GAZETA DO POVO - PR
A cada dois anos, o Ministério da Educação divulga o mais importante indicador da qualidade das escolas brasileiras, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), um dado precioso para orientar as políticas educacionais de estados e municípios. Em 2008, os dados vieram em junho; dois anos depois, em julho; o Ideb seguinte saiu em agosto de 2012 e, neste ano, a promessa era de que não entraríamos em setembro sem que os dados fossem divulgados. No entanto, já se passou quase uma semana do fim do prazo e nem sequer há previsão segura de quando o Ideb será publicado.
O ministro da Educação, Henrique Paim, atribui a demora à burocracia que analisa os dados para conferir a eles o devido grau de segurança. O levantamento já está pronto, já passou pela avaliação do Inep e pode ser divulgado nos próximos dias, afirma o ministro, embora o processo esteja ainda embaraçado em razão de recursos impetrados por escolas de todo o país, alega.
Estaria o Ideb sendo vítima do clássico “o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”? Teriam as notas da educação nacional caído tanto que, politicamente, seria inconveniente divulgar o Ideb neste período pré-eleitoral? Houve quem fizesse ilações sobre o atraso de acordo com esse raciocínio, mas, como não se conhecem os números, é impossível tê-las como verdadeiras neste momento.
O atraso em si mesmo é um mal menor. O mal maior que ele faz é provocar a desorientação dos gestores públicos da educação básica que, desconhecendo o desempenho (bom ou ruim) das escolas situadas em suas jurisdições, não têm tempo para planejar medidas de correção de rumos a implantar já no próximo ano. O mal, portanto, se faz contra toda a educação nacional, condenada à cegueira por falta de diagnóstico precoce.
O Paraná, por exemplo, que em 2012 viu sua posição no ranking nacional cair nos ensinos fundamental e médio em relação ao Ideb de 2010, certamente deve ter tomado medidas para melhorar a situação. Deram resultado as medidas adotadas? Outras correções de rumo precisam ser tomadas? Sem se saber em que média se situam as escolas paranaenses; sem se saber quais são as melhores e as piores; sem se saber onde deram melhor resultado as providências tomadas, veem-se as secretarias estadual e municipais de Educação em dificuldade para planejar os próximos passos.
Independentemente da grave perturbação que causa ao planejamento a demora do Ideb deste ano, não custa lembrar que outros índices importantes para o país também vêm sofrendo ultimamente do mesmo mal. É o caso da Pnad Contínua, a pesquisa domiciliar do IBGE, cuja divulgação foi suspensa em abril por pressão do Planalto – os dados do 4.º trimestre de 2013, por exemplo, indicavam desemprego de 6,2%, bem acima dos 4,3% da Pesquisa Mensal de Emprego. A decisão levou uma das diretoras a pedir exoneração. Depois, o IBGE decidiu seguir em frente com a pesquisa, mas os dados que deveriam ter sido divulgados em 28 de agosto só serão conhecidos em novembro, devido à greve dos servidores do instituto, que durou quase 80 dias e foi encerrada no mês passado – greve, aliás, que, entre outras razões, era uma maneira de resguardar a autonomia do órgão. Mostraria a última Pnad Contínua números desanimadores sobre a economia e o emprego que pudessem ser usados contra o governo neste período de campanha eleitoral?
Adiar ou manipular dados por razões políticas é prática que levaria o Brasil ao mesmo descrédito internacional de sua vizinha Argentina. Oxalá não seja esse o ânimo que move os responsáveis pela divulgação de estatísticas tão importantes para setores como a educação.
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