quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Notícias do front...Mais do mesmo!!


Então, chegamos a mais um fim de ano.
Em que evoluímos, afinal? 

Uma crise fiscal, uma crise de confiança e uma irrefragável incapacidade gerencial da presidente E das demais 5 565 cidades.

O que podemos pensar sobre isso?
Sob a égide da análise sociocultural, um ano crítico onde a sociedade brasileira se comportou como?!?! Sociedade brasileira. Não fiscalizou os parlamentares que elegeu, ficou ávido por feriados e fins de semana, pródigos e serelepes em movimentos de rua inócuos, absolutamente inócuos. 

O que faltou foi, de fato, uma fiscalização dura, cerrada no fator político, ou seja, faltou governança social e fiscalização sobre as atividades parlamentares nas três esferas. Mais uma vez a estrutura e os viventes políticos fizeram o que bem entenderam sem se preocupar com o que a sociedade precisa. Não diria "quer" pois tenho convicção que que haveria platitudes modísticas e generalismos. Se houvesse perguntas nas ruas as respostas, se houvessem, seriam de "prateleira", aquela resposta sempre pronta que todo mundo fala. Ah! Se todo mundo fala, "alguém" induziu esse "senso comum".

Mais objetivamente, em que melhoramos? Em saneamento básico com o ressurgimento de epidemias e, até, novas formas tais como a zica? Em saúde pública? Não existem vacinas suficientes tampouco recursos logísticos para qualquer unidade de saúde em qualquer dos 5 565 municípios.

E sobre a Educação? Em que melhoramos? Geramos novos postos de trabalho com densidade de produção e eficiência? Conseguimos debelar o apagão de mão de obra ou o analfabetismo funcional? E sobre a crise no FIES, no PRONATEC? Ou os rendimentos nos programas internacionais de avaliação de aprendizagem?

Em que a Segurança Pública melhorou? Estamos mais seguros no ir e vir? Na mais mera e irrisória garantia social: Sair e voltar para casa em segurança!!

Essa anomia da sociedade, do cidadão, do eleitor, permite parlamentares despreparados que correm para o populismo, com soluções mirabolantes contudo inócuas. Estamos nos habituando.

Quem tem impacto positivo, preto no branco? O fator Econômico. Estamos em crise. Teremos problemas no bolso. A sociedade optou em se iludir com possibilidades de impechment da presidente abrindo espaço para licitações intempestivas de “fim de festa”, via de regra ganhas em âmbito centralizado, ou seja, para uma secretaria de turismo ou de transporte de uma cidade do interior, as mesas, cadeiras e computadores serão fornecidos por uma empresa “PÊXE” que ganhou uma licitação centralizada, quem sabe, próxima ao poder. Jamais o empresário local terá a chance de tirar o pé da lama nesse “apagar das luzes” de descentralizações de recursos orçamentários feitos no fim do período legislativo. Sabem o que acontecerá ano que vem? O TCU sendo emudecido para conveniência geral por “cambalhotas” que serão dadas em profusão. 

O que isso tem a ver com você? Aumentos de tarifas e arrecadações municipais, pois sem recursos as câmaras de vereadores autorizarão, sempre “em caráter excepcional” aumentos que o prefeito, para se desafogar dos credores do ano anterior, precisará gerar recursos.

Bem, os motivos e a reflexão já estão extensos, repetitivos e desesperadores, posto que não enxergo qualquer liderança de visibilidade pública de penetração nacional que nos lidere para uma mudança de comportamento social.

Mais populismo, mais messianismo é tudo que teremos e o que nos resta em pleno sexto ano, da segunda década do século XXI. 

E ainda temos muito aprendizado, muito chão e muitas lágrimas pela frente.
Fazer o quê?!?!
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terça-feira, 21 de abril de 2015

Dilma e suas Condições Objetivas de Liderar uma Nação


http://blog.kanitz.com.br

E de forma legalista decidiram que um Presidente só pode ser deposto se fizer algo contra a lei, não por incapacidade objetiva de governar. 

Numa empresa, ao contrário, uma assembleia extraordinária de acionistas já teria sido convocada e a Dilma demitida, por falta de condições objetivas de liderar a empresa, apesar de ela ter sido eleita pelo Conselho de Administração.  

Na democracia inglesa, também existe o recurso do Voto de Confiança, ou Voto de Desconfiança, onde a qualquer momento os representantes do povo podem destituir uma Dilma, por ela ter perdido a confiança de 80% dos brasileiros segundo pesquisas atuais, o que não é impeachment por alguma irregularidade. 

É uma simples constatação de perda de condições objetivas de liderar uma nação, e o perigo que esta situação pode causar. 

Vejamos as condições objetivas da Dilma de governar. 

Dilma, como alertei em 2011 http://blog.kanitz.com.br/mcgregor-ultrapassada/ usa a teoria administrativa ultrapassada chamada Teoria X, um estilo briguento de conseguir as coisas. Ninguém a obedece porque tem valores alinhados, e sim porque temem o gênio dela. 

Dilma já brigou com praticamente todo mundo, uma constante na sua vida por sinal. 

Brigou com seu marido, de quem se separou, e que poderia agora lhe dar suporte emocional e carinho, acalmar esta pilha de nervos que ela demonstra a cada discurso. 

Brigou com a mãe, a quem nunca mencionou em nenhum de seus discursos, que mostra outro problema pessoal.  

Brigou com seu meio irmão, que ela inclusive enganou quanto à divisão da herança do pai http://www.novinite.com/view_news.php?id=120755. 

Brigou com seu mentor Brizola, traindo o PDT, e se juntou ao PT que a odeia. 

Brigou com seu eleitor Lula, a quem disse “não lhe devo mais nada”, e que está agora tramando contra a sua “mal” criada. 

Brigou com seu Ministro Guido Mantega, que não fala mais com ela. 

Brigou com Henrique Meirelles, o mentor da política econômica de Lula, e que deveria ter sido o seu Ministro da Fazenda e a Dilma não quis saber, e deu no que deu. 

Brigou com a Marta Suplicy, que só fala mal da Dilma, de uma forma que só uma mulher sabe fazer. 

Brigou com a Globo, a emissora que sempre é chapa branca, pode? 

Brigou com o líder do Congresso, Eduardo Cunha, que quer um impeachment a todo custo. 

Brigou com seu vice, Michel Temer, e o Partido que a apoia. 

Brigou com alas inteiras de seu Partido dos “Trabalhadores”, achando que o Partido agora é dela. 

Dá para brigar com ainda mais pessoas do que isto? 

Como a personalidade da Dilma: 

Brigou com o Líder do Senado, Renan Calheiros. 

Brigou com as empresas do Setor Elétrico. 

Brigou com as empresas do Setor de Educação. 

Brigou com o setor de Álcool, hoje quebrado. 

Brigou com o setor Agrícola. 

Brigou com os caminhoneiros de todo o Brasil. 

Brigou com o Ministério Público, justo quem. 

Brigou com todo o sistema capitalista, que seu Marxismo século XIX odeia. 

Brigou com a classe média, que agora externa sua insatisfação sempre que há oportunidade. 

Dilma tem um sério problema pessoal, não resolvido pelo jeito, que lhe tirou as condições objetivas de ser a Presidenta do Brasil. 

