segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A pantomima

Amigos, a questão é cristalina.
Chamaria de Fator Honduras que irá, daqui para a frente, ser um marco perceptivo na dinâmica entre as relações institucionais domésticas e internacionais no atual governo.
Muito há o que se pesquisar e descobrir a partir desse evento.
Vale a pena a leitura.
Muito bem escrito
Sds
Jefferson


A pantomima
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090928/not_imp442019,0.php

A pantomima parece não ter limites. A política exterior brasileira está enveredando, perigosamente, pelos caminhos bolivarianos, ditatoriais, que rompem com décadas de neutralidade e não-ingerência em assuntos de outros países. O caso de Honduras é particularmente aterrador, pois, em nome da democracia totalitária, estão assentando as bases de supressão da liberdade.

Façamos, primeiro, um breve retrospecto. Lula e Celso Amorim realizaram, nos últimos anos, périplos por países africanos que têm em comum o menosprezo pela democracia e pelas liberdades em geral. Trata-se de países ditatoriais que foram considerados pelo nosso governo dignos parceiros de reconhecimento internacional. O ex-terrorista e ditador líbio, Muamar Kadafi, chegou a ser considerado como um irmão. Irmão de quê? De empreitadas ditatoriais, de uma pessoa há décadas no poder e exercendo uma dominação inflexível sobre o seu próprio povo.

Seguindo a mesma linha, a diplomacia brasileira permaneceu silenciosa sobre o genocídio do Sudão, onde mais de 200 mil pessoas foram assassinadas, não contabilizando as pessoas esquartejadas, mutiladas e estupradas. Em nome de quê? Da não-ingerência nos assuntos de outros Estados. Qual foi, então, o recado? Assassinar seu próprio povo pode, em nome da soberania interna.

O caso do Irã do "presidente" Mahmoud Ahmadinejad foi - e continua - escandaloso. As eleições foram fraudadas, o povo iraniano foi às ruas, até alguns aiatolás já não suportam o despotismo em vigor no país, pessoas foram torturadas e assassinadas em prisões. E o governo brasileiro contentou-se em dizer que se tratava de um mero jogo de futebol, em que os perdedores tinham ficado insatisfeitos. Na ONU, Lula, agora, reiterou a mesma posição de menosprezo aos direitos humanos. Temos uma prova tangível da podridão dessa esquerda que traiu inclusive os ideais de Marx. Fechou questão com o islamismo totalitário. Como se não bastasse, um "presidente" que se caracteriza pelo antissemitismo militante, propugnando pela eliminação do Estado de Israel, é convidado a visitar o Brasil. Provavelmente, em nome de uma qualquer "solidariedade" internacional, a dos déspotas.

Diante desse quadro, que é um quadro de horror, a "nossa" diplomacia, ou melhor, a "deles", dos bolivarianos com afinidades totalitárias, patrocina e é conivente com a volta de Manuel Zelaya a Honduras. Só um tolo acreditaria nas palavras de "diplomatas" (sic!) segundo os quais o Brasil só soube do ingresso do ex-presidente bolivariano, de tendências golpistas "democráticas", quando já tinha ingressado naquele país. Ainda, conforme nosso "chefe" do Itamaraty, deu-lhe "boas-vindas", oferecendo-lhe a hospitalidade brasileira. Pelo menos Zelaya e sua mulher foram "honestos" ao agradecerem ao chanceler Amorim e ao presidente Lula o seu apoio.

Para acreditar na versão oficial é necessário acreditar em duendes. Os cidadãos brasileiros são tidos por crédulos, mal informados, ou melhor, tolos. Nada bate com nada nas versões oferecidas, salvo o seu objetivo de dar o máximo de sustentação ao projeto bolivariano do golpista fracassado Zelaya. O que é para eles insuportável é que ações inconstitucionais tenham sido abortadas pela Corte Suprema daquele país, pelo Legislativo e pelos militares. Querem encobrir tudo isso dizendo que se tratou de um "golpe militar", que a América Latina não pode mais suportar.

O que pode a América Latina suportar? Deve suportar a subversão da democracia por meios democráticos, com destaque para eleições e assembleias constituintes. Deve suportar a eliminação da divisão de Poderes, com "líderes máximos" solapando progressivamente todas as instituições representativas. Deve suportar a eliminação da liberdade de imprensa, num cenário liberticida que relembra a vereda totalitária de uma esquerda que nem mais sabe o significado de valores universais. As palavras começam a perder seu sentido, ganhando um novo, que guarda uma remota ligação com seu significado originário.

A diplomacia brasileira fala que concedeu refúgio a Zelaya. Como assim? Ele estava sendo perseguido dentro de seu próprio país? Precisa de asilo? Ora, trata-se de uma pessoa que foi obrigada a deixar o poder por conspirar contra a Constituição. Por isso foi conduzido para fora de seu próprio país, sem que tivesse sofrido dano físico nem tenha estado sua vida em perigo. O que a diplomacia brasileira fez foi patrocinar sua volta a Honduras, em aliança com Hugo Chávez, que reconheceu ter organizado toda a operação. O Brasil atrelou-se à Venezuela. A diplomacia brasileira está ingerindo nos assuntos internos de outro país, numa escancarada violação da Constituição brasileira, das Cartas da OEA e da ONU.

Numa completa tergiversação, o chanceler Amorim pede que o governo de Honduras não pratique nenhuma violência contra o bolivariano Zelaya. Ora, é a diplomacia brasileira que está suscitando violência e tumulto naquele país. Os mortos já se contam. Os bolivarianos estão entrincheirados na embaixada, a partir da qual fazem manifestações públicas e organizam os seus partidários para levar a cabo o seu projeto de subversão da democracia. Como são politicamente corretos, dizem estar defendendo a democracia.

Na subversão do sentido das palavras, clamam que não reconhecerão as eleições em curso. Como assim? Porque elas estavam previstas na Constituição, antes mesmo da deposição de Zelaya? Não faz o menor sentido! As eleições seguem um cronograma constitucional, num regime de plenas liberdades, em particular de imprensa e partidária. É precisamente isso que se torna insuportável para esses socialistas autoritários.

Os países que parecem encantados com os cantos bolivarianos, como os EUA e os países europeus, estão cortando as fontes de financiamento desse pequeno país resistente. Enquanto isso, Lula negocia com Obama o fim do embargo comercial a Cuba. Deve estar fazendo isso em nome da democracia!

Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRGS. E-mail: denisrosenfield@terra.com.br

sábado, 26 de setembro de 2009

Um retrato da sala de aula


Um retrato da sala de aula


Poucos especialistas observaram tão de perto o dia a dia em escolas brasileiras quanto o americano Martin Carnoy, 71 anos, doutor em economia pela Universidade de Chicago e professor na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, onde atualmente também comanda um centro voltado para pesquisas sobre educação. Em 2008, Carnoy veio ao Brasil, país que ele já perdeu as contas de quantas vezes visitou, para coordenar um estudo cujo propósito era entender, sob o ponto de vista do que se passa nas salas de aula, algumas das razões para o mau ensino brasileiro. Ele assistiu a aulas em dez escolas públicas no país, sistematicamente – e chegou até a filmá-las –, além de falar com professores, diretores e governantes. Em entrevista à editora Monica Weinberg, Martin Carnoy traçou um apurado cenário da educação no Brasil.
COMO NO SÉCULO XIX
Está claro que as escolas brasileiras – públicas e particulares – não oferecem grandes desafios intelectuais aos estudantes. No lugar disso, não é raro que eles passem até uma hora copiando uma lição da lousa, à moda antiga, como se estivessem num colégio do século XIX. Ao fazer medições sobre como o tempo de aula é administrado nos colégios que visitei, chamaram-me a atenção ainda a predominância do improviso por parte dos professores, os minutos preciosos que se esvaem com a indisciplina e a absurda quantidade de trabalhos em grupo. Eles consomem algo como 30% das aulas e simplesmente não funcionam. A razão é fácil de entender: só mesmo um professor muito bem qualificado é capaz de conferir eficiência ao trabalho em equipe ou a qualquer outra atividade que envolva o intelecto. E o Brasil não conta com esse time de professores de alto padrão. Ao contrário. O nível geral é muito baixo.

MENOS TEORIA E MAIS PRÁTICA
Falta ao Brasil entender o básico. Os professores devem ser bem treinados para ensinar – e não para difundir teorias pedagógicas genéricas. As faculdades precisam estar atentas a isso. Um bom professor de matemática ou de línguas é aquele que domina o conteúdo de sua matéria e consegue passá-lo adiante de maneira atraente aos alunos. Simples assim. O que vejo no cenário brasileiro, no entanto, é a difusão de um valor diferente: o de que todo professor deve ser um bom teórico. O pior é que eles se tornam defensores de teorias sem saber sequer se funcionam na vida real. Também simplificam demais linhas de pensamento de natureza complexa. Nas escolas, elas costumam se transformar apenas numa caricatura do que realmente são.

QUE CONSTRUTIVISMO É ESSE?
O construtivismo que é hoje aplicado em escolas brasileiras está tão distante do conceito original, aquele de Jean Piaget (psicólogo suíço, 1896-1980), que não dá nem mesmo para dizer que se está diante dessa teoria. Falta um olhar mais científico e apurado sobre o que diz respeito à sala de aula. É bem verdade que esse não é um problema exclusivamente brasileiro. Especialistas no mundo todo têm o hábito de martelar seus ideários sem se preocupar em saber que benefícios eles trarão ao ensino. Há um excesso de ideologia na educação. No Brasil, a situação se agrava porque, acima de tudo, falta o básico: bons professores.

À CAÇA DE MESTRES BRILHANTES
A chave para um bom ensino é conseguir atrair para a carreira de professor os melhores estudantes. Basta copiar o que já deu certo em países como Taiwan, que reuniu em seu quadro de docentes algumas das melhores cabeças do país. Ali, um professor ganha tanto quanto um engenheiro – o que, por si só, já atrai os alunos mais talentosos para a docência. Mas não é só isso. Está provado que, para despertar o interesse dos mais brilhantes pela sala de aula, é preciso, sobretudo, dar-lhes uma perspectiva de carreira e de reconhecimento pelo talento que os distingue. No Brasil, o pior problema não está propriamente na remuneração dos professores, até razoável diante das médias salariais do país – mas justamente na ausência de um bom horizonte profissional.

VIGILÂNCIA SOBRE OS PROFESSORES

Os professores brasileiros precisam, de uma vez por todas, ser inspecionados e prestar contas de seu trabalho, como já ocorre em tantos países. A verdade é que, salvo raras exceções, no Brasil ninguém sabe o que eles estão ensinando em sala de aula. É o que me faz comparar as escolas públicas brasileiras às empresas pré-modernas. Elas não contam com mecanismos eficazes para cobrar e incentivar a produtividade. Contratam profissionais que ninguém mais no mercado quer, treinam-nos mal e, além disso, não exercem nenhum tipo de controle sobre eles. Hoje, os professores brasileiros estão, basicamente, livres para escolher o que vão ensinar do currículo. Não há padrão nenhum – tampouco há excelência acadêmica.

NA LINHA DA MEDIOCRIDADE
É boa notícia que os brasileiros comecem a colocar a educação entre suas prioridades, mesmo que isso ocorra com tanto atraso em relação aos países mais desenvolvidos. Percebo no Brasil, no entanto, uma visão ainda bastante distorcida da realidadetípica de países onde as notas dos estudantes são, em geral, muito baixas. A experiência indica que, num cenário como esse, até mesmo os ótimos alunos tendem a se nivelar por baixo. Com um resultado superior à média, eles já se dão por satisfeitos, assim como seus pais e escolas. Na verdade, estão todos mirando a linha da mediocridade. E é lá que estão mesmo. Os exames internacionais da OCDE (organização que reúne os países mais ricos) mostram isso com clareza. Os alunos brasileiros que aparecem entre os 10% melhores são, afinal, menos preparados do que alguns dos piores estudantes da Finlândia. Os finlandeses, por sua vez, definem suas metas com base num altíssimo padrão de excelência acadêmica. É esse ciclo virtuoso que o Brasil deve perseguir – em todos os níveis.

