Instituto Liberal
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ESG – Environmental, Social and Governance, é um assunto muito sério atualmente. No cenário do mundo dos negócios, empresas ou países que gastam mais energia com o tema sustentabilidade têm ganhado mais espaço e credibilidade. Fundos de investimentos, transações internacionais e até negociações com outros países estão bem amarrados a este tema, e as empresas que não se preocupam com dinheiro ilegal, diversidade, biodiversidade, sustentabilidade, degradação do meio ambiente e utilizam carvão como principal fonte de energia, por exemplo, andam perdendo cada vez mais espaço e são descartadas dos portfólios, por não se encaixarem mais como empresas confiáveis.
É um tema quente, originado nos anos 50, quando era comum deixar de investir em empresas que não respeitavam os valores éticos e morais e, logo mais, em 2005, começou a ser utilizado pela ONU – em uma iniciativa de 20 organizações financeiras e 9 países, inclusive o Brasil. Uma forma de gestão antiga, porém readaptada para os dias atuais. Pense pelo lado positivo: numa visão macro, o Brasil é um país com sérios problemas quando se fala em corrupção; imagine o quanto essa preocupação do ESG modificaria a política atual! Outro lado importante do ESG é a indagação sobre a corrupção. Essa grande leva que foi presa na Operação Lava Jato, mesmo que retornasse o mais rápido possível, caso seja absolvida de seus crimes, ainda assim teria dificuldades em consolidar novamente a sua marca no mercado. Ninguém quer se ligar a uma empresa com fama de receber dinheiro ilegal.
A realidade é que ESG é o futuro e não uma pedra no sapato, como nossos representantes costumam reclamar. Sim, é possível manter uma economia sustentável, como é possível criar grande capital em harmonia com o ecossistema local.
Mudança nos olhares sobre a Amazônia: resgatar os investimentos, transformando nosso grande bioma num pré sal futurística
A Amazônia pode ser um grande entrave caso não haja um esforço por parte do governo no que tange à floresta, que é importante tanto para o Brasil quanto para o restante do planeta. Além de ser considerado o maior polo da biodiversidade universal, é também a “vitrine” para que outros países continuem firmes no Acordo de Paris. A questão não está em países opinando no Brasil; existe uma grande agenda para reduzir os gases de efeito estufa e aquecimento global. Dá para tirar oportunidades nesse tratado – e um dos grandes problemas do brasileiro é nunca aproveitar as oportunidades. Não dá para fechar os olhos; para se ter uma noção, ela evapora água em 24h o que a usina de Itaipu levaria 145 anos para usar para gerar energia, utilizando a capacidade máxima de água. O tema é sério: em 2020, atingimos o maior índice de desmatamento em 12 anos. Destruímos uma área que representa 7 vezes o tamanho da cidade de São Paulo. São 629 milhões de árvores cortadas, um absurdo.
Como dizia Peter Drucker, “Não podemos prever o futuro, mas podemos criá-lo.” De fato, é um tema antigo, não imaginávamos que entraria em voga atualmente. O Brasil não tem maturidade para lidar com essas questões, mas, ainda assim, dá para construir um futuro – tudo o que precisamos é de representantes visionários. A floresta em pé rende ao Brasil US$ 1,83 trilhão – são R$ 7 trilhões de reais por ano em valor bruto. São 20 milhões de brasileiros que habitam aquela região e 6 milhões trabalham e sobrevivem da extração sustentável de alimentos e matérias-primas da floresta. Se conseguirmos criar uma economia sustentável nesse polo, gerando emprego e investindo com metas em fazer avançar os níveis de IDH, os olhares para o país mudariam completamente. O conceito de Amazônia 4.0 carrega consigo esse sentido: levar investimento e tecnologia, além de um enorme esforço em capacitação. O que falta é o governo direcionar seus olhos para essas áreas.
Criamos soluções para a crise do petróleo nos anos 70, colocamos em prática o programa do álcool, que rendeu resultados satisfatórios. Corrigimos a Embraer, com fontes de energia sustentável, reduzindo o consumo de combustível fóssil, ou o caso da hiperinflação, com a criação do plano real.
Adentramos a quarta revolução industrial, a chamada revolução tecnológica, mas já passamos por problemas maiores do que hoje, e seria mais fácil atualmente de lidar com esses mesmos problemas com o avanço da tecnologia. Na revolução industrial, não construíram carros sem a utilização da borracha, extraída nos seringais da região norte do país, onde o auge da borracha proporcionou quase 40% da receita das exportações, chegando perto dos níveis do café – sem derrubar uma árvore sequer.
