FOLHA
Os cerca de 2.100 hospitais filantrópicos, entre os quais se destacam as Santas Casas, respondem por 45% das internações do SUS (Sistema Único de Saúde) e por 31% do total de leitos do país. Preocupa, assim, que tenham acumulado uma dívida de R$ 15 bilhões.
Algumas dessas instituições já fecharam as portas. Outras deverão fazer o mesmo. O governo federal estuda um socorro que deverá envolver o refinanciamento e até o perdão de R$ 4,8 bilhões em dívidas ao longo de 15 anos.
As mantenedoras pedem mais: que o governo injete R$ 7,8 bilhões anuais no setor. A quantia equivale à duplicação dos valores da tabela do SUS para remunerar procedimentos realizados pelos hospitais.
Estima-se que o montante pago atualmente baste para apenas 60% dos gastos. A diferença é coberta de diversas maneiras, como empréstimos bancários, doações, complementações de verba por parte de governos estaduais e prefeituras.
Tem início aí um ciclo vicioso que é o retrato acabado da administração pública no Brasil. Os efeitos de um erro de gestão --manter um setor vital subfinanciado-- vão se acumulando até que o problema se torne grande demais para ser ignorado. Quando o sistema chega ao limiar da implosão, o governo se vê obrigado a providenciar um socorro emergencial, que no entanto apenas protela a extirpação do mal pela raiz.
Se tudo não passasse de uma troca de seis por meia dúzia, isto é, de pagar com o dinheiro de um bolso o que foi poupado no outro, esse arranjo exótico não teria maiores consequências. Trata-se, porém, de processo que desorganiza um setor dependente de planejamento financeiro muito preciso para funcionar bem.
O resultado é não só o fechamento de alguns hospitais importantes, mas também a quase impossibilidade de distinguir as instituições bem administradas daquelas que são geridas de forma inepta --pois, no final, todos os sobreviventes acabam socorridos.
Apesar dos conhecidos constrangimentos orçamentários, o governo federal deveria fazer um esforço para manter a tabela do SUS tão atualizada quanto possível. Muitas vezes, o que parece uma economia se revela no futuro um gasto de péssima qualidade.
Isso, é claro, não isenta as instituições filantrópicas de encontrar fontes complementares de financiamento e, sobretudo, de apresentar ganhos de eficiência. Hospitais do século 21 não podem ser administrados como instituições do século 16, como parece ser o caso de algumas Santas Casas.
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