terça-feira, 30 de abril de 2013

O risco bolivariano

Eu não conheço este economista, mas quem me acompanha, com regularidade, já me ouviu falando muitas das coisas que ele abaixo ressalta.

Em uma sociedade de pouca leitura e muita preguiça intelectual, eles proliferam, sem dúvidas.

"Países que já sofreram na pele com esse regime não querem mais saber de partidos ostentando tal ideologia. A Hungria, seguindo outros países do Leste Europeu, acaba de vetar símbolos nazistas e comunistas. "

[...] "os socialistas tentam destruir a democracia de dentro, ruindo seus pilares, mas mantendo as aparências. Eles aparelham toda a máquina estatal, infiltram-se em todos os lugares, e partem para uma verdadeira revolução cultural, sustentada pelo relativismo moral exacerbado.

[...] Chega a ser cômico ver o deputado Jean Wyllys usando boina no estilo Che Guevara, um facínora que achava que os gays tinham de ser "curados" em campo de trabalho forçado.





O risco bolivariano

RODRIGO CONSTANTINO
O GLOBO


Com petistas, todo cuidado é pouco. O país assistiu, nos últimos dias, a uma tentativa escancarada de ataque à democracia. Enquanto artistas da esquerda caviar protestavam contra o pastor Feliciano, dando beijos uns nos outros, os "mensaleiros" da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) tentavam usurpar o poder do STF à surdina. Montesquieu ficaria horrorizado com tanto descaso à divisão entre os poderes.

A autoria da proposta de emenda constitucional aprovada é de Nazareno Fonteles, deputado petista pelo Piauí. Não é sua primeira proposta absurda. Em 2004, ele apresentou um projeto de lei complementar que estabeleceria uma "poupança fraterna". Puro eufemismo: tratava-se de uma medida avançada rumo ao socialismo.

O artigo primeiro dizia: "Fica criado o Limite Máximo de Consumo, valor máximo que cada pessoa física residente no País poderá utilizar, mensalmente, para custear sua vida e as de seus dependentes." Acima desse valor arbitrário definido pelo governo, a renda seria confiscada para essa poupança compulsória coletiva. Uma bizarrice que nos remete ao modelo cubano.

É realmente espantoso que, em pleno século 21, ainda tenhamos que combater uma ideologia tão nefasta quanto o socialismo, que deixou um rastro de escravidão, morte e miséria por onde passou. Mas uma ala petista, com outros partidos da esquerda radical, ainda sonha com essa utopia assassina. Tanto que chegaram a assinar carta de apoio ao ditador coreano!

São os nossos "bolivarianos", que se inspiram no falecido Hugo Chávez, cujo "socialismo do século 21"é exatamente igual ao do século 20. Vide a militarização crescente imposta por Maduro, o herdeiro do caudilho venezuelano, assim como a inflação fora de controle e o aumento da violência. Socialismo sempre estará associado ao caos social e à opressão.

Países que já sofreram na pele com esse regime não querem mais saber de partidos ostentando tal ideologia. A Hungria, seguindo outros países do Leste Europeu, acaba de vetar símbolos nazistas e comunistas. Não há por que proibir a suástica e permitir a foice com o martelo. Ambos representam regimes assassinos, totalitários, antidemocráticos.

Se o socialismo é o mesmo de sempre, a tática para chegar a ele mudou. Hoje, os socialistas tentam destruir a democracia de dentro, ruindo seus pilares, mas mantendo as aparências. Eles aparelham toda a máquina estatal, infiltram-se em todos os lugares, e partem para uma verdadeira revolução cultural, sustentada pelo relativismo moral exacerbado.

Não existem mais valores objetivos, ninguém pode julgar nada, vale tudo, e quem discorda sofre de preconceito e é moralista. Com essa agenda politicamente correta, os socialistas modernos vão impondo uma mentalidade fascista que, em nome da "tolerância" e da "diversidade", não tolera divergência alguma.

Triste é ver que alguns homossexuais aderem a esse movimento, ignorando que o socialismo sempre perseguiu os gays. Chega a ser cômico ver o deputado Jean Wyllys usando boina no estilo Che Guevara, um facínora que achava que os gays tinham de ser "curados" em campo de trabalho forçado.

Como não temos uma oposição política organizada que valha o nome, resta como obstáculo a esse golpe bolivariano basicamente a força de quatro instituições: família, igreja, imprensa e Judiciário. Não por acaso são esses os principais alvos dos golpistas. Eles sempre menosprezam o núcleo familiar tradicional, atacam ou se infiltram nas igrejas (vide a Teologia da Libertação ou a própria CNBB), insistem no "controle social" da imprensa, e desejam diluir o poder do Ministério Público e do STF.

Há até mesmo uns dois ali que mais parecem petistas disfarçados de ministros. Não é exclusividade latino-americana tentar ir por esse caminho. Roosevelt tentou expandir a quantidade de ministros da Suprema Corte para diluir a oposição ao seu "New Deal", claramente inconstitucional. Mas as instituições americanas são mais resistentes e suportaram o golpe. Na América Latina, infelizmente, há terreno mais fértil para populistas autoritários.

Nesse ambiente, os defensores da liberdade e da democracia não podem cochilar jamais. É preciso tomar cuidado com as cortinas de fumaça criadas para esconder o jogo sujo dos bastidores. Foi marcante, por exemplo, a discrepância entre a reação histérica ao pastor Feliciano, e a postura negligente com os "mensaleiros" na CCJ. Estranhas prioridades.

Nossa liberdade corre sério perigo, e seus principais inimigos são os jacobinos disfarçados de democratas. Acorda, Brasil!

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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Basta trabalhar na madrugada


CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O GLOBO


Pode-se dizer que o último final de semana foi histórico. Pela primeira vez, os portos do Rio, de Santos e de Vitória funcionaram o tempo todo, de sexta à noite até a manhãzinha de segunda. Quer dizer, não exatamente os portos, que sempre estiveram lá, prontos, mas os órgãos federais que controlam e fiscalizam o embarque e o desembarque de mercadorias.

Pois é isso mesmo que o leitor está pensando: esses órgãos só funcionavam no horário comercial, de segunda a sexta, das 8 às 17h, em dias úteis, claro. Mais ainda: pelo menos desde 2010, o governo estudava a implantação da regra de funcionamento ininterrupto. Havia muitas objeções - alegavam desde carência de funcionários até falta de demanda nos horários, digamos, não comerciais, como se os portos estivessem às moscas.

A medida parecia tão difícil que parlamentares chegaram a incluir a regra das 24 horas na Medida Provisória dos Portos, em tramitação no Congresso. Tinha que ser lei.

De repente, como que por milagre administrativo, a Secretaria dos Portos simplesmente determinou que os órgãos federais daqueles três portos entrariam no regime 24 horas. Em maio, outros cinco portos serão incluídos no programa.

O próprio governo federal fez alarde da novidade, um tiro no Custo Brasil com investimento zero. Lógico: com os mesmos equipamentos, os portos passam a funcionar mais 123 horas por semana. Antes, eram 45 horas, nove vezes cinco dias úteis, menos o horário de almoço, claro.

Como é que se demorou tanto para fazer uma coisa tão óbvia, tão simples e tão útil?

Mas não se animem muito. Em aeroportos, alfândegas e postos de fronteira, órgãos públicos continuam no velho horário. Sem contar outros serviços essenciais. Por exemplo: filas de cirurgia nos hospitais do SUS poderiam ser diminuídas com operações feitas durante a madrugada. Como no caso dos portos, o custo adicional seria mínimo - basicamente com funcionários, horas extras, adicional noturno - diante do tamanho do benefício.

Eis o ponto: o serviço público poderia ser muito mais eficiente com um pouco mais de gestão. Isso seria mais útil do que criar ministérios.
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A conta de luz do sr. Cândido



 ROBERTO PEREIRA D'ARAÚJO
VALOR ECONÔMICO


O senhor Cândido é um consumidor fictício do Rio de Janeiro. Paga sua conta de luz religiosamente em dia, e, como muitos outros cidadãos, além de achar a tarifa cara, não consegue entender o setor elétrico brasileiro, que mais parece um rolo de barbante embaraçado que piora a cada "puxão".

