E pode agora refletir sobre o significado profundo das cinzas.

Sim, porque o seu desfile carnavalesco, misto de irreverência e manifestação, foi apenas um lado da nossa “democracia convulsiva”, como diz Anibal Machado numa brilhante análise do nosso carnaval no seu pouco lido João Ternura. Um livro que tanto me deu certeza de que o carnaval é a celebrização de nossa permanente e latente malandragem – uma ambiguidade ou indecisão histórica de raiz que nos impede de fechar e abrir novas etapas porque tudo se carnavaliza e mistura e, no moinho satânico da política, dos privilégios, dos direitos, das cláusulas pétreas, tudo muda para voltar ao que era antes.

***
Creio que Freud explicaria por que o ex-governador e hoje penitenciário Sergio Cabral resolveu carnavalizar-se, tachando sua triste nudez moral e sua patológica ambição no uso do político como um instrumento de enriquecimento pessoal e familístico, de vício. Só num país do carnaval, rótulo, aliás, significativo do primeiro livro de um Jorge Amado igualmente olvidado, um condenado por corrupção é um personagem que trocou o uniforme de governador (e de “caxias” – de zelador e seguidor das leis e da moralidade) pela fantasia de um malandro radical.

Aquele que sai do fio da navalha, entre a lei e o crime, e abraça a corrupção. Um malandro que, como ele próprio confessa, hoje se sente aliviado de ter reavaliado essa transmutação cinzenta de crime em vício. Hoje, nessas minhas cinzas de assistir ao Brasil canibalizar-se a si mesmo por meio de todo tipo de má-fé e procrastinação, só posso ousar sugerir a criação, entre nós, com ajuda da grande mídia, dos Ladrões Anônimos.

Nele, na roda dramática de pessoas que perderam o controle sobre suas vidas devido ao abuso de alguma droga que passou a controlá-las, ele poderia começar assim: “Meu nome é Serginho e eu sou um ladrão do erário!”.


Maquiavel e a PEC da Previdência


Uma ação política bem articulada na opinião pública poderá mitigar o desgaste político

ADRIANO CERQUEIRA*, O Estado de S. Paulo
06 de março de 2019 

“Deve-se considerar aqui que não há coisa mais difícil, nem de êxito mais duvidoso, nem mais perigosa, do que o estabelecimento de novas leis. O novo legislador terá por inimigos todos aqueles a quem as leis antigas beneficiavam, e terá tímidos defensores nos que forem beneficiados pelo novo estado de coisas” 

Maquiavel, O Príncipe

Nessa passagem o pensador italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527) já alertava para o alto custo político que uma ação reformadora (“novas leis”) tem para um governante. O alto custo refere-se à quebra de uma ordem de benefícios estabelecida em decorrência de uma ação reformadora, que a desestabiliza.

Qual o seu efeito? O efeito é produzir uma onda negativa de reações na sociedade em que será feita a reforma, liderada pelos setores que serão atingidos pela perda dos benefícios que a antiga ordem garantia. A reação, para Maquiavel, é quase instantânea, pois esses setores estarão perdendo benefícios. Não há como o governante evitar o desgaste decorrente da medida implementada e ele terá de estar ciente das consequências.

Por outro lado, lembra Maquiavel, os benefícios causados pela reforma não são imediatos. Os novos beneficiados só os receberão no futuro, o que transforma esse bem numa promessa. Poderá o governante contar com o apoio expressivo dos setores que serão beneficiados pela reforma? Não, responde Maquiavel. Por quê?

A razão está na reconstrução da legitimidade que o governante inevitavelmente terá de fazer em decorrência de sua ação reformadora. Parcela de seus apoiadores poderá deixar de apoiá-lo por se sentir injustamente prejudicada por sua ação reformadora. E a parcela que poderia apoiar ainda não está suficientemente convencida dos benefícios futuros. O resultado é que os protestos tendem a ser mais expressivos que as manifestações de apoio.

