quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

A bola tá contigo!!

A bola tá contigo!!

Jefferson W. Santos(*)

Breves considerações sobre um manual para pegar "panes a baixa altura".

Sabe aquela sensação que dá um enorme aperto no coração e um verdadeiro pavor? Aquela do pênalti aos 44 min do segundo tempo em uma final de campeonato de futebol com estádio abarrotado? Ou aquela maravilhosa e redondíssima levantada do outro lado da quadra para você cortar quando o jogo já está na prorrogação e o placar 20 a 20, com os braços dos dois times pesando toneladas doidos para hibernar no vestiário? Pois é..."A bola tá contigo!!" "Vai que é tua...só tua!!"

Passei algumas vezes por tais situações. Era novo, muito novo e se tivesse a experiência de mais de trinta e cinco anos de vida corporativa (sonho de todo cabelo de prata) as pernas não teriam tremido. Mas tremeram, eram para tremer, estava no manual não escrito da vida humana, aliás, da comédia humana, muitíssimo longe de ser divina mas, ainda assim, uma comédia.

Pois então, diferente nos campos e quadras, essa bola nas organizações é dada para os novatos. Sim, aqueles incautos aspirantes a qualquer coisa além da insignificância incial dos mais velhos, prontos para lhe jogar no derradeiro vale das lágrimas e lamûrias até ter uma alma caridosa para lhe estender a mão. Um segredinho: Isso é bom, muito bom, aliás. 

Então, imagine-se no "worst case scenario" ou cenário das piores alternativas: Você iniciando sua vida alegre e produtiva em uma organização. Aliás eu acredito que pelo menos um terço de nossas vidas deve ser bem vividos, aliás, sempre gostei de sair de casa para o trabalho e nunca fiquei desesperado por feriados e fins de semana. Eu fazia o meu clima no trabalho. "Como dizia Eleanor Roosvelt, viúva de Franklin Delano Roosvelt, o único a presidir os EUA por três vezes, "Ninguém o faz menor SEM O SEU CONSENTIMENTO!!").

Dizem haver uma inscrição no topo do átrio de uma veneranda universidade portuguesa onde se lê: "Se tiver dúvidas, pergunte!" Que maravilha de verdade universal absoluta. Pergunte mas reflita na resposta. Busque a solução com os mais experientes mas TAMBÉM leia os manuais, as circulares, as normas de conduta e, sobretudo e jamais ignoradas, as Diretrizes. E fuja do "corta, copia e cola" pois para o líder mais sensato meticuloso, acredite ou não, ele lerá na íntegra e irá lhe questinar exatamente onde você escreveu algo que não fez ou não conhece. É batata!  É infalível!

Segue um breve checklist que a experiência e o tempo me ajudaram a coletar e delinear. (Tenham paciência, sou piloto, voei mais de dezesseis tipos de aeronaves, asa fixa e helicópteros diferentes, se estas linhas saem agora é porque estou na superfície e não sete palmos abaixo dela. Cá estou por ler manuais e diretrizes e, sobretudo, por seguir checklists.)

Depois dos simpáticos sorrisos (vamos assim pensar que é) dos seus introdutores, seus avatares organizacionais, seus coachs, pergunte os 5W2H do setor, da repartição e do departamento. Será necessário e essencial, mais adiante, para entender os macro-objetivos de sua organização.

Neste setor, o que tem a ser feito? Por que tem que ser feito? Onde será feito? Quem, além de mim, é o responsável por fazer (começa onde, passa por onde e termina onde)? Quais os prazos de cada atividade (inclusive os prazos de cada setor cliente)? Como é feito? E, sobretudo, quanto custa? Pronto, sete letrinhas venerandas, funcionaram nas duas maiores economias do planeta por décadas: EUA e Japão. (Os livros sobre o Eng Deming, sobre a Toyota e do brasileiro Vicente Falconi são essencias para sua carreira). Ao fazer estas perguntas para seu introdutor você causará uma excelente impressão inicial, acredite.

A não ser que você queira ser o quarto a andar sobre as águas, depois de Jesus, Pedro e Evangivaldo (aquele que o touro ultrapassou a mureta em direção ao rio, atrás do incauto que, por sorte, teve alguém que fotografou...), encare diretrizes e normas como devem ser encaradas: manuais ou roteiros de quem, muito antes de você, ou "alguéns" que se deram mal em fazer na tentativa e erro e acabou por sentar, escrever, discutir, corrigir e alguém acima de ambos, com mais sabedoria e visão de futuro, resolveu adotar como norma escrita. Não serão os primeiros tampouco os últimos, obras bíblicas e tweeters estão repletos de exemplos semelhantes. 

Depois de ler e perguntar acerca de suas atividades e responsabilidades procure mapear de quais setores seu trabalho depende e quem serão seus clientes internos e externos. Para ficar ficar bem na foto. Aliás, muito de seu progresso na empresa depende desse detalhe. Já neste momento procure cultivar certo grau de autonomia. Seus antecedentes e dependentes terão uma ótima imagem de você se esse método lhe for uma prática usual. Gera, sobretudo, credibilidade.

