quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O velho e a política


“É uma estupidez não ter esperança, pensou. Além disso, acho que é um pecado perder a esperança.”
  
Roberto DaMatta, O Estado de S. Paulo

31 Agosto 2016  



Ernest Hemingway, no seu consagrado livro O Velho e o Mar, ouve o velho Santiago – um pescador pobre e azarado, mas íntegro e inteiramente orgulhoso do seu papel de caçador de peixes – refletir sobre a virtude apaziguadora chamada esperança. 

Ao leitor que não passou pelo livro, lembro que Santiago estava “saloio” ou azarado. Na Amazônia brasileira, dir-se-ia “empanemado”, porque abusou de pescar em demasia algum peixe ou porque exagerou na caça de algum animal, tirando do meio ambiente, do qual o predador faz parte, mais do que seria suficiente para a sua sobrevivência. Nos anos 60 (imagine!), publiquei um estudo desse princípio revelador de que, para além da oposição entre sociedade e natureza, há inúmeras e claras interdependências.

Azarado há dezenas de dias, Santiago sai em seu barco de uma só e solitária vela e, por obra do que chamamos de acaso, pesca um colossal espadarte ou marlim. Uma peixe imenso, forte, poderoso e belo na sua integridade animal com a qual ele dialoga.

Realmente, a todo momento, o velho Santiago questiona a si mesmo se ele realmente mereceria esse presente tão imenso quanto a mudança de sua sorte. 

Hemingway perpetuou no velho e o mar a sua mais pungente parábola. Um crítico abalizado poderia dizer que tudo o que escreveu foi mitologia, mas eu não preciso ir tão fundo ou insinuar um peixe tão grande. Como um velho ainda mais velho que o velho Santiago, o que seria para mim, que não me entendo como azarado (mas teria muitos motivos para fazê-lo), encontrar nos oceanos deste mundo um extraordinário marlim? Seria como ganhar sozinho uma loteria e aparentemente desfrutar de uma forma de liberdade que até hoje não me foi facultada? Que sonhos pode um velho sonhar? Aliás, será que os velhos sonham com grandes espadartes ou somente – como o velho Santiago – com os leões que ele, um dia, admirou nas areias de uma praia africana?

O que sucede com um velho que pega um enorme peixe, o qual apascenta o seu respeitável sentimento de finitude? No caso do velho Santiago, há um enorme regalo inesperado; há a luta para dominá-lo e – em seguida – o inevitável: a presença dos tubarões, que começam a devorar a suculenta e nobre carne do peixe pescado...

Ganha-se sozinho uma fortuna. Mas eis que é preciso dividi-la. No momento da distinção, surgem os predadores e eles chegam de todos os lados, pois são da casa e da rua, do porão e do sótão, do jardim e do quintal. Cada qual abre um sulco na carne do peixe pescado e come furiosamente o seu pedaço. O velho Santiago, como todo velho que por sorte pegou um peixão, luta para defender o símbolo de sua ressurreição. Nessa luta contra o roubo do seu trabalho, ele fere as mãos, usa uma faca sem fio e sente o imenso cansaço dos velhos. Mas Santiago não desiste nem mesmo quando vê o sonho desabar e verifica que não há vida sem tubarões ladravazes, safados e façanhudos – de dentes afiados e, acima de tudo, famintos ao seu redor.

Inveja, ressentimento, feiura, doença, má-fé, burrice, incompetência, hipocrisia, tristeza, preguiça, agressividade, ódio, medo, ignorância, radicalismo, desonestidade – essas doenças todas são (e estão) nos tubarões, mas também não podem ser ignoradas no pescador nem no marlim. A vida tem suas cotas de maldade e bondade, de amor e ódio, de intenção e de acaso.

Quem sabe os velhos não mereçam suas velhices viris, alegres, repletas de saudade e prazer? Quem sabe a fábula do velho Hemingway não é sobre essa capacidade de lutar contra predadores com virilidade? Ou sobre a transitoriedade das riquezas sendo devoradas pelos vermes, como dizia o velho Machado de Assis?

Reli Hemingway, obrigando-me a assistir ao capítulos finais desse bizarro impeachment de Dilma Rousseff. A pescaria do marlim, com sua cota de heroísmo e esperança, dão-me alento nesses tempos sombrios, que eu jamais esperava viver na minha velhice. 

Seria um despautério tentar forçar um drama no outro. Afora a minha identificação com a velhice do velho Santiago, eu, no drama do impeachment, apenas vi tubarões e ‘tubaroas’. Uma delas legitimando moralmente o seu clube. Vi igualmente tubarões esbravejantes, mas todos mordendo. Um tubarão graúdo perdeu o rumo e sugeriu maluquice. A ideologia, eis o que aprendo, substitui o instinto. De minha parte, eu faço como o velho Santiago: não perco a esperança.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

E Sisyphus está quase lá...




Meus amigos eu devo estar me tornando uma pessoa difícil de se conversar ou de conviver, quem sabe. Contudo estou próximo aos 60 e sinto-me com pouco tempo para ler e entender o essencial. Este mesmo essencial, a mídia, “olhos e ouvidos da sociedade” está me furtando.
Certa feita durante uma entrevista para ascender a comandante na empresa onde voava helicóptero offshore, a psicóloga começou a me fazer perguntas introdutórias sobre a realidade. Iniciou, acreditem ou não, pedindo opinião sobre duas personagens da novela das oito que eu não fazia a menor ideia de quem eram. Prosseguiu perguntando sobre nome do prefeito de Macaé, que desconhecia, depois sobre a questão da troca de nome da ponte Rio-Niterói e por aí foi. 

