EDITORIAL O GLOBO
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A política econômica se voltara erroneamente para o estímulo ao consumo, na ilusão que essa era a fórmula mágica para contornar a crise financeira internacional
As taxas básicas de juros foram elevadas para 11% ao ano na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). É um patamar pouco acima do que vigorava (10,75%) quando a presidente Dilma tomou posse em 1º de janeiro de 2011. É pouco provável que os juros recuem até o fim deste ano, pois a inflação continua trilhando por uma trajetória perigosa, quase próxima ao teto (6,5%) da meta estabelecida previamente pelo próprio governo.
Na primeira metade do mandato da presidente Dilma os juros declinaram, mas tiveram de voltar a subir no ano passado devido aos desequilíbrios provocados por equívocos da política econômica. O governo Dilma não poderá então, nas eleições de outubro, colher dividendos políticos dessa trajetória dos juros. Ao contrário, é bem possível que seus adversários explorem tal trajetória, comparando-a a uma confissão de fracasso.
No entanto, o governo teria mais a perder se tentasse influenciar o Banco Central na tomada de decisões sobre os juros. A percepção de perda de poder aquisitivo se evidencia quando a inflação se acelera e o risco que isso possa ocorrer se mantém. Sem possibilidade de continuar recorrendo a artificialismos, como o “congelamento” de tarifas de transportes ou dos preços da energia elétrica e de combustíveis, só resta agora ao governo deixar que o Banco Central execute sua tarefa de combater a inflação com os instrumentos que dispõe (entre os quais a taxa de juros é um dos mais poderosos).
A economia brasileira não estaria submetida a uma pressão tão forte da inflação — e a presidente Dilma poderia estar tirando proveito político e eleitoral desse quadro — se o governo tivesse dado contribuição mais efetiva, retirando lenha da fogueira que alimenta a alta dos preços. Essa contribuição teria de vir de uma política fiscal mais responsável. No entanto, o governo se viu seduzido pela tese que a economia brasileira daria “lição” ao mundo, passando incólume pela crise financeira internacional. A ilusão de que havia descoberto uma fórmula mágica para contornar a crise, reforçando a demanda doméstica, fez com que o governo incentivasse mais o consumo, quando o momento indicava que a política econômica deveria ser redirecionada para investimentos.
A política de estimulo ao consumo comprometeu o equilíbrio das finanças públicas, conquistado a duras penas, e não deu os resultados esperados. O crescimento econômico permaneceu anêmico e a inflação não deu sinal de recuo. A imagem da economia ficou abalada, culminando com o rebaixamento do seu conceito na avaliação de risco.
Reverter esse cenário exigirá tempo e persistência, virtude que não é habitual na política em ano eleitoral. E, pior: compromete o desempenho econômico do país em 2015.
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