sábado, 2 de junho de 2012

A internet avança com desigualdade

Correio Braziliense 


Levantamento divulgado pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil mostra que cada vez mais brasileiros têmacesso à rede mundial de computadores. No entanto, o percentual de uso é muito menor nas classes D e E, na zona rural e nas regiões Norte e Nordeste   Seja para comprar, se comunicar e se informar, ou mesmo para lazer, é difícil imaginar o mundo hoje sem a rede mundial de computadores. Contudo, o acesso à internet ainda não está disponível para grande parte dos brasileiros.

A Pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação no Brasil (TIC-Domicílios), divulgada ontem pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), mostra que, embora o acesso ao mundo digital venha se democratizando no país, a maioria das casas continua desconectada.

De forma geral, os dados apresentam uma melhora significativa.

O índice de domicílios com computador cresceu de 35% para 45% entre 2010 e 2011, enquanto as casas com internet passaram de 27% para 38%. No entanto, o crescimento ainda é desigual: brasileiros do Norte e do Nordeste e moradores da zona rural ainda estão na lanterna da inclusão digital.

Culpa da falta de infraestrutura e dos altos preços, que tornam a conexão brasileira lenta e cara.

Assim, o levantamento aponta que o acesso à tecnologia, em especial àweb, reflete as desigualdades e os problemas sociais do Brasil. "Na classe A, vivemos uma realidade em que a internet é praticamente universalizada. Enquanto isso, nos grupos D e E, é quase inexistente", apontaMarcelo Barbosa, gerente de Pesquisas doCentro de Estudos sobre asTecnologias da Informação e daComunicação (Cetic.br), entidade responsável pela pesquisa divulgada peloCGI.br. Enquanto, no grupo mais rico, o acesso está presente em 96% dos domicílios, entre os mais pobres, esse percentual despenca para 5%. A velocidade da conexão de ricos e pobres também é profundamente desigual: 25% dos usuários da classe A mantêm uma conexão de mais de 8Mbps, velocidade disponível a apenas3%dos cidadãos das classesDe E.

O estudo revela também que, aos poucos, os tradicionais computadores de mesa estão sendo deixados de lado, dando lugar às máquinas portáteis. Enquanto 5% dos lares ganharam desktops em 2011, em 10%, a escolha foi pelos notebooks. "Outro crescimento marcante foi o das conexões 3G, que nos últimos três anos têm se mostrado uma ferramenta importante para levar a internet a mais pessoas", comenta Barbosa.Mais prático e simples, o modelo no qual um modem móvel é ligado ao computador ultrapassou, pela primeira vez, as conexões discadas, aquelas mais simples, com tráfego lento. O 3G pulou de 10%, em 2010, para 18%, no último ano, ao passo que as conexões discadas caíram de 13% para os 10% de 2011. "Embora lento, notamos também um aumento das conexões mais rápidas, que utilizam mais de 5Mbps", completa.

Problema social Opesquisador daUniversidade deBrasília (UnB)MarcelloBarra explica que as distorções do mundo off-line são as mesmas que se apresentam no ambiente virtual. "Ogrande problema da internet no Brasil é o preço. Os computadores custam muito, e a conexão está entre as mais caras do mundo. É considerada classe média uma família cuja renda per capita varia de R$ 291 e R$ 1.019, o que torna inviável para grande parte das pessoas (adquirirumcomputador com acesso à rede)", afirma o especialista em sociologia da internet. Segundoa pesquisa divulgada ontem,70%dos entrevistados que não têm computador em casa apontaramo custo elevado como a principal causa para a ausência do equipamento. Entre os que não têm internet, o preço foi a razão indicada por 48%.

Para esses, uma das saídas mais procuradas são as lan houses, fonte de acesso de 28% dos internautas brasileiros—atrás apenas da casa e do local de trabalho, com 67% e 29%, respectivamente.

"Durante os últimos anos, especialmente nas regiões de periferia das grandes cidades, esse foiummodelo que se mostrou bastante utilizado, mas nos últimos anos já mostra sinais de esgotamento", alerta o especialista daUnB. A razão é a falta de infraestrutura para a expansão do negócio.Basicamente, as regiõesemque se poderia instalar lan houses já as têm.Onde falta o serviço, não há rede disponível", informaBarra.

Além dos preços, a infraestrutura é apontada como outro grande gargalo da web brasileira. "As regiõesNorte eNordeste são como um país à parte. A diferença em relação ao resto do Brasil é muito grande", conta Alexandre Barbosa, do Cetic. Enquanto no Sudeste 49%, ou seja, quase metade das casas, estão conectadas, apenas21%dos lares nordestinos e22%dos nortistas têm acesso à rede mundial de computadores. "Essa diferença é fruto, em grande parte, da falta de redes nessas regiões", completa.

Fenômeno semelhante, mas ainda mais grave, ocorre na zona rural. Das fazendas e dos sítios espalhados pelo Brasil, apenas 10% contam com acesso às facilidades do mundo virtual.

Apesar do crescimento de mais de 66,5% em relação a 2010, quando apenas 6% dos lares rurais estavam conectados, o percentual ainda é baixíssimo. "Na zona rural, a situação está ainda muito longe do ideal. Por lá, o problema maior é a falta de rede.

Em muitos casos, embora a família possa pagar pela internet, ela não está disponível", lamenta Barbosa.
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