sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sobre moscas, rodopios e mantras


A notícia do hoje é muito animadora, somos quase 50 milhões de computadores em uma população beirando os 200 milhões. É significativo em alguns aspectos importantes: um quarto de uma população de um país de dimensões continentais. Absorve pouco menos que a quantidade da população economicamente ativa de um país como nosso, inobstante a todos os problemas de infra-estruturas que o PAC tenta dirimir.

Imagine essa notícia ao lado do levantamento do IBGE de 2006 dando conta de que temos 95% dos lares com televisores, 95% com rádios, muitas cidades os periódicos custam até 30 centavos de real. Aliado a esse maravilhoso elenco de tecnologia disponível temos 160 milhões de celulares vendidos. É muita fonte e veículos de informação disponível para uma população de um país emergente.

Olhando os números e ambiência podemos nos regojizar pois em termos proporcionais perdemos apenas para o Chile que tem 31,4 computadores para cada 100 habitantes enquanto que nós temos apenas 22 por uma centena. Todavia o “apenas” é mais retumbante, pois se olharmos o perfil topográfico do Chile e sua quantidade de habitantes eles, em função de fatores a seu favor, sem ter uma Amazônia, pantanal e serras no meio de sua extensão dificultando o contato e o escoamento de bens e produtos (os Andes ficam ao leste e as principais cidades à oeste próximas do Oceano Pacífico – com poucos problemas de infra-estrutura, pois uma “carretera” liga a maioria das cidades entre si) o delgado país tinha que se sair bem melhor.

O aumento de lan houses nas cidades até de pequeno porte tem demonstrado que pessoas de baixa renda também se aproveitam desse esforço de inclusão digital. Com esse meio as notícias chegam em curto espaço de tempo ao cidadão e ele tem a capacidade, na via informacional, de escolher e delinear o tipo de notícia e fonte que quer buscar sua informação. Há que se ter, contudo, a curiosidade, o envolvimento, a vontade de entrar no jogo. Bem aí...aí meus amigos, é que a coisa pega.

Voltando aos eventos corriqueiros que nos deixam boquiabertos, perguntamo-nos a causa de tanta desfaçatez no trato de nossos distinos. Como sentem-se tão à vontade em discutir e usar nosso patrimônio excluindo-nos sumariamente sempre com comentários rasos quando não estapafúrdios. O último foi acerca da manutenção dos preços elevados do combustível veicular pois mesmo com o processamento do petróleo do pré-sal não há como se baixar o custo de produção. Apedeutas falando para apedeutas dá nisso. A economia de escala foi para o brejo e ninguém se manifestou. Como sentem-se tão à vontade agindo assim? São inúmeras as estultices que perco a conta. A esse propósito uma clara para francês ouvir é que nossas colunas fixas que suportam e guiam os robôs de prospecção achariam facilmente a caixa-preta do AF 447. Isso numa serenidade demandando óleo de peroba como loção após barba.

Por que, mercê de todos estes avanços em se ter meios de comunicação e de informação disponíveis, continuamos tão alheios? Bem, parece que há movimentos tentando articular uma mudança, mas com a velha oposição, hoje no poder, os cara-pintadas viram simples borrões de maquiagem por pura distração.

A propósito do grande feito digital, remeto-me a algumas observações que faço há anos. Desde que começou o boom de fóruns, egroups sobre assuntos variados (eram em impressionante quantidade quando o PT estava tentando alçar o poder, agora o cenário é totalmente diferente), relembro que minha atenção ia para os números. O número de associados sempre foi muito maior do que os participantes de fato em trocas de opiniões e de conteúdo. Hoje não é diferente, participo de um grupo de administradores on line que possui mais de quatro mil associados e os contumazes participantes on line não passam de quinze. Eventualmente um ou outro se arrisca enviando um currículo ou pedindo um material no padrão “Zé moleza”. Também em grupos de RH e no “VIA something”, este com uma impressionante marca de pouco mais de 800 mil usuários sempre uma respeitável minoria batalha para iniciar uma discussão que venha agregar valor mas o que resta são assuntos padrão abobrinhas. Os usuários preferem ver e ficar na moita, sem se envolverem. Aí se denota nossa idiossincrasia, o que nos diferencia, para menos, em relação aos demais países emergentes. Nós não gostamos de nos envolver, com profundidade, em temas polêmicos ou de benefício de coletividade. O brasileiro gosta de ver e ficar na moita. Se possível usa seu herói, o procurador. Se pudesse ele usava o procurador até para votar, mas não dá.

