Então, a cada dia que avançávamos mais na democracia, mais consciência tínhamos de direitos até então não atingidos. A sociedade passou a enxergar os partidos de esquerda e todos os segmentos da sociedade civil organizada que tinham um alinhamento doutrinário e político diferente da direita até então opressora que afastava o cidadão de seus objetivos de viver feliz, realizado, com dinheiro no bolso e os bens e serviços que "todo o resto do mundo desenvolvido tinha".
Bem, a solução era se inclinar, de vez, para os mesmos caminhos trilhados pela sociedade de "esquerda" sobretudo em busca das liberdades individuais, tão caras e essenciais, que militares na ditadura, e governos de direita sempre surrupiaram.
A esquerda assumiu, com o PSDB de FHC, o comando do país e o PMDB a expressiva quantidade de cidades e governos de estados ao longo do país.
A mudança começara, o terreno para se melhorar a economia e as condições de acesso a bens, serviços, enfim, riqueza, começaram a ser trilhados. O cidadão passou a ser mais estimulado a votar, já havia os analfabetos alforreados dos grilhões da exclusão eleitoral e os jovens de 16 anos passaram a ter o mesmo direito. Na economima a inflação, o horror de sempre, começara a ser controlada de forma positiva comprovada nos salários, bolsos e preteleiras dos brasileiros.
Começamos a ter acesso a carros baratos, eletro eletrônicos, vestuários, serviços, bens de tecnologia, moradia etc etc.
No viés legislativo e judiciário o cidadão passou a contar com uma Constituição da República Federativa do Brasil, a Constituição Cidadã, garantindo-lhes sobejos e intermináveis direitos e pouquíssimas responsabilidades. Passamos a ter Estatutos defendendo as "minorias" (sempre assim chamados) tais como mulher, criança e adolecente, recentemente jovem, idoso, índios, afrodescendentes e, com forte pendores de uma "forte e densa minoria" o dos animais, o único que falta neste pitoresco e brancaleônico elenco de pouco bom-senso legislativo (a maioria estrapolando as capacidades da própria Constituição) etc etc.
Houve, ainda, um verdadeiro boom na Educação com escolas sendo abertas, universidades distribuídas ao longo do país e investiu-se no barateamento da indústria literária para o cidadão ter mais acesso a educação e a cultura. O cidadão, a partir do acesso a informação "antes surrupiada" passou a ditar suas escolhas, anotadas e conferidas por Ibope e similares e, a partir daí, as pautas e editoriais de programas, jornalismo e novelas passaram a ser orientadas, trilhadas, enfim, enrijecidas.
Bem, após mais de vinte e cinco anos de "mudanças" para melhor, garantindo os inalienáveis direitos do cidadão (e muito pouco obrigações) o que temos?
Com acesso a informação evidenciou-se a idiossincrasia nacional pelo gosto de programas de baixa qualidade, explodiram rádios e emissoras com músicas não só de mau gosto bem como de crescente apelação sexual e debastamento da ética relacional. O acesso aos bens de consumo pela melhoria de renda aumentou o consumo de bens supérfluos, via de regra importados depauperando nossa indústria já sufocada pela pesada carga tributária "robinwoodiana" para bancar a elevação e acesso aos bens "nunca dantes" permitidos ao brasileiro. Aumentou-se, a reboque, o lixo urbano que aliado a ocupações irregulares nas grandes cidades comprometeu o saneamento. Do acesso a informação com conteúdo de baixa qualidade aumentou-se a lascívia, o culto ao corpo, às academias, às lutas, a violência gratuita, a permissividade juvenil que trouxe a gravidez precoce a reboque com uma enorme geração de crianças mal nutridas e de desenvolvimento inscipiente que se pendurarão no Estado no futuro. O acesso barato e de fácil financiamento aumentou o volume de veículos e motos nas ruas e a violência no trânsito foi o resultado inexorável.
Todavia, como se fora uma "compensação" o cidadão procurou estar "mais perto de Deus" assim, explodiram as denominações religiosas no país alcançando o impressionante e inacreditável quantidade de 53 denominações religiosas distintas, em tese, todas cultuando Deus e, claro, com as indefectíveis e inexoráveis isenções patrimoniais, territoriais, fiscais e tributárias. Mais de um milhão de igrejas, templos, assembléias e similares de toda sorte, espalhados ao londo de oito milhões de kilômetros quadrados, apenas recebem dos fieis e pouco recolhem, ressalte-se com irrisórias contribuições sociais palpáveis e objetivas, tais como creches, hospitais, ambulatórios ao menos, escolas, asilos etc etc etc. Tem-se a isenção mas isto é "problema do governo". Mas qual o grande problema aí? Paradoxalmente para qualquer sociedade avançada e culturalmente evoluída, nas bandas da religiosa Pindorama os conteúdos de baixa qualidade moral nos programas, músicas, teatro e novelas ao invés de diminuir, dado o repentino e inacreditável quantidade de "Propriedade de Jesus", "O Senhor é meu Pastor", "Bênçãos de Jesus" de toda sorte, explodindo em cada esquina, em cada ônibus, trem, televisão e rádios brasileiros etc, ao invés de diminuir, explodiram exponencialmente. Com eles toda sorte de problemas sociais que não tínhamos antes mas que a "democracia", a liberdade de expressão e de escolha patrocinaram e impuseram, goela abaixo, dos poucos e risíveis cidadãos éticos e de bom-senso. Estes, aliás, embrenharam-se na mais completa, absoluta e segura invisibilidade social.
A rigor, as enchentes, as epidemias, o lixo urbano, o caos na mobilidade urbana, a violência de trânsito, juvenil e gratuita são produtos, diretos, dessas "mudanças" sociais "para melhor". Será que estamos melhor, mesmo?
Enfim, amigos, nesse arroubo de ilações perdidas madrugada adentro, convido aos poucos que se importam com nosso futuro, como sociedade, que busquem um quê de coerência a sua volta, reflitam e procurem estimular a discussão entre seus pares.
Há muitos anos que já cheguei a conclusão que o problema do Brasil não são os políticos e sim a sociedade. Não aceito o argumento risível de ser problema de educação, pois a expressiva quantidade de informação disponível também viabiliza a educação em cidadania, ademais é inviável se retornar os brasileiros, de uma vez, para as salas de aula e nosso futuro, com a falência da educação "paulofreiriana" está comprometido. Se a criança e o jovem passarem a ditar o ritmo de sua educação, como vemos em Pindorama, postes mijarão nos cachorros, como já vemos diariamente.
Enfim, amigos, o convite está feito.
Bom dia.
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