O levantar cedo para ver o sol nascer, de minha varanda, é meu momento preferido de reflexão após minhas orações matinais habituais contemplando o mar libertando o brilhante astro.
Em especial, o primeiro dia do ano torna as reflexões mais densas, circunspectas e repletas de expectativas.
Hoje não poderia ser diferente, contudo, as expectativas tiveram um leve sabor de preocupação ante ao que viveremos neste ano. Tempos, talvez, muito estranhos. Ano de eleição, inflação alta, muita maquiagem e pesado uso da máquina estatal para reeleição. A mídia será o grande cliente, vetor, indutor de ações diversionárias de toda sorte. Mais para confundir do que esclarecer, ela vem cumprindo um magistral papel gramsciano em nossa sociedade. Como se fora trombetas -muitas aliás- do caos, ocultará tudo de bom que nossa sociedade produz em seu efêmero e trôpego dia, arreganhando factóides e notícias encomendadas onde a integridade de pessoas que venham a demonstrar a mais risível possibilidade de por em risco o status quos será inexoravelmente arranhada.
A mídia faz milagres, sobretudo em uma sociedade não tão afeta a leitura e reflexão acerca de sua condição social presente ou discretos e longínquos lampejos dando conta de algum fim de túnel que se aproxime.
Pensei que Mandela pudesse já estar em seu merecido descanso. Sim, merecido em homenagem aos seus mais de trezentos ossos, tendões, nervos e músculos que suportaram uma carga por mais de noventa anos. Algo nesse contexto precisa ser reverenciado, ao menos que seja seu composto biológico. Eu não queria mais pensar em Mandela por muitos anos. Sério mesmo. Ele foi o indutor de uma enorme decepção frente a amigos e conhecidos que o reverenciaram não obstante ao seu passado. Chegou a ser chamado de estadista e contínuo de São Pedro às portas dos céus sob reviravoltas hirtas e revoltadas dos ossos dos homens, mulheres, velhos e crianças queimados, esquartejados, emasculados. Brancos e negros, estes, pobres e paupérrimos, pelo fato de não seguirem ou apoiarem em termos logísticos, seu exército terrorista cuja luta hoje confundem com libertação dos negros oprimidos pelo apartheid.
Ontem, porém, ao findar de um ano absolutamente interessante, ao menos quatro montagens fotográficas o compararam como herói com relação a Genoíno, o mensaleiro, terrorista. Inicia-se aí o motivo de minha contumaz complexidade. Reside aí o mais genuíno fruto do trabalho da mídia em confundir pessoas, ao invés de esclarecê-las.
O mais pitoresco, entretanto, está no fato de amigos de farda, para quem a sociedade paga ou pagou para defendê-la pressupostamente, inclusive, de terroristas, padrão Mandela, diga-se de passagem, em larga escala geográfica, pois seus feitos ocorreram em países vizinhos ao seu, notadamente na trilha oriental ao encontro dos equivalentes muçulmanos habitantes da Somália. Os amigos de farda, não os mais novos, devem ter uma impressão de ações bem menos, em escala, truculenta do terrorista Genoíno, na Serra de Xambioá GO. Goste-se ou não, em termos de castigo físico foi, substancialmente, menor do que Mandela sem, claro e em nenhum momento, enaltecê-lo.
Abro um parênteses para notificar uma revolta por parte de amigos de minha saudosa turma 75 de Barbacena MG, em nosso mailling list, no dia que defendi a outorga das medalhas do Pacificador e a do Mérito Aeronáutico para Genoíno. Talvez houvesse espaço para um linchamento virtual. Todavia insisti pois poucos sabiam ou se importaram em saber. O reconhecimento veio da ocasião na qual FHC, sistematicamente, sufocou o orçamento das FFAA a ponto do Comandante do Exército retornar aos lares os soldados recrutas muito antes do onze meses acordados no serviço militar, pela mais absoluta dificuldade de mantê-los nas fileiras por falta de recursos para alimentação, fardamento e munição a fim de se cumprir a destinação constitucional do SMI. Bem feito, foi o momento da curva de inflexão reverter em favor de Lula, que ultrapassou Serra para nunca mais ser alcançado. O PT e Lula souberam, muito bem, capitalizar tal ousadia pois, por mais incrível que possa parecer para as pesquisas absolutamente manipuladas do IBOPE, acerca da credibilidades das Instituições brasileiras, os militares encabeçam, sempre, e o SMI, notadamente para cidadãos fora dos grandes eixos urbanos, é um paradigma, é o momento no qual a criança, adolescente, vira homem, ordeiro, ético e produtivo. FHC sequestrou esse paradigma, essa expectativa.
O que Genoíno tem a ver com isto? Porque muito antes desse fato, como deputado, era o mais atuante nos interesses das FFAA. Por incrível e inacreditável que possa parecer a muitos, sobretudo aos que pouco leem por não gostarem de política, ele, Genoíno, sempre articulou recursos para manutenção dos quartéis, bases e organizações das FFAA, sobretudo escolas de formação e hospitais, ou bases operacionais na amazônia e região central, sempre esquecidas. Ele chegou a ampliar nas OM alguns destaques orçamentários que, como parlamentar, tinha direito. Aliás, não só ele, mas outros parlamentares, também de esquerda, sempre nos contemplaram, sobretudo nos hospitais, parcela de seus destaques, sobretudo depois da intensificação de Lula no uso de nossas OM, principalmente hospitais, por ocasião de epidemias, enchente, vacinação e demais calamidades.
Enfim, achei que este tributo, apesar de não adequado, deveria fazer parte de minhas reflexões de início de ano, ora divididas, no afã de saber o como o cidadão, sobretudo o que tem acesso a tecnologia de ponta, na ponta dos dedos, nos smartphones, com possibilidade de acesso a informação depurada, longe da influência dessa mídia manipuladora. Talvez seja essa, agora, a principal serventia de Mandela nesse muito particularizado contexto. Pessoas o endeusando e jogando ao ostracismo da excrescência memória social uma pessoa que, pessoalmente, se mobilizou para ajudar militares, suas famílias e suas organizações.
Tirando o covarde e execrável tiro nas costas de um jovem dissidente em Xhambioá, o que ele fez em relação a dinheiros em uma sociedade com fortes pendores anti-éticos, esperando sua vez de dar uma cravada nas tetas do Erário, creio que ele deva merecer algum risível momento de reconhecimento pelo que, como petista, fez de mais objetivo do que os psdebistas, em favor da família militar e de tantas outras Brasil afora.
Enfim, há que se ter coragem para se externar este inoportuno réquiem, contudo, ficar bem na foto não é o meu forte e o que sei e estudei ao longo da vida, dá-me a segurança de remar contra rio acima e sentir-me preparado para escolher, ou não, quem irá cuidar de minha sociedade daqui para a frente e não me deixar levar pela manipulação midiática.
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