CHEGA DE UNIVERSIDADE GRATUITA
Se quiser mesmo se firmar como uma potência no cenário mundial, o Brasil precisa investir mais na universidade. É verdade que os custos para manter um estudante brasileiro numa faculdade pública já figuram entre os mais altos do planeta. Por isso, é necessário encarar uma questão espinhosa: a cobrança de mensalidades de quem pode pagar por elas, como funciona em tantos países de bom ensino superior. Sempre me pergunto por que a esquerda brasileira quer subsidiar os mais ricos na universidade. É um contrassenso. Olhe o que aconteceria caso os estudantes de renda mais alta pagassem algo como 1 000 dólares por ano às instituições públicas em que estudam. Logo de saída, o orçamento delas aumentaria na casa dos 15%. Com esse dinheiro, daria para atrair professores do mais alto nível. Quem sabe até um prêmio Nobel. O Brasil precisa, afinal, começar a se nivelar por cima.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Decidindo com ciência e intuição - Paul Schoemaker

Amigos, a propósito do artigo, eu sugeriria a leitura de dois excelentes e agradáveis livros. O primeiro é o Ócio Criativo, do sociólogo Domenico Demasi. Fundamental para qualquer gestor de qualquer nível.
O segundo é o recem-lançado BLINK, de Malcolm Gladwell que li em cinco dias, por ser de agradabilíssima leitura e ritmo. Ambos tratam do mesmo assunto, dentre outros, a capacidade de se mobilizar a intuição no processo decisório.
Alerto, contudo, aos mais novos, que esta intuição é, e somente pode ser, fruto de anos de experiência e de estudo. Achar que decisões no sentimento, cheiro, altura do palier e jeitão, principalmente quando se é novo em uma atividade ou metier, é risco certo.
Ressalto, contudo, que apesar de administradora que montou o comentário atribuir muita densidade à intuição, convém se colocar no lugar dos decisores, principalmente quando há muitos recursos envolvidos e conselhos de acionistas vigiando de perto, o que não deve ocorrer com ela. Aí convem se ouvir a voz do pragmatismo.
De toda sorte é um ótimo artigo para ser lido e refletir sobre.
Sds
Jefferson




Paul Schoemaker é uma autoridade em tomada de decisões. Ele estará no Fórum Mundial de Negociação 2009, da HSM, quando mostrará o que é possível nos aperfeiçoarmos em decidir. Leia mais neste artigo.

Doutorado em Ciências da Decisão, após ter-se formado em Física e obtido o mestrado em Finanças e em Administração, Paul Schoemaker estuda a tomada de decisão, a estratégia organizacional, as tecnologias emergentes e a inovação. Recentemente, porém, o acadêmico da Wharton School, da Pensilvânia, vem se aprofundando no papel da intuição na gestão dos negócios. Mas Schoemaker é, sobretudo, um defensor da decisão embasada em análises racionais.

Muito embora desaconselhe apostarmos exclusivamente na intuição –principalmente hoje, quando somos “bombardeados com dados e informações de inúmeras fontes”– Schoemaker reconhece queela tem sua relevância na tomada de decisão. Em seu artigo How to make sense of weak signals, no qual, junto com George Day, reflete sobre por que muitas pessoas inteligentes e bem informadas não perceberam os sinais do recente colapso do mercado subprime, Schoemaker discorre sobre abordagens complementares que podem ajudar os gestores a evitar erros de interpretação dos sinais, ou mesmo impedir que deixem de ver tais sinais. Entre essas abordagens, está “confiar na intuição madura”. Também a intuição pode ampliar a visão periférica dos decisores.

Para o autor, a intuição madura, ou a confiável, é aquela que vem com os anos de experiência e defeedback. “Gestores experientes com frequência possuem muito mais conhecimento do que imaginam, principalmente quando estão atuando em sua área de expertise. Se é assim, eles deveriam aprender quando e como confiar em seus palpites”, pondera Schoemaker. Uma vez que se tenha atingido esse grau de maturidade, combinar a intuição à análise racional pode ser útil à avaliação de uma questão, especialmente quando se enfrenta uma situação ambígua.

No livro Decision Sciences: An Integrative Perspective, Schoemaker diz que, quando decidem pela intuição somente (muitas vezes, em situações não programadas), os gestores costumam dizer “Sei que este é o passo certo a dar, apesar de eu não poder prová-lo no terreno quantitativo”. Se estiverem certos, muito bem. Se errados, não terão como se defender. Em poucos casos, a intuição parece ser a única opção: nas urgências ou nas situações em que os principais aspectos da questão são muito difíceis de quantificar, como na avaliação da qualidade de obras de arte.

Evite inconsistências e distorções

De acordo com Schoemaker e seu colega Russo, a intuição é muito menos confiável do que a maioria de nós acredita que seja. No artigo A pyramid of decision approaches, os autores reconhecem que a intuição pode ser brilhante, mas alertam para duas falhas comuns da tomada de decisão intuitiva: a distorção e a inconsistência.

Eles contam que, a nove radiologistas, foram dadas informações sobre 96 casos suspeitos de úlceras estomacais, e a eles foi pedido que avaliassem cada caso quanto à probabilidade de malignidade. Uma semana depois, os mesmo 96 casos lhes foram apresentados, mas em ordem diferente. Comparados os dois conjuntos de diagnósticos, verificou-se que havia 23% de chance de uma opinião mudar. Esse exemplo ilustra a falha da inconsistência. “As pessoas aplicam os critérios de maneira inconsistente com frequência. Elas não percebem o quanto as falhas de memória, os limites mentais, as distrações e a fadiga podem mudar seu julgamento de uma ocasião para outra”, dizem os autores.

O problema da distorção também é subestimado. Ele acontece, porque as pessoas, sistematicamente, dão ênfase exagerada ou reduzida a alguma informação. “Tendemos a enfatizar demais as informações mais recentes que recebemos. Daí porque a última pessoa a chegar aos ouvidos do chefe exerce mais influência sobre ele”. Além disso, também tendemos a dar mais atenção às informações que estão prontamente disponíveis (como as que são notícias nos jornais), o que leva ao julgamento distorcido.

O que é a intuição?

Em Decision Sciences, Schoemaker analisa os tipos de tomadores de decisão segundo seus estilos cognitivos, com base no modelo de Isabel Myers, que é baseada nas ideias de Carl Gustav Jung, fundador da Psicologia Analítica. Entre os estilos, está o tipo intuitivo, que é aquele que, predominantemente, usa a intuição, em vez de a análise racional.