Transportando essa reflexão para a situação brasileira com a PEC da Previdência Social enviada ao Congresso pelo presidente Jair Bolsonaro em 20/2, há um complicador a mais na equação de Maquiavel: além do governante, há outro agente de poder relevante, o Congresso Nacional. Assim, não será só o presidente a sofrer com a provável perda de popularidade política por causa da PEC, mas cada um dos deputados e senadores integrantes do Congresso. Logo, é muito grande o desafio para aprovar uma PEC numa democracia representativa, como a brasileira.

Um ponto de convergência de interesses entre a Presidência da República e os parlamentares é a crítica situação financeira da maioria dos Estados, além da situação da própria União. As contas públicas estão no vermelho, muitos Estados não têm conseguido nem pagar os salários de seu funcionalismo, o desinvestimento em obras públicas afeta a qualidade dos serviços públicos, além de causar graves transtornos quando há desastres – como a queda de viadutos ou uma deficiente capacidade de fiscalizar atividades de alto risco, como a das mineradoras, só para citar dois exemplos atuais. Apesar de a PEC da Previdência causar imediato desconforto material aos atuais beneficiados, não é difícil associar o quadro crítico das finanças públicas com a falta de qualidade dos serviços públicos decorrentes, entre outras coisas, do desinvestimento por causa da crise financeira. O fato é que há um contingente expressivo de brasileiros sentindo, hoje, os malefícios da frágil situação financeira da União e da maioria dos Estados.

Logo, uma ação política bem articulada na opinião pública, visando a convencê-la da urgente necessidade de aprovar a PEC da Previdência para que se consiga um alívio financeiro imediato para a União e os Estados, dando-lhes condições de investir na melhoria da qualidade de seus serviços, poderá mitigar o desgaste político de propor uma reforma que atingirá benefícios estabelecidos. Além disso, caberá ao governo resolver em definitivo a crise financeira da União, pois só a reforma da Previdência não resolverá em definitivo a situação. Sabe-se que a grave situação financeira do Estado brasileiro está na sua esclerosada estrutura tributária e fiscal, que é ineficiente, burocratizante, gera alto custo financeiro para as empresas sediadas no Brasil e lhes tira, assim, boa parte de sua capacidade competitiva. A solução de longo prazo da crise financeira do Estado brasileiro está numa reforma ainda mais desgastante e que não foi enfrentada por nenhum presidente eleito desde 1989: a reforma do sistema tributário e fiscal.

Reformando para valer a estrutura fiscal e tributária brasileira – visando a simplificá-la, tornando-a menos custosa para as empresas e para os cidadãos, buscando ainda evitar a canibalesca disputa por incentivos fiscais entre os Estados da Federação e desburocratizando a relação da malha fiscal com o contribuinte –, essa será uma forte garantia de que não haja uma nova crise financeira no Estado brasileiro. O ganho político será elevado, mas, infelizmente, o tempo verbal está no futuro, e não no presente. Por isso são poucos os governantes que encaram para valer esse desafio. Os que encaram e são bem-sucedidos serão sempre lembrados não como ex-presidentes, mas como estadistas.

Finalmente, quando se pede menos Estado e mais sociedade, não se está apelando só para um enxugamento da máquina pública, mas para uma relação menos custosa em termos financeiros e de tempo entre o cidadão e o Estado. Isso porque um Estado enxuto, mas mal administrado, também causa grande dor de cabeça ao contribuinte. Assim, um novo pacto entre o Estado e os cidadãos implica, fundamentalmente, que ele não atrapalhe o dia a dia dos cidadãos. Enfim, um Estado mais enxuto e mais bem organizado que o atual, agigantado e ineficiente. Caso as reformas da Previdência e fiscal-tributária sejam feitas, aumentarão muito as chances de, no futuro, o Brasil finalmente construir uma relação mais saudável e respeitosa entre a estrutura do Estado e o cidadão. Que esse futuro benefício se concretize é o que o brasileiro espera.

