terça-feira, 13 de agosto de 2013

Ações do documento

Para não perder o 'bonde da História'

O Globo 
 

 

A ideia de "Brasil, país do futuro", título do livro de Stefan Zweig, virou uma espécie de bordão, com o passar do tempo citado de forma irônica diante das dificuldades de se chegar a este futuro. Pelas dimensões e características da colônia - muita matéria-prima, ouro -, a economia do Brasil não demorou a ultrapassar a da metrópole, Portugal. Proclamada a República, o salto para o Primeiro Mundo continuou a ser abortado, o futuro sendo empurrado para a frente, principalmente pela impossibilidade de se estabelecer um pacto político imune ao populismo e a tentações autoritárias. As tentativas de se alcançar esta mudança de patamar costumam esbarrar em inflação e/ou estrangulamento das contas externas.

O país faz mais um esforço de decolagem, iniciado em meados da década de 90, com a estabilização da economia promovida pelo Plano Real, sob governos tucanos. Encontramo-nos no ciclo petista, cuja marca são os avanços sociais, e o grande desafio é não repetir o drama de sempre: inflação e estrangulamento do balanço de pagamentos. As chances de dar certo talvez sejam hoje as melhores da História. Bem ou mal, o Brasil virou um país de renda média - ainda com enormes desigualdades, é verdade -, conta com mais de US$ 300 bilhões de reservas, e a sociedade não aceita mais leniência com a inflação.

As condições para o salto são boas, mas, do ponto de vista demográfico, elas não se repetirão. Será nos próximos 10 a 15 anos ou nunca. É que o Brasil conta, e assim será até próximo de 2025, com uma população de jovens, de 15 a 24 anos, em crescimento constante. A partir de meados da próxima década, ela tenderá a se reduzir.

Começará, então, a se fechar a porta do chamado "bônus demográfico", o fato de a população de 15 a 64 anos ser maior que a de dependentes, idosos e crianças. Este período precisa ser aproveitado para a geração da renda que deverá financiar os imprescindíveis investimentos na estrutura econômica e no capital humano. Segundo o demógrafo José Eustáquio Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence), ouvido pelo GLOBO, esta mutação ocorre no Brasil desde o fim da década de 70. Estamos, portanto, atrasados no resgate deste bônus. Eis por que é crucial melhorar a qualidade dos investimentos - e gastar mais, em alguns casos - em educação, infraestrutura, e saúde. Se os jovens não estiverem minimamente preparados para entrar no mercado de trabalho, não será gerado o excedente de renda para permitir a mudança de status do Brasil.

Há muito o que fazer, não apenas no ensino básico, no qual o ciclo médio é um problema especialmente grave, mas também nos cursos técnicos, para formar uma mão de obra de que o país também é bastante carente. Vai depender do ajuste de foco nos gastos públicos - muito concentrado no custeio da máquina pública, aposentadorias e programas sociais em geral - se o tal futuro chegará de fato para o Brasil. Ou se será perdido o último "bonde da História".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

GEOMAPS


celulares

ClustMaps