Ele sabia que as tarifas seriam reduzidas, mas, considerado o tom teatral dos anúncios, ficou decepcionado quando recebeu sua fatura de março. Apesar do desapontamento, ele leu que a Lei nº 12.783/13 diminuiria as tarifas por meio de manobras contábeis entre o Tesouro e Eletrobrás, uma estatal que, segundo o próprio governo, estava cobrando fortunas por usinas que já tinham sido pagas por todos, ele inclusive. O senhor Cândido ainda desconfia que paga um preço que não condiz com um país que tira sua energia principalmente da água. Imaginem sua decepção se tivesse a curiosidade de examinar outras contas.

Os números da tabela abaixo são os da Light. Mas, apesar de pequenas diferenças, podem ser repetidos por qualquer cidadão de qualquer Estado comparando a sua fatura de março de 2012 com a do mesmo mês deste ano. Os números correspondem a um hipotético consumo de um único megawatt hora (MWh) realizado pela família.

Os itens de maior peso na estrutura de custos diminuíram pouco ou até aumentaram

Segundo informações das suas faturas, o consumo de 1 MWh custava R$ 522,30 em 2012. A fatura de março passado mostra o valor de R$ 462,70 para o mesmo MWh. Portanto, um desconto de 11,4%, inferior aos 18% prometidos.

Mas a conta do senhor Cândido tem muitos outros números. Por exemplo, o quanto a energia, a transmissão, a distribuição, os encargos e os tributos contribuíram para esse custo final que lhe causou decepção.

Como se pode ver, as parcelas mais importantes aumentaram ou se reduziram muito pouco. A distribuição, que pesava 22%, agora vai pesar 27%. Os tributos tiveram um recuo insignificante passando de 34% para 32%. O valor da energia consumida não decresceu, muito ao contrário, passou de 30% para 34%. Os encargos e a transmissão, esses sim, não têm percentuais importantes, mas caíram de 14% para 7%.

O senhor Cândido ouviu dizer que a Eletrobrás tem suas atribuições principalmente na geração e transmissão de energia. Portanto, se considerados apenas esses itens, a redução foi de R$ 11,85 num total de R$ 179,13, ou seja, 6,6%. O cidadão ficaria ainda mais confuso, se soubesse que os números oficiais da Eletrobrás, a tal que lhe explorava, reconhecem uma perda de receita de 70% em consequência da aplicação da Lei n º12.783!

Ora, mesmo ele se perguntaria: uma redução tão pequena perante um sumiço de receita dessa ordem? Ficaria desconfiado, mas, continuaria incapaz de entender o que está por trás dessa confusão.

O que Cândido continuará ignorando é que, segundo reportagem do jornal Valor Econômico (28/03), dois números chamam muita atenção:

A Eletrobrás registrou um Ebitda (resultado antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) em 2012 negativo em R$ 6,173 bilhões.

Se fossem expurgados os efeitos da lei, o Ebitda de 2012 atingiria R$ 5,520 bilhões positivos.

A própria Eletrobrás admitiu uma queda de R$ 10 bilhões na receita. Ora, o consumo total do sistema interligado brasileiro, lugar onde a empresa exerce seu principal negócio (gerar e transmitir energia) gira no entorno de 500 milhões de MWh. Portanto, cada MWh consumido tem embutido um pedaço do "prejuízo" da Eletrobrás. Fazendo as contas, chega-se a R$ 20/MWh.

Um desses MWh foi parar na casa do senhor Cândido, mas, como só chegou um pouco mais da metade, outras razões fizeram a tarifa decepcionar.

Vale a pena explicar ao senhor Cândido que a perda da Eletrobrás, que foi notícia internacional no mercado de capitais, só lhe proporcionou 6,6% de redução na conta da parcela de energia? O que isso importa se o governo diz que ela é a "grande vilã" das tarifas altas? Vale a pena lembrar que essa empresa, alguém, algum dia declarou ser a "Petrobrás do setor elétrico".

Pode ser melhor esperar a conta das térmicas, que, com grande chance, devem permanecer ligadas o ano todo. Quando receber as contas com a novidade da "bandeira tarifária", o senhor Cândido vai ficar chocado. Talvez ele perceba que, no final das contas, a história foi muito mal contada.

De certa maneira, todos nós somos como o senhor Cândido. Atônitos, mas complacentes, aceitamos uma inédita intervenção numa tradicional instituição do Estado como algo normal. Entre tantos problemas de segurança, transportes, saúde, educação e inflação quem vai se importar com a Eletrobrás? Pensando bem, talvez o governo conte com a ingenuidade do senhor Cândido!

Roberto Pereira d"Araujo é engenheiro eletricista, diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (Ilumina).
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No rumo das trevas



A. P. QUARTIM DE MORAES
O ESTADÃO


O pai empenhado na educação do filho pequeno chega trazendo três grossos livros. Coloca-os sobre a cadeira e o garoto senta-se em cima deles, ficando na altura adequada para acessar o computador que está sobre a mesa. É o criativo gimmick que um gênio publicitário imaginou para dar brilho a um comercial de TV de 30 segundos amplamente veiculado em horário nobre. Pausa. Quem não ficou chocado com essa história tristemente verídica e conferível nos intervalos do telejornal preferido pode parar de ler este artigo aqui mesmo, para não perder tempo. Pois vamos falar sobre coisas que estão fora de moda, como o livro, a julgar pela indigência intelectual que inspira essa peça que a empresa de telecomunicações anunciante teve a irresponsabilidade de aprovar.

Não tenho muitas dúvidas a respeito de que todo o conteúdo do tal comercial, inclusive a "brincadeirinha" com os livros, é perfeitamente compatível com, digamos assim, a "ética empresarial" que vale para todo o mundo dos negócios em que, acima de qualquer valor humano, predomina a implacável "razão de mercado". Este é o mundo em que vivemos. Existem até algumas corporações que conseguem disfarçar a obsessão cega por metas de faturamento sob o manto da preocupação com sua "responsabilidade social", à qual reservam alguns trocados das verbas de marketing e vendas.

É por todos os motivos imperdoável, porém, a tentativa irresponsável de desqualificar o maior símbolo universal do saber e do conhecimento, o livro, intenção óbvia por trás de um truque publicitário que pode parecer apenas bem-humorado. Queimar livros publicamente por motivos políticos sempre foi considerado crime hediondo pelo senso comum das sociedades democráticas. Desqualificar a imagem do livro por questões mercadológicas não é menos grave. Na verdade, convenhamos, é até pior, considerando o alcance e a eficácia da mídia usada.

Sou crítico contumaz da mentalidade argentária que domina hoje o mercado editorial no Brasil e no mundo, até porque entendo que livro é, acima de tudo, conteúdo. É claro, portanto, que as conquistas tecnológicas das últimas décadas oferecem novas formas, novas plataformas para desenvolver e publicar os conteúdos de toda natureza indispensáveis à formação e ao desenvolvimento humanos.

Mas as novas tecnologias digitais são tão recentes, de uma perspectiva histórica, que ainda é muito cedo para preconizar o advento "definitivo" de um sucedâneo para o livro impresso. Alguém se lembra do finado CD-ROM? Na segunda metade dos anos 1990 não faltaram novidadeiros que o apresentassem como "a nova e moderna forma do livro". Atualmente os e-books podem ser considerados fortes candidatos a conquistar os consumidores de livros impressos. E o bom senso recomenda supor que, de fato, exista uma forte tendência a que isso ocorra num prazo que parece cada vez mais curto. Mas quem pode garantir que não surja amanhã um novo e revolucionário gadget que rapidamente transformará o e-book em peça de museu?

É Umberto Eco quem assegura: "Das duas, uma: ou o livro permanecerá o suporte da leitura, ou existirá alguma coisa similar ao que o livro nunca deixou de ser, mesmo antes da invenção da tipografia. As variações em torno do objeto livro não modificaram sua função, nem sua sintaxe, em mais de quinhentos anos. O livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados, não podem ser aprimorados. Você não pode fazer uma colher melhor do que uma colher" (Não Contem com o Fim do Livro, Record - 2010, página 16, tradução de André Telles).

