sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Da marola ao maremoto

Da marola ao maremoto do PT
Se algo sobrou depois do PT, foi porque faltou tempo para devastação mais completa

O Estado de S.Paulo - 05 Outubro 2018  

Há uma década o mundo financeiro começou a ruir nos países avançados e a economia global afundou na maior crise desde os anos 1930, mas o Brasil absorveu o choque sem grandes perdas. O País dispunha de contas públicas administráveis, bom volume de reservas cambiais e câmbio flutuante. Eram atributos dos países menos afetados pela turbulência nos mercados, segundo avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI). Além disso, o sistema financeiro nacional estava entre os mais bem regulados do mundo. Os bancos brasileiros estavam menos expostos que os americanos e europeus a operações de altíssimo risco. O Banco Central (BC) interveio com rapidez, quando foi necessária alguma ajuda, e isso também foi importante. Como efeito do primeiro choque, em 2009 o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro encolheu 0,1%. Em 2010, o abalo estava superado e a economia cresceu 7,5%. Passado um decênio, o País continua com um sistema financeiro sólido, mantém reservas em torno de US$ 380 bilhões e suas contas externas estão saudáveis. Mas a irresponsabilidade política estraçalhou as contas públicas.

O Orçamento federal de 2018 será fechado sem estouro dos limites legais. Mas o novo presidente só poderá executar um plano de governo se cuidar, antes de mais nada, de ajustes e reformas. A devastação fiscal, um dos principais legados do petismo, resultou de trapalhadas e desmandos cometidos a partir do segundo mandato de Lula da Silva. Com poder consolidado, ele podia terminar a encenação de seriedade.

A crise financeira estourou perto da metade desse mandato. A quebradeira dos bancos, evidente no segundo semestre de 2008, dominou a reunião anual do FMI. O Brasil ainda cresceu 5,1% nesse ano. O impacto da turbulência internacional foi mais sentido no começo de 2009, quando o governo brasileiro começou a executar ações contra a crise.

A estratégia incluiu o Programa de Sustentação do Investimento (PSI). O Executivo deveria transferir dinheiro do Tesouro para reforçar a atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Sendo uma ação anticrise, o programa deveria ser encerrado em poucos meses, talvez em um ano, quando a economia estivesse em recuperação. Num governo sério isso poderia ter ocorrido.

Embora o PIB tenha crescido 7,5% em 2010, o PSI foi mantido por muitos anos e ainda vigorava quando a presidente Dilma Rousseff, acusada de violar gravemente as normas fiscais, foi destituída. Desde sua implantação, o PSI beneficiou principalmente grandes empresas, capazes de buscar dinheiro no mercado. Pouco favoreceu o fortalecimento do sistema produtivo e o crescimento. Por esse canal, o governo passou cerca de meio trilhão de reais ao BNDES. Para isso o Tesouro teve de se endividar.

Como o PSI, a maior parte do apoio oferecido a empresas beneficiou grupos selecionados e alguns grandes setores, numa distribuição política de mimos tributários e financeiros. Usado com seriedade, esse dinheirão deveria ter tornado as empresas mais produtivas, mais inovadoras e mais competitivas. Os números do IBGE mostram a realidade: já no meio do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff a indústria fraquejou e o País entrou na ladeira da recessão.

O PSI, os favores fiscais e financeiros, os subsídios improdutivos e a enorme incompetência administrativa do governo esburacaram as contas oficiais, aumentaram desastrosamente a dívida pública e derrubaram o Brasil, nas classificações de crédito, para o grau especulativo. No mundo todo o endividamento cresceu. Segundo o FMI, a mediana da dívida dos países pesquisados passou de 36% do PIB antes da crise para 52%, proporção atual. Mas, pelo critério do FMI, a relação dívida/PIB, no caso brasileiro, já superou 80% em 2017.

Como havia dito o presidente Lula, em 2009 o maremoto financeiro chegou ao Brasil como marola. Poucos anos depois, o Brasil do PT seria assolado por uma catástrofe muito maior. Se algo sobrou, foi porque faltou tempo para uma devastação mais completa.

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