O prestígio e os olhares que perdemos no ciclo das commodities e na onda do petróleo podem ser recuperados atualmente. Temos a floresta mais visada de todo o mundo. É possível fazer com que ela vire o novo pré-sal brasileiro e retomar a proporção de investimento que tem recuado ao longo dos anos. Segundo especialistas, o Brasil estagnará economicamente entre os anos 2033 e 2036, e para contornar ou mesmo evitar esse cenário previsto, precisa olhar a sustentabilidade e desenvolver uma visão de como tirar oportunidade sobre o resto do mundo a partir de nossos recursos e indústria. Sem uma Amazônia reestruturada, não iremos muito longe – será virtualmente impossível crescer. Basta olhar o quanto a Amazônia rende em pé. Já existe uma economia sustentável na região, sem contar os novos negócios que viriam para o país sabendo que o tema “preservação” por aqui tem espaço e é levado a sério.
O Brasil realmente é um dos países que mais cuida das suas áreas verdes?
Essa narrativa defendida por Hamilton Mourão está fora dos padrões da realidade brasileira. Fomos o país que mais perdeu árvores na última década. Perdemos 1,5 mil km² de floresta a cada ano entre 2010-2020. Não estamos nem entre os 5 países mais sustentáveis do mundo, que são:
1 – Islândia, onde o índice de doenças decorrentes da poluição do ar é quase zero. A demanda de carbono no país já está controlada.
2 – Suíça, um país que usa um sistema inovador “Usinas Geotérmicas” – são fontes de energia pouco poluentes que usam o calor vindo do subterrâneo para suprir o frio constante.
3 – Costa Rica, se tornou um dos países mais sustentáveis do mundo e tem uma dedicação em preservar sua silvicultura.
4 – Suécia, tem um dos melhores índices em gestão hídrica e criaram até incentivos como o primeiro shopping reciclável do mundo.
5 – Noruega, um dos melhores IDHs e renome em quesitos ambientais e leis protetivas ao meio ambiente.
Por mais que nossos governantes tentem terceirizar o problema, outros países demonstram que estão vários passos à nossa frente. Os desmatamentos acontecem e a reação aos problemas não surte efeito. Tirando o olhar de países europeus, até mesmo Cuba ou a Colômbia tem demonstrado ser melhores gestores tratando esse tema.
Fuga de investimentos com aumento do desmatamento
Sofremos retaliações que vieram mais severas a partir de 2019. Quase perdemos os R$20 trilhões dos grupos de investimentos que auxiliam na ajuda para manter a floresta viva. Foi uma pressão tremenda de 8 países e 29 fundos de investimentos. Fora isso, sete das maiores empresas de investimentos europeias disseram que abriram mão da compra de proteína e grãos brasileiros. Seria uma fuga de quase UR$2 trilhões em ativos.
Um dos maiores bancos dos países nórdicos suspendeu a compra de 100 milhões de euros investidos na compra de papel da dívida do país. Da Costa-Bulthuis, da Robeco, dona de 8 bilhões de euros em ativos e título da dívida, disse que reduziria os investimentos no país caso a questão ambiental se deteriorasse ainda mais.
Parece que não perceberam, mas o mundo anda dando sinais de que fechará os olhos para nós. Isso são algumas empresas; agora imagine o quanto o agronegócio sofreria com essas retaliações. Quebraríamos uma proporção tremenda de nossas empresas.
Mazelas econômicas e sociais que proporcionam o contexto social da Amazônia
Os projetos parecem raramente dar frutos e a razão de os entraves e de a Amazônia serem fatores de depressão é termos errado amargamente nestes últimos 20 anos. Não criamos um modelo econômico que estimulasse o mercado local e trouxesse investimento para a região. Como sempre, foi gerada apenas uma economia de transferência de renda, como o Bolsa Família e o plano de aposentadoria rural. Não que não sejam importantes, mas, para uma população que foi sempre pobre, apenas camuflam o problema. São apenas uma distração para o empobrecimento.
Antes da pandemia, Manaus já apresentava fuga de capital. Com 4.675 comércios fechados em 2016, notamos uma fuga de cerca de 20% das empresas da região. Tínhamos uma excelente fábrica de preservativos sustentáveis em Xapuí, Acre, que foi fechada. Empregos atrás de empregos que foram perdidos e a inação das forças do Estado. Poderia haver incentivo à diminuição de impostos e tributos nessa região: o lucro do governo federal sobre o Amazonas é quatro vezes maior que os repasses. Entre 2000 e 2018, o governo federal faturou R$ 148 bi com impostos no Amazonas e só devolveu em transferências aos estados e municípios R$ 38 bilhões. Novamente, o Brasil contribui com esse empreendedorismo fadado ao fracasso, como vemos atualmente.
Soluções para uma Amazônia 4.0
Existem exportações de cacau, borracha, soja e açaí, representando grandes oportunidades de investimento. É preciso pressionar agricultores de soja a não comprarem produtos de áreas desmatadas.
