VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP
Seja culpa de governo ou não, a frequência de blecautes pede explicação melhor do problema
Desta vez foi uma queimada no interior do Piauí, explicam as autoridades elétricas sobre o apagão de ontem. Parece razoável, embora pareça precipitado explicar tão cedo um problema tão grande.
Pode ser azar mesmo. Mas, dada a recorrência de azares, a gente espera ver um balanço consolidado a respeito dessas improbabilidades. Não necessariamente para malhar o governo.
O sistema de transmissão brasileiro é extenso, em parte bem antigo, foi instalado em lonjuras e não dá para resolver isso tudo rapidamente. Por isso mesmo, e dada a frequência de apagões nos últimos anos, o público mereceria uma explicação: o que está pifado? O que precisa ser consertado? Quanto custa? O que está sendo feito?
A ideia de que tantos blecautes não são normais nem devem ser tolerados com cara alegre é, de resto, compartilhada pelo próprio governo. Recordar é viver. Abaixo, o que autoridades disseram sobre apagões recentes.
"Eventos como esse não são normais e a coincidência, então, é que é mais anormal ainda. Então é isso que está sendo avaliado."
Márcio Zimmermann, então ministro interino de Minas e Energia, 26 de outubro de 2012, sobre o apagão de 25 e 26 de outubro, no Norte e no Nordeste, então o quarto de uma série iniciada em setembro do ano passado.
"Vocês se lembram da história do raio? De que caiu um raio? No dia em que falarem para vocês que caiu um raio, vocês gargalhem.... Raio cai todo dia neste país, a toda hora. O raio não pode desligar o sistema. A nossa briga contra os raios é o seguinte: se desligou, é falha humana."
Dilma Rousseff, sobre explicações oficiais sobre apagões, em 26 de dezembro de 2012, num café da manhã com jornalistas.
"Para o consumidor de energia, uma queda de 3 MW ou de 1.000 MW dá no mesmo. Ele perdeu a luz dele. Ele está sofrendo as consequências. O aparelho dele queimou. Ele sofreu um ônus danado... O setor elétrico tem, tanto no que se refere à distribuição quanto à transmissão, de ser implacável, implacável com a interrupções, de que tamanho for. Porque a gente não pode aceitar conviver com isso." (Idem).
"Focamos a transmissão e a geração porque não tinha e diminuímos o investimento em manutenção, mas não reduzimos a zero, só diminuímos. Agora, vamos fazer as duas coisas, justamente porque temos dinheiro, o que não tinha antes..." (Idem).
"Não teve. Você está confundindo duas coisas, minha filha. Uma coisa é blecaute... Nós trabalhamos com um sistema de transmissão de milhares de quilômetros de rede. Interrupções desse sistema ninguém promete que não vai ter. O que nós prometemos é que não terá neste país mais racionamento. Racionamento é barbeiragem. Por que é barbeiragem? Porque racionamento de oito meses implica que eu, com cinco anos de antecedência, não soube a quantidade de energia que tinha de entrar para abastecer o país. Vocês vêm me dizer hoje que nós estamos nessa situação? De jeito nenhum."
Dilma Rousseff, então ministra-chefe da Casa Civil de Lula, 12 de novembro de 2009, sobre um apagão que afetou 18 Estados entre 10 de novembro e 11 de novembro daquele ano, em resposta a repórter que lembrava a promessa do governo de que não haveria mais apagão no Brasil.
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