Editorial / Valor Econômico
O crescimento econômico mundial diminuiu de ritmo; há vários riscos no horizonte, mas não há perspectiva de recessão no horizonte, prevê o Fundo Monetário Internacional. A perspectiva desestabilizadora de um aperto rápido da política monetária nos EUA, e, subsidiariamente, na Europa, deixou de ser uma ameaça iminente. Os desafios parecem ser de outra ordem e mais de longo prazo: a expansão nos países avançados seguirá um ritmo pouco inspirador (1,6% em 2022, por exemplo), com o freio de produtividade baixa e diminuição da força de trabalho com o envelhecimento da população. No curto prazo, após dois semestres de arrefecimento, a economia global se recuperará aos poucos a partir da segunda metade de 2019.
A previsão de expansão do PIB global foi reduzida a 3,3% este ano e 3,6% em 2020. Dois terços da desaceleração, de acordo com o "Perspectivas da Economia Mundial", podem ser atribuídos à performance dos países desenvolvidos, em especial à zona do euro, que deverá crescer 1,3% em 2019. Na ponta contrária, 76% do crescimento esperado será sustentado pelas economias emergentes, que avançarão 4,4% em 2019 e 4,8% no ano que vem, elevação atribuída pelo Fundo basicamente à melhoria da situação difícil em que hoje se encontram países como Argentina e Turquia.
O crescimento será anêmico na América do Sul, de apenas 1,1%, média abalada pelo terrível encolhimento de 25% do PIB da Venezuela, cuja crise não parece ter fim, e nova retração, desta vez de 1,2%, da Argentina. A previsão para o desempenho da economia brasileira caiu para 2,1% este ano e "transferida" para o ano que vem, quando a estimativa foi elevada a 2,5% (mais 0,3 ponto percentual). O FMI avalia positivamente o teto de gastos, mas volta a insistir em uma consolidação fiscal mais rápida, com corte na folha salarial do setor público e, claro, reforma da previdência.
Os técnicos do Fundo são mais otimistas do que o boletim Focus e projetam que a inflação brasileira ficará neste e no próximo ano abaixo do centro da meta - 3,6% e 4,1% respectivamente. Por isso, a política monetária deveria continuar "acomodativa" para estimular a demanda. Além disso, o FMI prega reformas no mercado do crédito direcionado, melhoria da infraestrutura e da eficiência das intermediação financeira, que elevariam a produtividade e o crescimento a médio prazo.
O cenário principal do FMI, se não conta com uma recessão, vislumbra uma acomodação de baixo crescimento, logo sujeita a retrocessos no caso de alguns dos maiores riscos se materializarem. A lista deles é conhecida. O primeiro deles são as tensões comerciais, diante das ações do presidente americano Donald Trump, que ontem abriu nova frente de atritos. Os EUA ameaçam retaliar em US$ 11 bilhões produtos vindos da Europa, devido à condenação pela OMC de subsídios dados à Airbus. Os europeus preparam contra-ataque baseando-se na condenação da OMC a subsídios dados à americana Boeing. O FMI não espera um recrudescimento da escalada dos EUA contra a China, ao contrário, a evolução das negociações sugerem um apaziguamento. Mas com Trump nunca se sabe.
Outros riscos decorrem de situações específicas de países com relevante peso econômico. A China está vencendo o desafio de estabilizar seu crescimento, o que é vital para o crescimento global. A previsão é de que seu PIB cresça 6,3% este ano e 6,1% no próximo. A novela do Brexit ainda pode acabar mal, apesar dos sinais dados ontem por líderes europeus de que ampliarão generosamente os prazos para acordo até que o Reino Unido saiba afinal o que pretende - o que não é certo. As eleições para o Parlamento Europeu poderão mostrar avanços significativos das forças políticas nacionalistas, contrárias à integração. O FMI aponta ainda o risco de uma recuperação forte e muito rápida dos preços do petróleo, que desabaram perto do fim de 2018.
Por enquanto, a perspectiva central do relatório é a de que a inflação nos países desenvolvidos continua preocupantemente abaixo das metas, uma década depois da crise financeira, o que justifica a complacência da política monetária do Fed e do Banco Central Europeu por muito mais tempo ainda. Ao tatear o longo prazo, em que as projeções são muito mais incertas, o FMI vê uma extensão do crescimento moderado recente. A exceção é a Ásia, que manterá taxas de expansão de 6% (e a China, 5,5%). O ritmo dos países emergentes será de 4,8%, o da América Latina, 2,8% e o Brasil ficará ao redor do seu potencial, que oscila entre 2,25% e 2,75%.
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