segunda-feira, 22 de abril de 2013

A verdade após a copa

Caros amigos, tenho presenciado algumas raras manifestações de bom-senso sobre a Copa no Brasil, dentre eles o Romário. Contudo a mídia, controlada a peso de anúncios comprados pelo governo, tem se alinhado em torno de um esforço subliminar idiotizante que hipnotiza a sociedade brasileira por se tratar de futebol.

Permitam-me breves digressões acerca de tal fiasco mais anunciado do que o romance de Gabriel Garcia Marquez, a Crônica da Morte Anunciada.

Senão vejamos: A FIFA sobreviveria de rendas de contribuições de torcedores ao longo do planeta descontados todo o montante que fica em cada país?

Quanto custa um estádio de futebol? Qual é um dos segmentos que mais recursos carrega na economia mundial? Construção Civil.

Quantos turistas vcs acham que chegariam ao Brasil para vinte dias de jogos? Qual seria o poder aquisitivo deles? Quanto eles, individualmente, gastariam em vinte dias? Vamos exagerar como sendo US $ 5.000, em todas atividades, hotel, restaurantes, transporte, ingressos, diversão, goods, babilaques, etc etc. Vinte dias amigos, vinte dias apenas. Quanto acham que eles aceitariam pagar em um jogo, como exemplo, Angola e Coréia do Sul  (algo neste nível) ? Cem mangos? Eles ocupariam todo estádio? Não, claro que não, teriam os brasileiros em muito maior quantidade.


Quanto ao poder aquisitivo dos brasileiros? Considerando-se, também,  meias-entradas e isenções diversas, idosos, índios, deficientes etc etc -ainda que sejam poucos comparados ao montante maior, claro- Enfim, digamos que em 40 mil pagantes, em cinco jogos, em média, por estádio, quanto acham que seria a arrecadação final? Não percam de foco o elevadíssimo custo da construção civil dos estádios.

Vamos repensar: E quando a Copa acabasse? Quanto seria a expectativa de custo de ingresso considerando o semi-indigente poder aquisitivo do cidadão brasileiro? 



E o custo de construção e de reforma de estádios? Seriam pagos em quantos anos? Considerando-se os usos em dois dias de cada semana?

Será que ninguém vai pensar nisso não? Tirando o Romário que já se manifestou? 
Imaginem, agora, as escolhas "aleatórias" de países, para copas e olimpíadas? Já perceberam o grande negócio mundial que vem a ser uma copa? Claro que não para a sociedade que a abriga.


Enfim, segue um raro exemplo de lucidez no artigo abaixo.

A capacidade de refletir do cidadão brasileiro, inobstante ao farto acesso à informação e uso de tecnologias de ponta, vem degradando a cada ano. 






A verdade após a copa
Simon Kuper

Aconteceu há cerca de um mês na África do Sul e forneceu um presságio de como terminarão a Copa de 2014 e a Olimpíada 2016, no Brasil. Num sábado gelado em Johannesburgo, dezenas de autoridades brasileiras estavam em um centro de convenções chique, para ouvir representantes sul-africanos explicar como é, realmente, sediar uma Copa - nas palavras de um dos sul-africanos, para ouvir sobre "alguns dos cortes e contusões que sofremos".

Os brasileiros ouviram coisas pouco animadoras. Talvez a mais desanimadora tenha vindo de uma senhora (cujo nome não citarei), alta funcionária de Gauteng, a Província onde fica Johannesburgo. Ela contou que, no início de 2009, analisou o impulso econômico projetado que a África do Sul vinha dizendo a seus cidadãos que a Copa traria ao país. Ela olhou e não encontrou quase nada.

A África do Sul vinha dizendo (como está dizendo o Brasil agora) que o Mundial aumentaria o turismo, geraria empregos, levaria à construção de infraestrutura útil e assim por diante. O que ela percebeu em 2009 foi que: "[A Copa] não nos traria os benefícios que tínhamos dito ao país que nos traria". É verdade que o torneio melhoraria um pouco o transporte público de Johannesburgo, mas "não tanto quanto pensávamos".

E assim, mais de um ano antes do pontapé inicial, Gauteng deixou de lado as esperanças de um reforço econômico. Em vez disso, passou a enxergar a Copa do Mundo como exercício de "branding" -"praticamente um comercial de 30 dias de duração de Gauteng". E isso foi tudo o que ela mostrou ser, disse a senhora aos brasileiros.

Perguntei a ela por que todo o tão divulgado reforço econômico não chegara a acontecer. Novamente ela foi franca. "Se você analisar as pesquisas sobre megaeventos, todas as conclusões são que os retornos econômicos são altamente inflados por pessoas que esperam lucrar com os eventos." É por isso que consultorias contratadas pelo governo brasileiro para "estimar" (ou adivinhar) o reforço econômico que o Brasil terá com sua Copa e sua Olimpíada escrevem relatórios tão otimistas.

A história contada por essa senhora é a história de quase todas as Copas, das Olimpíadas e dos estádios construídos pelos contribuintes: o estímulo econômico prometido nunca chega a se concretizar, como Stefan Szymanski e eu mostramos em nosso livro "Soccernomics". O Brasil vai descobrir a mesma verdade depois de 2014.

*Simon Kuper é colunista do jornal britânico "Financial Times" e coautor do livro "Soccernomics". Tradução de Clara Allain. Publicado originalmente no caderno "Esporte" da "Folha de S.Paulo" em 3/8/2010
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

GEOMAPS


celulares

ClustMaps