Em artigo para esta página em que fiz a citação acima do escritor, linguista e bibliófilo italiano (É o fim do livro? Rir para não chorar, 16/7/2010), manifestei a opinião agora reiterada de que, apesar de sua imagem idealizada - às vezes, sacralizada - de fonte de lazer, informação, conhecimento, fruição intelectual, o livro, enquanto objeto, é apenas "o suporte da leitura", o meio pelo qual o escritor chega ao leitor. E assim permanecerá até que "alguma coisa similar" o substitua. Por tudo isso, o livro, na forma como o mundo o conhece pelo menos desde o século 15, é e continuará sendo, até onde a vista alcança, o maior símbolo universal do saber e do conhecimento. Merece, portanto, no mínimo, respeito.

Cabe ao livro de hoje, como caberá ao do futuro, a transmissão desde a informação utilitária indispensável à boa formação profissional até as indagações e reflexões sobre o sentido da vida que passam, por exemplo, pelas experiências emocionais de quem compartilha conosco a condição de ser humano. Tudo isso faz parte daquilo que precisamos saber, conhecer, para entender quem somos e o mundo em que vivemos e, assim, nos realizarmos como seres humanos. É, digamos, um pouco mais do que o ideal de possuir uma casa "com um carro na garagem", que os fundamentalistas do mercado imaginam como o suprassumo da ambição dos viventes.

Essa visão humanística do mundo pode parecer um tanto fora de moda, mas só estará realmente sepultada - sob sete palmos de ignorância - no momento em que a estultice dos homens lograr o intento de destruir a imagem do livro como maior símbolo universal do saber e do conhecimento. Muita gente dentro do próprio mercado livreiro, mais propriamente dentro do big business editorial, aqui como lá fora, já está fazendo um bom trabalho nessa direção ao mediocrizar impiedosamente os conteúdos que publica em nome do mandamento supremo de que livro bom é livro que vende bem.

A continuar assim, em breve o publicitário e seu cliente para quem os livros só são úteis quando empilhados poderão proclamar, orgulhosos, a confirmação de seus poderes proféticos. E estaremos então penetrando as trevas, depois de percorrer vários tons de cinza.
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Educação para melhorar a política




RENATO JANINE RIBEIRO
Valor Econômico


Como podem a educação e a cultura conduzir-nos de uma democracia de consumidores, na qual um dos grandes critérios para medir a inclusão social é o aumento nas vendas a crédito - para uma democracia em que as pessoas estejam menos presas ao consumo, com o que este tem de arriscado e perigoso: pois é efêmero e, o que é pior, torna o voto quase consequência de certas politicas governamentais? Entre elas, a irrigação de dinheiro na praça, a venda a preço baixo de mercadorias de má qualidade e, sobretudo, o fato ou suposição de que ganha votos quem esparrama o crédito pelo comércio. A confiança no governo, fator crucial para ganhar eleições, parece oscilar em função do crédito na praça.

Esta situação faz pairarem duas restrições à qualidade de nossa democracia. A primeira está no tipo de eleitor e cidadão que ela forma: seus valores principais estão no bolso. Não são valores políticos. São valores do consumo. É verdade que sustentei, anos atrás, em meu artigo "A inveja do tênis", que muitas vezes os pobres sentem maior desejo por bens de consumo, como um tênis de grife, do que pelas necessidades básicas da vida social: saúde, educação, trabalho, moradia e segurança. O consumo é forte na política atual.

A segunda restrição é que o consumo está em boa medida nas mãos do governo. Ele pode, abrindo e fechando as torneiras, influir nos resultados das eleições. A condição é marcar o ano da eleição presidencial pela expansão do crédito ao consumidor. Obviamente, nem do lado do eleitor, nem do governo, essa situação é positiva para a democracia.

O que sugiro aqui é uma crítica que lembra a dos filósofos, ao longo da história, às ilusões do consumo. Podemos viver num mundo das aparências, aturdidos por uma sucessão de prazeres - já que a natureza destes é durarem pouco, precisando ser trocados o tempo todo. Nenhuma sociedade conseguiu, antes da nossa, fornecer tantos prazeres a tantas pessoas. Mas os filósofos criticam isso. Dizem que assim se perde de vista a felicidade que, nas palavras de Rousseau, não é uma sucessão de prazeres, que sempre terminam em saciedade ou frustração, mas "um estado simples e permanente, no qual a alma se basta a si mesma". Pois é. Nada mais longe de nós, exceto daqueles, bem minoritários, que mesmo sendo ricos se orientam para o budismo ou outra sabedoria, geralmente oriental. Porque o grande problema da aposta nos prazeres (dizem os filósofos) ou no consumo (supomos hoje) é o risco, o "day after", a ressaca - e ainda a impossibilidade do autogoverno. Quem é joguete do seu desejo não se autogoverna. Quem é refém de seus prazeres não vive em democracia.

Como mudar isso? Penso que há três ingredientes fortes que podem mudar a orientação das coisas. Começo pelo esporte, mas entendendo-o, a exemplo do movimento MOVE (iniciativa internacional que no Brasil foi encampada pelo SESC de São Paulo), não como esporte competitivo, como projeto de investir milhões em atletas de escol a fim de obter medalhas olímpicas, em sua, não como gerador de espetáculo - mas como promoção da atividade física do maior número possível de pessoas. Basta um dado: por volta de 2005, nosso Ministério das Cidades queria baixar o porcentual de pessoas que vão a pé para o trabalho (por não terem dinheiro para a passagem), enquanto o Departamento de Saúde norte-americano pretendia aumentar esse porcentual (para aumentar o exercício físico dos cidadãos). Há mérito nas duas iniciativas, mas o futuro é da segunda.

Depois, a cultura. Cultura e educação são, se formos à etimologia, duas formas de indicar como o homem se separa da animalidade. Cultura se opõe a natureza. Educação significa sair de um lugar para outro, melhorando. Bebês, que são quase animais, se veem educados para se tornarem humanos. A educação tem assim um currículo, uma regularidade, que a faz ocupar mais de dez anos da vida das pessoas. Ela é absolutamente necessária. Agora, ninguém espera que a cultura tenha um currículo, uma lista de obras imprescindível, sequências necessárias a cumprir, exames a prestar. Há um aspecto obrigatório na educação e um gratuito na cultura, que colocam esta última do lado do prazer, do prazer bem usado.

Assim, dos três fatores que podem reduzir o canto de sereia do consumismo, um precisa ter um roteiro obrigatório e longo, que é a educação, enquanto os outros dois, cultura e atividade física, só funcionam se prodigarem satisfação. Precisamos dos três. Eles constituem fortes exemplos de que o dinheiro não pode tudo, até porque muito esporte e muita cultura são gratuitos, mas mais que isso: o que se ganha com eles não se perde. Esta é a enorme diferença com o consumo. O que se consome, como diz a palavra, está consumido, queimado, liquidado. Já a educação fica, assim como a cultura e a atividade física se incorporam ao sujeito. Posso esquecer todos os filmes que vi, os jogos de que participei, mas minha mente e meu corpo se enriqueceram graças a eles.

Será então o fortalecimento destas três áreas um bom antídoto ao avanço, que até parece irresistível, dos excessos nos games, nas unhas esmaltadas das moças em ascensão social, da ideia de que "my pussy é meu poder", que reduz o poder a um de seus componentes básicos, primitivos, o de que tudo gravita em torno de quem controla o acesso ao prazer sexual, o homem pela opressão, a mulher pela sedução? Nenhum desses prazeres é mau em si. A questão, e lembro Foucault, está no uso dos prazeres. Eles precisam ter seu devido lugar. E para o terem é preciso fortalecer essas três áreas que mencionei: para além do prazer, a felicidade.
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Maldição da ilusão




 CRISTOVAM BUARQUE
GAZETA DO POVO - PR 

Foi Celso Furtado quem primeiro chamou atenção para a ideia da “maldição do petróleo”, a fim de explicar o atraso de países – um deles, a Venezuela – cuja riqueza natural fez abandonar sua capacidade tecnológica e produtiva. O Brasil, mesmo sem ser exportador de petróleo, tem sofrido dessa maldição ao longo de nossa história. Acostumamos-nos, com orgulho, a sermos uma terra onde “em se plantando tudo nela dá”, sem a necessidade de inventar produtos, tecnologias, aumentar produtividade, nem competitividade industrial.