No início do século passado, ao formular a sua teoria dos tipos psicológicos, Jung colocou a intuição como uma das funções psicológicas responsáveis pela nossa maneira de perceber as coisas. A outra função de percepção é a “sensação”, que é aquela nos avisa, pelos sentidos, que alguma coisa existe.

Por sua vez, as funções psicológicas que definem nosso modo de julgar os fatos e organizar a informação são “pensamento” (a que nos diz o que as coisas são) e “sentimento” (a que nos diz se as coisas são boas ou ruins, se devem ser aceitas ou não). Normalmente, temos uma função dominante e as outras menos desenvolvidas, ou até inconscientes.

Jung disse que a intuição é “uma percepção por vias ou meios inconscientes”. Ele próprio não achava fácil explicar como a intuição funcionava: “Trata-se de uma percepção por elos intermediários, e nós apenas obtemos o resultado final de toda essa cadeia de associações. Por vezes, conseguimos reconstituí-la; porém, o mais frequente é não o conseguirmos”, disse Jung em uma entrevista de 1957. Em outras palavras, sabe-se, em geral, o que foi intuído, mas não como foi intuído, pois o processo é inconsciente.

O intuitivo (assim como o tipo sensação) julgará o mundo primordialmente pela função pensamento ou primordialmente pela função sentimento. No mundo corporativo, no qual a hegemonia é do tipo sensação, é mais fácil um intuitivo fazer carreira, se também for do tipo pensamento. O psiquiatra suíço disse que, entre os banqueiros e os jogadores, há muitos intuitivos.

Em sua obra Tipos Psicológicos, Jung propõe que desenvolvamos as funções que não predominam em nós, para que sejamos humanos mais completos, o que não é uma meta fácil. Talvez isso valha para as organizações. Talvez elas também precisem dar mais voz à intuição e espelhar melhor a pluralidade do mundo.

Wall Street Journal - The FARC's Honduran Friends

Amigos, venho ressaltando que nossa mídia vem tratando com amadorismo o assunto.
Segue uma reportagem do Wall Street Journal e tirem suas próprias conclusões.
dá para se enganar muita gente na mídia, mas os leitores do jornal acima...jamais.
A tradução é livre.


The FARC's Honduran Friends
A chavista government in Honduras would raise the cost of the "war on drugs."


Messrs. Obama and Calderón, however, do not. They both want Mr. Zelaya reinstated.

Two weeks ago the Obama administration turned up the heat on Honduras by pulling the visas of some of its government officials. Not to be outdone, Mr. Calderón rolled out the red carpet last week in Mexico City for Mr. Zelaya in a high-profile show of support for his return to power. To its credit, Mr. Harper's government has been more measured in its response to the events in Tegucigalpa.
Duas semanas atrás o governo Obama insulflou o caso Honduras ao suspender os vistos diplomáticos de representantes de Honduras. Para não ficar para trás o Sr Calderón estendeu um tapete vermelho para o Sr Zelaya demonstrando apoio ao seu retorno ao poder. Ao seu favor o Premier Canadense foi mais contido em suas posições acerca dos eventos em Tegucigalpa.

It is said that a Mexican president who gets to the right of the White House touches the third rail of that country's domestic politics. That might explain why the center-right Mr. Calderón decided to host a state visit for Mr. Zelaya. He wants to stay left of a leftist American president on this issue.
Fala-se que um presidente que queira sentar à direita da Casa Branca tangencia uma nova vertente na política doméstica. Isso pode explicar o por que de um centro-direita decidir ciceronear em nível de visita de Estado para Zelaya. Ele quer estar mais à esquerda que Obama neste caso específico.


But it's not that simple. Mr. Calderón has been waging a "war" on drug cartels in Mexico that has cost the lives of 1,077 law-enforcement agents since December 2006.
Mas não é tão simples, pois Sr Calderón tem sido condescendente com a repressão aos carteis de drogas no México custando a vida de ...agentes.

Now both he and Mr. Obama are going to have to explain their support for a political faction in Honduras that is allied with organized crime.
Agora ambos terão que explicar seu apoio à facção política em Honduras que é aliada ao crime organizado (lembrem-se que venho falando das Maras e Pandilhas já há algum tempo)

According to the evidence collected by Colombian intelligence that came to me indirectly, that's exactly what they are doing.
De acordo com evidências colhidas pela Inteligência Colombiana é exatamente o que vem ocorrendo.

Hondurans don't want Mr. Zelaya in their country because he leads a violent, antidemocratic mob, and he tried to use it to undermine the country's institutions in exactly the same way that Venezuela's Hugo Chávez has done.
Os hondurenhos não querem Zelaya em seu país porque ele lidera uma violenta e antidemocrática organização criminosa e tentou usá-la para subjugar as instituições do país...

Mr. Chávez has also coached Nicaragua's Daniel Ortega, Ecuador's Rafael Correa and Bolivia's Evo Morales. Those democracies, too, have been seriously compromised.
Chavez também controla Ortega, Correa e Morales. Estas democracias estão seriamente comprometidas.

But even if Messrs. Obama and Calderón don't care about the freedom of Hondurans, they can't ignore the likelihood that the establishment of a chavista government in Honduras would raise the cost, in blood and treasure, of their war on drugs.
Mesmo se Obama e Calderón não se importarem com a liberdade em Honduras eles não podem ignorar a probabilidade de um regime chavista em Honduras aumentar o custo, em orçamento e sangue da guerra anti-drogas.

The FARC connection could go a long way in explaining why Mr. Chávez is pushing so hard for Mr. Zelaya to be restored to power.
a conexão com as FARC explica porque Chavez está forçando demais que Zelaya volte ao poder (lembrar a questão do quadrilátero marítimo que venho lhes comentando)

It is already well established that the Venezuelan strongman actively supports the FARC in South America.
Já está bem claro que o homem forte da Venezuela apóia as FARC.

Rebels have a safe haven across his border and just last month a Colombian army raid on a FARC camp yielded a cache of Swedish-made anti-tank rocket launchers that originally had been sold to Venezuela.
Os rebeldes encontram guarida em suas fronteiras e no mês passado o Exército Colombiano apreendeu um lote de mísseis anti-tanques que originalmente foram vendidos à Venezuela pela Suécia.

Mr. Chávez has still not come up with a credible explanation of how the Colombian terrorists got hold of them. Chavez ainda não deu uma explicação convincente de como foram parar nas mãos da FARC.