Sua única alternativa é brigar consigo mesmo, ou seja, renunciando. 

Mas como ela acha que seria uma derrota do feminismo, eu temo que ela vá até o fim. Autocrítica ela não tem. Que economista tem por sinal, eles sempre estão certos, nunca erram. 

Faltou-lhe bom senso, carisma, honestidade, humildade, vamos ser sinceros, faltou-lhe capacidade de liderança, que ela nunca teve. 

Em nome de seu pai, em nome do país que abriu as portas para um refugiado búlgaro, em nome de um povo fraterno e solidário que permitiu a seu pai e a você vida nova, não destrua ainda mais o país que recebeu a sua família de refugiados. 

Você já se revelou uma persona non grata com a classe dominante que permitiu a Família Rusev paz e tranquilidade, ao pegar em armas, assaltar bancos e joalheiros brasileiros, querendo derrubar aqueles que deram à sua família guarida. 

Caso V.Exma. decida pedir desculpas a todos que a elegeram, no seu discurso cite pela primeira vez a sua mãe, o seu pai, o seu irmão, e agradeça os quatrocentões brasileiros e a elite dominante que abriu as portas para emigrantes como a sua família. 

Não destrua com suas constantes brigas o país que lhe acolheu. 

Perceba que você perdeu sua capacidade de liderança, e mais, que você nunca deveria ter aceitado aquele convite do Lula, você colocou a sua ambição acima da sua capacidade de cumprir o prometido. 

Pense, se isto é possível.
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O BRASIL AINDA É O BRASIL?



por Percival Puggina. Artigo publicado em 15.12.2014



Por que as instituições nada fazem contra a matriz de corrupção instalada no coração do poder? Mistério. Por que Bolsonaro suscita maior comoção e interesse entre os formadores de opinião do que as denúncias da geóloga Venina Velosa da Fonseca? Mistério. Por que o relatório de uma Comissão Nacional da Verdade que sepulta verdades e ressuscita mentiras ganha espaço como se credibilidade tivesse, malgrado afronte a própria lei que a criou? Mistério. Por que, para tantas pessoas, o mal está na mera existência da revista Veja e não nos crimes que ela denuncia? Mistério. Por que é tão solenemente ignorada a existência do Foro de São Paulo, como bem sinaliza Olavo de Carvalho? Mistério. Por que não causou estranheza em parte alguma que a pessoa escolhida para ocupar a função de tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, seja, justamente, o ex-dirigente de uma cooperativa habitacional que lesou centenas de associados? Não está ele sendo processado por estelionato, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica? Comanda as finanças do PT e só a Veja acha estranho? Mistério. Por que o partido que governa a República perdeu todo interesse em desvendar os enigmas em torno da morte de Celso Daniel? Mistério, mistério, mistério. Para onde quer que se olhe, lá está a densa bruma de onde quase se espera o surgimento de dragões, unicórnios e manticoras.

Pois eis que, de repente, fica-se sabendo que a presidente da República foi a Quito participar de uma reunião da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e que nessa reunião foram tomadas diversas decisões envolvendo supostos interesses comuns aos países do bloco. E com que parcerias! Pois bem, as relações internacionais do Brasil, de uns tempos para cá, seguem estratégias incomuns e nos têm custado muito caro. Não seria preciso mais do que isso para despertar o interesse da mídia nacional. Mas não despertou. Por quê? Mistério. E não me consta que alguém tenha gasto meia hora, seja na mídia, seja no Congresso Nacional, para investigar o que significará, na vida prática, algo tão enigmático (mormente entre nações sob tais governos) quanto a Unidade Técnica de Coordenação Eleitoral que passará a funcionar na Unasul. Por quê? Mistério.

Tampouco suscitou interesse a decisão de criar uma Escola Sul-Americana de Defesa, que até sigla já tem: Esude. E para que servirá a Esude? Para constituir "un centro de altos estudios del Consejo de Defensa Suramericano de articulación de las iniciativas nacionales de los Estados Miembros, formación y capacitación de civiles y militares en materia de defensa y seguridad regional del nivel político-estratégico". Será que só eu fiquei preocupado com isso? Será que só eu fui buscar informações e me deparei com este vídeo? Terei sido o único a descobrir que, conforme ali se explica, a tal Esude tem por objetivo formar civis e militares afastados das "lições caducas com que se formavam nossos militares", as quais seriam "quase cópias dos manuais gringos, norte-americanos"? O que dizem sobre tudo isso nossos comandantes militares? Mistério.

Definitivamente, de duas uma: ou estou ficando incapaz de compreender o Brasil, suas instituições e seu povo, ou o Brasil está se tornando outra coisa qualquer.

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* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
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Dilma sanciona Orçamento 2015; fundo partidário é triplicado sem vetos


Dilma sanciona Orçamento 2015; fundo partidário é triplicado sem vetos

http://www.valor.com.br/politica/4015114/dilma-sanciona-orcamento-2015-fundo-partidario-e-triplicado-sem-vetos

Gostaria de salientar, com esta notícia, o que sempre venho lhes falando: A forma como a imprensa brasileira instiga o cidadão ao invés de esclarecê-lo.

A rigor, um pouco mais de 800 milhões de reais para mais de 32 partidos a ser dividido entre políticos das três esferas nas 5 565 cidades convenhamos que é uma merreca, ainda mais que muitos usam para ajudar os prefeitos a diminuírem alguns déficts no fim do exercício, o que está também nas entrelinhas não evidenciado.

O que seria de mais importante para uma mídia séria e ética de uma sociedade madura e politicamente atuante...

Um pouco só de suspensa para ajudar a ver que não somos nem um nem outro e por isso merecemos o que atualmente passamos.

Bem, pois bem: O importante seria ressaltar o fato da publicação acontecer quase no fim do quadrimestre, o que é uma vergonha, um deletério, pois orçamento se executa A PARTIR DO PRIMEIRO DIA ÚTIL, que ficou láááá´ atrás dia 02 de janeiro.

Segundo, muito discretamente a reportagem fala de prefeitos com pires nas mãos falando com a presidente implorando o que nós já temos direito, pois ela fica com o que nós pagamos e os prefeitos arrecadam. Não poderiam enviar para ela para voltar, de forma de conta-gotas pelos fundos de participação de Estados e Municípios. A mídia deveria esclarecer a sociedade acerca desta estupidez, deste deletério.

Terceiro, nossa carga tributária nominal é de 38%, não é a real, é a autorizada pelo Congresso com uma gorda e elanorme base aliada TAMBÉM eleita pelo distraído e irresponsável eleitor. Ou seja, no último mês do quadrimestre, a presidente iniciará a execução orçamentária, com uma carga tributária que nos faz trabalhar CINCO meses para pagá-la e a mídia em ação diversionária, contribuindo para a instigação e aumento do sentimento de revolta social.

É o país certo que calça certo no nível de maturidade e de responsabilidade de seu eleitor.

terça-feira, 17 de março de 2015

O verão da nossa desesperança

O verão da nossa desesperança 
Zander Navarro 

* é sociólogo e professor aposentado da UFRGS (Porto Alegre).
O Estado de S. Paulo

A descrença em nós mesmos, como povo e como sociedade, parece ser ingrediente entranhado em nossa cultura. Discuti-la tem sido recorrente entre os "explicadores do Brasil" de maior envergadura.