*CIENTISTA POLÍTICO, É PROFESSOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO IBMEC-BH

Os desafios dos sindicatos


No momento em que precisa buscar se sustentar financeiramente, boa parte dos sindicatos enfrenta problemas que afetam o emprego em suas bases
 O Estado de S.Paulo 06 de março de 2019  

A emergência financeira causada pelo fim do imposto sindical impôs aos sindicatos a busca de meios para sua sobrevivência material, entre os quais a fusão entre eles. A necessidade de reduzir drástica e rapidamente os gastos para se adaptar às novas condições de financiamento de suas atividades é um enorme desafio para os sindicatos, que, ao longo de sua história, se acostumaram a usufruir do dinheiro recolhido compulsoriamente de todos os trabalhadores de suas bases e que era transferido automaticamente pelo Ministério do Trabalho para seus cofres. Ainda que imenso, este é, porém, apenas um dos desafios que as entidades sindicais em todos os níveis estão sendo forçadas a enfrentar.

Outro, estruturalmente muito mais complexo, é a necessidade de adaptar-se às transformações do processo de produção e de distribuição de bens e serviços em escala global. As mudanças provocadas pela tecnologia de informação são não apenas rápidas, mas sobretudo extensas, e afetam dramaticamente o mundo do trabalho. Por consequência, exigem novos meios de atuação dos sindicatos.

Não parecem ser muitos os dirigentes que já compreenderam o alcance dessas mudanças na atividade sindical. A maior parte deles só agora está tomando consciência dos problemas materiais imediatos das organizações sindicais, a começar por sua solvência financeira.

Além de modernizar as relações entre empregados e empregadores, facilitando a contratação de mão de obra, a reforma trabalhista extinguiu a chamada contribuição sindical. Tratava-se, na verdade, de um imposto correspondente a um dia de trabalho e descontado anualmente no salário de março de todo trabalhador com registro em carteira de trabalho, fosse ou não sindicalizado. Esse mecanismo de recolhimento compulsório assegurou por sete décadas a sobrevivência de sindicatos e outras organizações de natureza sindical – e, sobretudo, a boa vida de um grande número de dirigentes. A maioria desses sindicatos tinha pouco ou nenhum vínculo com os trabalhadores da base que diziam representar. Mais do que defender os interesses dos trabalhadores, a estrutura sindical mantida pelo imposto sindical estimulou a criação de entidades e, claro, de cargos remunerados em suas diretorias.

Como mostrou reportagem do Estado, existem no Brasil 16,6 mil sindicatos, sendo 11,2 mil de trabalhadores e os demais de categorias econômicas (de empregadores). Em 2017, as entidades sindicais receberam R$ 3,6 bilhões de recursos do imposto sindical (10% da arrecadação desse imposto ficava com o governo). Essa receita caiu 80% no ano passado, daí a necessidade de profundo ajuste financeiro dos sindicatos, federações, confederações e centrais sindicais.

Há sindicatos se fundindo, o que pode ser um caminho para a maioria das organizações sindicais que precisam reduzir gastos.

Centrais sindicais que possuem imóveis estão vendendo parte deles, como está tentando fazer a Força Sindical, que espera receber R$ 15 milhões pela venda de um prédio no bairro da Liberdade, em São Paulo. Entidades que representam categorias econômicas, como são chamados os sindicatos de empregadores, também veem na fusão um meio para reduzir seus custos.

A crise econômica brasileira reduziu o mercado interno de diversos produtos, especialmente os de maior valor. Isso tem forçado indústrias, como a automobilística, a rever seus planos, inclusive com o fechamento de fábricas. Num momento em que precisa buscar formas de se sustentar financeiramente, boa parte dos sindicatos tem de enfrentar problemas conjunturais que afetam o emprego em suas bases e de atuar de acordo com a nova realidade criada pela reforma trabalhista.

