sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Soltar pipas para baixo

Considerações sobre a memória coletiva.

Quando estava na vida ativa organizacional lembro que meu chefe, nas reuniões semanais, comentava os problemas que nós, da Força Aérea, enfrentávamos na relação gerencial, institucional e orçamentária com os demais ministérios e instituições civis. Via de regra tínhamos problemas que nos custavam caro ao já combalido orçamento sem falar no TCU e Ministério Público com o bafo na nossa nuca.

Relembro que ele  sempre comentava: “Estamos amadurencendo, estamos aprendendo com as experiências.” Um dia não resisti e lhe perguntei ao fim de sua preleção para a platéia lotada: “Comandante, eu poderia chegar para uma senhora de 65 anos (chamamos a Aeronáutica carinhosamente de “viúva”) e dizer para ele não se angustiar com seus erros porque ela está em processo de amadurecimento e aprendizado? Uma senhora que já participou de uma guerra mundial, guerrilhas na selva e está para lançar um satélite no espaço (foi antes do acidente em Alcântara, no Maranhão)?  Bem, o silêncio seguido de uma observação amigavelmente jocosa foi seu retorno.

Com o tempo descobri a resposta: Nossa força de trabalho sempre foi predominantemente jovem, por causa das aposentadorias precoces, concursos públicos etc,  e nunca tivemos o bom hábito de debatermos, como o europeu e americano, as “lições aprendidas”, daí não registrarmos os passos, acertos e erros de um processo ou projeto. Via de regra um responsável por projeto importante “passava para a reserva” ou era aprovado em concurso público e não passava bem “a história” de seu setor nem todo o conhecimento adquirido, não escrito, dos meandros não constantes de manuais, estatutos e regulamentos.

Ampliando a projeção para nossa sociedade vejo que, de fato, somos uma sociedade jovem. Os professores, Phd, do mestrado que cursei sempre falavam: “Os países da AL são sociedades muito jovens, ainda estão amadurecendo.” Entendi, com as aulas e palestras de outros professores, embaixadores e demais autoridades, oriundos da Europa, Ásia e África, que comparávamos às deles, milenares e fruto de muito sofrimento, guerra e invernos rigorosos. Observei que todos os países do antigo G8 sofreram duas guerras e invernos rigorosos. Esses eventos históricos e sociais têm a virtude de aglutinar os cidadãos em torno de objetivos comuns de bem-estar coletivo. Nossa Constituição Federal jamais passaria no crivo de um vilarejo da Europa Setentrional, notadamente onde o inverno é mais impiedoso.
Aprendi, fruto de leituras e aulas com experts, que muitos cidadãos europeus morreram em casa, durante as duas guerras mundiais sem serem atingidos por uma bala ou estilhaço de bombas ou de material explodido como projétil. Morreram em casa de frio ou de doenças causadas por infecções, epidemias, vírus etc etc. Guerra e Inverno educavam na marra os cidadãos a pensarem no vizinho, na rua e no bairro. Galerias entupidas de lixo quando no inverno ou nas guerras impediam o fornecimento de gás e proliferavam insetos, roedores, pragas etc.

Com o passar dos anos os europeus se habituaram a se antecipar aos problemas acompanhando e cobrando nas pautas de campanhas políticas. Viram que apoiar insanamente projetos megalômanos (i. e. nazista e facista – sem se esquecer que foram eleitos em segundo turno em processo de votação democrático) causavam irremediáveis problemas em longo prazo.

Outro exemplo é que guerra e inverno produz líderes engajados, com experiência vivida, prontos para defender projetos de Estado, com a sociedade cobrando a fatura caso se desviassem do comprometido. Vários exemplos de Estadistas europeus viveram os percalços das guerras e invernos rigorosos.

O que vemos hoje nos movimentos sociais de contestação na Europa são fruto de memória coletiva registrada acerca da perda de confiança da sociedade nos representantes do Estado. Eles sabem, por experiência passada e registrada, que o que os salva da calamidade é um 
Estado bem estruturado e gerenciado. Quando o Estado falha as greves e conflitos surgem de imediato, não precisam de caras-pintadas nem de petês articulando (ontem na oposição, hoje na situação).

Tive um professor, Phd especialista em Rússia, por trinta anos estudando aquele país. Quando ele deu aula para minha turma eu comentei com ele que de acordo com o site da revista Economist, que eu assinava, as notícias falando acerca do crescimento da China tiveram muito menos acesso do que aquelas que comentavam a repressão de Putin que exterminou os terroristas chechenos em um teatro, ele me respondeu que a Europa tem uma atenção constante com a Rússia.