Para crescer, bastava ampliar a fronteira agrícola, substituindo florestas por plantações de cana, algodão, café e soja, ou explorar ouro e prata. Não havia necessidade de inovação tecnológica e de poupança porque podíamos explorar a terra, como outros países faziam com o petróleo.

Essa é a principal razão que explica por que somos a 6.ª economia mundial, mesmo sendo um país tão atrasado em educação, ciência e tecnologia. Por quase 400 anos de nossa história bastava colocar enxadas nas mãos dos escravos; depois, bastava treinar operários no manuseio de máquinas. Não precisávamos criar nem inventar máquinas e produtos de nossa indústria porque eles eram inventados e criados no exterior. Não foi necessário gastar dinheiro em educação; usávamos a educação dos países que, por falta de recursos naturais, eram obrigados a desenvolver conhecimento.

Não foi necessário gastar dinheiro com educação porque tínhamos uma sociedade dividida, terra vasta e rica, e a pouca educação do país estava concentrada nos cérebros dos ricos, pois não era de interesse da elite educar as massas pobres. Não sensibilizava à elite a educação de nossas crianças, de jovens, de adultos e, especialmente, do povo negro recém-saído da escravidão.

Chegado o século 21, quando a grande riqueza já não é a terra, mas os cérebros, percebemos o desastre dessa opção de nossa história. Temos uma sociedade violenta, ineficiente, dependente como nunca antes, sobretudo por falta do capital conhecimento. Mas, em vez de despertarmos para a necessidade de assegurarmos educação de qualidade, e qualidade igual para todos, estamos caindo na ideia de que faremos isso quando o petróleo do pré-sal nos oferecer os recursos necessários.

Para reservar 100% dos royalties do petróleo para a educação de base, sou autor, junto com o ex-senador Tasso Jereissati, do primeiro projeto de lei com essa ideia. O projeto foi arquivado e, agora, reapresentado com o senador Aloysio Nunes. Mas essa alternativa acomoda a opinião pública e as lideranças à espera de uma renda futura, insuficiente para provocar o salto educacional de que precisamos.

A revolução científica e tecnológica que ocorre no mundo exige que o Brasil rompa com a ideia do “em se plantando nela tudo dá” para a ideia de que “em se aprendendo nela tudo se cria”. Isso exige iniciar, desde já, a necessária revolução educacional de que o país precisa. Mesmo assim, ouve-se o acomodamento geral de que é preciso esperar pelo pré-sal, assim como esperaram pelo crescimento do bolo para depois ser repartido.

Pior que outros países, que caíram na maldição do petróleo, estamos caindo na maldição da ilusão de um petróleo ainda escondido nas profundezas do mar como a solução para a nossa crítica e vergonhosa situação educacional. Até aqui fomos vítimas da maldição dos recursos abundantes; agora estamos sendo vítimas da maldição de uma ilusão.
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sábado, 27 de abril de 2013

Um corpo no rio

Nada substitui o conhecimento adquirido de forma metológica por intermédio de leitura completa e útil, sempre que possível, de livros.

Os que me acompanham sabem que tenho sérias reservas a opiniões e conhecimentos adquiridos por intermédio de mídias sociais. Após a Primavera Árabe intensificou-se o paradigma que que twitter e Facebook seriam as ferramentas finais e fundamentais de conscientização e de informação.

O recente caso do imbróglio da eleição italiana, onde um humorista mobilizou a sociedade por intermédio do Facebook influenciando diretamente as resoluções tomadas naquele parlamento, onde políticos votavam para ficar bem na foto gerou atrasos e insegurança na gestão de uma milenar sociedade que hoje rondeia a crise econômica (vide a reportagem "www.confusao.com" na revista Veja dessa semana. Na medida que os debates em busca de saídas para a crise econômica avançava com debatedores on line, os facebookeanos demonstraram grave desconhecimento até de situações e soluções (e os motivos econômicos que as tornaram soluções) nos países vizinhos, recolhidos e absortos em sua suposta auto-suficiência de conhecimento promovida pela mídia social.


O artigo abaixo avança na questão.
Ratifica o que sempre penso: Nada substitui a leitura útil e consistente.





Um corpo no rio
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
FOLHA DE SP


Acusado falsamente pela "nova mídia" de ser um dos terroristas de Boston, Sunil apareceu morto

Surgiu esta semana um corpo boiando no rio em Providence, capital de Rhode Island. Era Sunil Tripathi, estudante de filosofia em uma universidade americana de primeira linha, a Brown. Quando escrevo, ainda não se sabe como ele morreu.

Tripathi foi alvo de histeria nas redes sociais e sites colaborativos, especialmente no Reddit.com, muito influente nos Estados Unidos. Era acusado por justiceiros on-line pelos atentados de Boston.

Ele estava desaparecido desde março. Descobriu-se no Facebook uma página criada por parentes para tentar encontrá-lo. Alguém julgou que o rapaz sumido se parecia com um dos suspeitos. Pronto: a informação errada se espalhou sem controle.

Como todos sabemos, nós que seguimos a revista "Wired" e acompanhamos cada novidade do vale do Silício, os sites colaborativos de notícias surgiram para suplantar a "velha mídia" --jornais, revistas, TVs, monstros sensacionalistas sedentos por lucros e pontos de audiência.

O conteúdo colaborativo, sem filtros ou mediações, seria um canal direto com a voz do cidadão. Informação pura, nada de interesses ocultos. Anátema da imprensa estabelecida.

Se Sunil Tripathi não estivesse morto, poderia dar um grande depoimento sobre a qualidade e a precisão das informações surgidas nas redes sociais.

Que fique claro: não se trata de negar a importância das novas mídias --especialmente do Twitter, feito sob medida para esse tipo de evento em que surgem novidades a cada minuto.

O assassinato de um policial no campus do MIT, por exemplo, foi narrado em tempo real por estudantes no Twitter, algo impensável no esquema tradicional da "velha mídia".

Mas o que os atentados de Boston deixaram claro é que as relações entre "velha" e "nova" mídia são muito mais nuançadas do que supunham os gurus do jornalismo-cidadão.

A "nova mídia" funcionou, ao menos neste caso, como uma geradora de ruídos aleatórios. Uma avalanche de dissonância e distorção, em meio à qual se descobriam umas poucas notas de melodia coerente.

Na hora em que se precisa de informação de qualidade e bem apurada, em quem confiar? Nos tuítes de um garoto de 15 anos que vê a confusão pela janela ou num texto apurado por seis repórteres e revisto por mais dois editores no "New York Times"?

Será que as redes sociais são de fato fontes soberanas de informação ou apenas geradoras de "fatos", "certezas" e boatos, a serem conferidos por profissionais do ramo?

E os canais de TV especializados em notícias, como a CNN, perderam para a internet o monopólio da informação imediata?

Como dez entre dez jornalistas, acompanhei pela CNN, desde o início, a cobertura do atentado. E, no começo, quase não havia informações.

Só uns poucos vídeos, repetidos seguidamente. A cobertura demorava a decolar. Os principais repórteres e apresentadores eram, provavelmente, chamados em casa para assumir as transmissões.

Demora um tempo até que cheguem à TV, se arrumem, colham informações para não falar bobagem. Enquanto isso, o pessoal que está no ar se vira como dá.

Começa então o "backlash" na internet. Vi jornalistas, alguns até conhecidos, bradando contra a repetição de imagens, dizendo que era uma espécie de pornografia.

A razão de os vídeos serem reexibidos é óbvia: não havia dado tempo de obter nenhuma outra imagem. E, se a cobertura é ininterrupta, alguma coisa é preciso mostrar.

Agora, imagine o seguinte cenário: a CNN, para não ficar repetindo os vídeos, para não praticar "pornografia", decide sair do assunto e apresentar um daqueles programas mensais de golfe ou tênis.

As mesmas vozes que clamavam contra a "pornografia" da violência iam se deliciar apontando a inércia da "velha mídia", a falta de sintonia da imprensa tradicional com a realidade, iriam dizer que as informações quentes mesmo estavam no Twitter, no Facebook e no Reddit.

É um jogo impossível de ganhar. Se entrou de cabeça no assunto, está praticando "pornografia". Se ignorou o tema, não entende o século 21.

