KÁTIA ABREU
FOLHA DE SP
Os candidatos à Presidência mostram reconhecer a importância do papel do agronegócio no país
Sei que, para os brasileiros de hoje, chega a ser difícil imaginar o velho Brasil importador de alimentos. Afinal, o que vemos agora é uma agropecuária poderosa, uma das maiores do planeta.
Mas, há 40 anos, nossa agricultura era um grande problema, com a produção crescendo pouco e não conseguindo acompanhar o crescimento da população. Muito diferente do nosso atual mercado doméstico, plenamente suprido de grãos, carnes, oleaginosas, frutas, verduras, etanol. Tudo em grande quantidade e qualidade e a preços reais que vêm declinando, sistematicamente, há duas décadas.
A cada dia, o brasileiro médio gasta uma proporção menor de sua renda com alimentos, podendo consumir mais bens industriais e serviços, como educação e entretenimento. E, de um certo modo, considera-se que o mundo, no futuro próximo, só não viverá uma grande crise de abastecimento de produtos agrícolas em razão do potencial de crescimento sustentável da produção brasileira.
Essa transformação logicamente não se deu por um passe de mágica. Custou tempo, dinheiro e muito trabalho. Mas aqui não é a hora para contar essa história. É bom lembrar apenas que foi quase sempre uma revolução silenciosa, mal percebida pela população e até pelos governos.
O mundo do agronegócio, com suas complexas cadeias que se estendem da produção nas fazendas e nos sítios até as plantas industriais modernas e plataformas de comercialização, foi até há pouco um mundo à parte, não incluído nas mídias ou na política. Todos os que pertencemos ao setor sempre nos amarguramos por isso. Mas, hoje, parece que a realidade se impôs.
A prova disso é o encontro que a CNA promoveu entre as lideranças do setor e os três principais candidatos à Presidência da República no dia 6. Todos compareceram, diferentemente de quatro anos atrás. E mostraram que levaram a sério o documento que continha nossa visão dos problemas que vivemos e das expectativas que nutrimos para o futuro.
De um modo geral, ficamos satisfeitos com todos os depoimentos, bem como com as posições que cada candidato manifestou, respondendo às questões que lhes foram apresentadas.
O candidato Eduardo Campos mostrou uma genuína admiração pelos feitos do agronegócio e reconheceu, com clareza, que o setor merece apoio. Prometeu reforçar o Ministério da Agricultura e livrá-lo dos balcões da política partidária.
Considerou positivo o novo Código Florestal, ressaltando que se trata de uma legislação equilibrada que não buscou atender a apenas um ou outro setor, mas ao conjunto dos interesses em jogo. Falou de um futuro construído por meio do diálogo e apoiado na ciência. Foram palavras que nos agradaram.
O senador Aécio Neves, da mesma forma, reconheceu o papel vital do agronegócio para a economia, prometendo transformar o Ministério da Agricultura em um superministério com a mesma importância estratégica da Fazenda e do Planejamento, baseado na capacidade técnica de quadros profissionais.
Prometeu nos dar segurança jurídica contra invasões de terra e outras ameaças ao direito de propriedade, inclusive provenientes de demarcações de terras indígenas ao arrepio da nossa Constituição. Disse palavras que nos agradaram.
Por fim, a presidente Dilma Rousseff mostrou, com números e dados, as ações do governo em benefício do agro, seja em termos de política agrícola, seja nos grandes programas de infraestrutura que estão em andamento, como os novos regimes de cooperação com a iniciativa privada.
Proclamou que dará prioridade às ferrovias e, sobretudo, às hidrovias e que o regime da nossa navegação de cabotagem precisa ser mudado. Mostrou, também, sensibilidade para os nossos problemas de segurança legal. Foram palavras que não podiam deixar de nos agradar.
O que ficou de tudo isso foi o reconhecimento de nossa existência: o agro chegou, finalmente, ao topo da agenda nacional. Espero que tenha chegado para ficar.
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