No ano seguinte o professor voltou para dar aulas no momento em que havia uma publicação da mesma revista com uma charge de Putin estendendo a mão direita de forma suave e a mão esquerda, feita de ferro, batendo firme em uma mesa. A mensagem era que ele cedia a presidência democraticamente e concorria para ser primeiro-ministro, o que é até hoje controlando o presidente, apagado. Novamente a edição daquela revista teve um número recorde na Europa. Perguntei ao professor e ele me respondeu assim: “Se mais de sessenta por cento do gás de sua cidade viesse da Rússia você também não compraria essa revista?”. Respondeu e matou a charada. E completou: “Isso é a memória coletiva das privações das guerras e do inverno.”...Memória...coletiva...palavras-chave.

Trazendo esse conceito para os dias de hoje, em nossa sociedade, tenho mais um exemplo do porque temos comportamento de sociedade jovem. Enquanto ainda temos sérios problemas de saúde, saneamento, cidades alagadas, pessoas há mais de um ano morando em alojamentos improvisados, epidemias de dengue, problemas de energia elétrica, infra-estrutura, evasão escolar, apagão de mão-de-obra, vota da inflação, nossos representantes no Congresso estão presos, diariamente, a questiúnculas: Palocci, kit anti-hemofibia, discriminação lingüística, etc etc...Sim, de fato, somos jovens e muito imaturos. Nosso processo de crescimento ainda nos dará muita dor desnecessária por focarmos nossas energias e recursos em direções erradas.

Lendo o belo livro “A menina que roubava livros” e também já tendo lido o belo livro “O caçador de pipas”, cada um retratando a vivência coletiva de sociedades de idiossincrasia milenares, remeto minha lembrança a minha infância, quando empinava pipas, papagaios, nas ruas. Lembro dos “filhinhos de papai” tentando empinar as suas das varandas ou janelas dos apartamentos, longe do contato dos meninos de rua....nossa sociedade seriam os meninos de apartamento, que viviam sem sair para as ruas, amadurecer como crianças normais e que se contentavam e soltar (empinar)  pipas para baixo, da janela de seu quarto, protegido das traumáticas experiências da rua. Nós nas ruas calejados em estratégias de nos divertir fugindo dos garotos mais velhos e dos “rapas” que nos levavam pipas, linhas, rabiolas e tudo. Enquanto isso, os garotos das janelas, protegidos, tentavam teorizar sobre a arte de colocar uma pipa no ar. De certa forma, nós vivíamos as dores do crescimento real, o contato com a globalização e o desafio de viver em diferentes culturas e circunstâncias, já os meninos das janelas seriam os que tenderiam a normatizar a atividade das pipas da mesma forma que tentam impor na sociedade suas visões obtusas.
Enfim, dores do crescimento...
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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Em dois anos, 75% da população será de classe média, prevê Itaú


Em dois anos, 75% da população será de classe média, prevê Itaú
Folha

[...] esse avanço pode provocar o que os economistas chamam de "armadilha da renda média". Traduzindo: os pobres têm um ganho de renda, mas estacionam no novo patamar e dele não conseguem sair.[...]

[...] Maurício Macri, prefeito de Buenos Aires e único candidato presidencial assumido para 2015, cunhou uma bela frase de efeito para se referir aos protestos: "Um pobre de hoje é rico em informação e milionário em expectativas". Logo, sai às ruas para cobrar dos governos.[...]



Ricardo Villela Marin o, executivo-chefe para América Latina do Itaú Unibanco, tocou música para os ouvidos do público de Davos, ao anunciar que 75% dos brasileiros estarão na classe média de hoje até 2016.

Classe média significa consumo, que significa bons negócios, e bons negócios são o que mais perseguem os executivos que compõem a principal clientela do encontro anual na cidade suíça.

Mas classe média numerosa tem uma vantagem adicional, política: "Uma classe média que se sinta parte da economia contribui para a estabilidade política", diz Rob Davies, ministro do Comércio e Indústria da África do Sul.

Um segundo efeito político foi apontado por Villela Marino, mas este é no mínimo polêmico: "Quando os pobres sobem para a classe média, o voto não está mais atado a benefícios sociais".

No Brasil, pelo menos, há inúmeros pesquisas que mostram que programas de inclusão social atam, sim, o voto aos governantes que os introduzem ou ampliam.

