sábado, 30 de março de 2013

"Jagunsso" fluminense



Reflexões sobre a síndrome da indigência intelectual assumida

Um hábito que não abro mão, sempre que possível, é de dar uma ligeira volta no centro de Nova Iguaçú RJ e, no percurso, tomar um caldo de cana com um pastel de queijo. Faz-me lembrar de minha infância com o dinheiro contado na unha, interado no "choro" após a meia-entrada no cinema com a data da carteirinha de estudante já carcomida e os pelos no rosto denunciando um bigodinho safado mas que dava um "quê" de adulto. Tempos muito bons, saudades.

Enfim, após vencer os buracos da rua até o ponto do ônibus deparo-me com alguns passando direto, com vários lugares vazios, mas deixando a nós, quatro passageiros, a pé. A empresa deve estar rica para dispensar passageiros ou anda com crise de identidade, pois penso que qualquer ser que respira sabe a finalidade deles para conosco, enfim...Reparei em quase todos o "Boas Festas" no letreiro luminos intercalado com o destino final Nova Iguaçu. Isto mesmo, "Boas Festas" quase em abril. O que dizer dos funcionários "absolutamente motivados" deixando um detalhe merreca passar despercebido. Bem, era bem "novaiguaçuíno" este detalhe (no ofense!!).

Fiz questão de descer no túnel abaixo da estação de trem e deparar-me com o indelével e inexorável fedor de peido, mais cigarro e, eventualmente, xixi seco nas paredes, feitos por cidadãos notívagos quando sem ninguém por perto. Lá dentro desviando-me de camelôs que, inacreditavelmente, passam o dia imersos naquela pocilga, consigo passar em um fino espaço de chão com medo de pisar nos dvds piratas. Ah! E lixo por toda parte.

Emergi do outro lado, na avenida com vários ônibus parados tomando a visão da rua. Comércio ambulante por toda parte, aliás, tinha calçadas no meio do comércio. E mais lixo nas ruas. Imagino como deve ser o lamentar dessas pessoas ao "perderem tudo que tinham" por morar em lugar de perigo por "não ter mais nada a não ser lá morar", via de regra em alguma encosta pronta para deslisar junto com a lama e enchurrada e boiar devido aos bueiros lotados de lixo que alguém, nunca eles, entupiram, colocando-se, claro, a culpa na corrupção dos políticos que ele mesmo elege.

Enfim, hoje estava cansado de elucubrações, já estava esgotado com a querela dos repasses infindáveis do repúdio ao deputado-pastor principalmente ao constatar, em loco e nas narinas, o descaso da própria sociedade. Mais ainda por ter visto na televisão uma manifestação teatral em uma das comunidades pacificadas pelas UPP. Os atores, sempre com cara de "esclarecidos tudaver" explicavam ser uma encenação de Canudos BA onde e quando, por comparação (talvez somente na cabeça deles e outros apedeutas) a força policial agiu de forma covarde e truculenta com Antônio Conselheiro e seus seguidores esfomeados. É a tônica de sempre, a desqualificação do Estado agindo para exercer o seu papel de garantia de lei e da ordem. Não dá nem é objetivo dessas breves linhas relembrar o que Canudos foi e representou em nossa História.

Após minha apetitosa e suculenta dobradinha caldo-pastel prossegui atrás de meu primeiro objetivo, um boiller. Note-se, conheci como boiller mas nem pensar em prosseguir com o nome após a terceira loja, mesmo esmerando-me na mímica do objetivo do aparato mediante de olhares tipo "rolha" de lojistas que procuravam disfarçar o aborrecimento. Uma loja mais adiante mudei de tática: mergulhão, eu disse, lembrara-me ter ouvido este nome. Novamente, nada de positivo. Aí apelei para "resistência igual a de chuveiro para aquecer aguá na panela". Piorou, estava quase jogando a toalha. Só prossegui pela enorme vontade de sorver meu chá, no hotel no fim do dia após uma exaustiva jornada. Valia a pena prosseguir. Até que uma jovem, atendente, com um shortinho beeeem lá dentro (pensei, por um momento, ter entrado em uma loja de materiais eróticos, mas era uma loja de descartáveis. Eu não sei se ela já saiu de casa para engajar combate após o trabalho, enfim, nestes tempos convém não elocubrar, muito menos perguntar.) Aqui a gente chama de "rabo quente"!! Disse-me ela sacando o celular (aliás, como se vê celular caro na mão dessa turma, afinal, são 136 milhões de linhas em uma população de 195 milhões) Nossa, nada poderia ser mais apropriado, um aparato elétrico com um apelido sugerindo lascividade, dito por uma lojista vestida para o combate notívago. Seria só em Nova Iguaçú? Pode ser perseguição, deixa pra lá, estava muito feliz em seguir o caminho indicado em uma galeria de evacuação perigosa em caso de incêndio, aliás, em New Higuáçú tem aos montes.