A July report from the U.S. General Accountability Office found that Venezuela has become a major transit route for Colombian cocaine, 60% of which is exported by the FARC.
Um relatório do... aponta que a Venezuela tornou-se a maior rota de cocaína 60% exportada pelas FARC.

The GAO also found that high-ranking members of Mr. Chávez's government and the Venezuelan military are accomplices.
GAO também descobriu que altas autoridades venezuelana estão cúmplices ao tráfico.

"According to U.S. officials, corruption within the Venezuelan National Guard poses the most significant threat because the Guard reports directly to President Chávez and controls Venezuela's airports, borders, and ports," the GAO said.
De acordo com US Officials a corrupção na Guarda Nacional Venezuelana torna-se a mais significante ameaça e esta Guarda se reporta diretamente ao presidente que controla aeroportos, fronteiras e portos.


The leaders at the summit today are going to talk about their war on drugs.
Os líderes do encontro de cúpula falarão sobre guerra contra as drogas.

Perhaps Mr. Calderón and Mr. Obama will tell us why they are backing an ousted Honduran politician whose supporters make common cause with drug-trafficking terrorists.
Talvez Calderón e Obama possam nos dizer porque estão dando apoio a um político deposto que apóia a causa dos terroristas traficantes de drogas.

All North Americans deserve an explanation.
Todos os norte-americanos merecem uma explicação.

O pré-sal e o etanol

O artigo abaixo merece ser lido, pois é um grande especialista que fala.
Há muitas informações importantes e uma ótima, apesar de breve, revisão histórica de nossa matriz energética de combustíveis.
A questão se dá na capacidade de geração de emprego na cadeia produtiva do petróleo e, jamais nos esqueçamos, seus derivados.
Também significa uma maior, muito maior, capacidade de arrecadação que, apesar dos bolsas da vida, tem sido positiva para a sociedade como um todo.
Precisamos ainda, deslanchar o PAC, independente de que governo da vez chega, para levar desenvolvimento para o interior do país e diminuir a desigualdade social e, em última análise, a insegurança pública, pois indivíduo ocupado, com moradia fica fora das ruas, pelo menos em tese.
a matriz energética precisa ser conhecida da sociedade, do povo brasileiro.
Não é corrente, lamento que muito de meus clientes deletarão a msg sem abrí-la, conforme muitos já me tem confidenciado, todavia estou fazendo minha parte na cidadania.

VAMOS ACOMPANHAR NOSSA MATRIZ ENERGÉTICA!!!



O pré-sal e o etanol

Adriano Pires e Rafael Schechtman


http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090924/not_imp440034,0.php

Ao longo dos anos, o setor de energia no Brasil tem sido vítima de uma política de planejamento de curto prazo. No primeiro choque do petróleo o governo lançou o programa nuclear, a "dieselização" da frota de veículos pesados por meio do subsídio tributário do diesel, o programa de óleos vegetais, o programa de carvão vegetal e a primeira fase do Proálcool, com a obrigatoriedade de misturar álcool anidro à gasolina. Tudo isso para diminuir o consumo de petróleo, já que na época o problema do País era o déficit na balança comercial.

Já no segundo choque, em 1979, as políticas de substituição foram aprofundadas com o lançamento do álcool hidratado para substituir a gasolina e o programa de eletrotermia, que visava a substituir o consumo de óleo combustível no setor industrial por eletricidade. De todos esses programas, o mais inovador foi o Proálcool. Durante a década de 1980, mais de 90% dos carros novos vendidos no Brasil eram a álcool. A partir de 1986, com a queda do preço do petróleo, no fenômeno conhecido como o contrachoque do petróleo, o álcool hidratado perdeu mercado para a gasolina e quase desapareceu. Bastou o preço do barril despencar para que os programas de substituição de petróleo sumissem do planejamento energético brasileiro, à exceção do programa de "dieselização".

Com a chegada ao mercado dos carros flexfuel e o aumento do preço do petróleo, o álcool, agora chamado de etanol, ressurgiu com toda a força como substituto da gasolina. Os veículos flexfuel já representam 94% das vendas de carros novos. E a receita do sucesso é simples: com a nova tecnologia o consumidor é que dá as cartas, escolhendo o combustível que lhe for mais vantajoso. O crescimento das vendas de etanol tem sido tão forte que já se afirma que a gasolina é que será o combustível alternativo ao etanol.

O crescimento do consumo do etanol e o uso do bagaço de cana na geração de energia elétrica conduziram o Brasil a aumentar, ainda mais, a participação das fontes renováveis em sua matriz energética. Isso até serviu para o governo brasileiro propagandear aos quatro cantos do mundo que o País representava a vanguarda no uso de fontes renováveis de energia. E parecia que era mesmo verdade. Mas eis que no final de 2007 surgiu o anúncio da descoberta de petróleo na camada pré-sal e o governo mudou o seu discurso. Existe a possibilidade de o pré-sal mudar o rumo da matriz energética brasileira? Parece que sim.

Não há dúvida que as descobertas de petróleo na camada pré-sal são notícia alvissareira, mas podem levar a um retrocesso na matriz energética nacional. O anúncio da construção de seis refinarias pela Petrobrás para processar o petróleo produzido ameaça o etanol e as demais fontes renováveis, pois a promessa do governo de que os derivados produzidos serão exportados pode não ser cumprida. O mercado mundial de derivados apresenta sazonalidades no consumo e volatilidade de preços e há sempre o risco de essas refinarias passarem por momentos de ociosidade. Nessa situação, pode ser mais interessante para a estatal inundar o mercado interno com derivados a preços artificialmente baixos, trazendo enormes prejuízos aos investidores em etanol. Essa ameaça se torna ainda mais concreta se houver políticas governamentais populistas de subsídios aos derivados, o que não é raro no Brasil.

