domingo, 7 de junho de 2020

O luar do Curupira



Esta é uma breve reflexão sobre nossa condição social e econômica. Ela correlaciona a pobreza nas ruas das grandes cidades com a falta de oportunidades que furta do cidadão o acesso à educação e á formação técnica que lhe permitiriam trabalho regular e uma vida digna para si e seus familiares.

Quando nos deparamos com pessoas perambulando, por vezes tarde da noite sob o “luar de Curupira”, entre os carros parados na rua aguardando a luz verde no semáforo querendo limpar o para-brisas do carro, uma sensação de desconforto precede a de apreensão: Em plena luz do dia e nos sentimos potenciais vítimas da violência urbana.

Por que, então existe a violência urbana? Ou melhor: Por que, então, eles estão ali? Porque a maioria não consegue estar ocupada por um emprego regular. E por que isto acontece? Dentre muitos motivos é que toda e qualquer cidade tem uma capacidade máxima de ocupação de postos de trabalho em função de mercado.

Por que, então, não se amplia este mercado? Um dos motivos é a carga tributária, ou seja, os impostos retirados das transações financeiras que, no caso da maioria das cidades brasileiras, é muito alta.

Por que, então, saem os impostos desta forma? Porque o Estado perdeu a capacidade de investir na produção e nos meios que possibilitam a produção: a infraestrutura crítica. Por que isto acontece? Porque, nas três últimas décadas, o Estado tem investido demais em bem-estar social e consumo e muito menos no incentivo à produção. Esta redução mais um considerável elenco de impostos nas três esferas do poder (municipal, estadual e federal) diminui o dinheiro circulante.

Aqueles recursos restritos impede uma melhor capacidade de compra de bens e serviços diminuindo, assim, a oferta de empregos, de criação de postos de trabalho, o que arremessa o homem a andar pelas ruas a fim de conseguir dinheiro para levar para casa e alimentar sua família.

Olhando por outro lado, este homem desocupado, via de regra veio de uma cidade do interior. Por que ele saiu de lá? Porque lá ele também não tinha qualquer condição de conseguir um trabalho.

Quais são os motivos comuns para esta emigração de suas raízes geográficas e concentração e “sufocamento” demográfico nas grandes cidades e capitais? Ele não consegue trabalho porque não consegue se educar. Isto pode ocorrer porque ele não conseguiu ter uma boa nutrição ao longo de sua vida, ou porque não conseguiu ter um bom acompanhamento de sua saúde, ou mesmo porque não teve a oportunidade de ter um bom ensino. E por que isto acontece? Porque até mesmo seus eventuais professores, profissionais de saúde e outros não tiveram uma chance de se capacitar de forma adequada pelos mesmos motivos acima.

O que, então, é necessário para que eles tenham tudo isto e não venham a abandonar suas regiões e se fixarem nos bolsões marginais das grandes cidades ficando desempregados e, eventualmente, ameaçando as pessoas?

Duas são as causas básicas.
Se houver o fornecimento de energia elétrica regular e de qualidade as escolas funcionam, os hospitais podem fornecer um tratamento de saúde adequado e se a energia elétrica for confiável, até cirurgias complexas podem ser realizadas sem remover o indivíduo para uma grande cidade. A energia também permite um expressivo aumento de produção de bens e de serviços que podem gerar postos de trabalho e reter o homem em sua região evitando que ele imigre para regiões mais pobres dos grandes centros.

Mas a energia elétrica, estável e de qualidade requer meios e vias de circulação sustentáveis inclusive em tempos de seca e de chuva. Assim, estradas, ferrovias, pontes, eclusas e todos os meios de circulação permitem a circulação de cargas e serviços em carretas, caminhões, ônibus e trens. Enfim, promove e permite uma segura e confiável mobilidade urbana e rural.

E porque não temos isto? Por causa dos modelos de desenvolvimento escolhidos após o governo ao longo das três últimas décadas. Ocorre que não é só culpa dos presidentes da República mas, também, todos os 26 governadores e 5565 prefeitos. Também, fundamentalmente, por causa dos movimentos e ONG, nacionais e internacionais em favor da preservação do meio-ambiente.

Assim, energia elétrica depende de meios de circulação, que juntos possibilitam a construção de casas e a geração de empregos. Todavia, energia, estradas e moradias, infelizmente, são construídos retirando-se seus insumos do meio-ambiente.

Desta forma, esta simples digressão é um convite à reflexão.

Olhando-se o mapa de concentração demográfica, obtida em apresentações de órgãos governamentais, vê-se que a atividade econômica se viabiliza próximo ao litoral. Quanto mais se desloca para o interior do país aumentam os índices de dificuldade à produção de bens e de serviços que poderiam promover o desenvolvimento por intermédio da criação regular e sustentável de postos de trabalho elevando a capacidade produtiva das famílias ao mesmo tempo que amplia a disponibilidade arrecadatória das prefeituras.

Assim, de forma muito pragmática, quase matemática, digo que não seremos a quinta economia em 2022, sequer reduziremos a pobreza aos níveis do primeiro mundo até 2025. Acordos celebrados por governos anteriores comprometeram-se, em nome da sociedade brasileira, baixou um decreto reduzindo as emissões de CO2 em 38% até 2020. Ou se preocupa com a segurança, promoção de emprego e com o desenvolvimento ou com o meio-ambiente.

Assim quando vocês se depararem com um desempregado, tarde da noite, sob o luar de Curupira tentando "defender o dele" ao aproximando de seu carro em uma esquina. pensem nisto tudo.

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