Talvez aconteça, mas não foi com as bombas de Boston que a "nova mídia" tomou o lugar da "velha" como portadora de informação confiável, ou pelo menos da mais confiável que se pode obter.

Agora, vem a investigação. A história contada pelas autoridades americanas está cheia de lacunas. Vamos ver quem vai desvendar o caso. Se algum blogueiro ou tuiteiro que não sai da poltrona ou um repórter com fontes e tempo para mergulhar no assunto.
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sexta-feira, 26 de abril de 2013

Xadrez com os pombos

O principal objetivo das postagens no Assim Somos é proporcionar leitura de qualidade para reflexão.

O artigo abaixo, elaborado por um deputado (ex-guerrilheiro e ex-petista que com a idade tornou-se muito lúcido, diga-se de passagem) ilumina, na forma de crônica a confusão conceitual e gerencial sob as quais a gestão da coisa pública, no Brasil varonil, encontra-se submetida. Vale a pena a leitura.



Xadrez com os pombos
FERNANDO GABEIRA
O Estado de S.Paulo

Um dos bons momentos da minha vida de repórter foi entrevistar Arthur Bispo do Rosário, na Colônia Juliano Moreira. Bispo ficou sete anos encerrado num cubículo e reconstruiu o mundo usando o tecido do uniforme e tudo o que lhe caía na mão. Ele é só um dos grandes artistas que o manicômio revelou. No final de nosso encontro, depois de ver as bandeiras que desenhou, todos os pequenos objetos que ordenou com muito bom gosto, ele me convidou para uma partida de xadrez. O tabuleiro e as peças haviam sido feitos por ele, e tinha regras que eu não conhecia, de forma que só movemos as peças e conversamos, sem vencido ou vencedor. Esse era o jogo.

Lembrei-me dessa partida de xadrez no Aeroporto de Viracopos. Um homem pôs o laptop na bolsa, dirigiu-se a mim e disse: "Há uma frase interessante aqui, na internet". Encorajei-o com o olhar. "Discutir com esse governo é o mesmo que jogar xadrez com um pombo. Ele sapateia no tabuleiro, desarranja todas as peças e sai com o peito estufado, proclamando vitória." A frase fez-me pensar e os fatos foram se desenrolando dentro dela, como se ganhassem um novo trilho e nova luz.

Dilma Rousseff debatendo a inflação, por exemplo. Os índices ultrapassaram as metas e, levemente, o nível de tolerância fixado pelo próprio governo. Muitos, naturalmente, se inquietaram com a inflação. Numa de suas entrevistas, Dilma declarou que a ênfase no aumento de preços é algo de quem torce contra o Brasil, transformando o tema num jogo em que se defrontam torcedores pró e contra o Brasil. E com isso fez o País e ela se tornarem uma coisa só, numa amálgama verde-amarela que não nos deixa nenhuma chance de vitória. Saiu como um pombo proclamando vitória.

As regras do xadrez foram para o espaço de novo com Graça Foster, presidente da Petrobrás. "Acho lindo o engarrafamento", disse ela sobre o aumento do número de carros. Como executiva, queria mostrar que seu negócio é produzir e vender petróleo e seu foco, o crescimento da empresa e a prosperidade dos acionistas. Nenhuma preocupação com a mobilidade urbana, nosso drama nas metrópoles, nem com o aumento de emissões de CO2, o drama planetário. O mundo empurra os executivos das grandes empresas para ideias bem mais avançadas do que o exclusivo foco no lucro. Decerto ela conhece o jogo. Apenas quis dar uma sapateada nas pedras do tabuleiro. Pensar como um vendedor de biscoito ou de água mineral no engarrafamento.

Já na política, sapatear é pouco. O governo e seus aliados passam com um trator sobre a oposição e criam uma lei para tornar inviáveis novos partidos. Isso depois de ter cooperado ativamente para a formação de um novo partido que fortaleceria suas bases. São os pombos mais agressivos. Embaralham as peças, fazem cocô e saem com o peito estufado: foi pelo bem do País.

Em escala continental, o xadrez será mais surpreendente ainda. Nicolás Maduro venceu na Venezuela. Mas venceu mesmo? O socialismo do século 21 entra em declínio e estamos nas duas primeiras décadas. Com o país dividido, inflação de 25%, 80% dos alimentos importados. O socialismo do século 21 está se tornando vírus tropical da doença holandesa. Dependente do petróleo, a Venezuela não consegue diversificar satisfatoriamente sua indústria. Em Buenos Aires, grandes manifestações de rua mostram a resistência ao projeto de Cristina Kirchner de controlar a Justiça. Sem falar na insatisfação econômica, nos falsos índices oficiais de inflação.

A situação do Brasil é bem confortável, o próprio Financial Times, numa comparação negativa com o México, reconheceu pontos fortes na economia brasileira. Ainda assim, o medo começa a bater e o jogo, a ficar mais duro. A retórica eleitoral do governo não deixa dúvida de que vai destinar à oposição o papel de Joseph K de O Processo, de Kafka: tudo o que falar vai se voltar contra você.

Esse embaralhar do jogo nada vale nos momentos de verdade. Maduro abandonou o espírito de Hugo Chávez, que lhe aparece em forma de passarinho. E soltou o verbo: "Poderia ter-me matado" - referia-se ao manifestante que o interceptou na tribuna e lhe tomou o microfone na cerimônia da posse. Ao menos ficou claro que seu esquema de segurança não presta.

Os ventos mudam em Caracas e vão mudar na América do Sul. A oposição não pode ficar só apanhando e dizendo: "Olha o que fizeram conosco". É preciso jogar um xadrez real, discutir entre si e encontrar meios de somar forças. Ela não precisa repetir que ama o Brasil nem usar boné da Petrobrás. A inquietação com a alta inflacionária já é uma forma de querer bem o País. E quanto à Petrobrás, o petróleo é nosso, mas as bobagens, não.

Embora o cotidiano pareça cheio de absurdos, as perspectivas são boas no longo prazo. Li na Atlantic interessante artigo sobre a importância de dar um sentido à vida. A articulista, Emily Smith, afirma que isso é mais importante que a busca da felicidade. Baseia-se na vida e obra do psiquiatra Viktor Frankel e sua experiência num campo de concentração. O próprio Frankel suportou melhor o campo porque foi para lá por amor aos pais. Publicou um livro chamado O Homem em Busca do Sentido. Pelo que li, o sentido pode ser encontrado no amor à família ou mesmo numa profissão.

Mas existe esse nesga de sentido voltada para o país, para o futuro comum, que não deve ser desprezada. Esse sentido pode materializar-se num programa, num conjunto de atitudes, num desejo de mudança. Tudo isso também depende da existência de uma oposição.

No passado, a oposição cantava Bob Marley para o povo: get up, stand up, fight for your rights. No Brasil esse processo será invertido: a sociedade é que vai cantar Bob Marley para a oposição. Com visão de médio prazo, trabalho cotidiano, sem estar fixada apenas nas eleições, é possível, aos poucos, descortinar um caminho diferente do atual, diferente do que o antecedeu, uma resposta às novas circunstâncias do País. Só assim é suportável o xadrez com os pombos: encontrar um sentido no futuro do País.
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quinta-feira, 25 de abril de 2013

Rolo compressor


Os argumentos da jornalista esclarecem o que ocorre quando a sociedade se omite ou se aglutina em agendas controladas pelo governo.

Um ponto também a se ressaltar é que, além do desinteresse da sociedade já mapeado metodologicamente pelo PT (Pesquisa Econômico-Social Brasileira) é que os parlamentares com formação educacional incipiente são manipulados pelo governo e acabam por produzir tais barbaridades.



Rolo compressor

ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP

 Olho vivo, porque estão votando restrições ao partido de Marina Silva e duas emendas constitucionais intrigantes. Uma retira o papel de investigação do Ministério Público e outra dá poderes ao Congresso para vetar algumas decisões do Supremo Tribunal Federal!

Quem são "eles", o sujeito oculto da frase --ou os sujeitos mesmo-- no parágrafo anterior? Deduza o que quiser. O fato é que o Congresso, onde o governo, o PT e o PMDB têm imensa maioria, dá corda a projetos que prejudicam adversários ou têm caráter óbvio de retaliação.