Um primeiro sinal de que essa ameaça não é uma paranoia de ambientalista é a possibilidade de o governo autorizar a utilização de diesel em veículos leves. Já tramita no Senado projeto de lei que trata da matéria e, recentemente, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, declarou haver um grupo no Ministério estudando o assunto. E onde há fumaça, termo perfeito em se tratando de diesel, há fogo. A proposta é descabida, por diversas razões. A primeira reside no fato de o País importar diesel e a sua autossuficiência plena estar prevista somente para a partir de 2015. A segunda razão é que o diesel tem subsídio tributário, ou seja, sofre tributação de 23%, inferior aos 44% da gasolina automotiva. A terceira razão é ambiental e está diretamente relacionada à qualidade do diesel e dos motores que o utilizam no Brasil. O teor de enxofre do diesel brasileiro é 180 vezes maior que o do produto utilizado nos países desenvolvidos, o que impede até mesmo o uso de filtros e catalisadores eficientes nos veículos. Isso significa maior emissão de poluentes: mais partículas, gás carbônico, óxidos de enxofre e óxidos de nitrogênio do que a gasolina e o etanol. O uso do etanol evita cerca de 70% da emissão de gás carbônico do diesel.

Os defensores da medida alegam que nos países europeus o diesel é mais utilizado do que a gasolina. Mas lá a qualidade do diesel é comparável à da gasolina e a tecnologia dos motores utilizados faz os nossos veículos poderem ser considerados dinossauros poluentes. E se há algo pior para o meio ambiente do que um motor a diesel obsoleto, é um motor a diesel desregulado, o que é a regra, e não exceção, no Brasil. Como se não bastasse tudo isso, o carro a diesel é 20% a 30% mais caro que um veículo a gasolina ou flexfuel. Melhor seria para o País a utilização de etanol em veículos pesados ou sua adição ao diesel.

Muitos especialistas já alertam sobre o perigo de o Brasil contrair a chamada doença holandesa, com a inundação de dinheiro na economia que pode vir da produção do petróleo da camada pré-sal. Outra doença tão ou mais grave, porém, é o País retroceder e sujar sua matriz energética ao inviabilizar as fontes renováveis, como o etanol. Faz todo o sentido e merece atenção a faixa de protesto exibida na cerimônia de lançamento dos quatro projetos de lei do pré-sal - "Pré-sal e poluição: não dá pra falar de um sem falar do outro."

Adriano Pires e Rafael Schechtman são diretores do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Notas sobre Honduras

A mídia não está esclarecendo adequadamente os leitores acerca do caso Honduras.
O segundo país mais pobre do continente é extremamente dependente dos EUA em sua economia cujos principais produtos são elaborados em outros países de forma mais econômica e competitiva.
Há um fator lá que torna o desenvolvimento mais difícil, a forte presença de guangues de rua (maras e pandilhas) que são uma infra-estrutura de crime organizado extremamente eficiente que domina os distritos em volta da montanhosa região e país.

Com um número muito aquém de suas necessidades em transporte e energia, dado, principalmente por característica topográfica do país, o desenvolvimento ou presença do Estado no interior se dá em função de negociação com guangues ou com líderes campesinos.

Nesta seara é que Chavez encontra apoio para projetar seu poder bolivariano e estranhamente a mídia nacional e americana não vem ressaltando este fato.
a projeção de Chavez na bacia caribenha a partir dali e Nicarágua ajuda a entender um pouco desse repentino alinhamento do presidente hondurenho de direita que se alinhou com as ferramentas revolucionárias, nelas inclusas as guangues.
Sua intenção, uma vez que não é banhado pelo pacífico, é atingir aquele mercado tendo como prepostos a Nicarágua e Honduras, caso Zelaya prevaleça. E o mercado pacífico é um senhor diferencial nesta questão estranhamente não bem avaliada.
Imaginem, a partir de uma simples olhada em um atlas geográfico, como ficaria o quadrilátero Venezuela, Cuba, Nicarágua e Honduras em termos de vista grossa para a enorme quantidade de crimes veiculados pelo mar do Caribe, dentre eles tráfico de drogas, armas, dinheiro, e, o mais perigoso e pouco falado, contaminação da fauna e flora marítima como medida de deterrência.
Não se deve esquecer nesta análise, a enorme quantidade de navios cargueiros que se utilizam do Canal do Panamá, isso tudo ladeando a enorme costa colombiana.
Como disse, é mais complexo o assunto e sua projeção e estão sendo tratados com impressionante amadorismo pela mídia nacional.

Quanto aos EUA estou, de fato, curioso, pois a região tem o que os americanos temem e gastam muito para combater: tráfico de armas, drogas, crime organizado e lavagem de dinheiro e, pela defesa de Chavez às FARC's dá para ver quem teria cacife para orquestrar uma grande conjunção de todos estes fatores.

Quanto a nossa mídia dá para se entender como nós militares somos de aceitação reticente em nossa sociedade, pois ainda não temos uma mídia isenta, pois o evento de Honduras que claramente fere aquela constituição é por eles considerado golpe, uma vez que este golpista foi eleito democraticamente. Só que se tem um detalhe a não ser esquecido: Chavez, também foi eleito democraticamente, da mesma forma Hitler e Mussolini.
Enfim...




Brasil e EUA não devem aceitar golpe em Honduras, diz Lula

Após o retorno de Zelaya, presidente diz em NY que países não cederão ao governo interino de Honduras


terça-feira, 15 de setembro de 2009

O Rafale, os trinta dinheiros e o inimigo íntimo.

Guerras são fenômenos naturais que ocorrem entre sociedades. Uma dinâmica difícil de se entender. É imprevisível e não tem apelo ao bom senso da convivência. Guerras existem na humanidade em função do poder.

Por ser imprevisível ela não é desejada, pois empobrece todos os lados, em vidas e patrimônio. Ela é uma ação continuada a partir do momento em que a diplomacia se esgota. Atente-se, contudo, que diplomacia não significa cortesia ou fidalguia. A diplomacia é a fina e sutil arte de se impor o poder.

Muito se considera antes de se prosseguir na ultrapassagem da linha final onde a seara da diplomacia já não cabe mais no contexto estratégico.

Como a guerra, as batalhas e embates entre infantarias são imprevisíveis. Meteorologia, logística, religiões, crenças, fundamentalismos, dentre outros, são fatores que, ao longo dos tempos, preocupavam, sobremaneira, generais e cortes antes de determinarem a eclosão dos confrontos.

Essa interface entre a diplomacia e a guerra era trabalhada à exaustão, durava até anos. Esse era o período das ações sub-reptícias. Esgotavam-se opções e propostas feitas por embaixadores, emissários e arautos no intuito de se fazer uma propaganda convincente sobre as competências e poder do invasor. Procurava-se tornar, até, a invasão desejável. A dominação viria sem se disparar um petardo sequer.