Por essas e outras razões, o tema classe média permeou duas das sessões de ontem do Fórum Econômico Mundial.

A previsão do executivo do Itaú impressiona ainda mais se somada aos dados que esgrimiu, depois, o ministro de Assuntos Estratégicos, Marcelo Neri: de 2003 a 2013, 54 milhões de brasileiros subiram para as classes A, B e C.

Se a nova classe média fosse um país, seria o 23º mais populoso, à frente da Espanha, compara Neri.

Como já havia 67 milhões na classe média, pelas contas do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), tem-se que o Brasil está hoje com 121 milhões de pessoas -ou dois terços da população- na classe média.

Se a previsão de Marinho se confirmar, seriam 39 milhões de uma novíssima classe média, até chegar, portanto, aos 75% da população.

Pelos critérios da Secretaria de Assuntos Estratégicos, fazem parte da classe média (classe C) famílias com renda per capita de R$ 291 a R$ 1.019.

ARMADILHAS

O aumento da classe média, fenômeno mundial, mas particularmente forte na região da Ásia Pacífico, não traz apenas flores, constataram os debatedores.

Para Enrique García, presidente da Corporação Andina de Fomento (CAF), esse avanço pode provocar o que os economistas chamam de "armadilha da renda média". Traduzindo: os pobres têm um ganho de renda, mas estacionam no novo patamar e dele não conseguem sair.

Para essa armadilha, "o calcanhar de aquiles é a baixa qualidade da educação", diz o executivo da CAF.

Uma segunda questão é o pipocar de manifestações em inúmeras partes do mundo, em geral tendo como eixo a classe média (nova ou antiga).

Maurício Macri, prefeito de Buenos Aires e único candidato presidencial assumido para 2015, cunhou uma bela frase de efeito para se referir aos protestos: "Um pobre de hoje é rico em informação e milionário em expectativas". Logo, sai às ruas para cobrar dos governos.

Os debates não serviram, em todo o caso, para esclarecer o que, exatamente, é classe média. "É uma definição muito arbitrária", disse, por exemplo, o ex-presidente mexicano Ernesto Zedillo.

Neri preferiu brincar com uma antiga definição americana: classe média seria quem possui dois carros, dois cachorros e uma piscina.

Se é assim, a classe média dos EUA está minguando, disse Laura D'Andrea Tyson (Universidade da Califórnia, em Berkeley): "A classe média não se recuperou das grandes recessões". 
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sábado, 11 de janeiro de 2014

Sobre Querubins, Dante e lagostas


Assim como Mandela, Roseane Sarney é mais um exemplo da fenomenal capacidade que a mídia tem de manipular a atenção e sentimentos da sociedade. Não tenho apreço por políticos, a experiência na cidade do poder por mais de dez anos permitiu-me uma proximidade com muitos, hoje no poder, mais do que queria, todavia ainda muito menos do que minha capacidade de perplexidade diga que "agora eles já atingiram o máximo da capacidade de imputar danos sociais".

Entendo que desde a mordaça que o Estadão sofreu pela clã Sarney que eles tentam se livrar dos grilhões jurídicos, agora com uma muito bem elaborada conjunção de efeitos e fatos administrativos banais e corriqueiros passando a ser a "nova novela da globo", muito bem manipulada por aquele periódico. Nossa sociedade interage com sua realidade por intermédio de "novelas", via de regra factóides muito bem estruturados. 

Sim, de fato as novelas hoje exercem um atrativo muitíssimo forte. Como a Hidra de Lerna, procuro nem olhar para a tela para não virar estátua de pedra, sobretudo há dois dias quando fui orientar uma amiga em seu trabalho acadêmico. Ela gosta muito de ler e emprestei-lhe alguns clássicos e livros de muita densidade reflexiva e conversávamos sobre temas muito densos. Ao chegar em sua residência, estruturando em seu caderno a metodologia para início de sua pesquisa acadêmica, deparei-me com ela ligada na tela da televisão hipnotizada pela trama onde habita o ser homossexual que, recentemente e sob o afã e sofreguidão do universo facebookeano, tem exarado mais pensamentos filosóficos muitíssimo mais visitados do que Platão, Sócrates e similares, vencendo até, e de longe, a quantidade de posts com a face de Chico Xavier, também no mesmo universo repleto de platitudes. Pois é, tal estulta figura hipnotizando uma cidadã, leitora contumaz ao ponto de quase ignorar meu esforço em lhe ajudar nos curtos e raros intervalos de sua puxada jornada de trabalho corporativo e após cuidar, em rotina notívaga, de seus afazeres domésticos.