Procuradores reagem à mudança no Ministério Público e os ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio reagiram duramente à proposta, aprovada na CCJ da Câmara, de submeter ao Legislativo as súmulas vinculantes e as ações de inconstitucionalidade da corte.

Marco Aurélio classificou de "retaliação" e não é exagero, depois do mensalão e da impressão digital do projeto: o autor é o deputado Nazareno Fontes, do PT do Piauí. Só não se sabe se é coisa da cabeça dele ou se ele só deu o nome a uma emenda feita pelo partido ou por partidários. De toda forma, é uma guerra inglória.

Sem oposição e alternância de poder, a democracia esmaece.

Sem a mídia, a sociedade brasileira não ficaria sabendo desde mensalão (revelado pelaFolha) a salários de R$ 15 mil de garçons apadrinhados no Senado ("O Globo" de ontem).

Sem os procuradores, o senhor e a senhora não teriam ideia do que ocorre por aí, desde a denúncia do mensalão à mais alta corte até as contas atribuídas a Maluf em paraísos fiscais.

Sem o Supremo, não haveria a condenação de reluzentes mensaleiros do Executivo, do Legislativo e do setor privado, num enredo, aliás, que ainda não está concluído.

O ex-presidente Lula, a presidente Dilma, o PT, principalmente, e o PMDB, acessoriamente, devem ser mais cautelosos e evitar essa sofreguidão contra adversários e críticos. A ideia que fica é de desespero.

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quarta-feira, 24 de abril de 2013

A economia da felicidade bolivariana


A sociedade venezuelana ficou refém da desinformação nos últimos quatorze anos. Foi-lhe imposta uma percepção de melhoria, social e econômica, de vida, tendo-se, no populismo, a emergência do respeito a minorias. 

Com a morte de Chavez, a gestão bolivariana dos recursos públicos começou a falir e os elementos da realidade começam a aparecer por outras vias de comunicação: desabastecimento de alimentos, de combustível, fornecimento de energia elétrica incipiente, graves problemas estruturais que não foram objeto de investimentos nos últimos quatorze anos. 

Vale a pena o cidadão brasileiro prestar a atenção ao resultado da "Economia da Felicidade" proposta por Chavez a Lula. Lá também tinham o berço esplêndido, e hoje importam gasolina.
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segunda-feira, 22 de abril de 2013

A verdade após a copa

Caros amigos, tenho presenciado algumas raras manifestações de bom-senso sobre a Copa no Brasil, dentre eles o Romário. Contudo a mídia, controlada a peso de anúncios comprados pelo governo, tem se alinhado em torno de um esforço subliminar idiotizante que hipnotiza a sociedade brasileira por se tratar de futebol.

Permitam-me breves digressões acerca de tal fiasco mais anunciado do que o romance de Gabriel Garcia Marquez, a Crônica da Morte Anunciada.

Senão vejamos: A FIFA sobreviveria de rendas de contribuições de torcedores ao longo do planeta descontados todo o montante que fica em cada país?

Quanto custa um estádio de futebol? Qual é um dos segmentos que mais recursos carrega na economia mundial? Construção Civil.

Quantos turistas vcs acham que chegariam ao Brasil para vinte dias de jogos? Qual seria o poder aquisitivo deles? Quanto eles, individualmente, gastariam em vinte dias? Vamos exagerar como sendo US $ 5.000, em todas atividades, hotel, restaurantes, transporte, ingressos, diversão, goods, babilaques, etc etc. Vinte dias amigos, vinte dias apenas. Quanto acham que eles aceitariam pagar em um jogo, como exemplo, Angola e Coréia do Sul  (algo neste nível) ? Cem mangos? Eles ocupariam todo estádio? Não, claro que não, teriam os brasileiros em muito maior quantidade.


Quanto ao poder aquisitivo dos brasileiros? Considerando-se, também,  meias-entradas e isenções diversas, idosos, índios, deficientes etc etc -ainda que sejam poucos comparados ao montante maior, claro- Enfim, digamos que em 40 mil pagantes, em cinco jogos, em média, por estádio, quanto acham que seria a arrecadação final? Não percam de foco o elevadíssimo custo da construção civil dos estádios.

Vamos repensar: E quando a Copa acabasse? Quanto seria a expectativa de custo de ingresso considerando o semi-indigente poder aquisitivo do cidadão brasileiro? 



E o custo de construção e de reforma de estádios? Seriam pagos em quantos anos? Considerando-se os usos em dois dias de cada semana?

Será que ninguém vai pensar nisso não? Tirando o Romário que já se manifestou? 
Imaginem, agora, as escolhas "aleatórias" de países, para copas e olimpíadas? Já perceberam o grande negócio mundial que vem a ser uma copa? Claro que não para a sociedade que a abriga.


Enfim, segue um raro exemplo de lucidez no artigo abaixo.

A capacidade de refletir do cidadão brasileiro, inobstante ao farto acesso à informação e uso de tecnologias de ponta, vem degradando a cada ano. 






A verdade após a copa
Simon Kuper

Aconteceu há cerca de um mês na África do Sul e forneceu um presságio de como terminarão a Copa de 2014 e a Olimpíada 2016, no Brasil. Num sábado gelado em Johannesburgo, dezenas de autoridades brasileiras estavam em um centro de convenções chique, para ouvir representantes sul-africanos explicar como é, realmente, sediar uma Copa - nas palavras de um dos sul-africanos, para ouvir sobre "alguns dos cortes e contusões que sofremos".

Os brasileiros ouviram coisas pouco animadoras. Talvez a mais desanimadora tenha vindo de uma senhora (cujo nome não citarei), alta funcionária de Gauteng, a Província onde fica Johannesburgo. Ela contou que, no início de 2009, analisou o impulso econômico projetado que a África do Sul vinha dizendo a seus cidadãos que a Copa traria ao país. Ela olhou e não encontrou quase nada.

A África do Sul vinha dizendo (como está dizendo o Brasil agora) que o Mundial aumentaria o turismo, geraria empregos, levaria à construção de infraestrutura útil e assim por diante. O que ela percebeu em 2009 foi que: "[A Copa] não nos traria os benefícios que tínhamos dito ao país que nos traria". É verdade que o torneio melhoraria um pouco o transporte público de Johannesburgo, mas "não tanto quanto pensávamos".

E assim, mais de um ano antes do pontapé inicial, Gauteng deixou de lado as esperanças de um reforço econômico. Em vez disso, passou a enxergar a Copa do Mundo como exercício de "branding" -"praticamente um comercial de 30 dias de duração de Gauteng". E isso foi tudo o que ela mostrou ser, disse a senhora aos brasileiros.

Perguntei a ela por que todo o tão divulgado reforço econômico não chegara a acontecer. Novamente ela foi franca. "Se você analisar as pesquisas sobre megaeventos, todas as conclusões são que os retornos econômicos são altamente inflados por pessoas que esperam lucrar com os eventos." É por isso que consultorias contratadas pelo governo brasileiro para "estimar" (ou adivinhar) o reforço econômico que o Brasil terá com sua Copa e sua Olimpíada escrevem relatórios tão otimistas.

A história contada por essa senhora é a história de quase todas as Copas, das Olimpíadas e dos estádios construídos pelos contribuintes: o estímulo econômico prometido nunca chega a se concretizar, como Stefan Szymanski e eu mostramos em nosso livro "Soccernomics". O Brasil vai descobrir a mesma verdade depois de 2014.

*Simon Kuper é colunista do jornal britânico "Financial Times" e coautor do livro "Soccernomics". Tradução de Clara Allain. Publicado originalmente no caderno "Esporte" da "Folha de S.Paulo" em 3/8/2010
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Um mundo escuro

A exemplo de ditaduras sociais ao longo da História da humanidade vivemos, em pleno século XXI no Brasil uma ditadura estimulada pelo atual governo. Ela é conceitual, perceptiva e, sobretudo, subtrai a capacidade de reflexão crítica do indivíduo.

O decano jornalista denuncia a ditadura do politicamente correto profusa em nossa absorta e alheia sociedade brasileira.