Antes que ela prosseguisse a perguntar sobre futebol disparei: “Doutora, eu não faço a menor ideia desses assuntos. Numa boa, não estou brincando: eu desconheço. Ante seu espanto ela observou que era um requisito para ascender a comandante (não sei se era verdade, tampouco me importava) era estar a par das notícias do dia a dia. E disparou: Com que frequência o senhor lê os jornais Apenas os “leads” dos principais jornais na internet e depois pulo para editoriais e opiniões. Não leio o caderno de política, somente o de Economia e Mundo. Ao que ela retrucou: O senhor acha isso correto Ao que lhe respondi: A senhora acha que o petróleo que ajudamos a extrair dessa bacia vai para ondeAnte os motivos ao mencionar automóveis eu lhe disse que ela estava errada e perguntei o motivo. Ela desconhecia que nossa gasolina era importada e que o petróleo extraído da Bacia de Campos, em grande volume, na época iria para as usinas termelétricas. 

Aí completei perguntando a opinião de Marina Silva, a eterna candidata à presidência sob a plataforma da preservação ambiental. Claro que ela desconhecia e ficou decepcionada ao lhe dizer que era um silencio sepulcral. Prossegui falando acerca de segurança pública e o motivo do explosivo e incontrolável crescimento dos imigrantes em Macaé RJ, onde tínhamos a base, instalados em uma grande favela na imediatamente antes da cabeceira de pouso principal e já com movimento de “tirar o aeroporto de lá” por causa do risco e do barulho dos helicópteros, por acaso a principal fonte do “Eldorado Macaense” (porque o timinho de lá é muito brejo!!) Perguntei-lhe a correlação com a política de meio-ambiente e o Código Florestal.

Bem, houve um desconforto e ela foi substituída pela que aplicou os testes para valer, ocasião que logrei êxito. Imagino-me da mesma forma agora, se tiver uma entrevista de emprego serei uma decepção para os entrevistadores, contudo se tiver oportunidade vou lhes perguntar assuntos de relevância que por não estarem sendo resolvidos a cada dia afundam e nos afastam cada vez mais da esperada recuperação da economia.

Bem, avançando no futuro e falando de meu dia a dia no calçadão de Boa Viagem onde cruzo com muitos conhecidos e, dos que se lembram de mim na ativa, procuram minha opinião sobretudo acerca do impeachment. Amigos, aviso: “Eu não faço ideia nem da roupa que Dilma está vestindo!! Não acompanho tampouco me interessa. Já avancei a madrugada acompanhando o impeachment de Collor e o país continua da mesma forma, agravado, contudo, pela irrefragável incompetência gerencial do PT após treze anos. É fato, não é ilação, é pura constatação. Também não acompanhei a abertura dos jogos olímpicos, nem o fechamento, nem a iniciativa nem a acabativa. 

Estou preocupado com as dívidas que o Município do Rio quer terceirizar para o resto do país contribuir, devido a justificativa do sucesso nacional do evento onde “O Brasil ganhou com as olimpíadas” Fala sério, as contas não param de crescer.

Então, amigos, estou pesquisando sobre ESP (Escola sem Partido – aliás acho que deveria ser a obrigação de todo pai e toda mãe nesse sorry country). 

Estou querendo entender o motivo do deputado Maia anuir e engavetar CPI importantes para “pagar o apoio que recebeu” para ser eleito em um mandato tampão. 

Estou preocupado em saber o que acontecerá pois as merrecas dos R$ 36 bilhões para a CPMF já autorizados à execução em dezembro do ano passado, à revelia da sociedade pois estamos no fim de agosto e o que permanecer irá TER QUE EXECUTAR por já estar no orçamento, até 31 de dezembro. 

Bem, tem um motivo e impactos tarifários que tenho absoluta certeza de que quem está ligadíssimo na TV e rádio acompanhando o impeachment sabe o motivo para ensinar aos filhos. E, por fim, NENHUM partido, NENHUM partido, estar ajudando na redução dos índices das DRU, as desvinculações das receitas da União para ver se o que quem fica na próxima terça-feira, pode prosseguir SEM AUMENTAR IMPOSTOS!!

É isso que está me preocupando, o que prende minha atenção pela dificuldade de encontrar essas matérias na mídia. Só se fala de impeachment e de platitudes. Elas são cruciais porque em novembro o Congresso, da mesma forma sub-reptícia E após os resultados das urnas, irá aprovar para que a majoração de impostos EM 2017 ocorra de forma compensatória SEM TER QUE MEXER NAS DRU.

Amigos, sabem quantas vezes isso ocorre DESDE que a Constituição entrou em vigor e abriu espaço para a vinculação e engessamento do orçamento Tirando o impeachment: TODOS OS ANOS!!

Em ordem de prioridade de atenção quem se importar em minhas sugestões seriam: Pressionar o parlamentar que elegeu para descumprir a determinação do partido e votar eliminando alguns entraves e liberar a DRU e estudar, com profundidade, ou ler o “Maquiavel Pedagogo” e lutar para evitar a ideologização do ensino ao longo do país, pois o futuro de nossa sociedade depende, e muito, disso.

E para piorar, vejo e ouço barbaridades nos jingles de campanha onde um circo de horrores se avizinha mês que entra. O desespero que dá é que, por mais um dolorosa dentre uma miríade de vezes, a mídia “olhos e ouvidos da sociedade” está nos forçando a olhar para Paris enquanto Mariana se afoga.

Enfim, vejo e sinto a esbaforida e pesada respiração de Sisyphus quase colocando a pedra no topo do morro, para em zero um de janeiro, disparar ladeira abaixo para não ser atropelado pela esmagadora rocha que ele, com muito suor, levou um ano empurrando ladeira acima.
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