Parlamentares despreparados são eleitos por eleitores desinteressados e, também, despreparados para a democracia participativa. Por serem despreparados e ansiosos por ficarem "bem na foto" para o eleitor, são pródigos em medidas populistas.
Ao invés de desonerarem o setor de transporte aéreo, criam "inovações financeiras" que nada mais são do que dividir o "prejuízo" de alguns com todos.
Essa gratuidade de bagagens, décimo terceiro, meia-entrada, etc são "jabutis" EXCLUSIVAMENTE brasileiros...
Essa gratuidade de bagagens, décimo terceiro, meia-entrada, etc são "jabutis" EXCLUSIVAMENTE brasileiros...
Não existe
sobremesa grátis
ALEXANDRE BARRETO DE SOUZA
FOLHA DE SP
- 09/06
Passageiros
pagarão pela bagagem de qualquer jeito
Todo
serviço ou produto oferecido no mercado possui um preço. Imagine que você seja
proprietário de um restaurante e o governo estabeleça que, a partir de hoje,
deva fornecer as sobremesas gratuitamente.
Como
empresário, seu objetivo não é fazer caridade nem ter prejuízos. Para compensar
a sobremesa “gratuita”, certamente você irá diluir os custos em outros produtos
ou serviços do estabelecimento, como bebidas ou prato principal, por exemplo.
E como fica
o cliente que não gosta de sobremesa? Ele será obrigado a pagar pela sobremesa
dos outros, simples assim. A princípio, parece que os clientes terão um
benefício na concessão de algo grátis, quando, na verdade, haverá clientes
pagando por algo que não estão consumindo. Isso seria justo?
O
raciocínio é o mesmo quando se analisa o mercado de transporte aéreo de
passageiros e todo o debate sobre a franquia no despacho de bagagens. O ponto
central é simples: nós pagaremos pelas bagagens de qualquer maneira. Resta
saber se queremos ter transparência na composição dos preços ou não.
A maioria
dos consumidores escolhe a passagem aérea pelo preço. A definição das tarifas
conforme o perfil do cliente —aquele que carrega mais bagagem ou aquele que
precisa ou gosta de mais espaço— beneficia diretamente o consumidor, que paga
somente pelo serviço que está efetivamente utilizando.
A proibição
de cobrança por franquia de bagagem por parte das companhias aéreas afeta o
mercado de maneira extremada e negativa. A medida é prejudicial à concorrência
e também aos passageiros.
Todos
queremos serviços de melhor qualidade e menores preços. Porém, não existe
mágica em economia. Os preços são resultado, além da estrutura de custos, da
dinâmica entre oferta e procura. As tentativas do Estado em intervir na vida empresarial
e impor preços quase sempre dão mau resultado. O papel que cabe ao Estado é
garantir a segurança jurídica para o ambiente de negócios e assegurar uma
concorrência justa no mercado.
O mercado
interno de transporte aéreo de passageiros é dominado por poucas empresas,
cenário agravado pela crise da Avianca. O setor apresenta inúmeras condições
que limitam a concorrência e, por esses e outros motivos, trata-se de um
mercado concentrado que, por ter a competição prejudicada, atinge drasticamente
o consumidor final.
O Brasil
precisa amadurecer com relação aos princípios concorrenciais e entender seus
benefícios. Sob uma perspectiva concorrencial, retirar reservas de mercado e
trazer mais transparência sobre a composição dos serviços prestados traria inúmeros
impactos positivos para a economia e para o consumidor.
Diversas
companhias aéreas estrangeiras têm mostrado interesse em ingressar no mercado
brasileiro após a abertura do setor ao capital estrangeiro. Mas é importante
lembrar que grande parte dessas companhias adotam o modelo de negócio “low
cost”, no qual o valor da bagagem não está embutido no preço final do bilhete
aéreo, o que permite ofertas mais atrativas.
Portanto, a
atual regulação, que possibilita a cobrança por bagagem despachada e outros
serviços, caso mantida, facilitará a entrada de novas empresas no setor, o que
gerará aquecimento no mercado, acirrará a concorrência e se refletirá no preço
das passagens. Em contrapartida, a volta da franquia de bagagens afetaria
negativamente o investimento de empresas internacionais no mercado brasileiro,
uma vez que esse tipo de regulamento impacta diretamente o seu modelo de
negócios.
Importante
destacar que as empresas precisam observar as regras de mercado e toda a
legislação vigente. Além da queda do preço da passagem, destacam-se dois pontos
importantes que afetam diretamente o consumidor: a informação —por parte das
empresas— prestada com clareza no momento da compra de passagem, bagagem,
assento ou qualquer outro item que a empresa ofereça; e os valores cobrados
pela bagagem despachada, que não podem ser abusivos.
A
gratuidade de qualquer coisa (de sobremesas em restaurantes a bagagens
despachadas) pode parecer ótima, mas nem tudo é o que parece.
Definitivamente,
não existe sobremesa grátis.
Alexandre Barreto de Souza
Presidente do Cade (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica)
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