Na miudeza cotidiana, o ceticismo imobiliza as pessoas, pois os antídotos são as fugas coletivas, como o conformismo, o carnaval, as drogas ou a obsessão futebolística. Assim dizem os estudiosos, igualmente sugerindo que medicação adicional dos indivíduos para os perturbadores tempos da desesperança seriam as religiões. Estas podem enrijecer as crenças ancoradas no salvacionismo e nos prostrar diante dos deuses e suas magias, enquanto prometem a redenção no futuro remoto. O presente, em consequência, tornar-se-ia mais tolerável, suavizando as reações sociais.

Também seríamos um povo sem memória e por isso nos comportamos como aquietadas marionetes perante aqueles que comandam a riqueza, o poder e a política. Parece que a frase repetida entre filósofos e literatos "somos porque lembramos" não seria distinção visível entre nós. Assim infantilizados, nossas práticas sociais têm rasa densidade e nem mesmo teria existido alguma história de "longa duração", induzindo a produção de cultura mais robusta, tradições enraizadas, costumes inquebrantáveis. Vítima da amnésia geral, nosso senso de humanidade se rebaixa amesquinhado.

Seríamos mesmo um povo residual e descartável, eternamente vítima das artimanhas do poder? Como nos adverte o sociólogo José de Souza Martins, "afirmamo-nos como povo no negativo, no noticiário policial, na esquizofrenia das revoltas populares inconclusas".

Mas esses seriam os bloqueios primordiais?

Ainda que a crise atual evidencie, sobretudo, contornos econômicos e políticos, em sua essência a inquietação e o estranhamento por que passamos decorrem, particularmente, de uma crise moral.

Estamos, os brasileiros, abandonando a sustentação oferecida pela moralidade: a regra geral a partir da qual não apenas resignadamente nos curvamos, mas a norma cuja existência também almejamos ansiosamente, pois é a estrutura não escrita que garante alguma estabilidade. Levianos, excluímos sem substituição alguma os elementos constituintes e os mecanismos morais que organizam os agrupamentos coletivos e mantêm coesa a argamassa da sociedade.

Em consequência, a moralidade vem sendo corroída aceleradamente, deixando-nos à deriva no que diz respeito aos valores principais e à matriz ética que nos deveria orientar. Sem rumo algum que seja discernível, igualmente renunciamos a qualquer noção de "boa sociedade" que nos poderia seduzir politicamente. Debilitada essa estrutura de coerção positiva imposta pela moralidade, os indivíduos começam a sentir na pele os efeitos da lei da selva e sentem-se dispostos a defender-se de acordo com os interesses mais imediatos. As noções de bem comum, espaços públicos e até mesmo de sociedade lentamente desaparecem do imaginário social. Se a crise moral se aprofundar, não estaremos longe da porta do "Deus nos acuda".

Por que tem sido assim? Em sua inteireza, a explicação exigiria complexa análise das causas principais. Um dos temas tratados seria, por exemplo, o gradual, mas incontrolável apodrecimento das noções de autoridade e legitimidade.

Exemplo recente: se algumas centenas de ingênuas adolescentes urbanas travestidas de "camponesas" invadem uma firma organizada legalmente e destroem experimentos de pesquisa com eucaliptos transgênicos, mas nenhuma delas é indiciada, a aceitação social da autoridade legítima escorrega alguns degraus abaixo. Outro exemplo: a mandatária maior do País vem mentindo sistematicamente desde a última campanha eleitoral e despudoradamente persiste nesse caminho, após eleita. Parece ignorar que o conteúdo de legitimação dos cargos públicos assim se desmoraliza aos olhos dos cidadãos. Ante a ruína da Petrobrás e o simbolismo da empresa, somados ao efeito dominó operado em toda a economia e no sistema político, a lista de exemplos seria interminável.

Em nossos dias, uma cristalina consequência decorrente desse impressionante período de dissimulações de todos os tipos é que o Brasil se está transformando na sociedade modelar do fingimento. Somos atualmente um vasto teatro, com figurantes de todos os tipos, quase todos sonhando com mundos ficcionais. Exigimos bolsas estatais para tudo e todos, benefícios e favorecimentos os mais diversos e apenas discutimos direitos, mas nunca deveres. Projetos querem garantir cotas para qualquer especificidade ao gosto do proponente, mesmo que os beneficiários representem minorias minúsculas, segmentando ainda mais uma sociedade já historicamente fraturada por um obsceno padrão de desigualdade social. Fingimos que trabalhamos e simulamos que somos sérios. Em síntese, fingimos aceitar que existiria, sim, o almoço grátis e nenhum sacrifício coletivo em torno de um projeto de nação jamais será exigido dos cidadãos. E a ninguém é dado o direito de perguntar sobre o pagamento da conta, pois também fantasiamos que o ressarcimento econômico ou moral sempre poderá ser adiado para um distante ponto futuro.

Em outros tempos, a grande política discutia o poder e os limites do Estado, ou como os governos deveriam envolver-se com os cidadãos e as necessidades da população. Era um grande e permanente debate que fortalecia algo chamado sociedade. Regularmente existia a chance eleitoral de mudar a direção da discussão geral. A política sempre envolvia paixão, criatividade e, sobretudo, argumentos em torno de previsões sobre o futuro. Tudo isso acabou. A política em nossos dias está ancorada exclusivamente no dinheiro e no imediatismo. Este é o impasse: é preciso reinventar a política como forma de resgatar a chance de construir novamente o sonho da boa sociedade.


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Depende...

Caros amigos, conforme já lhes falei, por diversas vezes, o livro "A cabeça do Brasileiro" nada mais é do que uma revisão científico-metodológica de um resultado levantado, "in loc" por pesquisadores da UNCAMP e UFF no projeto governamental P.E.S.B (Pesquisa Econômico-Social Brasileira). Nela, dentre vários resultados surpreendentes colhidos dos respondentes espalhados por diversas cidades no território brasileiro, há uma verdadeira dificuldade para o cidadão brasileiro, em ser pragmático e ABSOLUTO acerca da ÉTICA. Eles, os respondentes, relativizam. Demonstra a pesquisa não terem qualquer noção de definir o que é favor, de "presentinho" ou..

Bem, o autor do livro é discípulo de nosso principal, e mundialmente reconhecido, antropólogo Roberto DaMatta que escreve este ótimo artigo que segue onde o "Depende..." denota nossa inexorável capacidade de "relativizar" a ética.

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Depende... 
ROBERTO DAMATTA
O GLOBO - 25/02

Quando uma escola de samba tradicional é financiada por uma ditadura estrangeira, chegamos ao fundo do poço


“O Brasil está na idade da tramela!”, dizia um grande intelectual. Tendo estudado nos Estados Unidos e lá, como dizia Monteiro Lobato, fora lapidado, pois jamais rejeitara o seu lado brasileiro (o qual foi, ironicamente, intensificado na convivência por contraste com o que, àquela época, chamava-se de “países adiantados”), ele era capaz de enxergar o que todo mundo simplesmente via como as nossas arqueológicas tramelas.

