sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Poucos que passaram pelo posto de ministro da Justiça 'sobreviveram' ao cargo

ANÁLISE: Brasília será um desafio para o juiz Sérgio Moro
Poucas pessoas que passaram pelo posto de ministro da Justiça podem se orgulhar de ter 'sobrevivido' ao cargo, tamanhas as dificuldades

     Marcelo de Moraes, O Estado de S.Paulo 02 Novembro 2018  

Dezenas de pessoas passaram pelo posto de ministro da Justiça. Poucas podem se orgulhar de ter “sobrevivido” ao cargo, tamanhas as dificuldades. No atual desenho, a pasta acabou sendo esvaziada, mas no governo de Jair Bolsonaro a Justiça voltará a ser um ministério forte, repleto de poderes. E de problemas sem-fim.

É esse desafio que espera por Sérgio Moro, quando sentar na cadeira de ministro, deixando para trás o papel de protagonista no combate à corrupção via Operação Lava Jato. Em Curitiba, o juiz tomou decisões duríssimas, como a condenação à cadeia do ex-presidente Lula. Mas o jogo em Brasília pode ser tão complexo quanto isso.

É importante primeiro saber qual será o tamanho do novo Ministério da Justiça. Se ficar com órgãos de combate à corrupção, como Coaf e CGU, por exemplo, Moro terá afinidade para administrar essas tarefas. Mas o juiz poderá encontrar outros ossos bem mais duros para roer à frente da pasta. Um exemplo do que o seu ministério poderá precisar abraçar: intervenção militar na segurança do Rio; conflitos com a imigração de venezuelanos na fronteira com Roraima; rebeliões em presídios; crescimento do crime organizado; comando da Polícia Federal; conflitos entre trabalhadores sem-terra e agricultores; conflitos indígenas. O que nunca faltou para a Justiça, em Brasília, foi problema.

Moro também traz na bagagem popularidade igual ou até superior à do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Seu status imediato é de superstar do novo governo. E, como se sabe, esse prestígio costuma provocar enorme ciumeira.

Para Bolsonaro, foi um movimento muito positivo conseguir levar para seu governo uma pessoa com tamanho apoio popular. Mas também deixa a relação entre os dois equilibrada em bases frágeis. Se Moro tomar alguma atitude que o presidente eleito não aprove, será criticado publicamente? Será demitido? Como será a reação popular a isso? E se Moro não concordar com algum gesto de Bolsonaro? Vai peitar o chefe? São dúvidas e desafios que Moro terá de enfrentar em Brasília, que está habituada a catapultar para a glória e para o esquecimento carreiras fulgurantes.

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