sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Peter Drucker: Liderança é conversa fiada!!

Amigos consegui resgatar a entrevista da revista Exame com Peter Ferdinand Drucker um ano antes de sua morte e foi publicada na edição de 10 fev 2006.
Li quase todos os livros de Drucker e todos me facinaram. De fato todos os artigos e temas que ele aborda são interessantes e perenes.

Psicólogos organizacionais e muitos escritores notadamente os voltados para a área de RH não gostam muito de abordar o tema de liderança dessa forma.
Penso como Drucker e Mintzberg, outro grande autor de estratégia organizacional. Sou muito cético acerca de liderança corporativa por alguns motivos:
O primeiro é que por ser militar li muito sobre liderança, por gosto ou por fé de ofício como também li muitos livros de liderança destinados a vida corporativa e, analisando-se mais amiúde e tendo-se vivência organizacional vê-se que poucas coisas se encaixam adequadamente e a maioria dos conceitos ficam no campo do "dever ser" ou "gostaria que assim fosse".
O segundo motivo é que por ter chefiado pessoas por mais de trinta anos vi que nossa idiossincrasia não nos permite ter e respeitar um líder principalmente quando as coisas não vão bem. Somos craques em desqualificar a figura do chefe ou do líder seja com piadinhas ou com comentários desqualificatórios feitos, via de regra, sem se conhecer todos os elementos envolvidos na questão.
Por fim, por ter convivido em quatro diferentes ocasiões e ter realizado muitas conversas informais com trabalhadores de diferentes empresas em mais de dez estados diferentes no EUA, fora em viagem a trabalho ou lazer, percebi que o trabalhador americano é por demais independente, gosta muito do que faz e odeia ser paparicado para trabalhar ou em qualquer evento ou ação de demonstre estar querendo facilitar demais seu trabalho.

Enfim, segue a entrevista:

LIDERANÇA É CONVERSA FIADA

Em sua última entrevista à imprensa americana, Peter Drucker questiona a fixação do mundo dos negócios com a formação de líderes

Revista EXAME - 10.02.2006

http://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0861/gestao/m0080578.html

Em sua última longa entrevista à imprensa americana, concedida à Rádio Pública Nacional, Peter Drucker -- o mais respeitado pensador dos negócios --, refletiu sobre os temas que consumiram a maior parte de sua existência de 95 anos. Discorreu sobre as vantagens da democracia, enveredou pelo futuro do capitalismo mundial e pela necessidade de haver equilíbrio entre os interesses de acionistas e consumidores. Uma de suas declarações, porém, revelou-se particularmente surpreendente. Inquirido sobre a necessidade de as escolas de negócios formarem futuros líderes, afirmou não ser essa sua missão. "Toda essa conversa sobre líderes é uma bobagem muito perigosa", disse. "É tudo conversa fiada." EXAME publica, com exclusividade, a seguir, os melhores trechos da entrevista:

Desde a publicação de seu livro A Prática da Administração, há 50 anos, o senhor vem formando administradores. Qual seria sua mensagem fundamental para o homem de negócios do século 21?

Sempre faço três perguntas, não importa se o interlocutor representa uma empresa, igreja ou universidade. Também não importa se ele é americano, alemão ou japonês. A primeira é: qual é o seu negócio? O que você está tentando fazer? O que o diferencia dos demais? Segunda: qual a sua definição de resultado? Terceira: quais são suas principais competências? E o que elas têm a ver com os resultados? É só isso. Não há diferença significativa entre o século atual e o último, exceto que hoje o número de empresas é muito maior.

Existem hoje inúmeras escolas de negócios incumbidas de formar novos líderes. Elas estão dando conta dessa tarefa?

É um erro afirmar que as escolas de negócios formam líderes. Sua tarefa consiste em formar medíocres competentes para que realizem um trabalho competente. Pode-se dizer o mesmo das faculdades de medicina. Sua função não é formar líderes, mas médicos que matem o menor número possível de pacientes. Permita-me dizer com toda a sinceridade: não acredito em líderes. Toda essa conversa sobre líderes é uma bobagem muito perigosa. É tudo conversa fiada. Entristece-me constatar que, encerrado o século 20, com líderes como Hitler, Stálin e Mao, as pessoas ainda estejam em busca de quem as comande, apesar de todo esse mau exemplo. Acho que tivemos carisma demais nos últimos 100 anos.

Já que o senhor se mostra tão cético em relação à liderança carismática, qual sua opinião sobre a atual era de presidentes de empresas estelares? O que o senhor pensa dos supersalários pagos aos executivos americanos?