Quem saiu do Brasil para as “Europa” ou “América” até os anos 60 (como foi o meu caso), ficou espantado com a ausência das “tramelas” e das gigantescas chaves de ferro; esses instrumentos dos superiores que permitiam abrir ou fechar portas, cadeias, porões, dispensas e gavetas. Esses compartimentos que até hoje são vedados a quem continua a ser tratado como “povo”, pois jamais foi lapidado ou visto como cidadão.

Quando visitei os Estados Unidos pela primeira vez, recebi a chave não só do meu modesto escritório mas — eis o susto — a do prédio do famoso Departamento de Relações Sociais de Harvard!

No Brasil, receber essas máquinas “depende”.

O ministro tem a chave de todos os prédios e somente ele abre a sua porta. Nas democracias, todos têm precisamente a chave da porta dos que governam, já que presidentes, ministros, governadores, senadores e deputados servem ao povo. É, pois, do povo a propriedade das chaves!

Não há, nenhum “depende...” a condicionar a transparência. Não existe o famoso, lamentável e onipresente “eu não sabia” ou a divisão permanente entre “público interno e externo”, rotineiros na ditadura militar e no lulopetismo.

O roubo público, o assalto irresponsável em escala bíblica e pornográfica aos bens coletivos e à Petrobras — símbolo de independência econômica que suicidou quem teve honra e foi incestuosamente agredida por quem não sabe o significado dessa palavra — continuam sujeito ao “depende...”

Depende de quem. Se foi do tempo deles vale, se foi nessa nossa década de poder, não vale. Na Alemanha nazista, todos os males eram atribuídos aos judeus vistos como agentes de impureza diante da superioridade indiscutível da raça germânica. Os judeus eram o veneno ao lado dos homossexuais, dos ciganos e dos deficientes. Eles conspurcavam a “raça superior” — emblemática de uma integração perfeita porque seria biológica, entre o indivíduo e a coletividade. Esse problema de todas as nossas antropologias e sociologias que, em geral, leem o individuo como algo separado do grupo quando de, fato, seja nas suas formas mais ativas (como na América sem tramelas) ou brandas, como no Brasil relacional das trancas e frestas, o individuo é a expressão de uma cosmologia ou ideologia. A redução individualista é dominante na vida moderna que, conforme sabem alguns, não é, como o jazz, tão moderna assim.

Sem o “depende” não se entende a hipocrisia política dominante. Ela é a chave que abre ou fecha os baús de escândalos que, de tão rotineiros, chegaram ao carnaval, uma celebração aberta a tudo, mas hoje manchada pelo financiamento questionável.

Todos nós admitíamos cinicamente o financiamento carnavalesco de estabelecidos “contraventores”. Notem que não usamos a palavra “bandido” para os que se legitimavam como mecenas das escolas de samba. Por meio do carnaval e do até hoje não legalizado jogo do bicho, eles eram nossos “heróis-bandidos” ou simplesmente malandros, dentro da ética de ambiguidade que proíbe ou torna reacionário dizer isso “não pode!” ou, o muito mais sério, “isso eu não faço!” Mas quando uma escola de samba tradicional é financiada por uma ditadura estrangeira, chegamos ao fundo do poço porque o “depende” tem desculpa: afinal é (ou era) carnaval.

Ao se despedir, o professor Richard Moneygrand riu de sua profecia segundo a qual o fim do carnaval, conforme revelei na semana passada, assinalava o fim da ordem brasileira. Mas até mesmo a ordem, para vocês, disse ele, depende...

O “depende”, em paralelo ao “desculpável”, é parte do nosso Direito fundado no purgatório. Se os extremos e os limites são evitados, como não aceder a filosófica admoestação de batedor de carteira da presidenta Dilma, quando afirma que se a Petrobras tivesse sido investigada no governo Fernando Henrique Cardoso, toda essa roubalheira teria sido evitada?

E por que não nesses 12 anos de PT? Mas isso seria o questionamento do cronista reacionário que publica mas não é ouvido porque a preferência “depende” de quem fala e não do que é dito.
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terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Frágil Mercosul

No mundo não há mercados em bloco cuja característica de mobilidade física seja tão vantajosa: os quatro países originais qualquer pessoa ou veículo poderia cruzar as fronteiras por terra sem interrupção. Bom para a mobilidade e ótimo para a transmissão de energia elétrica. Há mais outras vantagens.

Enfim, ainda mais com a crise que se avizinha, é um assunto prá lá de maiúsculo para ser discutido até no ponto de ônibus...ledo engano, ledo engano...

"[...] Trata-se de ameaça que não pode ser desprezada, sobretudo pelo Brasil, que tem no Mercosul o principal mercado para manufaturados; cerca de 90% das exportações para a Argentina em 2014 foram de bens industriais.[...]"


Frágil Mercosul  
FOLHA DE SP - 17/02

Acordo comercial entre Argentina e China mostra que o bloco latino-americano representa uma trava apenas para os interesses do Brasil

O acordo comercial entre Argentina e China, assinado na semana passada em Pequim, é a mais recente demonstração de que o Mercosul agoniza, não só na esfera econômica mas também na política.

Os dois países fecharam convênios que envolvem mais de US$ 20 bilhões. São previstos US$ 5 bilhões em financiamentos para duas usinas hidrelétricas, a serem construídas por empreiteiras chinesas, e US$ 2,5 bilhões em ferrovias, entre outros projetos de infraestrutura, indústria e pesquisa.

Em troca do dinheiro, a China poderá fornecer materiais e até mão de obra, condição que só fora aceita por nações africanas. Aponta-se ainda para a possibilidade de isenção tarifária para equipamentos, o que pode tornar produtos chineses mais competitivos do que os oriundos de países do Mercosul.

Com uma decisão unilateral, a Argentina expõe o bloco ao avanço da concorrência asiática, sem contrapartidas. Trata-se de ameaça que não pode ser desprezada, sobretudo pelo Brasil, que tem no Mercosul o principal mercado para manufaturados; cerca de 90% das exportações para a Argentina em 2014 foram de bens industriais.

Sinais de perda de espaço dos produtos brasileiros se acumulam. No ano passado, as vendas para o vizinho caíram 27%, ao passo que as chinesas recuaram apenas 5%.

Para preservar divisas, o governo argentino exige licenças prévias de importação, mecanismo cada vez mais restritivo --ao menos para empresas brasileiras, pois existe a suspeita de que as chinesas venham obtendo facilidades.

Enquanto o Brasil continua a respeitar as regras do bloco, mesmo quando estas impedem avanços importantes, como o tão arrastado acordo comercial com a União Europeia, a Argentina não demonstra o mesmo apreço.

A presidente Cristina Kirchner, pressionada por fatores como recessão interna, fuga de capitais, alta inflação e isolamento dos mercados externos, não hesitou em apostar no dinheiro chinês para reforçar suas reservas internacionais e conseguir chegar às eleições de outubro deste ano sem maiores sobressaltos na economia.

Está mais do que na hora de o Brasil buscar seus próprios interesses. A indústria nacional tem muito mais diversificação e musculatura que a argentina para se integrar nas cadeias globais de valor e enfrentar mercados mais abertos.