Lembro que nosso atual líder usava uma máxima na corrida final para sua vitória no primeiro mandato: Farei um governo de consenso, ouvindo todos os setores da sociedade. Será um governo do povo para o povo. Enfim...Eu nunca vi consenso nem em reunião de condomínio em prédio com seis apartamentos onde morei. Nos demais então, nem perto. O principal problema é que os condôminos preferiam faltar às reuniões e os proprietários enviar seus procuradores. É isso. Esse é o mais genuíno exemplo de nossa pouca vontade de viver coletividade, responsabilidades sociais coletivas. Por fim, viver democracia.

Aí começa outro show de tolices sem fim ao se ler sobre as propostas de se regular as campanhas na Internet. O mote é a campanha de Barack Obama. Eu estava fazendo um mestrado em Washington na época. Aliás acompanhei ele desde o início, quando ele era o quinto entre cinco candidatos à indicação do partido democrata. Via as pessoas nas ruas, com chuva ou neve, mas nas ruas e on line, mobilizando-se de fato, usando seu tempo livre, aliás eles têm a cultura de usar o tempo livre em favor de alguma coisa boa para a coletividade. Nós somos muito diferentes deles. Se nós, com 42,9 milhões de computadores tivéssemos a mesma idiossincrasia do povo americano certamente as coisas aqui seriam bem diferentes. O que veremos nos próximos anos sobre uso da Internet nas eleições não terá o mesmo apelo.

Neste mister, ao falar-se de eleições vem-me à memória as últimas propagandas demonstrando um jovem com uma mosca na cabeça, outro dando voltas ao caminhar passando a mensagem de votar bem, escolher bem seu candidato. Aí eu me pergunto: Como é o tal do escolher bem? Baseado em que parâmetros? Como este cidadão bem escolhido poderá fazer diferença em um sistema eleitoral e político viciados que, nem tão cedo, terá alguma modificação. O arquétipo da lisura, bem escolhido, ao ser diplomado ou entra nos eixos ou pega uma proa do esquecimento, virando relator de CPIs pesadas e sem densidade. O eleitor, com o seu jeitão de ficar na moita não irá socorrê-lo e, se bobear, não irá reelegê-lo, pois ele ocupado com os fardos que os mais antigos lhe darão não terá tempo de criar visibilidade e será detonado na próxima eleição. Aí vem a pergunta: Quem é otário o suficiente para comprar esta briga? O bem escolhido irá, certamente, rezar na cartilha viciada.

Aí, os especialistas e pitaqueiros soltam a justificativa que resolve e dá um ponto final na discussão para evitar maiores envolvimentos, pois o paradigma diz que política e religião não se discute (só aqui mesmo!!): Falta Educação. Bobagem!! Isso mais parece um mantra indiano...o problema é Educação. Eu não acredito. O brasileiro é inteligente o suficiente para correr atrás de correções salariais complexas, usar celulares, manusear televisores e rádios digitais, assistir novelas e noticiários, programas vespertinos, votar, discutir futebol e desfiles de escolas de samba dentre uma miríade de atividades que requerem uma boa embocadura intelectual. Mas o paradigma do tadinho sem assistência do Estado, prevalece. O nível e volume de tecnologia de informação disponível que comentei no início requer uma respeitável base de educação e articulação intelectual.

O nosso problema não é falta de educação, é acomodação e omissão juntos. Simples assim.

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