Feliz com meu aparato, de fios brancos duvidando da qualidade do produto, segui para volta. Eis que deparo-me com uma cena inusitada. Não só pelo infernal calor iguaçuano como também pelo motivo, pelo público enfim, por tudo. Um jovem rapaz estava coberto de gaze barata com gesso da pior qualidade. Tudo pintado de amarelo pálido, até o chapéu de jagunço e um bacamarte -muito mal feito, diga-se de passagem- também pintado da mesma cor. Não entendi o motivo da cor, todavia o chapéu denunciou o motivo artístico.

Muita coincidência. Já havia visto a questão de Canudos-UPP, a notícia de uma programação na globonews sugerindo ligações entre Padre Cícero e o facínora Lampeão que o governo petista quer recobrar a memória como herói, ao financiar um caro projeto dirigido por sua neta em resgate de singela e exemplar união com Maria Bonita. Só mesmo em país de pouca leitura isso vai adiante. 

Enfim, voltemos ao jovem ator esvaindo-se em suor e melado de gaze com gesso. Devia estar fedendo muito. Mas o motivo da atenção de poucas pessoas era outro: Não estavam entendendo o que o ator "defendendo o dele" queria sugerir. Enfim, o mais paradoxal, prosaico e, sobretudo, pitoresco, veio logo a seguir. O ator teve a grande sacada de descer do tijolo (também na mesma cor para consolidar o todo de gosto duvidoso), pegou um pedaço de papelão, escreveu em letras garrafais (tipo "pet") "LAPIÃO". Isto mesmo, não errei: LAPIÃO!!

Fiquei atônito e, logo logo, perplexo, porque neste momento as pessoas se aproximaram e algumas moedas caíram sua caixa de papelão. O misto de decepção, raiva e desolação arrebatou minha atenção. Então, ao saberem que era apologia a um bandido, os populares foram lá incentivar e aplaudir. É o fim da picada. Lembrei-me de Jamestown, na Virgínia USA, onde os moradores, até hoje, representam os heróis verdadeiros do passado americano, os first settlers, os colonizadores da Nação. Aqui fazemos apologia a bandidos. Como não temos Che Guevara, vamos de Lampião, ainda mais que em dois anos deverá, ao lado de Mariguela, terrorista urbano ícone de membros do Conselho de Direitos Humanos. A nossa eterna e contumaz idiossincrasia morena de Pindorama: Cultuar bandidos como heróis>

Nossa sociedade vem primando em escolher o caminho de involução cultural mediante contumaz patrocínio da esquerda que habita o poder nos últimos vinte e cinco anos. Estamos apagando, inexoravelmente, nosso passado. Minhas filhas já não terão nenhum referencial social digno de se seguir, nossa educação está contaminda por ideologia. O nível de indigência intelectual e cultural em nossa sociedade parece não ter volta, não temos o que ter esperança, infelizmente.

Enfim, deparei-me institivamente olhando para ele e negando o que via com sutis movimentos de cabeça. Foi o momento que nossos olhares se cruzaram, posso jurar que percebi, também nele, algo de arrependimento. Bem, nada mais restava-me para lá ficar. Abandonei o local triste, quando não desolado. Mais adiante voltei-me para conferir a lamentável ocasião e notei que ele continuava a me olhar, ainda que distante. Acredito que algo na consciência dele deva ter lhe incomodado. Pelo menos esta tênue reflexão é uma esperança.
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