Enfim, de nada adianta tentar explicar a cidadãos com embocadura intelectual e nível de vida suficiente para manipular iphones, ipads, ipod etc. Aprendi que nível financeiro e informativo não é passaporte para fora do país da estupidez, contumaz diria. Aprendi, também, que quando não se quer, nem um sinédrio inteiro se evade de uma cidade em chamas aos estridentes gritos e trombetas de arautos quase afônicos e resfolegantes.

Adiantaria falar em controladoria de gastos públicos? Adiantaria falar em unidade gestora que concentra gastos de outras unidades da mesma natureza? Não, não adianta, pois na estratosfera coberta de névoa da insensatez, muitos possuidores de iphones pensam que a governadora entrou em seu carro, dirigiu até o supermercado mais caro que tem na cidade para encomendar e consumir, de chofre, quilos e quilos de lagosta enquanto o estado que ela governa afunda na lama. Adiantaria falar que, ainda que ela quisesse, sua dieta sendo arroz, feijão e rapadura, isso de nada resolveria o problema prisional ou da violência que grassa todo território nacional e a sociedade  distraída e, como sempre, a reboque?

Preocupa-me o fato de a sociedade "cansada de tanta corrupção" não faça a menor idéia de como as coisas públicas funcionam. Também fazem pouquíssima ou nenhuma vontade de conhecer. 

Como é que uma sociedade consegue aceitar e estimular parentes a engrossarem os exércitos de funcionários públicos onde as despesas de orçamento são dez vezes superiores às destinadas a educação, saúde, saneamento e segurança e ainda ter a cara de pau de reclamar quando algum evento oriundo das deficiências que ela, célere, fagueira e avidamente contribui e estimula?

Como é que pode se fica tranquilo com uma sociedade que não faz a menor questão de conhecer os meandros e complexidades da gestão pública querer eleger alguém que promete o impossível e, em muitas situações, o ilegal perante as leis vigentes e achar que tudo irá se resolver em poucos meses? Como é que uma sociedade que acha que um ministro, por ser negro e por ter cumprido uma lei formal, sem absolutamente nenhuma experiência adminstrativa pública como gestor e ordenador de despesas, possa virar presidente de um país complexo e cobiçado como o nosso? Por esse mesmo motivo que surgiram Lula, bom de papo, falastrão e sua cria, ambos sem qualquer experiência pública prévia, hoje dominam o cenário nacional sem nenhuma preocupação em serem ameaçados, pois colocaram a coerência, vontade e ética nos seus bolsos, bem no fundo de seus bolsos.

Enfim, tinha uma vaga esperança que a sociedade acordasse para o que temos: pessoas saindo de classes econômicas mais baixas, consumindo muito em cidades cada vez mais velhas, caras de serem mantidas, cada vez mais aglomeradas em espaços urbanos onde os ambientalistas bloqueiam judicialmente qualquer tentativa de incomodar borboletas e pássaros estrilantes e serelepes e nós, cidadãos, cada vez mais espremidos em ruas estreitas e estreitadas pelo enorme volume de veículos, acelerando a pulsação cardíaca a cada sinal que fica amarelo, pois pode ser que o armagedom e o juízo final venha na face de um pueril querubim, muito hábil em manusear um portátil trombeta anunciando o fogo da degradação eterna no umbral do universo dantesco.
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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Além dos caças


O que vale salientar é a fabulosa capacidade de desenvolvimento da Economia de Defesa em nosso país com o desenvolvimento de novas tecnologias de alto valor agregado, geração de empregos fixos, competitivos no mercado e sustentáveis, melhor e maior capacidade de arrecadação nas três esferas da administração pública.
O país só terá a ganhar se a sociedade abraçar a idéia da Economia de Defesa.



Além dos caças

Folha 
Editorial

Ainda que de forma vagorosa, o Brasil começa a entrar no século 21 no que diz respeito a tecnologia de defesa e capacidade dissuasória adequadas a sua condição de potência regional e ator global.

Alguns avanços importantes foram conquistados em 2013. O mais vistoso, sem dúvida, foi o anúncio da compra dos caças suecos Gripen para a Força Aérea Brasileira (FAB) –aquisição que, de resto, traz um grande salto em termos de capacitação da indústria.

