terça-feira, 25 de maio de 2021

SÍNDROME DO DUPLO STANDARD

Leandro G.M. Govinda 



 Quando a pandemia acabar, os cientistas poderiam começar a investigar um transtorno muito comum na atualidade. Ainda não existe nome para isso, mas poderia muito bem ser chamado de transtorno do discurso contraditório ou síndrome do duplo standard. O sintoma mais eloquente consiste em sustentar ideias incoerentes e lançar mão de rótulos como fascista, racista e machista para terminar qualquer discussão quando seus argumentos não convencem o interlocutor. Trata-se de um distúrbio de fácil diagnóstico, bastando observar a opinião do paciente sobre os temas que estão rotineiramente nos noticiários.


Por exemplo, há pessoas que defendem o aborto aduzindo que a mãe tem o “direito” de matar o próprio filho enquanto o hospeda no seu ventre. Agora, é um sinal do transtorno se o militante pró-aborto sai às ruas para protestar contra o abate de animais para consumo humano. Escapa à razão uma pessoa sugerir que um porco tem direito à vida, mas um bebê em gestação não. A propósito, registre-se que já tem lunáticos defendendo que a mãe possa dar cabo da vida do filho enquanto este não tem consciência de si mesmo, ou seja, até os 4 anos de idade (1).


Outro caso grave é o do sujeito que defende a liberação da prática sexual entre pedófilos e crianças ao argumento de que uma criança, mesmo de tenra idade, tem discernimento para consentir com um ato sexual. Geralmente, esse sujeito anda de mãos dadas com a turma que sobe nas tamancas quando uma mulher adulta recebe uma cantada de um colega de trabalho. É simplesmente um disparate dizer que uma criança pode se defender de um pervertido e, por outro lado, sugerir que uma mulher adulta seja incapaz de lidar ou se esquivar de um assédio no ambiente de trabalho.


Mais um sinal claro da síndrome consiste em advogar a favor da liberação do uso de drogas alegando que fumar maconha no parquinho traz malefícios apenas para a saúde do maconheiro e, ao mesmo tempo, querer impor uma dieta vegetariana para todo mundo e proibir o churrasco do final de semana porque comer carne aumenta o colesterol.


Também é um indicativo de confusão quando o sujeito defende o direito das pessoas, inclusive adolescentes, de se submeterem a uma cirurgia para mudar de sexo sem maiores reservas, mas promove campanhas para impor severas restrições à mulher ou ao homem que deseja se submeter à laqueadura ou à vasectomia ao argumento de que se trata de um ato irreversível.


Se você ainda não reparou, note que essas ideias permeiam a cartilha do discurso progressista. Daí porque é tão difícil debater ou dialogar com a turma do “progresso”. Como discutir com alguém que apoia o desarmamento da população, mas ao mesmo tempo acredita que o bandido na favela tem o “direito” de portar fuzis para se “defender” da polícia? Como argumentar com alguém que chama de “ataque” à religião muçulmana o arremesso de pedaços de bacon contra uma mesquita e, por outro lado, classifica como “manifestação” o ato de atear fogo em igrejas católicas? O que dizer para aqueles que defendem o confinamento das pessoas em casa para conter a disseminação do vírus chinês, mas não veem nenhum problema em multidões saírem nas ruas para protestar em nome de minorias? O que fazer diante de um sujeito que acredita que é desproporcional e injustificada a contraofensiva de Israel lançando meia dúzia de foguetes contra alvos certos do grupo terrorista Hamas em resposta à chuvarada de mísseis que esses terroristas lançaram contra Israel?


A adoção de dois pesos e duas medidas para julgar os fatos torna quase impossível o debate sério e honesto. O resultado disso está aí para quem quiser ver: uma sociedade de pessoas desorientadas e incapazes de se comunicarem umas com as outras. E talvez seja esse mesmo o objetivo do movimento progressista: disseminar pensamentos desconexos para confundir as pessoas até que elas percam a sua racionalidade, tornando-as vulneráveis ao controle social, afinal é muito mais fácil manipular uma pessoa que não consegue raciocinar direito do que outra em pleno domínio das suas faculdades mentais.


Por isso, se você conhece alguém com sintomas do transtorno do discurso contraditório ou da síndrome do duplo standard, não perca seu tempo discutindo. Ou, antes, exija uma única virtude do seu interlocutor: coerência. Sem esse mínimo, qualquer debate é inútil, como semear no deserto. E você ainda corre o risco de perder um amigo e ser chamado de fascista, racista, machista...


(1) https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/pratica-do-aborto-pos-nascimento-ganha-defensores-no-meio-academico-egsrbjqxywkrxj05zgb7aiy4u/


Leandro G.M. Govinda é Promotor de Justiça em Santa Catarina. Formou-se em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, especializou-se em Direito Tributário pela Universidade do Sul de Santa Catarina e estudou na Universidade George Washington em Washington D.C. Foi pesquisador do CNPq, Técnico e Auditor-Fiscal da Receita Federal e Procurador da Fazenda Nacional. Ex-Professor da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) e da Escola do Ministério Público.

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