Editorial | Valor Econômico
A educação segue claudicante no Brasil, com reflexos inevitáveis na desigualdade social e na competitividade da economia. Os resultados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2017, divulgados na semana passada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), anteciparam o que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) confirmou ontem: o desempenho preocupante dos estudantes do ensino médio, apesar da ligeira melhora nos anos iniciais do fundamental. Se for considerado apenas o desempenho dos estudantes das escolas públicas, a conclusão é ainda pior. Os números revelam que o ensino médio está praticamente estagnado desde 2009, um "desastre", nas palavras do ministro da Educação, Rossieli Soares.
De acordo com o Inep, 70,6% dos estudantes do ensino médio apresentaram aprendizagem "insuficiente" em língua portuguesa e 71,67% em matemática. No caso do português, isso significa que não conseguem localizar informações explícitas em reportagens, crônicas e artigos ou reconhecer a relação de causa e consequência em piadas e trechos de romance. A insuficiência na matemática fica evidente na incapacidade para realizar contas de multiplicação. Somente 1,62% dos estudantes atingiram nível "adequado" em língua portuguesa, e 4,52% em matemática.
No ensino fundamental, os melhores resultados foram obtidos nos primeiros anos. No quinto ano, os estudantes obtiveram nível 4 de proficiência média, em uma escala que vai até nove no caso da língua portuguesa e até dez no de matemática. Nos anos finais os avanços são menores. No nono ano, os estudantes obtiveram nível três nas duas áreas, considerado insuficiente pelo próprio Ministério da Educação. Quando se excluem as escolas privadas, há uma piora: o desempenho de português cai 1,22 ponto, e o de matemática, 0,4 (Valor 31/8).
Os resultados levantados no Saeb anteciparam, de certa forma, o Ideb, indicador que inclui ainda as taxas de aprovação, reprovação e abandono apuradas no Censo Escolar. O índice do ensino médio subiu pela primeira vez depois de três edições, de 3,7 para 3,8, ainda assim quase um ponto abaixo do nível esperado, de 4,7 e puxado pela rede privada, que marcou 5,8 pontos, mas também inferior à meta de 6,7. O cumprimento das metas no ensino médio vem declinando desde 2009. Nos anos iniciais do ensino fundamental, o Ideb ficou em 5,8 em 2017, acima da meta de 5,5 e da nota de 5,3 em 2015; já nos anos finais ficou abaixo da meta de 5, com a nota de 4,7 pontos, ligeiramente acima dos 4,5 pontos da avaliação anterior.
Para uma comparação, os melhores alunos brasileiros conseguem nota 6 no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Isso dá uma boa ideia do impacto de resultados ruins na educação sobre a competitividade da economia brasileira. O economista Nilson Teixeira escreveu no Valor (22/8) que estudo do Banco Mundial aponta que, no ritmo atual, os adolescentes de 15 anos alcançarão a habilidade média atual em matemática e idioma de estudantes dos países desenvolvidos em, respectivamente, 75 e 260 anos.
O Ministério da Educação espera que o fato de ter incluído a partir de agora todas as escolas públicas do ensino médio na avaliação do Ideb dará condições de identificar os problemas. Fala ainda da necessidade de se melhorar a formação dos professores. O recente Ideb revelou que apenas 65,2% dos professores de língua portuguesa e 55% dos de matemática têm formação adequada às disciplinas que ministram.
Como lembra Nilson Teixeira, dinheiro não é problema. Estudo da Secretaria do Tesouro Nacional intitulado, "Aspectos Fiscais da Educação no Brasil", informa que o Brasil investe o equivalente a 6% do PIB na educação, valor superior aos 5,5% da média dos países da OCDE - 5,5% e de nações como Argentina (5,3% do PIB), Colômbia (4,7%), Chile (4,8%), México (5,3%) e Estados Unidos (5,4%).
Ainda de acordo com esse estudo, os gastos com educação aumentaram 91% acima da inflação entre 2008 e 2016. Mas o dinheiro pode estar indo para os destinos errados. No ano passado, gastou-se com a educação superior mais do que o dobro do destinado à educação básica, que apresenta as maiores deficiências. Despesas com o Fies, hospitais universitários e funcionários do Ministério são itens importantes na lista de gastos. Portanto, elementos para se diagnosticar o problema existem; falta pôr mão à massa para resolvê-los.
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