Tenho idade para me lembrar de Franklin Delano Roosevelt e de Harry Truman. Embora Roosevelt tenha sido um grande líder, Truman foi o melhor presidente que os Estados Unidos já tiveram, e o que mais fez pelo país. Ele não gostava de visibilidade. Ao contrário, todos achavam que ele não era grande coisa, inclusive ele mesmo. Portanto, não vejo muito sentido nessa história de super-CEOs. Quanto aos altos salários, acho que são escandalosos. JP Morgan, que não era de forma alguma avesso ao dinheiro, disse em 1906 que qualquer empresa onde o alto escalão ganhasse mais de 20 vezes o salário médio dos empregados não poderia ser bem administrada. Ele se recusava a investir nesse tipo de negócio. Essa é ainda uma regra útil.

Qual a sua avaliação do atual papel dos Estados Unidos no mundo?

Felizmente, já não somos mais os dominadores. Ainda dominamos do ponto de vista militar, mas não mais politicamente ou economicamente. Com a ascensão da China, da Índia e da União Européia, estamos nos tornando rapidamente apenas outra potência. E isso será difícil de aceitar, principalmente porque desfrutamos de 30 anos de ilusões de grandeza. Não porque fôssemos fortes, mas porque os outros eram fracos. Está surgindo uma economia mundial em que não somos nem sequer a potência principal. Esse lugar caberá, provavelmente, à União Européia. Teremos de aprender a ser uma entre cerca de 12 nações importantes. O papel dos Estados Unidos no mundo será cada vez mais semelhante ao de outras nações.

Em 1993, o senhor escreveu A Sociedade Pós-Capitalista. Seria possível explicar o significado do termo -- e quando chegaremos lá, se é que isso acontecerá algum dia?

A sociedade de hoje já é, em boa parte, pós-capitalista. Vivemos em uma sociedade da informação. Não há nada mais fácil do que ganhar dinheiro hoje em dia, contanto que você disponha da informação correta. Isso não acontecia no passado. Quem quer que tenha um computador pessoal, e não há quem não tenha um nos países desenvolvidos, tem acesso direto a todas as informações do mundo. Essas pessoas estão aprendendo a utilizá-las.

Não me refiro à minha geração. Tenho 95 anos. Refiro-me à geração do meu neto. Nessa sociedade do conhecimento, a concorrência não se baseia no dinheiro que se tem, e sim na capacidade de tornar o conhecimento produtivo. Nós, americanos, por enquanto, estamos na dianteira desse processo. Mas não por muito tempo.

O senhor exprime grande confiança nos mercados livres, mas sempre teve reservas em relação ao capitalismo. Com o advento da sociedade do conhecimento, seus temores em relação a ele teriam se tornado irrelevantes?

Os mercados livres têm limitações severas, mas são infinitamente melhores do que qualquer alternativa, principalmente porque são muito rápidos em se corrigir. Quando cometem erros, e não são poucos, eles mesmos se corrigem. Uma economia, uma sociedade ou uma organização exigem que se agrade a gregos e troianos.

Uma das principais tarefas da administração consiste em equilibrar os resultados de curto prazo com os de longo prazo, em saber lidar com o mercado atual e com as inovações que vão surgindo. A administração tem como missão estabelecer o equilíbrio entre as diferentes expectativas das partes envolvidas. A primeira parte não é o acionista. É o consumidor. Se você não satisfizer o consumidor, nada mais resta a fazer. O capitalismo corre sempre o risco de pender para o lado do acionista. O trabalho da liderança consiste em res taurar o equilíbrio sempre que necessário, porque ele oscila.

Qual a sua opinião sobre o futuro do governo e o seu papel na sociedade pós-capitalista?

Uma das coisas que você aprende quando chega à minha idade é não fazer previsões. Vejo com ceticismo qualquer instituição que não imponha limitações e restrições severas ao poder. Sou cético em relação ao poder. Não há mal político maior do que poder sem autoridade. O governo precisa se limitar, se restringir e se ater àquelas atividades que lhe são próprias. Há inúmeras coisas que o go verno não pode fazer, porque seu desempenho é fraco. O governo existe para fixar normas. Quando ele se mete a fazer coisas, geralmente fracassa pela simples razão de que não consegue abrir mão delas facilmente. Ele se apega a elas e se recusa a largá-las, até levá-las ao desastre total, e ainda assim insiste em não soltá-las. Nos últimos 30 anos, reduzimos as funções do governo de modo que ele voltasse a fazer aquilo que faz bem, embora ainda hoje faça coisas demais.

