quinta-feira, 14 de novembro de 2013

China aprofunda liberalização

 EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO


Os novos passos que os líderes chineses resolveram dar, na direção do mercado, deveriam servir de lição a países que têm recaídas estatizantes, como o Brasil


A economia chinesa teve um desempenho surpreendente desde os anos 1990, com o processo de liberalização idealizado por Deng Xiaoping. Da geração de Mao Tsé-tung, Deng viveu muitos anos no ostracismo, vítima da Revolução Cultural. Acabou ascendendo à liderança do governo e do Partido Comunista Chinês quando o país ainda definhava, mas esboçava alguns sinais de aproximação com o Ocidente.

Pragmático, Deng percebeu que a pujança econômica de Hong Kong contrastava com o atraso da China comunista. Limitado territorialmente, o impulso de Hong Kong (ainda colônia britânica) poderia “transbordar” para áreas vizinhas, se a China abrisse essa oportunidade, e foi o que o governo fez, com a criação das zonas econômicas especiais, para as quais aceitou inversões de capital privado estrangeiro em segmentos industriais. O êxito dessas zonas econômicas foi tão grande que o plano se estendeu praticamente à toda região da costa da China. Capitais de origem chinesa, oriundos de Hong Kong e Taiwan foram os primeiros a apostar na abertura, e o forte crescimento da China nos anos que se seguiram acabou transformando o país no maior receptor de investimentos do planeta.

Com essa abertura, progressivamente ampliada, a China virou uma espécie de fábrica do mundo, transformando uma economia que era tradicionalmente agrícola. A população que vive nas cidades superou recentemente a rural, e tal migração obrigou a realizada pesados investimentos em infraestrutura. Pelo critério que considera o poder de compra de sua moeda ,a China já seria a segunda maior economia do planeta, ultrapassando a do Japão. Há projeções que mostram o país superando os Estados Unidos em alguns anos, por esse critério. No entanto, por força de seu modelo político, baseado em um partido que tem a sua cúpula renovada de tempos em tempos por um processo que não se baseia em eleições livres e democráticas, a economia chinesa ainda carrega pesada herança estatal e burocrática. Diante de sinais de perda de dinamismo econômico, a nova cúpula do partido Comunista Chinês decidiu, na reunião do Terceiro Plenário, realizada de sábado a ontem, introduzir mais mudanças liberalizantes, optando por um recuo da participação das companhias estatais e da interferência governamental nas decisões de investimento. A China espera que a lógica de mercado prevaleça no direcionamento dos capitais. Esta reunião estabelece diretrizes decenais, para o governo do recém-empossado presidente Xi Jinping.

O modelo político chinês não serve de referência a ninguém. Mas é curioso que seus atuais líderes, formados dentro numa ideologia que considera o Estado solução para tudo, enxerguem no dinamismo da iniciativa privada o caminho para que a economia chinesa continue a crescer intensamente. Deveria servir de lição para países que ainda vacilam e têm recaídas estatizantes, como é o Brasil.

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