Mas caças não eram a principal deficiência no setor. A defesa antiaérea constituía a mais obsoleta face do sistema de proteção, e o governo deu passo significativo ao negociar com a Rússia a compra das primeiras baterias modernas da história do país.

Assim como no caso do Gripen, há a previsão de transferência tecnológica. No entanto, entraves diversos, da crítica ao equipamento a denúncias sobre a natureza obscura dos intermediários, sugerem que o negócio ainda se arrastará.

Em outra frente, o programa de submarinos da Marinha e a construção de um cargueiro pela Embraer foram incluídos nas regras do PAC e receberam fartos recursos federais em 2013.

Os submarinos, quatro unidades convencionais e uma nuclear a serem feitas no Rio de Janeiro, são a parte mais destacada do acordo Brasil-França de 2009.

É seleto o grupo das nações que dispõem de submarino nuclear –não por acaso, as mesmas que integram o Conselho de Segurança da ONU–, mas não se pode ignorar aspectos pouco transparentes do programa, como a bilionária construção de um estaleiro por uma empreiteira brasileira subcontratada livremente pelos franceses.

Já a fabricação do cargueiro KC-390 pela Embraer dará ao país maior autonomia não só para transportar tropas e equipamentos, mas também para reabastecer seus caças, algo vital dada a extensão do território brasileiro.

A despeito desses avanços, falta muito para o país contar com uma defesa coordenada e eficaz. Apenas engatinham, por exemplo, satélites e segurança cibernética, sem o que não há o elemento central para o uso de armas hoje em dia: inteligência em rede.

Como pensões e aposentadorias consomem quase todo o orçamento de defesa, presumem-se mais obstáculos à frente.

Pacifista por tradição e condições geográficas, o Brasil tem a seu favor o tempo. Suas riquezas, de aquíferos ao petróleo do pré-sal, não são facilmente apropriáveis por eventuais agressores. Mas tais vantagens não deveriam incentivar a procrastinação perene. O país não pode abrir mão de uma defesa enxuta, moderna e eficiente.
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quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Tipo assim...Genoíno

O levantar cedo para ver o sol nascer, de minha varanda, é meu momento preferido de reflexão após minhas orações matinais habituais contemplando o mar libertando o brilhante astro. 

Em especial, o primeiro dia do ano torna as reflexões mais densas, circunspectas e repletas de expectativas.

Hoje não poderia ser diferente, contudo, as expectativas tiveram um leve sabor de preocupação ante ao que viveremos neste ano. Tempos, talvez, muito estranhos. Ano de eleição, inflação alta, muita maquiagem e pesado uso da máquina estatal para reeleição. A mídia será o grande cliente, vetor, indutor de ações diversionárias de toda sorte. Mais para confundir do que esclarecer, ela vem cumprindo um magistral papel gramsciano em nossa sociedade. Como se fora trombetas -muitas aliás- do caos, ocultará tudo de bom que nossa sociedade produz em seu efêmero e trôpego dia, arreganhando factóides e notícias encomendadas onde a integridade de pessoas que venham a demonstrar a mais risível possibilidade de por em risco o status quos será inexoravelmente arranhada.

A mídia faz milagres, sobretudo em uma sociedade não tão afeta a leitura e reflexão acerca de sua condição social presente ou discretos e longínquos lampejos dando conta de algum fim de túnel que se aproxime.

Pensei que Mandela pudesse já estar em seu merecido descanso. Sim, merecido em homenagem aos seus mais de trezentos ossos, tendões, nervos e músculos que suportaram uma carga por mais de noventa anos. Algo nesse contexto precisa ser reverenciado, ao menos que seja seu composto biológico. Eu não queria mais pensar em Mandela por muitos anos. Sério mesmo. Ele foi o indutor de uma enorme decepção frente a amigos e conhecidos que o reverenciaram não obstante ao seu passado. Chegou a ser chamado de estadista e contínuo de São Pedro  às portas dos céus sob reviravoltas hirtas e revoltadas dos ossos dos homens, mulheres, velhos e crianças queimados, esquartejados, emasculados. Brancos e negros, estes, pobres e paupérrimos, pelo fato de não seguirem ou apoiarem em termos logísticos, seu exército terrorista cuja luta hoje confundem com libertação dos negros oprimidos pelo apartheid.

Ontem, porém, ao findar de um ano absolutamente interessante, ao menos quatro montagens fotográficas o compararam como herói com relação a Genoíno, o mensaleiro, terrorista. Inicia-se aí o motivo de minha contumaz complexidade. Reside aí o mais genuíno fruto do trabalho da mídia em confundir pessoas, ao invés de esclarecê-las.