Não se defende que o país deixe de considerar a integração latino-americana como pilar da política externa. Ao contrário, no campo econômico, é preciso usar a vantagem natural do Brasil na região --incluindo o bloco andino-- como plataforma para aprofundar suas relações com o restante do mundo.
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Os efeitos da Idade na sua digestão



À medida que envelhecemos, o mesmo ocorre com nosso sistema gastrointestinal. Isso significa que é importante monitorarmos os alimentos que ingerimos e não apenas manter o peso saudável, mas também assegurar-nos de que estamos cuidando bem do nosso sistema digestivo. Aqui estão cinco formas de como a nossa função digestiva muda ao longo dos anos, bem como dicas para que possamos cuidar-nos bem e nos mantermos saudáveis.

1. Mastigação

À medida em que você envelhece, a mastigação dos alimentos pode tornar-se mais difícil, especialmente se você usa prótese dentária ou não tem bons dentes. Você pode não considerar a mastigação como parte do processo digestivo mas, na verdade, é a primeira e mais importante fase para cuidar da digestão. Quando você mastiga, está partindo os alimentos de maneira que os ácidos e enzimas do estômago possam, mais tarde, separar os nutrientes que serão absorvidos nos seus intestinos.

Para evitar de engasgar-se com os alimentos ou retardar a digestão,
certifique-se de mastigar muito bem os alimentos, ou cortá-los em pedaços pequenos. Também é importante continuar a consultar o dentista regularmente, duas vezes por anos, para manter sua boca saudável e apta para a mastigação. Tomar suplementos de cálcio e vitamina D, ou consumi-los em sua dieta, podera também contribuir para com a sua digestão e outros aspectos de sua saúde interna. Mulheres entre 50-70 anos deveriam consumir 1,200mg de calcio e 600 UI de vitamina D por dia, e os homens na mesma faixa etária deveriam consumir 1,000mg de cálcio e 600 UI de vitamina C.

2. Deglutição

Depois da mastigação, o aspecto mais importante da sua digestão é a
deglutição, ou seja, engolir o alimento de maneira apropriada. À medida em que você envelhece, o seu esôfago, ou seja, o cano que conecta sua boca ao estômago, não se contrai como costumava fazer, dificultando, assim, a deglutição de grandes porções de alimento. Na verdade, quando pessoas acima de 50 anos precisam engolir grandes pedaços de comida, o tempo gasto para esta comida percorrer seu caminho até o estômago pode ser entre 50 e 100% mais longo porque os músculos do esôfago estão fora de forma.

Uma das condições mais comuns entre as pessoas mais velhas é a Doença de Refluxo Gastroesofágico (DRGE), que pode causar dor e queimação no seu peito quando faz a digestão, e até mesmo o estreitamento do esôfago. Embora não exista cura para o estreitamento do esôfago, uma forma de preveni-lo é mastigar os alimentos devagar e em pedaçoes pequenos, fazer exercícios e manter um peso saudável. Evite comidas ricas em gorduras ou sódio (sal),
que podem agravar a sensação de azia ou refluxo. Caso os sintomas não desapareçam, recomenda-se uma consulta ao médico para um tratamento.

3. Estômago

No final do seu esôfago encontra-se a entrada para o seu estômago, chamada esfíncter esofágico inferior. Ao envelhecer, este músculo em forma de anel na abertura do seu estômago fica mais fraco, o que também contribui para azia e refluxo ácido. O músculo não consegue relaxar adequadamente, permitindo que ácido e, às vezes, outros conteúdos do estômago voltem para o canal do esôfago.

Se você sofre de azia ou indigestão, tome nota das comidas que podem
provocar esses problemas. Alimentos muito ácidos ou temperados com pimenta e outras especiarias podem ser o gatilho para essa condição, bem como frutas cítricas e alimentos gordurosos. O consumo de refeições menores e de baixos teores de sódio e acidez pode melhorar dramaticamente o problema da azia.

Outro problema comum que deve ser tratado é a presença da bactéria H. Pylori no seu estômago, pois ela se aloja nas paredes deste órgão e podem causar úlceras ou dores matinais ou quando o seu estômago está vazio. A infecção pode ser detectada através de exames de sangue e endoscopia (a inserção de um pequeno tubo em sua boca, que se alonga e alcança o seu estômago). Se você tiver H. Pylori, não há razão para pânico, pois para isso existem tratamentos que combinam antibióticos e medicamentos antiácidos.

4. Intestinos

Com a idade, os intestinos começam a ficar preguiçosos para absorver
nutrientes importantes, tais como cálcio, vitaminas A, B-12, K e D. Isso ocorre porque os movimentos dos músculos ficam mais lentos e a função do cólon também muda. Como resultado, adultos com 50 anos ou mais podem experimentar mais constipações e têm maior risco de desenvolver câncer de cólon ou diverticulite, uma condição em que pequenas bolsas no intestino grosso ficam infeccionadas.

Conforme mencionado anteriormente, recomenda-se compensar as carências vitamínicas com suplementos ou através da sua dieta diária. Você pode aliviar constipações aumentando o consumo diário de fibras e reduzindo consumo diário de alimentos gordurosos e ricos em colesterol. Para aumentar naturalmente o seu consumo de fibras, coma mais grãos integrais e tente comer uma fruta ou uma verdura com cada refeição.

5. Fígado

Você pode não saber, mas as pessoas acima dos 60 anos correm um risco maior de desenvoler cálculos biliares (também conhecidos como pedras na vesícula), que são acúmulos de cristais rígidos que se formam na vesícula quando o fígado é incapaz de processar o colesterol e outras partes da bile. Bile é a substância fabricada pelo fígado e armazenada na vesícula, necessária para digerir gordura. O risco de formação de cálculos biliares aumenta com a idade porque o canal da bile na entrada do intestino fica mais estreito, forçando a bile a permanecer na vesícula por períodos de
tempo mais longos, o que faz com que ela enrijeça.

Para prevenir a formação de cálculos biliares, que podem ser dolorosos e, frequentemente, precisam de cirurgia para serem removidos, recomenda-se controlar estritamente o consumo de gorduras para não sobrecarregar a vesícula.

Infelizmente, caso você já tenha cálculos biliares, provavelmente não terá sintomas e, se senti-los, será apenas uma leve dor na boca do estômago ou na parte superior direita da sua barriga. A dor pode espalhar-se pela região superior das costas e espáduas. Se você tem ou teve esses sintomas, é importante que consulte o seu médico imediatamente.

Finalmente, assegure-se de permanecer em constante contato com seu médico sobre a saúde do aparelho digestivo, e solicite exames extras de sangue ou de respiração no próximo check-up.
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A Raposa da Serra do Sol, seis anos após

Vale a pena ver como está, seis anos após, o território onde embaixo dele reside 92% de Nióbio do planeta. Se quiserdes ter uma noção, procurem saber acerca de importância do Nióbio nas indústrias de tecnologia de ponta, de altíssimo valor agregado.