Um mundo escuro
J. R. GUZZO
REVISTA VEJA

Está cada vez mais difícil, em nosso mundo de hoje. encontrar inocentes. No exalo momento em que estiver lendo estas linhas, o leitor poderá muito bem estar sendo culpado pela prática de algum delito sério, mesmo que não saiba disso - e provavelmente não sabe. Como poderia saber? As noções de certo ou errado, de bem ou mal ou de justo e injusto, cada vez mais, são definidas por dezenas de "causas", em relação às quais é indispensável estar do lado correto. E que lado é esse? É o lado dos donos ou dos militantes dessas causas - tarefa complicada, considerando-se que elas se multiplicam sem parar, não têm conexão nenhuma entre si e sua própria existência, muitas vezes. é completamente desconhecida do público em geral. Com o desmanche cada vez mais rápido de qualquer valor ou princípio na atividade política, e o falecimento da ideia geral de "direita" e "esquerda", o campo do "bem" vai sendo ocupado por movimentos que defendem ou condenam todo tipo de coisa. Importa cada vez menos, também, o divisor de águas formado pelo conjunto de valores morais como integridade, decência, gratidão, generosidade, honradez, cortesia e tantos outros que marcavam a correção do indivíduo, do ponto de vista pessoal, na vida de todos os dias. O cidadão, hoje, pode ser tudo isso ao mesmo tempo, mas ainda assim não será inocente basta não concordar com as bandeiras em voga, ou ser indiferente a elas, ou não saber que existem.

Todas essas cruzadas se declaram proprietárias exclusivas do bem e têm, cada vez mais, a certeza de que a lógica, os argumentos baseados em fatos e o livre debate devem ceder lugar à fé - a fé dos dirigentes e militantes das "causas", que se julgam moralmente superiores e portanto, autorizados a exigir que todos abram mão do seu direito a raciocinar e simplesmente concordem com eles. O lado escuro disso tudo é que a defesa de tais bandeiras está se tornando cada vez mais fanática - e o resultado é a criação, pouco a pouco, de um novo totalitarismo. Nega-se as pessoas o direito de discordar de qualquer delas e, principalmente, de criticar seja lá o que proponham; não é permitida nem a simples neutralidade, pois quem é neutro é considerado cúmplice do mal.

Os efeitos práticos são muito parecidos com os que se produzem nas ditaduras - e sua primeira vítima é a liberdade de pensar e de exprimir o que se pensa.

Muito de todo esse ruído é simplesmente cômico; além disso, ao contrário do que acontece nas tiranias, os líderes das novas causas não têm a seu dispor a força armada para obrigar o público a obedecer a suas decisões. Mas. em ambos os casos, sua atividade está gerando cada vez mais consequências na vida real. Ainda há pouco, um anúncio da agência AlmapBBDO mostrava um gato preto subindo no capô de um Volkswagen, numa brincadeira 100% inocente a respeito de sorte e azar. Ideia proibida, hoje em dia. Grupos que defendem a causa dos gatos, de qualquer cor, decidiram que o comercial estimulava a "perseguição" e o "desrespeito" ao gato preto, e exigiram da empresa que o comercial fosse retirado do ar. Ganharam: a Volkswagen, uma das maiores companhias do mundo, com mais de noventa fábricas. 550.000 empregados e faturamento superior a 200 bilhões de dólares em 2012, ficou com medo do pró-gato e topou, sim, cancelar o anúncio. Há uma coisa muito parecida com isso - ela se chama censura. A AlmapBBDO, uma das agências de publicidade mais respeitadas do Brasil, queria levar o comercial ao público, como a imprensa queria publicar notícias durante a ditadura militar. Mas a cruzada dos gatos, como acontecia na época em que o governo cortava as notícias que lhe desagradavam, não quis. Nas duas situações uma pela força bruta, a outra pela pressão bruta - o resultado prático é o mesmo: aquilo que deveria ter sido publicado não o foi. Qual é a diferença?

Episódios como esse vão se tornando comuns e, para piorar as coisas, deixam atrás de si uma nuvem radioativa que contamina o ambiente do pensamento e faz com que as pessoas fujam das áreas de perigo. É muito pouco provável que a AlmapBBDO volte a criar comerciais com algum gato no enredo, ou qualquer outro animal. Para quê? Outras agências vão tomar, ou já tomaram, a decisão de cortar o reino animal do seu universo criativo e também, por via das dúvidas, o reino vegetal e o reino mineral, pois é possível que provoquem objeções dos movimentos que atribuem direitos civis às árvores, ou às pedras, ou sabe-se lá ao que mais. Os jornalistas e os órgãos de imprensa, com frequência, vão pegando uma alergia cada vez maior a tratar de certos assuntos. "Isso vai dar confusão", ouve-se todos os dias nas redações. "Melhor a gente ficar fora dessa." O mesmo se aplica a políticos, por seu natural pavor de perder votos, a artistas que não querem ficar mal "na classe" e a mais um caminhão de gente capaz de ter posições claras, mas incapaz de arrumar coragem para falar delas em público.

É apenas natural que a situação tenha ficado assim. Não vale a pena, para a maioria, dizer o que pensa e ser imediatamente amaldiçoado como racista, cruel com os animais, homofóbico, nazista, destruidor da natureza, inimigo da fauna e da flora, poluidor de rios, lagos e mares, vendido aos interesses das "grandes empresas", carrasco das "minorias", assassino de bagres e por aí afora. Ser um mero defensor da luz elétrica, e achar natural, para isso, que sejam construídas usinas geradoras de energia passou a ser, no código da "causa ambiental", um delito grave. Pior ainda é ser chamado de "agricultor" ou "pecuarista" - as duas palavras passaram a ser utilizadas pelos militantes como um puro e simples insulto. Eis aí. por trás de todo o seu verniz de atitude moderna, democrática e defensora da virtude, a essência do totalitarismo que vai sendo imposto pelas "causas" do bem. O alicerce central de sua postura é raso e estreito: "Ou você pensa como eu. ou você é um idiota; ou você pensa como eu. ou você está errado". Ou você é coisa ainda muito pior, dependendo do grau de ira que sua opinião despertou neste ou naquele movimento.

Se discordar, por exemplo, de uma mudança na lei trabalhista, vão acusá-lo de ser a favor da volta da escravatura. Se criticar a doação de latifúndios a tribos de índios, pode ser chamado de genocida. Se achar errado o Bolsa Família, vai ser condenado como defensor da miséria. Se sustentar que o sistema de cotas para negros nas universidades tem problemas sérios, vira um racista na hora. Se julgar que os governos do PT são um exemplo mundial de incompetência, ignorância e vigarice, será incluído na lista negra dos que são contra o povo, contra a pátria e contra as eleições. Falar mal do ex-presidente Lula, então, é um caso perdido. Como ele diz em seus discursos que o seu segundo objetivo na vida é governar para os pobres (o primeiro, segundo uma confissão que fez há pouco, é "viver o céu aqui mesmo na terra"), quem não gosta do ex-presidente só pode ser contra os pobres. A alternativa é ouvir que você, até hoje, não se conforma com o fato de que "um operário tenha chegado à Presidência" etc. etc., como o próprio Lula nos diz todo santo dia. há mais de dez anos.

Com certeza há pessoas boníssimas, e sinceramente interessadas no bem comum, na maioria das "causas" em cartaz hoje em dia não lhes passaria pela cabeça, também, imaginar que estão construindo um mundo totalitário. Mas sua recusa em raciocinar um pouco mais, e em agredir a lógica um pouco menos, acaba levando-as, mesmo que não percebam, a uma postura de autoritarismo aberto diante da vida. A modelo Gisele Bündchen, por exemplo, propõe nada menos que uma "lei internacional" obrigando todas as mulheres a amamentar seus filhos. Gisele pode ser mesmo uma devota dessa postura, mas, ao querer que sua opinião pessoal seja transformada em "lei", ela mostra uma outra devoção: o desejo de mandar no comportamento dos outros. E as mulheres que não querem amamentar - como ficam os seus direitos? Qualquer pessoa que quer nos impor uma escolha forçada, diz o psicanalista Contardo Calligaris, de São Paulo. provavelmente está interessada, acima de tudo, em "afirmar e consolidar seu poder sobre nós".