O mais pitoresco, entretanto, está no fato de amigos de farda, para quem a sociedade paga ou pagou para defendê-la pressupostamente, inclusive, de terroristas, padrão Mandela, diga-se de passagem, em larga escala geográfica, pois seus feitos ocorreram em países vizinhos ao seu, notadamente na trilha oriental ao encontro dos equivalentes muçulmanos habitantes da Somália. Os amigos de farda, não os mais novos, devem ter uma impressão de ações bem menos, em escala, truculenta do terrorista Genoíno, na Serra de Xambioá GO. Goste-se ou não, em termos de castigo físico foi, substancialmente, menor do que Mandela sem, claro e em nenhum momento, enaltecê-lo.

Abro um parênteses para notificar uma revolta por parte de amigos de minha saudosa turma 75 de Barbacena MG, em nosso mailling list, no dia que defendi a outorga das medalhas do Pacificador e a do Mérito Aeronáutico para Genoíno. Talvez houvesse espaço para um linchamento virtual. Todavia insisti pois poucos sabiam ou se importaram em saber. O reconhecimento veio da ocasião na qual FHC, sistematicamente, sufocou o orçamento das FFAA a ponto do Comandante do Exército retornar aos lares os soldados recrutas muito antes do onze meses acordados no serviço militar, pela mais absoluta dificuldade de mantê-los nas fileiras por falta de recursos para alimentação, fardamento e munição a fim de se cumprir a destinação constitucional do SMI. Bem feito, foi o momento da curva de inflexão reverter em favor de Lula, que ultrapassou Serra para nunca mais ser alcançado. O PT e Lula souberam, muito bem, capitalizar tal ousadia pois, por mais incrível que possa parecer para as pesquisas absolutamente manipuladas do IBOPE, acerca da credibilidades das Instituições brasileiras, os militares encabeçam, sempre, e o SMI, notadamente para cidadãos fora dos grandes eixos urbanos, é um paradigma, é o momento no qual a criança, adolescente, vira homem, ordeiro, ético e produtivo. FHC sequestrou esse paradigma, essa expectativa.

O que Genoíno tem a ver com isto? Porque muito antes desse fato, como deputado, era o mais atuante nos interesses das FFAA. Por incrível e inacreditável que possa parecer a muitos, sobretudo aos que pouco leem por não gostarem de política, ele, Genoíno, sempre articulou recursos para manutenção dos quartéis, bases e organizações das FFAA, sobretudo escolas de formação e hospitais, ou bases operacionais na amazônia e região central, sempre esquecidas. Ele chegou a ampliar nas OM alguns destaques orçamentários que, como parlamentar, tinha direito. Aliás, não só ele, mas outros parlamentares, também de esquerda, sempre nos contemplaram, sobretudo nos hospitais, parcela de seus destaques, sobretudo depois da intensificação de Lula no uso de nossas OM, principalmente hospitais, por ocasião de epidemias, enchente, vacinação e demais calamidades.

Enfim, achei que este tributo, apesar de não adequado, deveria fazer parte de minhas reflexões de início de ano, ora divididas, no afã de saber o como o cidadão, sobretudo o que tem acesso a tecnologia de ponta, na ponta dos dedos, nos smartphones, com possibilidade de acesso a informação depurada, longe da influência dessa mídia manipuladora. Talvez seja essa, agora, a principal serventia de Mandela nesse muito particularizado contexto. Pessoas o endeusando e jogando ao ostracismo da excrescência memória social uma pessoa que, pessoalmente, se mobilizou para ajudar militares, suas famílias e suas organizações.

Tirando o covarde e execrável tiro nas costas de um jovem dissidente em Xhambioá, o que ele fez em relação a dinheiros em uma sociedade com fortes pendores anti-éticos, esperando sua vez de dar uma cravada nas tetas do Erário, creio que ele deva merecer algum risível momento de reconhecimento pelo que, como petista, fez de mais objetivo do que os psdebistas, em favor da família militar e de tantas outras Brasil afora.

Enfim, há que se ter coragem para se externar este inoportuno réquiem, contudo, ficar bem na foto não é o meu forte e o que sei e estudei ao longo da vida, dá-me a segurança de remar contra rio acima e sentir-me preparado para escolher, ou não, quem irá cuidar de minha sociedade daqui para a frente e não me deixar levar pela manipulação midiática.
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