sábado, 26 de janeiro de 2019

Congonhas SP e Brumadinho MG, perigosamente próximos.


Sim, perto, pertíssimo aliás, ainda que não geograficamente. Contudo, em questões de comoção nacional e prevenção de tragédias, a verossimilhança é irrefragável.
Congonhas, SP, e o airbus da TAM que "escorregou" da pista indo colidir com um hotel ao lado.
De acordo com o "senso comum" midiático, a pista não tinha o "grooving", ranhuras na pista que ajudavam na freagem e retenção da aeronave no chão ao pousar com a pista alagada. Bem, eu voei e pousei, VÁRIAS vezes em Congonhas pilotando um HS-125/400, transportando ministros. Pousei com a pista molhada, várias vezes ao longo de quatro anos. Detalhe, o HS não tinha o "reverso", tínhamos um "lift dumper", ou seja, um "esculhambador e arruinador" (dumper) de sustentação (lift). Após o pouso, colocava a bequilha no chão (pilotos do GTE JAMAIS deixam a bequilha "cair" e sim a colocam, elegantemente, no chão). O lift dumper era a continuação dos flaps e só funcionava com os amortecedores comprimidos (peso da aeronave no solo), então ele completava o "arriamento" dos flaps até 75 graus. Isso fazia com que a aeronave reduzisse, substancialmente, sua corrida na pista. Não tinha reverso e eu pousei, várias vezes, com a pista não só molhada, mas com garoa ou chovendo a cântaros e estou digitando agora, sinal que estou vivo e com as mãos intactas.
Para o "senso comum", sobretudo a inexorável instigação midiática, a culpa era da INFRAERO que não havia colocado os "grooving" na pista.
Bem, como piloto, conhecia bem o local por onde a aeronave "passou por cima" (sala de embarque das autoridades naquela aeroporto) até colidir com o hotel, do outro lado da rua. De nada adiantou eu comentar que nunca tinha visto uma aeronave hidroplanar e não escorregar na ribanceira da cabeceira 17. Pelo contrário, ela sobrevoou. Ela voou passando por cima de postes, de pistas, de carros e caminhões. Eu sabia que a hidroplanagem fazia a aeronave escorregar, JAMAIS catapultar a aeronave...mas, enfim, o senso comum prevaleceu e o clamor exigia sangue de alguém...de um culpado, de um "corrupto ávido por lucros, lucros, lucros"...sempre assim.
Enfim, atendendo ao clamor popular, a investigação "foi parar no ministério público" após conclusão e este denunciou a presidente da Infraero, o diretor de operações da TAM e o ASV (Agente de Segurança de Vôo).
Mas e a causa? Descobriram a causa para a PREVENÇÃO? O evitamento da reocorrência do acidente? Bem, até onde sei, NÃO!!
Por algum motivo a manete do motor da esquerda "entendeu" errado a colocação, pelo piloto, do "motor a pleno" e reduziu-se sem o comando do piloto, sem ele colocar a mão. Com o motor direito, sem essa interferência, a pleno para a arremetida (o piloto havia "entrado" alto e desalinhado com o eixo central da pista para pouso -creio ser esse seu erro- e ao tentar corrigir o computador de bordo, pelo menos em tes, não quis e levou ao desastre). Enfim, entre meus leitores aqui há pilotos, um brigadeiro master em Acidentes Aéreos sendo, inclusive, constantemente convidado a palestrar no exterior, bem como um juiz, autor de vários livros acerca de judicialização de acidentes aéreos, TAMBÉM piloto. Gostaria, inclusive, que me corrigissem caso esteja falando bobagem (há anos que parei de pilotar).
Todavia o espírito de investigador, ao qual me doutrinei ao longo de 16 anos de atividade, disciplinou-me a aguardar as investigações. Entra, aí, a "proximidade não geográfica" de Brumadinho MG com Congonhas SP.
Meus caros, o clamor popular, a sede de vingança e vertimento de sangue irá levar à fogueira pessoas que, eventualmente, nada tenham a ver, diretamente, com o sinistro e tragédia, assim como os desafortunados diretor de operações e ASV da TAM...
Temos VÁRIAS barragens distribuídas ao longo do território nacional e CARECIA, MERECIA prudência, sensatez, maturidade. Uma investigação leva À PREVENÇÃO, à certeza de que NUNCA MAIS O MESMO ERRO OCORRERÁ.
Grosso modo aguardaria: consideraria que mil litros de água por metro quadrado, com a densidade da água igual a um, leva a uma pressão na parede da barragem a 1000 kg, uma tonelada. Contudo essa água da barragem de rejeito, que POR SER DE REJEITO, tem minerais e outros corpos e componentes que elevam para cinco ou seis vezes mais a mesma pressão que antes era de uma tonelada e passa a ser, até, seis toneladas...por metro quadrado de pressão na parede. Alie-se a isso todo o solo ao redor, com a fixação natural comprometida por não ser mais solo de mata nativa (constroem-se as barragens LONGE dos agrupamentos de pessoas, vilarejos ou cidades e, com o tempo, eles se aproximam. O mesmo se dá em aeroportos. Se não é zoneamento legal é ilegal e depois a pressão no prefeito e nos vereadores despreparados e populistas, acabam com conceder o habite-se. Daí para uma eventual tragédia é uma questão de tempo).
Bem, amigos, é uma ilação, claro. Também é um chamado ao bom senso. Fui piloto por 35 anos, voei 16 tipos de aeronaves, planadores e helicópteros ao longo de mais de 5000 horas de vôo. Por causa de Congonhas SP e não ter tido acesso ao relatório final com o resultado da investigação do computador de bordo, ATÉ HOJE, quando decolo em uma Airbus, sinto cagaço (pardon my french!) mas sinto, fazer o quê?
Fica a ideia...

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