sábado, 6 de setembro de 2014

Reflexos no IBGE

EDITORIAL FOLHA DE SP



Principal fornecedor de dados e estatísticas sobre o Brasil, o IBGE tem enfrentado dias difíceis. Não é de hoje que se registra no respeitável órgão a insatisfação de funcionários com a escassez de recursos e os indícios de sucateamento do instituto --para nada dizer de apreensões com os sinais de partidarização do serviço público.

Durante dois meses, parte dos servidores entrou em greve para reivindicar valorização salarial, orçamento condizente com as tarefas do órgão, garantia de autonomia técnica e menos interferência governamental no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

O movimento terminou em agosto, mas os problemas continuam. No início desta semana, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, anunciou novo corte de verbas.

O instituto pleiteava R$ 776 milhões para 2015, tendo em vista o preparo de dois levantamentos relevantes: a Contagem da População e o Censo Agropecuário. No entanto, o projeto de lei orçamentária enviado pelo governo ao Congresso prevê apenas R$ 204 milhões.

O valor é pouco superior ao efetivamente chancelado para 2014, após contingenciamento determinado pelo ministério --R$ 193 milhões, o suficiente para o custeio das atividades no período.

De acordo com a presidente do IBGE, Wasmália Bivar, a tesourada provocará o adiamento das pesquisas e trará o risco de perda de qualidade das estimativas anuais, em especial no caso da contagem populacional, feita a cada dez anos.

Projeções menos precisas, embora possam ser corrigidas no futuro, dificultam o planejamento de medidas em áreas importantes, como educação e saúde.

Além disso, podem levar a contestações políticas e judiciais, já que esses dados servem de referência para a distribuição do Fundo de Participação dos Municípios.

As restrições financeiras ao IBGE decorrem de ações equivocadas que levam ao oposto do que pregam seus artífices. A ideia de valorizar o serviço público, sempre presente no discurso de fundo estatista do PT, esbarra no aparelhamento de órgãos, inclusive técnicos, e na falta de investimento.

Num ambiente de estagnação econômica, inflação elevada e descaso com a eficiência do Estado, o governo Dilma Rousseff (PT) vê-se compelido a promover ajustes de todos os tipos para remendar o descontrole de suas contas. A crise do IBGE é somente mais um triste reflexo desse estado de coisas.
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