Efeitos da demarcação 
O ESTADO DE S.PAULO - 17/02

Em março de 2009, o Supremo Tribunal Federal (STF) pôs fim a uma longa batalha judicial a respeito da demarcação da reserva Raposa-Serra do Sol, em Roraima. A mais alta Corte do País determinou que a demarcação da reserva deveria ser contínua e que os não índios deveriam desocupar imediatamente o local. Quase seis anos depois, os efeitos da decisão do STF no Estado de Roraima são notórios. Conforme reportagem do Estado, a produção agrícola caiu, aumentou o funcionalismo público e cresceram os repasses federais. Ou seja, a região enfraqueceu-se economicamente e está mais dependente da União, trilhando o caminho inverso do que era de esperar.

Alvo de disputa desde os anos 70, a terra indígena Raposa-Serra do Sol foi declarada em 1998 de posse permanente indígena por meio de portaria do Ministério da Justiça, o que desencadeou diversos processos judiciais questionando a decisão. Em 2005, o presidente Lula homologou novamente a reserva, mas a contenda jurídica não cessou. Seria finalizada pelo STF apenas em 2009, quando se


 estabeleceu que a reserva deveria ser contínua, determinando a saída imediata dos agricultores não indígenas. Ficava assim definido que a população indígena da área - em torno de 20 mil pessoas, na época - teria direito ao usufruto exclusivo das riquezas naturais e das utilidades existentes na reserva, uma área com aproximadamente 1,7 milhão de hectares e perímetro de mil km.

Como era previsível, o Estado de Roraima, que atualmente tem metade da sua área destinada a reservas indígenas, vem sofrendo as consequências da demarcação da Reserva Raposa-Serra do Sol. Com a expulsão dos agricultores, a exportação agrícola do Estado caiu pela metade. Em 2006, a produção agrícola totalizava US$ 16,4 milhões. Em 2013, o valor já não ultrapassava US$ 8 milhões. Essa queda não deixa de ser um reflexo da diminuição da área dedicada à agricultura. Por exemplo, em 2009, 22 mil hectares de terra eram utilizados para a plantação de arroz. Em 2010, eram apenas 9 mil hectares.

Com a diminuição da sua capacidade produtiva, o Estado de Roraima ficou ainda mais dependente do governo federal, necessitando de maiores repasses. Em 2009, os repasses da União foram de R$ 1,8 bilhão. Em 2013, totalizaram R$ 2,4 bilhões.

Com a demarcação, a situação econômica e social de muitas pessoas - índias e não índias - se tornou precária. Não poucos índios se tornaram mendigos. Para alguns comerciantes, a solução foi migrar para a Guiana, como forma de escapar de entraves burocráticos em Roraima. Segundo comerciantes brasileiros instalados na Guiana, ouvidos pela reportagem do Estado, a demarcação da reserva aumentou as exigências burocráticas; por exemplo, a apresentação de documentos de posse de terras para obter crédito e empréstimos no banco. Um servidor público relata também que, "com a saída dos arrozeiros, a cidade perdeu economia. E o contrabando (de gasolina, oriunda da Venezuela) virou meio de vida aqui".

Algumas ONGs internacionais, que tiveram participação expressiva no processo judicial da demarcação de terras contínuas da Raposa-Serra do Sol, continuam atuantes na área e batalhando pela não integração dos índios, já que entendem ser a integração um processo radicalmente desigual. No entanto, para o antropólogo Edward Luz, ex-consultor da Funai, a proposta de muitas das ONGs é um retorno ao passado e, com isso, "povos indígenas brasileiros são impedidos de produzir, explorar as riquezas de suas terras, e passam a viver na miséria. (...) Isso sem falarmos das mulheres, que são submetidas a abusos de toda ordem sem que os homens sejam punidos".

Os desafios da reserva indígena Raposa-Serra do Sol são inúmeros. E levantam sérias dúvidas a respeito da capacidade do Estado, seja em qual esfera for, para resolvê-los. O respeito aos índios vai muito além da demarcação de terras exclusivas, e não necessariamente passa por demarcá-las sempre. Casos complexos dificilmente são resolvidos com soluções únicas predefinidas.
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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Sete benefícios que o vinho tinto pode oferecer à saúde - Jornal O Globo

Sete benefícios que o vinho tinto pode oferecer à saúde - Jornal O Globo

O desgoverno do mundo


Os Brics são unânimes em querer mais poder no FMI, mas não são harmoniosos na questão agrícola na OMC
21/06/09

Rubens Ricupero

"COMO EXPLICAR a desordem do mundo?", a frase de Gustavo Corção foi um dos temas que o embaixador João Guimarães Rosa nos propôs no exame de ingresso ao Itamaraty meio século atrás, em 1958. A desordem, a ausência de autoridade central, aprendi mais tarde, caracterizava o sistema internacional, o que um clássico da disciplina, Hedley Bull, intitulou "A Sociedade Anárquica".

Por um par de anos após o fim da URSS criou-se a falsa impressão de que algum tipo de "ordem" podia ser imposta pelo poder unilateral dos Estados Unidos. Contudo, a somatória do desastre do Iraque, do colapso da ordem econômica e do fracasso em liquidar o terrorismo marcou os limites do poder norte-americano.

Obama herdou poder debilitado por muitos golpes simultâneos. O ponto de partida de sua estratégia é uma posição de fraqueza, talvez temporária: a necessidade de reconstruir o poder e a vontade.

Enquanto a tarefa não se conclui, a última coisa que deseja é envolver-se em nível mais grave de conflito com a Coreia do Norte e o Irã. Ou tomar iniciativa internacional que exija engajar as reservas de poder que lhe restam. Não é apenas por livre opção e convicção idealista que o novo governo se mostra amistoso, conciliador, multilateralista, modesto em deixar a outros o centro do palco. É também porque precisa "fazer da necessidade uma virtude". Esse semivácuo de poder favorece a ressurreição de agrupamentos desejosos de ocupar espaço: G7, G8, G20, Brics etc.

O que todos eles pretendem é contribuir para o que se chama de "governança" do mundo. Não é que o mundo careça de governo ou leis, embora imperfeitas e incipientes. O que seriam o sistema das Nações Unidas, com a ONU propriamente dita, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, a Organização Mundial do Comércio (OMC), os organismos especializados, suas constituições, convenções, tratados?

A questão é que essas organizações são vistas como ingovernáveis, incapazes de tomar decisões efetivas pelo tamanho (a Assembleia Geral da ONU tem 193 membros) ou pelo caráter não representativo de órgãos como o Conselho de Segurança.

Tenta-se assim escapar para grupos menores, supostamente coesos, onde se definiriam consensos a serem convertidos em decisões nas instituições competentes. É como se, diante da disfuncionalidade do nosso Congresso, decidíssemos partir para grupos pequenos de governadores ou partidos poderosos, a fim de resolver impasses na reforma tributária ou previdenciária. Estou vendo daqui o sorriso de ceticismo de nossos leitores. O que ele me diz é que o problema maior não está tanto nos defeitos de desenho e funcionamento do Congresso, apesar de numerosos, mas nas divergências profundas sobre a própria substância das matérias.

