Mistérios rondam a crise sanitária. No momento em que mais se precisa de informação segura, surge uma vasta e espessa névoa intelectual. Como a literatura científica sobre a Covid está em formação e, por motivos óbvios, ainda repleta de incertezas, estabeleceu-se um código enigmático na mídia, na comunidade médica e outros círculos: parte das incertezas pode ser afirmada como certeza; outra parte das incertezas não pode ser nem mencionada. Exatamente isso que você entendeu: cala a boca.
Vamos obedecer momentaneamente a essa censura tosca – sobre a burrice do lockdown indiscriminado, por exemplo, que rende o carimbo de "negacionista" a quem ousa examinar-lhe a completa falta de critérios – e vamos nos deter na parte das incertezas promovidas a certezas. Você perguntou como se deu essa promoção? É simples. Ela se deu por um moderno critério de consolidação científica vigente desde o ano de 2020: no grito.
Veja por exemplo a desenvoltura do deputado Ricardo Barros, que é líder do governo na Câmara, ameaçando publicamente "enquadrar" a Anvisa. Segundo o deputado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária criou "um monte de exigências" para liberação de vacinas e o processo tem de ser acelerado.
O que se sabe no Brasil e no mundo é que os estudos gerais para imunização contra a Covid-19 em idosos são, até o presente momento, insuficientes. E veja: a própria Anvisa aprovou duas vacinas para aplicação emergencial no Brasil com laudo em que atesta que a quantidade de idosos nos estudos é insuficiente para garantir a eficácia e a segurança dos imunizantes.
Mas o uso emergencial não é para os grupos de risco? E a maioria dos que estão nos grupos de risco não é de idosos? Justamente esses que não foram devidamente estudados quanto à efetividade e aos riscos das vacinas? Que emergência é essa? Como uma imunização emergencial salvará os que não se sabe se podem ser salvos pelos referidos imunizantes?
Traduzindo: a aprovação das vacinas de Oxford e Coronavac pela Anvisa para aplicação emergencial no Brasil é no mínimo controversa. E o deputado Ricardo Barros quer que o rito de liberação por parte da agência seja mais rápido ainda. Qual é a ideia? Liberar vacinas sem estudo? Liberar logo e estudar depois? Que ciência é essa?
Os apressados da vacina experimental compõem um movimento realmente intrigante – e que conta com um impressionante grau de benevolência geral. Até o sumido Aécio Neves reapareceu, antes mesmo de qualquer aprovação emergencial, para propor um plano de vacinação geral obrigatória, através de formas indiretas de embargo social ao cidadão não vacinado. Hein?!
Nem a taxa de letalidade, nem os grupos vulneráveis indicam a necessidade de vacinação universal contra a Covid. Considerando ainda os riscos para a saúde, a falta de eficácia comprovada, o ataque à liberdade do cidadão e os custos bilionários envolvidos, uma proposta dessas seria necessariamente, numa sociedade sadia, um escândalo. Mas não foi. Dessa vez deixaram Aécio em paz.
O que está acontecendo? Que forças irresistíveis movem os vacinadores indóceis? Responda rápido, de preferência bem alto, porque nesses tempos em que se faz ciência no grito daqui a pouco a sua voz de herege não sai mais.
Guilherme Fiuza
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