Há muita inquietação em relação ao destino do mundo. Em que direção o senhor acha que ele está caminhando?

A crença no progresso que herdamos do século 18 não mais existe. A crença em um mundo dominado pela civilização ocidental está chegando ao fim. As potências emergentes -- China e Índia -- não são de forma alguma ocidentais, tampouco pretendem se ocidentalizar, como fez o Japão há 150 anos. Não compreendemos esse novo mundo. Não sabemos em que medida a União Européia será de fato uma união de países ou se continuará a ser uma vaga confederação de nações. Não sabemos em que direção caminha o Mercosul. Estamos em um período de transição tão crítico quanto o século 18 antes das guerras napoleônicas.

É tudo quanto sabemos. O mundo não será dominado por nenhuma outra grande potência. Muitos de nós ainda vivemos um mundo -- o de 1960 -- em que os Estados Unidos eram a única grande potência e a única economia que funcionava. Hoje a União Européia é maior. A China está tentando criar uma zona de livre comércio que será maior do que os Estados Unidos, tanto em termos de produção quanto de consumo. Teremos de aprender a conviver num mundo diferente e de valores diferentes. Nesse mundo, a informação -- e não o poder -- manterá o Ocidente coeso.

O senhor teve uma vida longa e refletiu muito sobre o modo de vivê-la. Agora, aos 95 anos, o que tem a dizer sobre a vida após a morte? Como o senhor vê esse momento de transição cada vez mais próximo?

Sou um cristão muito tradicional. Ponto final. Não penso nessas coisas. Disseram-me que não me cabe pensar nisso. Minha função é dizer apenas "sim, senhor".

3 comentários:

  1. Obrigado estimado amigo Jefferson pelo convite. Mais uma vez ouso discordar do mestre Drucker. O líder existe em sua plenitude em qualquer organização. Lider poderá ser sinônimo de: Presidente, Diretor Executivo, Diretor Presidente e assim sucessivamente. Os ocupantes dessas pósições estratégicas se fazem assessorar por tecnicos nas materias que compõem sua posição na organização. Nega-las como sendo um ato de liderança, não creio ser uma unanimidade. Vejo sempre no sentido prático. Ao longo dos meus 36 anos de trabalho vi e senti a ação de vários lideres. Em alguns o sentido mais do que positivo da expressão era uma realidade visível e sensível. Outros tantos, não! Como cristão dos mais tradicionais Drucker poderia vislumbrar em Xto. a figura máxima do líder. Nega-la é discordar da ação Dele (Xto) em sua curta passagem pela terra.
    Abraços do
    Simão

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  2. Vejo que nem todo chefe é um líder. Você encontra líderes no meio do povo.

    Líderes são pessoas catalisadores das necessidades de um grupo. Ele percebe, comunica e atua de forma organizada.

    Apesar da abordagem do Drucker, um exemplo de liderança pra mim foi Jack Welch, que de forma bem pragmática defendia que não existe esta coisa de tratar as pessoas de forma igual e dar as mesmas chances. O que existe é meritocracia. Faça por merece, e terá cada vez mais oportunidades.

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  3. Obrigado Jefferson por ter resgatado esta entrevista e trazê-la para nós, mas discordo quando Drucker diz que: "não acredito em líderes", pois ele falou, falou e no final entrou em contradição a esta ideia ao dizer que, "sou um cristão muito tradicional", e ainda se propôs em: "dizer apenas sim senhor". Ficou claro que ele era um seguidor do maior líder carismático de todos os tempos : Jesus Cristo.

    No entanto, penso que, para se tornar um líder nos dias atuais, é preciso se dedicar muito aos estudos e à prática dos mesmos, pois, além de líderes que possuam conhecimentos, a sociedade hoje se espelha em pessoas com sabedoria, proatividade, carisma, clareza, objetividade, entre outras virtudes que um líder deve ter.

    Por isso, está cada vez mais raro se encontrar verdadeiros líderes, todos têm acesso à informação, basta apenas um clique no mouse, que se abrirá um mundo de possibilidades nesta infinita biblioteca virtual, a Internet. As pessoas não são mais tão fáceis de serem influenciadas como no século passado, pois vivemos na sociedade da informação e do conhecimento.

    Enfim, líderes existem, nossa história comprova isso, o próprio Peter Drucker é um dos maiores exemplos de liderança corporativa, resta saber se os candidatos a líderes estão buscando realmente a forma correta de se tornarem líderes de sucesso.

    Abraços e sucessos a você.

    Att, Hildebrando Garcia.

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