Economia mundial vai relativamente bem, mas parte das boas notícias implica temores
A economia mundial vai relativamente bem, segundo as projeções mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI). Entretanto os riscos financeiros são crescentes e, guardadas as proporções, começam a se assemelhar aos que redundaram na enorme crise do fim da década passada.
Estima-se alta de 3,9% para o Produto Interno Bruto mundial em 2018 e 2019, um pouco acima (0,2 ponto percentual) do que se calculava em outubro.
De lá para cá, houve importante revisão nas expectativas para a expansão do PIB dos Estados Unidos neste ano (de 2,3% para 2,9%), em grande parte devido às medidas de cortes de impostos e aumento de gastos patrocinados pelo governo do republicano Donald Trump.
Os emergentes também mostram dinâmica positiva. A alta recente dos preços das matérias-primas e a retomada do comércio internacional, a despeito dos riscos de protecionismo, favorecem o crescimento desses países.
Juros amigáveis no mundo rico e ampla disponibilidade de crédito são mencionados pelo FMI como as principais razões para a boa perspectiva de curto prazo. Apenas os EUA estão subindo suas taxas por enquanto, mas em ritmo lento e ainda insuficiente para restringir consumo e investimentos.
Se as indicações do banco central americano se mantiverem, os juros devem chegar a 3% ao ano, nível mais próximo da normalidade, apenas em 2019-20. Na Europa, a taxa básica ainda é nula, e não se espera que suba neste ano.
Na média dos países ricos, apenas em 2021, ou ainda mais adiante, a política monetária deve retornar aos padrões usuais.
Uma parte das boas notícias, porém, implica riscos mais à frente. Como vem caindo a ociosidade nas empresas, e o desemprego, sobretudo nos EUA, se aproxima dos menores patamares da história, a alta do consumo pode provocar pressões inflacionárias —o que anteciparia uma elevação dos juros.
O ímpeto gastador de Trump, aliás, reforça tais temores.
Outro perigo se relaciona aos excessos financeiros. A abundância de dinheiro na praça levou às alturas os preços de ações e títulos de empresas e bancos. Enquanto isso, o endividamento agregado em todos os países equivale a 225% do PIB mundial, 12 pontos percentuais acima do que se observava antes da crise de 2009.
Em suma, a janela favorável da economia mundial continua aberta, o que dá alívio ao Brasil neste momento de incerteza política. Mas não se pode descartar a possibilidade de uma nova crise no próximo quadriênio, o que aumenta a urgência dos ajustes domésticos.
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