O mesmo ocorre na vida internacional. É isso que explica porque viram letra morta os compromissos do G-20 para concluir a Rodada Doha de comércio ou evitar o protecionismo. Ou porque o G7 se desmoralizou após décadas de fiasco em coordenar os mais ricos acerca de medidas para evitar crises econômicas, ajudar a África ou concordar sobre a invasão do Iraque. Não se pense que será diferente com os Brics, unânimes em querer mais poder no FMI, mas não tão harmoniosos em agricultura na OMC, no ingresso da Índia e do Brasil no Conselho de Segurança ou em utilizar o foro para abrir o mercado russo à carne suína do Brasil.

O Leviatã cambaleante

Demétrio Magnoli 

• De Geisel a Lula, o Brasil descreveu um longo círculo de reiteração do patrimonialismo

O Globo

Os jornais separam economia e política em seções distintas. A norma reflete o princípio fundamental da economia de mercado, que traça uma fronteira entre a esfera (pública) do sistema político e a esfera (privada) do sistema econômico. No Brasil, como evidencia uma entrevista do presidente da Braskem publicada no “Estadão” (9/2), a distinção mais confunde que esclarece: o texto está no caderno de Economia, mas é um curso modular sobre a crise política em desenvolvimento.

Módulo 1: capitalismo de estado. A Braskem, maior petroquímica brasileira, tem o estatuto jurídico de empresa privada. Contudo, o segundo maior acionista da empresa é a estatal Petrobras (36%), atrás apenas da controladora, a Odebrecht (38%), cujos negócios dependem fortemente da estatal petrolífera. A teia acionária tem um significado: a indústria de base no Brasil oscila ao sabor de decisões políticas adotadas no Planalto.

Módulo 2: trajetórias do capitalismo de estado. A Odebrecht consolidou-se no Nordeste em 1961, beneficiando-se de vastos subsídios da Sudene, e converteu-se em grande empresa nacional no início da década de 1970, em virtude das relações privilegiadas entre Norberto Odebrecht e o general Ernesto Geisel, então presidente da Petrobras. Um símbolo da aliança foi a construção do edifício-sede da estatal, inaugurado em 1974, ano da ascensão de Geisel ao Planalto.

Módulo 3: modernização do capitalismo de estado. A Odebrecht começou a investir na petroquímica em 1970, mas expandiu seus negócios no setor com o programa de privatizações de FHC e os integrou na Braskem em 2002, ano da eleição presidencial de Lula. Sob o neonacionalismo lulopetista, em 2008, a Petrobras ampliou de 8,1% para 30% sua participação acionária na Braskem, possibilitando a aquisição do Grupo Ipiranga.

Módulo 4: Lula e o capitalismo de estado. A explosão de investimentos do conglomerado petroquímico foi financiado por bilionárias linhas de crédito do BNDES e pela crescente participação acionária do BNDESPar. Entre 2008 e 2013, o BNDES aportou mais de R$ 4,1 bilhões à Braskem. Emílio Odebrecht Jr. revelou-se um cientista político mais arguto que a maioria dos professores universitários da área, explicando que “o presidente Lula não tem nada de esquerda, nunca foi de esquerda”. Em 2011, na inauguração do Itaquerão, construído pela empreiteira, saudou a chegada do ex-presidente com uma sincera exclamação: “Meu chefe!”. Junto com a OAS e a Camargo Corrêa, a Odebrecht arcou com os custos de cerca de metade das viagens de Lula ao exterior entre 2011 e 2013.

Módulo 5: capitalismo de monopólio. A Petrobras figura como principal parceiro comercial da Braskem, fornecendo-lhe seu insumo básico — a nafta, um derivado do petróleo usado na fabricação de gases e resinas plásticas. A Petrobras é fornecedora exclusiva de nafta no país, e a Braskem é compradora exclusiva do produto. Um contrato com prazo de dez anos, firmado em 2009, regula as condições do fornecimento de nafta. O cenário duplamente monopolista indica que a petroquímica nacional está sujeita a um virtual colapso na hipótese de sequências desastrosas de decisões políticas do Planalto.

Módulo 6: populismo lulopetista. No primeiro mandato, Dilma Rousseff decidiu utilizar a Petrobras para corrigir as distorções inflacionárias de sua política econômica, congelando os preços dos combustíveis. A fim de proteger seu caixa, a estatal passou a usar a nafta produzida em suas refinarias na composição da gasolina — e começou a importar o insumo destinado à Braskem. Em 2013, a petroleira anunciou que repassaria à petroquímica os aumentos de custos ligados à importação da nafta, alterando os termos do contrato. A iniciativa gerou um impasse entre os parceiros monopolistas. “Não cabe a nós pagar a conta da política do combustível do governo”, reclama Carlos Fadigas, presidente da Braskem.

Módulo 7: administração de crise e crise de administração. Diante do impasse, os parceiros firmaram um aditivo de seis meses, até agosto de 2014, estendendo as condições do contrato vigente, e depois um outro, que se encerra no fim deste mês, assegurando a entrega do insumo mas deixando o preço em aberto. Algo inédito, a santa aliança do capitalismo de estado lava roupa suja em público. Fadigas: “Estou comprando matéria-prima por um preço que não sei qual é. Temos contratos com preço estabelecido; então, vendo sem saber a margem. É absurdo.”

Módulo 8: o piloto sumiu. A diretoria da Petrobras foi arrastada pela avalanche das investigações do escândalo de corrupção. No lugar de aditivos improvisados, desenhou-se o cenário onírico de um telefone que ninguém atende. Fadigas, sobre a negociação da nafta: “Está muito difícil, por causa da situação da própria Petrobras. Mas hoje, não vou dizer que está difícil porque nem temos um interlocutor na empresa.” Os investimentos já estão congelados, refletindo a incerteza generalizada sobre o futuro próximo. O risco imediato, alerta a Braskem, é a paralisação da maior parte da indústria petroquímica no país devido a uma possível interrupção no fornecimento da nafta.

Módulo 9: a república dos companheiros. O novo presidente da Petrobras acabou de assumir o posto e sua prioridade não é a nafta, mas a fabricação de um balanço auditável. Fadigas peregrinou a Brasília para solicitar uma intervenção salvadora do ministro do Desenvolvimento. Paralelamente, desconfio, Emílio Odebrecht Jr. dispara telefonemas para o “meu chefe!”, que é o chefe de todos, inclusive dos diretores demitidos e presos da Petrobras. Na república dos companheiros, os grandes negócios não são feitos na arena do mercado, mas nos meandros da política subterrânea.

Conclusão do curso: de Geisel a Lula, o Brasil descreveu um longo círculo de reiteração do patrimonialismo. Agora, contudo, o poder não dispõe do escudo protetor da ditadura.

Não é Munique, mas é Viena



Demétrio Magnoli
Folha.com.br
14/02/15

Amanhã, se tudo der certo, cessa o ruído da artilharia no leste da Ucrânia. O acordo de cessar-fogo, assinado em Minsk (Belarus), está sendo descrito em círculos ultranacionalistas ucranianos como o Munique do século 21. Não é Munique 1938, longe disso, mas seu espírito guarda semelhança com Viena 1955. Alemanha e França, os padrinhos do acordo, inclinaram-se à exigência fundamental de Vladimir Putin e aceitaram traçar uma linha vermelha no mapa da Europa Central. A soberania da Ucrânia tem, agora, um limite oficial, sancionado pela União Europeia.