Nem sempre, contudo, a sociedade a ser subjugada dobrava-se ante aqueles contumazes argumentos. Nesse impasse entrava em cena, então, outros atores mais discretos que se misturavam entre os cidadãos comuns iniciando um sutil, demorado e eficiente trabalho de descrédito e desqualificação dos governantes e seus prepostos. A diplomacia desnudava, assim, seu perfil de vilania, pois operava nos estratos mais baixos da sociedade, nas vilas, povoados e guetos.

De forma ardilosa e eficiente identificavam artistas, poetas, trovadores, pintores e mestres das letras e com fartos recursos à sua disposição, começavam a cooptação dessa plêiade privilegiada que, por sua penetração nas camadas da sociedade, minavam o apoio popular para o embate bélico possibilitando a conquista por imposição de termos em favor do invasor. Nenhuma flecha, nenhum petardo ou tiro era disparado e a conquista se dava em curso natural dos fatos.

Avançando no tempo recordo-me de minha juventude quando a Transamazônica tinha a alcunha de ser “megalomania dos militares”. Ouvia isso em entrevistas, programas de rádio e peças teatrais. Pois é, isso era liberdade de expressão naquela época, caso contrário como saberia disso, não é verdade?

Tendo seus projetos de mídia financiados por prepostos da Fundação Rockfeller, artistas e atores, embalados pelos ventos da Revolução Cultural de 1968, criticavam publicamente um importantíssimo projeto de integração e de desenvolvimento social e econômico.

As críticas vindas dessas pessoas do gênero não permitiam que a sociedade compreendesse um projeto concebido por cientistas e especialistas de alto nível, todos civis, e executado, apenas executado por militares.

Perdeu a Nação o momento oportuno de integrar o país. Imaginem-se hoje, as regiões nordeste, centro-oeste e norte desenvolvidas e interligadas ao país pela Transamazônica? Já poderíamos, há mais de trinta anos, estar participando do mercado asiático. Novamente ganharam os artistas, atores, cidadãos politicamente corretos e gente do gênero, perderam a sociedade e o país.

Não bastasse esta derrota sutil sem batalha, as táticas avançaram no tempo e na sofisticação. Os prepostos do conquistador evoluíram de companhia de evangelização indígena e fundações de apoio à cultura, integradas à Fundação Rockfeller, até ganharem um nome pomposo: Organização Não Governamental.

Sob bandeiras ideológicas e funcionais diversas tais emissários atuaram com sutileza e eficiência ao mobilizar pessoas do gênero para se inviabilizar a ferrovia Norte-Sul que colocaria, de forma competitiva, nossa soja, feijão, trigo, milho e outros produtos agrícolas para o Mercado do Caribe –CARICOM- e asiático, este através do Canal do Panamá.

Para serem aceitos os motivos para tal ação têm que estar na zona de conforto do cidadão e mobilizá-lo para empatar grandes projetos: meio-ambiente, direitos humanos, sustentabilidade, direitos indígenas etc.

Nesse propósito, o imbróglio da Raposa da Serra do Sol tirou das gerações futuras a capacidade de usufruir as riquezas naturais e minerais. A partida dali, o acesso e o controle estrangeiros de fartas parcelas da água da Bacia Amazônica será uma questão de tempo. Novamente, por intermédio de pessoas de densidade social fizeram um trabalho primoroso.

Não bastasse a ajuda de cidadãos nacionais em interesses externos em nossa Amazônia, nossa matriz energética sofreu alguns percalços ainda sob a égide do meio-ambiente ao se ter, novamente, ONG’s e seus prepostos brasileiros impedindo, via judicial, a construção das usinas no Rio Juruá. O risco do apagão elétrico e o alto custo da energia elétrica paga pelos demais para compensar a insipiência do setor nas regiões mais distantes ganhou novo fôlego com tais ações politicamente corretas. O alto custo dos serviços e produtos oriundos das regiões sul e sudeste, vértices de nossa matriz produtiva, dependente, sobremaneira, dessa cara energia será mantido por muito tempo até que tais amarras jurídicas permitam um projeto de médio e longo prazo tenha consecução sem sobressaltos.

Por fim, o caminho para sufocar nosso avanço tecnológico em telecomunicações e transmissão de dados surgiu de forma muito discreta em meio à dissimulação de uma pretensa crise no Senado. O principal especialista da Agência Espacial Brasileira foi exonerado. Não se tem idéia ainda se sob influência de ONG’s, todavia o risco está nelas entenderem que os quilombolas têm direito ao acesso à natureza intocável ao redor do Centro de Lançamento de Alcântara. Perderemos, se nisso também cochilarmos, a capacidade de ampliar e baratear, sobremaneira, nosso acesso à telefonia e telecomunicações com lançamento ao espaço de foguetes e satélites domésticos. Poderíamos, até, em médio prazo, deixar de ser dependentes de tecnologias de sistemas de posicionamento de superfície.

Novamente a ideologia funcional e objetiva pode encontrar em nossos cidadãos, por intermédio da gente do gênero, ecos e estofo para empatar nosso avanço rumo ao desenvolvimento.

Passam-se anos, séculos, sociedades evoluem mas as estratégias de dominação ensejada em essência, continua a mesma: A cooptação, irresistível e desejada.

As ONG ao longo dos anos vêm acenando, como Pilatus, para nossos escariotes com trinta moedas de outro. Nosso sentimento de nação em busca do desenvolvimento -uma já difícil visão compartilhada- fez o papel do nazareno, entregue em julgamento público para que a ignara escolher se o Barrabás, aquele que personifica nosso “probrismo”, nosso autofágico sentimento de inferioridade, deveria viver em detrimento de um ícone, de um pensamento comum. Vencem, uma vez mais, a acomodação e a omissão.

Fala-se, ultimamente, na aquisição de um avião de superioridade aérea para defender nossa soberania, quem sabe um Rafale. Talvez, até, nem precisasse tanto, bastaria um monomotor “papatango”, pois o nosso verdadeiro inimigo não está além fronteiras. Ele é íntimo.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O Livreiro de Cabul

Amigos, o motivo pelo qual estou indicando este excelente livro é o de dar sequência ao assunto mostrado no filmete acerca de islamismo.
Li, com avidez, os quatro livros desta autora, os três últimos no início deste ano, 2009.
O ponto em comum que fica nítido é como o islamismo interfere na dinâmica de desenvolvimento social de uma dada parcela da sociedade.