E já está à sua frente o desafio trazido pelas novas tecnologias, que tornam os processos mais eficientes, demandam menos mão de obra de obra, inclusive a mais bem preparada, e criam novas formas de relacionamento entre empresas e trabalhadores – com o uso mais intenso do trabalho em casa ou a distância. 

Saberão os sindicatos brasileiros enfrentar todos esses desafios?

terça-feira, 5 de março de 2019

Educação para todos


Cristovam Buarque*: - O Globo

Brasil continua com mais de dez milhões de adultos analfabetos, só 40% dos jovens terminando o ensino médio sem qualidade

Um dos exemplos do populismo da elite brasileira é a defesa da ideia de “universidade para todos” sem que o defensor assuma compromisso e lute por outros sete objetivos: “erradicação do analfabetismo de adulto”, “alfabetização de todas as crianças na idade certa”, “garantia de conclusão de ensino médio com qualidade igual para todos”, “cada jovem com a mesma chance na disputa por uma vaga nos cursos mais demandados”, “garantia de que os selecionados para as universidades vão poder concluir seus cursos”, “confiança de que os formados estarão preparados para o exercício de suas profissões” e “possibilidade de que serão capazes de aperfeiçoamento para os novos conhecimentos e profissões que surgirão ao longo de suas vidas profissionais”. Sem estas sete lutas, a reivindicação de “universidade para todos” é um slogan demagógico por não defender as mudanças estruturais de que a educação brasileira de base e nosso ensino superior precisam para educar bem a todos.

As cotas para afro-brasileiros buscavam, e conseguiram em parte, mudar a cor da cara da elite brasileira. No entanto, a política de ampliar vagas para ingresso na universidade sem garantir aumento de egressos no ensino médio com qualidade provoca um crescente número de alunos que entram, mas não concluem o curso universitário — se concluem, não recebem a necessária qualificação para o desempenho de suas profissões no mundo contemporâneo. No fundo, “universidade para todos” sem “educação de base para todos com qualidade igual” é uma proposta dentro do espírito do individualismo neoliberal: atende quem pode pagar boa escola e oferece vagas para quem não tem boas escolas; sem a revolução de que o Brasil precisa.

Precisamos de um programa de educação de base com a máxima qualidade igual para todos. Isto é possível, mas não atrai votos, porque exige de 20 a 30 anos para chegar a todo o Brasil, substituindo o atual frágil sistema municipal por um robusto sistema federal. Em 2003, o novo governo da época chegou a iniciar um programa de erradicação do analfabetismo de adulto, o Brasil Alfabetizado, e iniciou experiência visando à federalização da educação de base, o Escola Ideal. A partir de 2004, o governo parou estes dois programas e concentrou sua estratégia em ampliar vagas nas universidades, facilitando o ingresso no ensino superior. Alguns jovens conseguiram ingresso, mas o Brasil continua com mais de dez milhões de adultos analfabetos, apenas 40% dos jovens terminando o ensino médio sem qualidade e sem reduzir a desigualdade entre escolas dos ricos e escolas dos pobres.

“Universidade para todos” sem as sete outras metas é uma bandeira para políticos de olho na popularidade eleitoral imediata, não no reconhecimento histórico posterior, “Educação de base para todos” seria assunto para estadistas, capazes de mobilizar eleitores e sociedade em uma estratégia para que “os filhos dos pobres estudem em escolas tão boas quanto as dos filhos dos ricos”, e disputem em igualdade de condições o ingresso nos cursos mais demandados nas melhores universidades.

A política educacional de beneficiar indivíduos, em vez de mudar a estrutura da educação, é uma forma de “neoliberalismo social”: facilita a entrada no ensino superior para alguns, sem dar oportunidade a todos para uma educação de base com a máxima qualidade. Os 15 anos dessa política já mostraram que apenas alguns foram beneficiados, mas sem a mesma chance para todos. A revolução está em assegurar igualdade de qualidade na educação e fazer as reformas que nossa universidade precisa para ser instituição de excelência.

