A maioria não sabe cuidar do seu dinheiro, sugerem pesquisas realizadas em 12 países
por Thomaz Wood Jr.
O tema das finanças pessoais chegou aos trópicos na década passada pela porta da autoajuda. A onda repetiu outras tantas, com livros, vídeos, palestras e, obviamente, gurus. As livrarias de aeroportos se encheram de títulos apelativos como: Pai Rico, Pai Pobre, Como Gastar sem Culpa e Investir sem Erros, Casais Inteligentes Enriquecem Juntos e Os Segredos da Mente Milionária.
Entretanto, além dos clichês da autoajuda, o tema da educação financeira é relevante e tem impacto social. O crescimento econômico dos países emergentes na primeira década de 2000 aumentou o poder de compra de contingentes da população. Empresas e bancos se mobilizaram, bombardeando os recém-chegados ao mercado, e os já estabelecidos, com produtos e serviços. Para os consumidores e pequenos poupadores, as decisões de compra e investimento tornaram-se mais complexas. Adquirir ou alugar um apartamento? Financiar ou poupar para comprar à vista? Quanto (tentar) guardar para a aposentadoria? Como comparar uma NTN-B com um CDB?
A maior disponibilidade de recursos e a propensão a consumir, combinadas à oferta de crédito, criaram um cenário explosivo, apto a produzir dívidas, situações de inadimplência e tragédias pessoais. O aumento da renda pode levar ao aumento da riqueza, do bem-estar e da qualidade de vida. No entanto, se a renda for mal administrada, pode também levar ao caminho da bancarrota. O que pode definir um caminho ou outro é o grau de educação financeira. Não se trata de cultuar a riqueza, mas de tomar decisões financeiras conscientes.
Annamaria Lusardi, da Universidade George Washington, e Olivia S. Mitchell, da Universidade da Pensilvânia, publicaram no Journal of Economic Literature, no início de 2014, um artigo sobre a importância da educação financeira. O texto compila investigações realizadas entre 2011 e 2013 em 12 países. Os resultados são preocupantes. As pesquisas foram baseadas em três questões simples, envolvendo conhecimentos sobre juros, inflação e ações:
Suponha que você tivesse 100 dólares em uma conta poupança e que a taxa de juros fosse 2% ao ano. Após cinco anos, quanto você acredita que teria na conta se deixasse o dinheiro render? A. mais do que 102 dólares; B. exatamente 102 dólares; C. menos do que 102 dólares; D. não sei, recuso a responder.
Imagine que a taxa de juros na sua conta poupança seja 1% ao ano e a inflação seja 2% ao ano. Depois de um ano, você poderia comprar, com o dinheiro dessa conta poupança: A. mais do que hoje; B. exatamente o mesmo que hoje; C. menos do que hoje; D. não sei, recuso a responder.
Você acredita que a declaração a seguir é falsa ou verdadeira? Comprar ações de uma única empresa usualmente fornece um retorno mais seguro do que um fundo mútuo de ações. A. verdadeira; B. falsa; C. não sei, recuso a responder.
As respostas certas são A, C e B, respectivamente. O melhor resultado foi alcançado pelos alemães, mas não é brilhante: apenas 53% acertaram as três questões. Em seguida vieram os suíços (50%). Os norte-americanos tiveram resultado ainda pior (30%), ficando pouco atrás dos franceses (31%) e à frente dos italianos (25%). No fim do grupo ficaram os russos e os romenos, empatados com inquietantes 4%. Não há, no artigo, dados sobre o Brasil ou outros países latino-americanos.
Lusardi e Mitchell comentam que os indivíduos tendem a superestimar seu conhecimento sobre finanças, o que aumenta o risco de tomar decisões equivocadas. E observam diferenças relacionadas à faixa etária, gênero e nível educacional: as mulheres, os mais velhos e aqueles com menor nível de educação formal tiveram piores resultados nos testes. No entanto, as mulheres parecem ser mais conscientes de sua condição, o que as torna mais cautelosas e mais abertas à educação financeira.
A literatura mapeada pelas autoras aponta que, quanto maior a ignorância financeira, maior o risco de tomar decisões financeiras erradas, pagar juros elevados, contrair dívidas, cair em golpes e fazer maus investimentos. Por outro lado, quanto maior o nível de educação financeira, maior a probabilidade de gerenciar corretamente os recursos, de planejar a aposentadoria e acumular reservas, melhorando a qualidade de vida. É hora de os gurus darem lugar aos educadores.
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