Reduzir o processo de grilagem que atinge níveis alarmantes no país;
Atualizar o contexto de fiscalização e leis ambientais;
Reduzir as ilegalidades;
Estipular um estudo em áreas possíveis e trabalhar no reflorestamento;
Aproveitar o máximo de recursos que se encontram na Amazônia (medicamentos, agricultura, energia, etc.);
Preservar a floresta impede maior emissão de carbono na atmosfera.
Já lideramos pautas importantes na linha de sustentabilidade. Podemos mostrar para o mundo nossa transparência, mostrar que não exportamos fruto de desmatamento. Todos os cidadãos devem ter o conhecimento de que a ilegalidade só atrasará o país cada vez mais. É preciso criar um debate climático com postura e racionalidade, com o governo fomentando um cenário econômico junto à iniciativa privada e deixando nosso mercado mais competitivo. Temos que acabar com essa mentalidade “do contra”; se nos isolarmos do mundo na questão ESG, será ainda pior para todos nós. O agronegócio que assegura a vaidade do brasileiro como um país exportador sofrerá impactos imensuráveis. Não só o agro como todos os outros mercados. Sem um debate democrático, não se constrói uma estrutura climática; aliás, sem o reforço às estruturas democráticas, não chegaremos a lugar algum – e sem reconhecer que, de fato, somos muito pequenos e dependemos do comércio global.
O Brasil precisa fazer escolhas estratégicas quanto a como se organizar como uma sociedade e uma potência climática, principalmente no pós covid-19. Para o fim do texto, reservei a máxima de Peter Drucker: “A inovação sempre significa um risco. Qualquer atividade econômica é de alto risco e não inovar é muito mais arriscado do que construir o futuro.”
Referências
COHEN, William A. “Uma aula com Drucker: as lições do maior mestre de administração”. 2008. São Paulo, Editora Campus.
DRUCKER, Peter F. “Inovação e Espírito Empreendedor: Prática e Princípios”. 2016. Editora Cengage Learning.
http://www.b3.com.br/pt_br/market-data-e-indices/indices/indices-de-sustentabilidade/indice-de-sustentabilidade-empresarial-ise.htm
https://blog.contaazul.com/o-que-e-esg#:~:text=Mas%20o%20termo%20ESG%20s%C3%B3,9%20pa%C3%ADses%2C%20incluindo%20o%20Brasil.
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/09/18/economia/1568838133_361572.html
https://brasil.elpais.com/brasil/2020-06-25/desmatamento-sob-bolsonaro-afasta-investidores-e-ameaca-acordo-mercosul-uniao-europeia.html
https://conteudos.xpi.com.br/expert-esg/amazonia-e-o-novo-pre-sal-entenda-porque-a-amazonia-pode-ser-um-problema-ou-uma-grande-solucao-para-o-pais-e-o-mundo/
https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,investidores-ameacam-sair-do-brasil-se-destruicao-da-amazonia-nao-parar-diz-financial-times,70003341860
https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2018/10/04/taxa-de-empresas-que-fecharam-as-portas-supera-abertura-de-novas-unidades-no-am-aponta-ibge.ghtml
https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2020/08/27/conselho-de-administracao-da-suframa-aprova-23-projetos-com-investimentos-de-r-14-bilhao.ghtml
https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2020/09/17/paises-europeus-que-protestam-contra-desmatamento-no-brasil-compraram-mais-de-us-6-bilhoes-do-agro-brasileiro-no-ano.ghtml
https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2020/06/23/investidores-internacionais-manifestam-a-embaixadas-do-brasil-preocupacao-com-desmatamento.ghtml
https://observatorio-eco.jusbrasil.com.br/noticias/3156410/onu-lanca-o-iri-um-novo-indice-de-sustentabilidade#:~:text=Se%20medido%20pelo%20PIB%2C%20que,24%25%20entre%201990%20e%202008.
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https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/paises-ricos-freiam-desmatamento-44s1hg9larkn4yvmv03r7pdfy/
https://www.ibccoaching.com.br/portal/peter-drucker-e-os-seus-pensamentos-sobre-o-empreendedorismo/
https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/09/projetos-dependem-da-floresta-em-pe-para-gerar-lucro-na-amazonia.shtml
*Wadathan Felipe é graduando em Administração e Gestão Financeira, Coordenador do SFLB no Rio de Janeiro. Especialista no varejo, mercado e análises macro. Entusiasta de gestão, liberdade econômica e empreendedorismo. Liberal objetivista/chicaguista. Um ser humano bem critico com pensamentos inovadores. Liberal desde 2019, com primeiro contato com a Escola Austríaca e Adam Smith.