sexta-feira, 24 de maio de 2013

O futuro tecnológico da inspeção veicular

Medidas imprescindíveis que a sociedade deve conhecer, defender e cobrar para melhorar a qualidade de vida nas grandes e médias cidades, uma vez que a produção de veículos ainda é uma das principais soluções para se gerar empregos e arrecadação tributária.



O futuro tecnológico da inspeção veicular
FERNANDO LANDGRAF
CARLOS PADOVEZI
SILVIO FIGUEIREDO

A inspeção veicular é uma solução técnica que visa induzir o proprietário a fazer uma correta manutenção do seu carro, para assegurar os ganhos previstos por legislações ambientais mais rigorosas.

Mas a responsabilidade não é só dele. Deve ser compartilhada com o fabricante do veículo, das autopeças, oficinas e distribuidoras de combustível, que respondem pela qualidade, além do poder público, que estabelece as regras para que isso aconteça.

As bases da atual configuração do programa de inspeção paulistano foram estabelecidas a partir de pesquisa da Cetesb, realizada no início dos anos 90, quando os veículos ainda eram carburados.

De lá para cá, a tecnologia veicular evoluiu significativamente, entre outros motivos, puxada pela legislação ambiental. Os limites das emissões permitidos naquela época eram de 9 a 24 vezes superiores aos atuais (comparando as fases L-2 e L-6 do Proconve).

O atual procedimento de inspeção é capaz de identificar problemas mais graves, como a ausência de um catalisador. Mas dificilmente identificará problemas além daqueles que se manifestem exclusivamente em marcha lenta. Além disso, a eficácia do programa paulistano também depende de fatores como o número de veículos que circulam pela cidade sem serem aqui licenciados.

Nos Estados Unidos, concluiu-se, no ano 2000, que a melhor forma de realizar a inspeção veicular é por meio do sistema denominado OBD (On-Board Diagnostics), cuja versão padronizada pelo governo americano tornou-se obrigatória a partir de 1994. Ele está presente em todos os veículos que disponham de centrais eletrônicas de controle (ECUs ou centralinas).

Esses equipamentos verificam continuamente a operação de componentes do veículo, mantendo na memória registros de eventuais falhas. Por meio de um plugue e um dispositivo eletrônico (scanner), as oficinas e as estações de inspeção conectam-se à memória do veículo para verificar as condições de operação desses componentes.

No Brasil, o uso do OBD padronizado tornou-se obrigatório a partir de 2007. Baseado no OBD europeu (EOBD), ele foi implantado de maneira progressiva. A partir de 2011, todos os veículos passaram a dispor do hoje vigente OBDBr-2, capaz de também monitorar o funcionamento do catalisador. No entanto, os programas de inspeção veicular brasileiros ainda não o adotaram.

A configuração de um programa de inspeção veicular adequado à realidade local passa pela realização de estudos mais aprofundados. Incluem-se entre eles as medições das emissões de poluentes por veículos em condições normais de operação na cidade e a identificação de correlação entre situações de testes de inspeção e a real quantidade de poluentes emitidos pela frota.

É razoável supor que, mais cedo ou mais tarde, o país também vá adotar o sistema que utiliza o OBD pelo simples fato de ser o mais eficaz e econômico. Além disso, os seus registros podem ser transmitidos por rádio ou redes de dados da telefonia celular (OBD remoto), como já se pratica nos EUA.

Haverá um período de transição em que as praças de inspeção ainda serão necessárias, mas, com a implantação do sistema OBD remoto, elas acabarão extintas.

Outro item da inspeção veicular paulistana diz respeito à emissão de ruído. Nesse caso, a alternativa mais eficiente seria a fiscalização por meio de sensores acústicos acoplados a radares.

De qualquer forma, o sistema OBD já é uma realidade no Brasil e, face às grandes mudanças na realidade paulistana, convém reavaliar tecnicamente qual é a ferramenta de inspeção veicular mais eficiente e de menor custo. Por tudo isso, é urgente que a discussão da inspeção veicular ultrapasse seus limites atuais e inclua a evolução tecnológica.

FERNANDO JOSÉ GOMES LANDGRAF, 58, é diretor-presidente do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo); CARLOS DAHER PADOVEZI, 57, é diretor de Operações e Negócios do IPT; e SILVIO DE ANDRADE FIGUEIREDO, 57, é pesquisador do Laboratório de Energia Térmica, Motores, Combustíveis e Emissões do IPT.
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