Esse resumo roteiro é bem abrangente acerca do Livreiro de Cabul.
O livro não me chamou muito a atenção enquanto estava no Brasil, mas depois de estudar acerca do Oriente Médio no curso que fiz ano passado, e vir acompanhando a evolução dos acontecimentos no Iraque, Afeganistão e Paquistão, passei a me interessar após conversar com uma grande amiga em visita à minha casa este ano.
Sugiro a leitura, por ser agradável, fácil e cheia de expectativas.
Ele é fundamental para se começar a entender a complexidade de sociedades, em pleno século XXI, comparadas às dimensões de igualdade de direito das mulheres, direitos humanos e exclusão social.
Por mais adiantado que o mundo possa estar parecendo com, inclusive internet lida pelas mulheres daqueles países, os comportamentos descritos no livro são verdadeiros e até pujantes, ou seja, acesso à informação e aos avanços do mundo contemporâneo não aprofundizam os ecos das relações humanas.
Vale conferir.



O Livreiro de Cabul mostra a dor da mulher afegã
Agência Estado
A jornalista norueguesa Asne Seierstad não é a primeira mulher - ocidental ou oriental - a denunciar as humilhações sofridas pelas mulheres afegãs, mas seu segundo livro, O Livreiro de Cabul, lançado há três anos lá fora e só agora publicado no Brasil, pela editora Record, fez um barulho bem maior que a média. Já foi traduzido em 30 países, vendeu mais de 2 milhões de exemplares e não deve demorar muito para atingir o patamar de O Caçador de Pipas, de Khaled Hosseini. Mas, ao contrário do escritor afegão, Asne não trilha um caminho lírico para chegar lá. Força de hábito. Filha de um cientista político e de uma feminista, ela é correspondente de guerra. Não esquece disso nem por um minuto.

Aos 36 anos, loira, alta e bonita, Asne enfrentou uma batalha judicial por seu best-seller. O autor do processo contra ela foi justamente o homem que a acolheu de braços abertos em sua casa, em Cabul, há quatro anos, quando decidiu acompanhar durante quatro meses o cotidiano de uma família afegã. Determinada a descrever o que viu, ela decidiu transformar a reportagem num relato literário, mudando os nomes dos personagens reais como forma de preservar o livreiro de Cabul, Shah Mohammed Rais, e sua família. Não adiantou. Rais, chamado de Khan no livro, foi aos tribunais exigir reparação.

Motivos ele tem de sobra. Após a leitura, resta pouco da imagem do livreiro liberal que ela conheceu em 2002, após passar seis semanas no deserto próximo à fronteira do Tajiquistão, nas montanhas do Hindu Kush, em novembro de 2001. Quando o Talibã caiu, Asne Seierstad foi com a Aliança do Norte para Cabul. Lá conheceu o livreiro Shah Mohammed, que, segundo ela, era "um homem elegante e grisalho, dono de uma livraria que tinha as prateleiras abarrotadas de obras literárias em muitos idiomas".


Grisalho ele continua a ser, mas a impressão de elegância foi sendo substituída, dia após dia, pela constatação de que Shah Mohammed Rais não era muito diferente dos opressores talibãs do qual ele mesmo foi vítima. Primeiro foram os comunistas que queimaram seus livros. Depois, foram pilhados pelos mujahedin para, logo em seguida, serem novamente queimados pelos talibãs. O livreiro foi preso e aproveitou o tempo que passou atrás das grades para estudar a história do Afeganistão. Em 1992, durante os ataques dos muhajedin, ele buscou refúgio no Paquistão e, ao voltar, viu sua livraria destruída, assim como a biblioteca nacional de Cabul. Comprou livros raros por uma bagatela, escondeu mais de 10 mil volumes num sótão e, hoje, vive muito bem, graças à ignorância alheia.


Segundo a escritora norueguesa, o livreiro, formado em engenharia, foi muito "democrático" e educado ao abrir sua casa para que ela lá passasse uma temporada. Asne reconhece que o seu personagem Sultan Khan - para usar o nome-fantasia - está longe de ser o representante fiel do fundamentalista afegão, mas identifica nele quase todos os traços de um chauvinista típico, mantendo suas duas mulheres e cinco filhos sob linha dura.


Escondida sob a burca, a jornalista norueguesa viu mais do que poderiam suportar seus olhos. Viu viúvas - que dependem de ajuda internacional para sobreviver - serem exploradas sexualmente, viu o filho adolescente do livreiro ser obrigado a trabalhar mais de 12 horas e impedido de estudar - por um pai livreiro e culto -, uma adúltera ser sufocada por seus três irmãos e, como se não bastasse, a humilhação da primeira esposa do livreiro depois de um novo casamento do marido com uma garota de 16 anos. Sultan Khan, ou Mohamed Ris, era, enfim, um tirano.


Asne, cansada de usar a burca, livrou-se dela para escrever o livro. Esqueceu a discrição e narrou, por exemplo, o que viu num balneário público freqüentado pela mãe do protagonista. Também aproveitou para contar como os filhos do livreiro abusavam de crianças miseráveis que pediam esmolas nas ruas. O livreiro, naturalmente, não gostou do que leu. Exigiu dela uma indenização por danos morais. Asne não se abalou. Descobriu com o livro que não é uma relativista. Sabe que a cultura afegã é bem diferente da norueguesa, mas diz que "uma mulher é uma mulher, sofre do mesmo jeito, seja no Afeganistão ou na Noruega". Se um homem bate numa mulher na Noruega, argumenta, vai para a prisão. Já no Afeganistão, autonomia e dignidade são duas palavras que não cabem no vocabulário de fundamentalistas quando relacionadas à condição feminina.


Depois de O Livreiro de Cabul, a escritora norueguesa já escreveu outro livro, 101 Dias, em que conta a invasão de Bagdá pelas tropas americanas. Ela foi um dos poucos jornalistas que permaneceram na cidade após o início do bombardeio. A despeito de continuar como correspondente de guerra, Asne está disposta a seguir os passos dos pioneiros do "new journalism". Escolheu como tática um cruzamento híbrido entre jornalismo e literatura. Os leitores, a considerar as vendas de O Livreiro de Cabul, aprovaram.

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