Munique é o nome da traição das potências europeias: o sacrifício da Tchecoslováquia no altar do apaziguamento de Hitler. Putin reproduz um fragmento do discurso hitlerista, vestindo sua razão geopolítica nos trajes elegantes da proteção dos russos étnicos "onde quer que estejam" –mas o paralelo circunscreve-se a isso. A Ucrânia não foi entregue à Grande Rússia: desde a revolução popular da praça Maidan, Kiev tem um governo pró-europeu e visceralmente anti-russo. A chave da interpretação do cessar-fogo é Viena, um modelo mencionado, entre sussurros, em Berlim, Paris e Moscou.

Na Conferência de Potsdam (1945), como a Alemanha, a Áustria foi repartida em quatro zonas de ocupação. Contudo, desviando-se do caminho seguido pelos social-democratas da zona soviética de ocupação no leste alemão, a social-democracia austríaca rejeitou união com os comunistas, um gesto que asseguraria a unidade territorial da Áustria. Em 1955, um tratado firmado em Viena encerrou o regime de ocupação e garantiu a independência austríaca. A moeda de troca, exigida por Moscou, foi a neutralização do país, consagrada constitucionalmente. Durante toda a Guerra Fria, a Áustria permaneceu à margem da Comunidade Europeia. Até hoje, ela não faz parte da OTAN. Putin almeja um estatuto similar para a Ucrânia.

O governo de Kiev sonha com um acordo final de autonomia limitada para o leste ucraniano e o controle sobre a fronteira com a Rússia. Os separatistas sonham com a independência, seguida pela incorporação à Rússia. Putin pretende evitar qualquer uma dessas soluções. Sua estratégia é perenizar a tensão, congelando em estado de latência o conflito no leste ucraniano, nos moldes aplicados à Geórgia. Por essa via, o czar pós-comunista forçaria o desenlace final: uma Ucrânia neutra por força de lei.

Um ano atrás, na praça Maidan, políticos americanos e altas autoridades europeias prometeram o apoio do Ocidente ao exercício soberano da vontade popular. A Ucrânia, disseram a milhões de manifestantes, teria seu lugar no concerto de uma Europa que não mais se move segundo a lógica das esferas de influência. Minsk é a prova de que falar não custa nada. Putin anexou a Crimeia e fabricou uma guerra separatista nas regiões povoadas por russos étnicos no leste ucraniano. Diante das sanções ocidentais, dobrou a aposta, suprindo os rebeldes com armas pesadas e deslocando forças especiais para o outro lado da fronteira. Na sua visão de mundo, Kiev vale muito mais que uma longa recessão.

O repto russo cindiu o Ocidente. Barack Obama evoluiu da hesitação para o umbral da decisão de equipar o exército ucraniano, na crença de que o espectro da escalada militar provocaria o recuo de Putin. Angela Merkel e François Hollande preferiram retroceder antes, traduzindo as intenções americanas como o prelúdio de uma guerra catastrófica. Os líderes europeus engoliram a seco as palavras solenes, pronunciadas até há pouco, sobre as preciosas diferenças entre o nosso tempo e os séculos 19 e 20. Em Minsk, numa noite de garoa gelada, eles ajudaram Putin a desenhar uma linha no mapa separando a Ucrânia da União Europeia.

A neutralidade ucraniana serve a todos –menos ao povo da Ucrânia, que assiste à dissolução de uma expectativa exagerada. 2015 é 1955
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OS QUATRO CAVALEIROS DO APOCALIPSE



(Folha de S. Paulo – 16/12/2014 – Tendências/Debates) 



Como nos filmes, começo este artigo informando que qualquer 
semelhança do que vou escrever com pessoas ou governos é mera 
coincidência. 

Em dois livros meus, “Uma breve teoria do poder” e “A queda dos mitos 
econômicos”, edições esgotadas, procurei mostrar que quem busca o 
Poder, na esmagadora maioria dos casos, pouco está pensando em prestar 
serviços públicos, mas em mandar, usufruir ou beneficiar-se do governo. 
Prestar serviços públicos é um mero efeito colateral, não necessário. Com 
maior ou menor intensidade, tal fenômeno ocorreu em todos os períodos 
históricos e em todos os espaços geográficos. 

É bem verdade que a evolução do Direito e da Democracia, nos dois 
últimos séculos, tem permitido um certo, mas insuficiente, controle do 
exercício do poder pelos quatro cavaleiros do apocalipse - o político, o 
burocrata, o corrupto e o incompetente -, razão pela qual as nações 
encontram-se permanentemente, em crise. A “Utopia” de Moore, a 
“República” de Platão e “A cidade do sol” de Campanella exteriorizam 
ideais para um mundo, em que a natureza humana seria reformada por 
valores que, embora vivenciados por muitos, raramente são encontrados 
nos que exercem o poder. 

O primeiro dos quatro cavaleiros do Apocalipse, o político, na maior parte 
das vezes, para alcançar ascensão na carreira, dedica-se exclusivamente 
à “desconstrução da imagem” dos adversários. Tem razão Carl Schmitt, 
em sua teoria das oposições, ao declarar que o político estuda o choque 
permanente entre o “amigo” e o “inimigo”. Todos os meios são válidos, 
quando o poder é o fim. A ética é virtude descartável, pois dificulta a 
carreira. 

O burocrata, como dizia Alvim Toffler, é um “integrador do poder”. Presta 
concurso público para sua segurança pessoal, porém, mais do que servir 
ao público, serve-se do público para crescer e, quanto mais cria 
problemas para a sociedade, na administração, mais justifica o 
crescimento das estruturas governamentais sustentadas pelos tributos de 
todos os contribuintes. Há países que se tornaram campeões em 
exigências administrativas, as quais atravancam seu desenvolvimento, 


apenas para justificar a permanência desses cidadãos. 

O corrupto é aquele que se beneficia da complexidade da burocracia e da 
disputa política, enriquecendo-se no poder, sob a alegação de 
necessidade de recursos, algumas vezes, para as campanhas políticas e, 
no mais das vezes, “pro domo sua”. Apesar de Montesquieu, ao cuidar da 
tripartição dos poderes, ter dito que o poder deve controlar o poder, 
porque o homem nele não é confiável, quando em todos eles há corruptos, 
o poder não controla a corrupção. 

O inepto, que conforma o quadro da esmagadora maioria dos que estão no 
poder, é aquele que, incapaz do exercício de uma função privada na qual 
teria que competir por espaços, prefere aboletar-se junto aos poderosos. 
São os amigos do rei. Não sem razão, Roberto Campos afirmava que há 
no governo dois tipos de cidadãos, “os incapazes e os capazes de tudo”. 

Quando espocam escândalos de toda a forma, quando a corrupção torna-
se endêmica, quando o processo legislativo torna-se objeto de 
chantagem, quando a mentira é tema permanente dos discursos oficiais, 
quando a incompetência gera estagnação com injustiça social, percebe-se 
que os quatro cavaleiros do Apocalipse estão depredando a sociedade e 
desfigurando a pátria que todos almejam. 

Felizmente, o Brasil é uma nação que desconhece os quatro cavaleiros do 
Apocalipse, pátria em que todos são idealistas e incorruptíveis, razão pela 
qual este artigo é uma mera digressão filosófica. 




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