Devido a nosso conturbado cenário econômico, via de regra algo feito antes precisou ser adaptado, corrigido ou criado. Assim procure, sempre lendo e tirando suas conclusões -lembre-se de sua valiosa autonomia para estimular boas decisões futuras- identificar as diferenças entre o que se espera de seu trabalho e o que vem sendo entregue. Chamam de "gap" que passará a ser sua meta de atividade.

Trate cada meta com atenção e carinho. Cada uma como se fora uma filha. Como você não trabalhará nela só, dependerá de outros, sempre, procure planejar a forma com a qual você a conduzirá e elabore argumentos consistentes. Leve em consideração alguns fatores essenciais para suas sugestões serem aceitas.

Para realizá-la (documentos formais chamam de consecução de metas) procure fazer um honesto diagnóstico. Cuidado, não se iluda nem iluda os outros. Faça uma análise também antiga, decana, chamada SWOT (FOFA) Procure ajuda dos mais antigos para identificar o que você disporá de melhor, de excelência na empresa, serão suas Forças, olhe para os setores que irão lhe ajudar, os clientes internos e externos e o mundo fora de seu iphone e sala e identifique as Ameaças. Seja honesto em identificar as Fraquezas para negociar as oportunidades. Acredite ou não, Oportunidades há em volta de vocês aos montes. Via de regra alguns setores públicos e ONG oferecem algum tipo de luz para capacitação ou terceirização de apoio logístico mais acessível. Cuidado com quem vai perguntar, pois quando a ação ultrapassa os limites físicos de sua sala e empresa dois fatores são incluídos na equação: O medo em se comprometer lhe ajudando ou o risco de alguém mais esperto que você, que conhece melhor as mumunhas usar suas idéias e adotá-las como se deles fosse. Acontece demais, infelizmente.

Linhas de ação são termos técnicos adotados como se fora um idioma por todos entendido, por intermédio da qual a alta direção da empresa aceita, adota e autoriza você a cumprir sua meta. Claro que custo e credibilidade da empresa como um todo estão em jogo. Assim, alguns cuidados.

Antes de "vender" sua idéia pergunte a sua cadeia de apoio, sobretudo os setores financeiro e logístico, como podem e a forma com a qual podem lhe apoiar. Lembre-se, você não é a estrela na  empresa, cada setor tem seu cronograma físico-financeiro, ou seja, também tem suas responsabilidades e metas, via de regra com recursos limitados. JAMAIS venda uma idéia sem avisar o setor que será afetado, seja para lhe ajudar ou seja para sofrer o impacto de sua idéia adotada pela alta direção. Vai na fé, acredite de olhos fechados. Se assim não o fizer sua vida na organização será coalhada de campos minados. Sugiro a leitura de um clássico de cabeceira, velhinho velhinho, talvez achado somente em sebos "O jogo de poder nas empresas" de Michael Korda do Círculo do Livro (já não existe esta editora há décadas).

Se alguém lhe impuser o medo de auditoria ou fiscalização celebre, pois será sua imperdível chance de fazer errado (lembre-se que você tem o benefício de ser um(a) neófito(a) e a lei trabalhista lhe dá 90 dias para a empresa lhe assegurar. Quem começa não tem JAMAIS a obrigação de acertar. Se seu líder não for sensato e prudente para reconhecer isto e lhe orientar, paciência, essa empresa não lhe pertence. Assim, auditorias são a melhor oportunidade de se saber como os órgãos reguladores externos ou a alta direção quer que algo funcione. Aproveite para mostrar-se sem medo de errar, pois você demonstrará maturidade, comprometimento e, sobretudo, honestidade de propósitos. Mostrou a cara para levar tapas. Tal postura é valiosíssima, acredite.

Bem, essas foram minhas breves fórmulas de sucesso que lhes repasso. Tive uma carreira muito profícua e sem sobressaltos e tinha uma preocupação adicional enfatizada ao longo dos anos: Coisa de piloto, o debrifing, ou seja, uma crítica honesta sobre o que deu certo para ser mantido e o que precisava ser corrigido, como motivos consistentes e ponderados. A alta direção em sua sabedoria tomará duas atitudes: Incorporará suas sugestões modificando ou atualizando diretrizes e normas, caso assim seja pertinente e...
 JAMAIS ABRIRÁ MÃO DE UM PROFISSIONAL COMO VOCÊ!!


Boa sorte, o pênalti virou gol e a cortada encerrou o jogo e os braços puderam relaxar no vestiário, rs rs.

(*) Administrador CRA 10.106/PE 
Mestre em Ciências Aeroespaciais - Univ da Força Aérea - RJ e Mestre em Segurança e Defesa Hemisféricas Interamerican Defense College - Washington USA; MBA Gestão Estratégica de RH - FGV DF.
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