Um outro tóxico que alimenta essa marcha da insensatez é a ignorância. Somada à decisão de atirar primeiro nos fatos, e perguntar depois quais eram mesmo esses fatos, leva a episódios de circo como o movimento "Gota d'Água" - no qual um grupo de atores e atrizes tentou demonstrar, no fim de 2011, que a usina de Belo Monte seria uma catástrofe sem precedentes para o Rio Xingu e para a ecologia brasileira cm geral. No vídeo que gravaram com o propósito de provar suas razões, confundiram o Pará com Mato Grosso, colocaram a usina a mais de 1 000 quilômetros do lugar onde está sendo construída e denunciaram a inundação de terras ocupadas por índios quando não há um único índio na área a ser alagada. Foi um desempenho digno de entrar na lista das piores respostas do Enem. Mas os artistas continuam achando que estão certíssimos: sua "causa" é justa, dizem eles, e meros tatos como esses não têm a menor importância. pois o que interessa é o triunfo do bem.

"Não há expediente ao qual o homem deixará de recorrer para evitar o real trabalho de pensar", disse, no fim dos anos 1700. o grande mestre da arte inglesa do retrato, sir Joshua Reynolds. Hoje, mais de 200 anos depois, sua tirada é um resumo praticamente perfeito da turbina-mãe que faz girar a máquina das "causas" justas. Nada as incomoda tanto quanto o ato de pensar. Preferem receber insultos, porque podem responder com insultos - o que não toleram é a tarefa de raciocinar em cima de fatos, reconhecer realidades e convencer pelo uso da inteligência. Algum tempo atrás esta revista publicou, com a assinatura do autor do presente artigo, um conjunto de considerações sobre o que julgava serem exageros, equívocos ou distorções do chamado "movimento gay". Tudo o que foi escrito ali recebeu uma fenomenal descarga de ódio. histeria e ofensas, nas quais foram incluídas diversas maldições desejando uma morte rápida para o autor. Mas o que realmente deixou a liderança gay fora de si, acima de qualquer outra coisa, foi a afirmação de que casamento de homem com homem, ou de mulher com mulher, não gera filhos. É apenas um fato da natureza mas é exatamente isso, o fato, o pior inimigo das "causas". Não pode ser anulado por abaixo-assinados. redes sociais ou passeatas. A única saída é mantê-lo oculto pelo silêncio.

Por essa trilha, caminhamos para um mundo de escuridão.
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Obsolescência programada



Você já ouviu falar na Obsolescência Programada? Não?!?! 

Entendo, perfeitamente, que nosso país não tem trabalho e ocupação laboral para todos. Também entendo a nescessidade, cada vez mais crescente, de haver fontes de arrecadação de impostos, tributos e tarifas, pois somos um país caro, notadamente sob nossos programas assistencialistas.

Contudo acredito que tudo deva ter seu limite, pelo menos um dia, para que possamos sonhar com uma sociedade mais justa e sustentável.

Já venho sofrendo o estresse  nos últimos meses. Em particular, somente neste mês de abril, quatro produtos com menos de dois mostraram problemas: Um freezer, uma máquina de lavar roupas, um ar-condicionado e um computador desktop.

As lojas praticamente lhe "empurram" uma estensão de garantia. Seria uma "compra casada"?!?! Talvez não chegue neste nível em função da real necessidade que temos, pois os produtos estão com elevado nível de perecibilidade, ou seja, você compra e pouco mais de um ano de uso começam a surgir problemas técnicos.  Ademais, se não houver boa recuperação, as empresas que lhe concedem tal garantia arbitram o baixo valor pelo qual, eventualmente, pagarão pelo seu bem em ressarcimento dos danos.

Já mensuraram o tempo que se perde além dos requisitos para se ter um técnico, dentro da garantia estendida? E o tempo de reposição de peças que, dificilmente, encontram-se em estoque para reposição rápida e oportuna. Considere uma geladeira, um freezer, um fogão ou máquina de lavar louça de família com crianças.

Pelo impulso com apoio do governo em baixas tarifas e reduções de impostos (linha branca, marron, etc) há o que se refletir na hora da compra.

Assim, o importante a ser considerado, em uma compra com preços baixos, notadamente da linha branca ou de informática, procure saber a qualidade da assistência técnica, sua prestatividade e a eficiência dos profissionais que ela envia para resolver seus problemas. O barato de uma oferta, via de regra, lhe sairá caro.
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domingo, 21 de abril de 2013

Venezuela: amanhã pode ser outro dia

O populismo esgotou o berço esplêndido venezuelano. Hoje importam, até, gasolina e já foram o quarto maior produtor de petróleo do mundo.
O cidadão brasileiro arcará com a recuparação de mais um signatário do Foro de São Paulo.



 Venezuela: amanhã pode ser outro dia
Sergio Fausto 

Está desfeito o mito da invencibilidade eleitoral do chavismo. No último domingo, dia 14, ele colheu seu pior resultado nas quatro eleições presidenciais que disputou.

A diferença de votos com a oposição vinha caindo sistematicamente desde 2006. Em condições de normalidade democrática, Henrique Capriles teria vencido o pleito. Contra todas as iniquidades, conquistou 49,1% dos votos.

Nicolás Maduro começa o mandato com pouca força política e muitos problemas a enfrentar.

Seu desgaste no cargo é inevitável. Com um déficit fiscal superior a 10% do PIB e uma dívida pública elevada, o governo precisa cortar gastos e aumentar a arrecadação.

Numa economia em que as exportações de petróleo são a principal fonte de receita do Estado e a produção de barris está estagnada, o aumento da arrecadação exige uma nova desvalorização da moeda.

Ela terá impacto sobre uma inflação que já ultrapassa 20% ao ano, a despeito de congelamento de alguns preços. Impacto inflacionário significativo, porque a Venezuela hoje importa quase tudo que consome, inclusive gasolina.

Os venezuelanos perderão renda pelo aumento da inflação, pela elevação das tarifas públicas, pesadamente subsidiadas, e/ou pela diminuição das transferências governamentais para os programas sociais.

O ajuste pode ser suavizado se o governo contar com novos empréstimos da China (seu maior credor externo) e com auxílio de países interessados na estabilidade da Venezuela, como o Brasil. Mas ele é inescapável, e seus resultados, incertos.

A verdade é que não basta à Venezuela um ajuste macroeconômico. Trata-se da reconstrução de uma economia destruída por vários anos de voluntarismo e incompetência. Agora, com os preços internacionais do petróleo tendentes à queda.

Como se não bastasse, Maduro enfrentará um quadro político adverso dentro da heterogênea coalizão de forças que compõem o chavismo. Ungido por Chávez, respaldado pelos irmãos Castro, ele precisava de uma consagração eleitoral para adquirir capital político próprio e firmar sua liderança dentro do seu grupo político e ante o país.

Abandonará Maduro a lógica da confrontação política em nome da governabilidade e o "socialismo do século 21" em favor da reconstrução da economia venezuelana? Nada em sua formação política, nos interesses e na ideologia do chavismo indica que este será o caminho.

Dois dias após o pleito, ele afirmou sobre as medidas que pretende tomar para enfrentar os constantes apagões de energia elétrica no país: "Vou declarar o setor elétrico serviço de segurança do Estado, com disciplina militar interna" (para expurgar supostos sabotadores).

O peso das Forças Armadas no chavismo é crescente: 11 dos 22 governadores eleitos pelo Partido Socialista Unido da Venezuela em outubro do ano passado são militares. Oficiais ocupam postos e sinecuras no aparelho estatal. Com uma maioria eleitoral mínima, um Maduro enfraquecido requer o apoio das Forças Armadas para operar o Estado e manter-se no Palácio de Miraflores.

Militar da reserva, presidente da Assembleia Nacional, homem da boliburguesia, preterido por Chávez na sua sucessão, Diosdado Cabello deve estar sorrindo por dentro.

Em três anos, Maduro tem encontro marcado com o referendo revocatório previsto na Constituição venezuelana. Ninguém mais duvida de que a oposição tem hoje força para convocar o referendo e vencê-lo. Resta saber se o chavismo aceita conviver com essa perspectiva. E se a oposição saberá consolidar a nova posição conquistada no domingo.

SERGIO FAUSTO, 50, cientista político, é superintendente-executivo da Fundação Instituto Fernando Henrique Cardoso
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