Editorial | O Globo
Desempenho pífio de estudantes no Saeb impõe a futuros governos desafio de melhorar a educação
Desastre, falência, fundo do poço. Estas palavras foram usadas pelo ministro da Educação, Rossieli Soares, para descrever os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), divulgados quinta-feira pelo MEC.
Difícil discordar do diagnóstico do ministro, o segundo a ocupar a pasta no breve governo de Michel Temer e o quinto desde a eleição de Dilma Rousseff, há apenas quatro anos. De fato, o fracasso é superlativo. Sete em cada dez alunos que estão no último ano do ensino médio têm nível insuficiente em português e matemática. Significa que eles não conseguem realizar tarefas simples, como localizar informações em reportagens, crônicas e artigos. Ou são incapazes de resolver problemas usando a proporcionalidade ou o princípio multiplicativo.
Em português, apenas 1,6% está em nível “adequado”. E, em matemática, são só 4,52%. Na verdade, o poço é um pouco mais fundo. Os números mostram que o desempenho dos estudantes está estagnado desde 2009, com preocupante viés de queda. No ensino médio, considerando avaliações de português, o cenário piorou em 12 dos 27 estados.
Em matemática, sete unidades apresentaram resultados inferiores aos de 2015. O Rio de Janeiro, segundo PIB da Federação, é um capítulo à parte nessa debacle. No ano passado, o desempenho dos estudantes fluminenses em português foi pior que o de 2015. Na prova de matemática, houve um crescimento de 2,8 pontos, porém abaixo da média nacional (3 pontos).
No ensino fundamental, embora os números do país não sejam tão dramáticos, também não podem ser considerados satisfatórios. Dos alunos do 9º ano, 60,51% têm nível insuficiente em português, e 63,11% em matemática. No 5º ano, 39,32 % são considerados insuficientes em português, e 33,12% em matemática. Governo após governo, palavras não faltam para traduzir a ruína do ensino brasileiro. Mas, a quatro meses do fim dos atuais mandatos, mudanças nesse quadro parecem cada vez menos prováveis. Até porque exigem vontade política, investimentos e medidas de longo prazo.
Todo mundo sabe que país algum consegue se desenvolver sem melhorar a qualidade de seu ensino. Estão aí os exemplos dos “tigres asiáticos”. No Brasil, nas últimas décadas, houve alguns avanços, especialmente no aumento do número de matrículas, mas a qualidade da educação, como mostra o último Saeb, ainda está muito longe do desejável. Portanto, candidatos à Presidência, aos governos estaduais e às Casas Legislativas precisam se comprometer de forma clara com um programa para os ensinos fundamental e médio que permita mudar esse quadro nos próximos quatro anos. Construir escolas e implantar redes de fibra ótica é só um paliativo.
O essencial é como e quais serão os padrões de eficiência para mudar esse cenário dantesco. É hora de buscar outras palavras para descrever a situação do ensino brasileiro.
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