EDITORIAL
O Estado de S.Paulo
Com atrasos em todas as frentes, as obras necessárias para a realização da Copa do Mundo de 2014 estão em pior situação justamente no setor em que mais poderão beneficiar os brasileiros quando forem concluídas: o de transportes coletivos e de melhoria do sistema viário nas áreas próximas dos estádios em que haverá jogos e nas ligações dos centros urbanos a aeroportos e locais de jogos.
Bilhões de reais em recursos públicos ou financiados pelo poder público para a construção ou reforma de estádios - que, em muitos casos, serão administrados por clubes privados - têm sido justificados com a programação de obras que ficarão como legado social da Copa, pois, encerrada a competição, beneficiarão a população. São as obras chamadas de "mobilidade urbana e trânsito". Mas, no que a programação para a Copa tem de mais positivo para os brasileiros em geral, o quadro é o mais negativo de todos.
São conhecidas as deficiências técnicas do governo do PT, o que explica o atraso dos projetos federais na área de infraestrutura, inclusive urbana, mas, no caso das obras necessárias para a realização de jogos da Copa em São Paulo, as administrações municipal e estadual parecem ter sido contaminadas pela incapacidade administrativa. Projetos e iniciativas anunciados há mais de um ano mal saíram do papel e já estão paralisados, ou, como justificou ao Estado (9/6) um órgão municipal, estão "parcial e temporariamente interrompidos".
Entre outros projetos parados ou que nem começaram na zona leste da capital apontados pelo jornal estão acessos a Itaquera, onde o Corinthians constrói o estádio que receberá o jogo de abertura da Copa. Estão abandonados os canteiros das obras da nova faixa da Avenida José Pinheiro Borges (extensão da Radial Leste), de dois viadutos entre Itaquera e Guaianazes, de túneis e de canalização de um córrego. O prazo de entrega dessas obras é fevereiro de 2014.
Lançado em abril do ano passado pelo governador Geraldo Alckmin, um pacote de melhoria do sistema viário da região - incluindo alças de ligação entre as Avenidas Jacu-Pêssego e José Pinheiro Borges e duas novas avenidas - deverá estar concluído em junho de 2013, mas nada ainda foi feito. O novo prazo de conclusão é janeiro de 2014.
Isenções tributárias para empresas que se instalarem na região - medida aguardada com ansiedade por empreendedores e pela população local, pois dinamizará a economia local e permitirá a abertura de muitos postos de trabalho - foram aprovadas em 2004, mas, até agora, nenhum empreendimento foi beneficiado.
Muito pior é a situação das obras programadas pelo governo e que integram a matriz de responsabilidades da Copa, o que lhes garantiria facilidades de execução, se fosse cumprido o cronograma. Está prevista a aplicação, até 2014, de cerca de R$ 12 bilhões do governo federal em obras de "mobilidade urbana" nas cidades que sediarão jogos da Copa, mas, até o ano passado, apenas 2% desses recursos tinham sido utilizados.
Balanço divulgado há cerca de três semanas pelo governo federal mostra que a situação pouco se alterou nos primeiros meses deste ano. A pouco mais de dois anos da realização do Mundial de Futebol, 23 de 51 obras programadas (ou 45% do total) ainda não começaram. Destas, 7 ainda nem têm projeto de execução.
Essas obras foram prometidas aos órgãos internacionais ligados aos esportes pelo governo brasileiro há cinco anos, quando o País foi escolhido para sediar a Copa de 2014. Apesar do tempo que passou, sua execução continua no mínimo duvidosa. O próprio governo já admite que, dado o atraso, algumas poderão se retiradas da matriz de responsabilidades da Copa.
"Em outubro, vamos ter um retrato muito mais sólido do que andou e do que não andou", disse ao jornal O Globo (9/6) o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, ao admitir que algumas obras poderão sair da programação da Copa - embora devam ser mantidas no PAC. Se isso ocorrer, não haverá surpresas, pois serão mais alguns atrasos num programa que tem como característica o atraso de suas obras.
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