*Cristovam Buarque é professor da Universidade de Brasília e foi senador (PPS-DF)

Novatos já adotam a velha política nas negociações da reforma da Previdência


Chegada de PEC à Câmara expõe apetite de parlamentares por indicações, verbas e prestígio

Thais Bilenky, Angela Boldrini / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A chegada da reforma da Previdência à Câmara escancarou a incompatibilidade entre teoria e prática de parte da bancada dos deputados federais novatos.

Apesar do discurso contra a velha política, o toma lá dá cá e outros clichês, parlamentares em primeiro mandato têm mostrado apetite por cargos, repasses e jeitinhos que criticavam na campanha eleitoral.

A discussão sobre as novas regras para aposentadorias e pensões tem aumentado a pressão sobre o Executivo e tornado explícita a voracidade dos parlamentares, principalmente daqueles com passagens pelos Legislativos estaduais e municipais.

A onda bolsonarista impulsionou uma renovação de 47% da Câmara, a maior desde a Assembleia Constituinte, em 1986. O novo ambiente foi recebido com otimismo para a aprovação de pautas como a reforma da Previdência.

Embora também tenha emplacado na campanha um discurso de que iria acabar com as indicações políticas para cargos públicos, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) foi obrigado a ceder já na largada.

Uma planilha de cargos federais de segundo e terceiro escalões distribuída entre os congressistas foi rebatizada de banco de talentos logo que a reforma da Previdência chegou ao Congresso.

Por se tratar de PEC (Proposta de Emenda à Constituição), a reforma da Previdência precisa de apoio político expressivo, e Bolsonaro ainda aglutina sua base. São necessários 308 votos na Câmara e 49 no Senado, em dois turnos.

O banco de talentos mostra que o governo está disposto a atender o pleito dos novatos em troca da aprovação da reforma da Previdência.

A medida foi ironizada até por aliados, como o senador Major Olímpio (PSL-SP).

Segundo ele, “tucanaram o apadrinhamento”.

Os novatos com experiências regionais chegam com vícios. Mais da metade dos 243 estreantes tinha mandato. A maioria era deputados estaduais (69) e vereadores (55), segundo levantamento da Câmara.

Acostumados com uma fartura de cargos e verbas de gabinete e menor fiscalização, ex-deputados estaduais e ex-vereadores sofreram um choque em Brasília.

Eli Borges (SD-TO), por exemplo, tinha direito a 50 assessores na Assembleia do Tocantins. Agora, são 25.

“Com certeza [gera insatisfação], não apenas àqueles que ficaram de fora, como outros, que investiram na minha candidatura no sentido de apoio e também estão clamando por espaço. É natural o processo”, disse.

Otoni de Paula (PSC-RJ) afirmou que tinha o dobro de verba para usar como vereador na Câmara do Rio de Janeiro. Ele avisou seu grupo das restrições, mas tem expectativa de que o governo consiga preencher essa lacuna.

“Há uma ansiedade legítima, mas precisamos entender que os tempos e a visão do governo são outros. O presidente vai atender os nossos pedidos, claro que vai”, disse.

A bancada do Rio de Janeiro, de que Otoni faz parte, entregou nesta semana um abaixo-assinado ao líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), pedindo uma manobra para que novatos executem emendas já neste ano.

A rigor, isso não é possível pois a distribuição dos recursos é descrita no Orçamento, fechado no ano anterior. Os deputados veem brechas.

Segundo Vitor Hugo, em 2015, a manobra foi possível porque o Orçamento não tinha sido votado. “Neste ano, ele não está em aberto, mas teria de ver. Pode haver o direcionamento de recurso no Orçamento que seja mais aberto, uma programação”, afirmou.

