terça-feira, 8 de setembro de 2009

Metáforas futebolísticas e cidadania.

O cenário parece se repetir. Talvez tenha semelhança com campeonatos de futebol para se manter próximo ao pensamento dominante.

Receio, com minha pretensão em filosofar usando metáforas futebolísticas, em errar feio, contudo o detalhe é que a semelhança é irresistível. No futebol vemos constantemente interesses de clubes estrangeiros desbastando nosso elenco de profissionais nos clubes brasileiros. Os melhores jogadores são vendidos com avidez por dirigentes, sem consulta às respectivas torcidas. Via de regra e, na melhor das hipóteses, tais vendas tem como motivo corrigir problemas financeiros tendo como causa, dentre outros fatores, má gestão de ativos e passivos.

Como em campeonatos, outros eventos que causam impacto na sociedade se repetem incessantemente. Assim, problemas com gestão da coisa pública ressurgem sob denúncias que passam a ocupar a atenção dos meios de comunicação que, por sua vez, entopem nossos lares e ouvidos dando-nos a impressão de que nada mais de importante ocorre em nosso país.

Nesse particular já começo a desconfiar que seja uma estratégia bem elaborada para se tentar articular outros impactos que seriam, sozinhos na mídia, extremamente impopulares exemplificando-se com a tentativa de retorno de um novo tipo de CPMF. Neste particular, fico curioso em saber como é que se consegue zerar a dívida externa e ao mesmo tempo emprestar dinheiro ao FMI e ficar-se desesperado com a aprovação de uma alíquota que teria outra destinação e que, ainda assim, movimentam-se bilhões de reais.

Enquanto éramos direcionados a assistir mais um embate no Congresso Nacional deixamos de entender, com mais profundidade, o fisiologismo predominante na Receita Federal, articulações para retorno de mecanismo de arrecadação semelhante à CPMF, isenção fiscal e patrimonial para a Igreja, imposição de “layouts” em farmácias, novos critérios para avaliação de propriedades produtivas e decisões em até noventa dias sobre o futuro do pré-sal.
Como uma venda de craques de futebol para um time fora do país, estes eventos, aqui citados aleatoriamente, guardam ingredientes semelhantes: há fortes interesses estrangeiros envolvidos, em menor ou maior grau; servirão para cobrir déficits de caixa ou para investimentos e, fundamentalmente, não têm participação da torcida ou consulta popular. Cabe, neste particular, relembrar que durante a campanha havia uma máxima dando conta de que este seria um governo de consenso, onde a participação popular faria parte da proposta de gestão da coisa pública, dos destinos do país. Vê-se, contudo, que a proposta de gestão marxista prevalece: O Estado pensa e decide pelo povo. Como provedor ele se aproveita da falta de mobilização popular e não só decide como, paulatinamente, vai fechando todas as portas para a presença do cidadão nas casas deliberativas. Não obstante, o povo sente-se feliz e com um “quê” de consciente, incluído.

Voltando à metáfora futebolística, com a venda do craque o time que liberou chega a se desarticular. Mesmo sendo algo corriqueiro desestabiliza o grupo que, de alguma forma, permanece convivendo com competições internas entre os profissionais remanescentes que ficam ansiosos por adquirir visibilidade para serem os próximos contemplados com um visto no passaporte.

Sem conseguir perceber o contexto maior o torcedor, que paga sua mensalidade e ingressos, busca um culpado e fica feliz e ansioso por ver um técnico demitido na vã esperança de que o rendimento do time venha a melhorar.

Diante do atual, e quase dantesco, cenário a sociedade, sentindo-se feliz e incluída, seja economicamente, digitalmente, futibolisticamente, sambisticamente etc, anseia por “un grand finale” do imbróglio. Como no futebol, onde passivamente aguarda-se o próximo ano e os próximos campeonatos, a sociedade espera “quatro” anos – com ou sem mosca no ouvido, dando ou não voltas enquanto caminha – na esperança de que um eleito, ungido pelas hostes celestiais, resolva sozinho o... “isto que está aí”. Afinal, parece que simplesmente votar é o grande e único compromisso com a democracia.

4 comentários:

  1. Como sempre, mais um texto incrível... A conexão entre os assuntos futebol e política, com suas semelhanças, ficou excelente e muito clara...
    Mais uma vez, parabéns!

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  2. Parabens estimado Jefferson.
    A correlação é perfeita e de clareza absoluta.
    Sua frase: "..fico curioso em saber como é que se consegue zerar a dívida externa ao mesmo tempo emprestar dinheiro ao FMI e ficar-se desesperado com a aprovação de uma alíquota que teria outra destinação, e que ainda assim, movimentam-se bilhóes de reais"
    Acrescentaria que colocam o Ministro da Saúde como "escudo" ante a opinião pública e se dizem ausentes do assunto para não "ferir" os eleitores, e com os olhos voltados para a proxima eleição.
    Tentam encenar, mas, não conseguem porque o texto - comum a todos eles - não oferece consistência e credibilidade pelos inumeros desmandos já cometidos ao longo desses seis anos.
    Parabens amigo.
    Acertou em cheio.
    Abraços
    Simão

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  3. Perfeita correlação! E depois que você escreve, fica tudo tão claro.
    Parabéns, e obrigada por nos brindar com mais um texto sensacional.

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  4. Parabéns!
    Excelente a abordagem de uma temática tão triste de uma forma amena e interessante.
    O povo às vezes deixa de tomar conhecimento dos fatos por entenderem que esses são tão complexos que fogem da compreensão.
    Mais fatos deveriam ser explicados com tamanha didática como foi brilhantemente feito neste texto.

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