Mentiras, falta de diálogo e gastos insuficientes explicam desastres em série provocados por empresas
por Thomaz Wood Jr.
A lista de catástrofes protagonizadas por grandes corporações é longa. Os eventos mais trágicos ceifaram vidas e deixaram marcas cruéis em comunidades. Em 1984, um vazamento de gás de uma planta da Union Carbide na cidade de Bhopal, na Índia, expôs mais de 500 mil pessoas a gases tóxicos. Estima-se que 8 mil tenham morrido nas semanas seguintes e mais 8 mil a partir daí. Entre as causas foram apontadas gestão negligente, manutenção deficiente, segurança ineficiente e até a possibilidade de sabotagem.
Em 1989, o petroleiro Exxon Valdez encalhou em uma baía no Alasca, provocando o vazamento de milhares de toneladas de óleo cru, uma das maiores tragédias ambientais registradas na América do Norte. Durante o acidente, o capitão estava dormindo, depois de uma noite de bebedeira, os oficiais no comando estavam despreparados e um equipamento que poderia ter evitado o acidente estava quebrado.
Em 2010, a plataforma Deepwater Horizon, operada pela gigante petrolífera BP, explodiu no Golfo do México, nos Estados Unidos, provocando mortes e espalhando uma enorme mancha de óleo por diversos estados norte-americanos. Além de afetar o ambiente, provocou prejuízo para as indústrias da pesca e do turismo. Investigações apontaram medidas de redução de custos e falta de segurança como responsáveis pelo acidente, sugerindo o aperfeiçoamento das práticas da indústria e melhorias no sistema de regulação.
Em 2013, um prédio de oito andares em Bangladesh desabou, matando mais de mil trabalhadores. O prédio era utilizado por tecelagens subcontratadas por empresas ocidentais. Os responsáveis haviam se recusado a interromper o trabalho, mesmo depois de rachaduras surgirem nas paredes do edifício. O proprietário do prédio foi processado e diversas empresas ocidentais sofreram escrutínio público por manter em suas cadeias produtivas fornecedores de baixo custo, operando em condições aviltantes de trabalho.
O Brasil também teve seu quinhão de tragédias socioambientais. Em 1984, a explosão de dutos da Petrobras, que corriam sob a Favela de Vila Socó, em Cubatão, provocou mortes e destruição. Em 1987, um aparelho utilizado em radioterapias, contendo césio-137, foi encontrado e desmontado por catadores de ferro velho em Goiânia, deixando um rastro de mortes e contaminação. Em 2003, uma barragem da Indústria Cataguases de Papel rompeu, liberando licor negro no rio e deixando milhares de pessoas sem água. Pontos comuns: ignorância, descaso, despreparo na prevenção e na reação.
No livro The Evolution of a Corporate Idealist: When girl meets oil (Editora Bibliomotion), Christine Bader conta suas aventuras e desventuras como profissional de responsabilidade corporativa na BP. A autora representa um crescente exército de profissionais que atuam dentro das grandes corporações, frequentemente em litígio com seus pares, e ainda vistos com desconfiança por ativistas fora das empresas.
Em um artigo veiculado no website da revista The Atlantic, Christine trata da questão: por que as empresas não aprendem com seus erros passados? A pergunta é relevante, porque ajuda a entender as tragédias. Primeiro, as pessoas mentem. A empresa pode se comprometer com as mais rigorosas medidas de segurança, mas há sempre gestores que escondem acidentes e trabalhadores que burlam os sistemas. Segundo, as pessoas não falam umas com as outras. A maioria das empresas ainda opera como um conjunto de minifeudos, dificultando ações transversais voltadas para melhorar as condições socioambientais. Terceiro, segurança e responsabilidade social custam dinheiro. Despesas com prevenção são difíceis de justificar, enquanto cortes de custos são facilmente aprovados. Quarto, poucas pessoas dão testemunho e, se os executivos não perceberem o impacto de suas decisões, não se mobilizarão por causas socioambientais. Quinto, responsabilidade corporativa ainda é um conceito vago, confundido com filantropia, o que dificulta ações relacionadas ao impacto dos negócios na sociedade. Sexto, os consumidores não querem pagar mais e, a menos que eles reconheçam o custo envolvido com uma atuação socialmente responsável, haverá pouca chance de as empresas se movimentarem nessa direção. Conclusão: aguardemos a próxima tragédia.
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