Segundo o líder, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, busca, com os deputados, uma maneira de realocar recursos de emendas de bancadas de uma obra para outra.

“A gente conversou, e ele vai levar isso para o Brasil inteiro”, disse. “Aí otimiza o uso dos recursos e dá crédito político para as bancadas”, afirmou.

Mesmo entre os novatos puros, sem mandatos anteriores, o afã em conquistar espaço no governo, receber verba e indicar aliados é vigoroso.

Dayane Pimentel (PSL-BA), autoapelidada a “federal do Bolsonaro”, tem demonstrado aos colegas fome por espaço.

Com discurso contra o fisiologismo e a corrupção na eleição, ela, que é presidente estadual do PSL, emplacou o marido em uma secretaria na gestão de ACM Neto (DEM) em Salvador, em dezembro.

Desde então, já nomeou quadros. “Fiz minha campanha toda sem prometer absolutamente nada a ninguém, não fiz campanha barganhando esses cargos”, afirmou.

“Agora, obviamente, se houver espaço, e eu for convocada pelo presidente ou pelos ministros, vou olhar se tenho currículo correspondente e vou responder a essa expectativa deles”, afirmou Pimentel.

A deputada tem procurado com frequência ministros com pedidos de repasses para obras, mesmo expediente de Gutemberg Reis (MDB-RJ), que reclamou da falta de interlocução com as pastas.

“Não é só nem questão de cargos e espaço, é questão de prestígio, né? Aqui a gente tem uma cobrança muito grande de prefeitos e vereadores para dar retorno”, disse.

Estreante, Julian Lemos (PSL-PB) reagiu à indicação de um adversário a um cargo no Ministério da Cidadania. “Não precisa me conhecer muito para saber que de modo algum faria uma indicação esdrúxula dessas”, criticou, nas redes sociais.

À Folha Lemos disse que não “faz questão” de indicar aliados, mas que, “se acontecesse” com ele, “seria natural”. “Por mim, não haveria nenhuma indicação”, afirmou.

O ator Alexandre Frota (PSL-SP) disse já ter sugerido mais de 60 nomes ao governo Bolsonaro. Emplacou aliados na Secretaria de Cultura —foram ao menos três contratados até agora e há mais quatro em avaliação, segundo ele. “Mas tem uma diferença. Eu só indico”, afirmou, criticando novatos, que não quis nominar.

“Tem vários tipos de rolo que são armados aqui dentro”, disse. “Às vezes as pessoas transformam um cargo em seis.” Frota disse que “esperava um pouco mais” de seus colegas estreantes.

Jovem Brasil e seu futuro






Para ajudar o Brasil a se recuperar a sociedade precisa parar de prestar atenção em platitudes, inutilidades e boçalidades que a mídia, diariamente nos repleta e abarrota. Temos que aprender a pensar como eleitores-estadistas, temos que aprender a olhar para a frente, ainda que autonomamente, pois nem a Academia, tampouco a mídia está ajudando.

18 a 24 anos é uma faixa populacional delicada pois é entrante no mercado, com baixa experiência laboral e funcional, pertencente à maior participação em acidentes e eventos de violência urbana. 

Essa geração, em formidável parcela, foi vítima indireta da "aprovação automática" e hoje é "cliente preferencial" do analfabetismo funcional e do apagão de mão de obra.

A pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), no gráfico, evidencia o fenômeno ao longo das capitais somente do ano de 2016, contudo, pela contumácia de nosso elevado nível de desemprego e o de desocupação pode-se inferir que essa tendência demorará muito a diminuir.

Outro detalhe importante: Também é a maior parcela de eleitores dentre os 110 milhões ativos: Portanto, observem a quantidade de desocupados nos estados que deram vitória ao   PT nas recentes eleições...

Não somos, hoje, vítimas do acaso, apenas o resultado de um perverso construto anuído e praticado por parlamentares e políticos em função resultante do democrático voto útil...

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