sexta-feira, 29 de junho de 2012

RIO+20 E SEUS RASCUNHOS



EDITORIAL
JORNAL DO COMMERCIO (PE)


A Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, realizada no Rio de Janeiro, resultou mais uma vez na frustração típica dos encontros de cúpula. A reunião de chefes de Estado que fechou a Rio+20 foi marcada por discursos cheios de intenções, sem tradução concreta em compromissos tangíveis. Para piorar, o documento final, elaborado pelas delegações que anteciparam as comitivas presidenciais, depois de perder a ênfase desejada, resumiu-se a um texto generalista, desprovido de metas e sem sinais de que os países assumem, a partir de agora, qualquer tipo de decisão para tentar reverter a crise ecológica que ameaça a biodiversidade do planeta, exaure os recursos naturais e coloca a humanidade em risco. 
Embora tenha festejado o evento com entusiasmo e exagerada benevolência, o governo brasileiro não sai incólume do fracasso e das críticas feitas ao Rascunho Zero, o documento que os chefes de Estado apenas corroboraram, salvo raras exceções. Cabia ao Brasil uma posição mais firme na defesa de uma mudança real, que implicasse em um programa de passos digno de otimismo compartilhado por todos, e não no otimismo de fachada para as câmeras de televisão. “Ficamos aquém de nossas responsabilidades”, declarou o recém-eleito presidente da França, François Hollande, com razão. E mais do que todos, o governo anfitrião ficou devendo honrar a responsabilidade da liderança, preferindo receber o aplauso unânime pelo esforço na construção dos consensos gerais, do que insistir em iniciativas ousadas que dificilmente escapariam da discordância necessária aos avanços, de fato, importantes.
Mas a sociedade brasileira não amarga apenas o gosto da oportunidade perdida pelo governo Dilma Rousseff. A Rio+20 mostrou claramente a distância entre o nível elevado e quase inútil das formulações diplomáticas e o chão das experiências valorosas que não podem ser desperdiçadas. As manifestações populares que aconteceram todos os dias da semana passada no Rio de Janeiro, bem como os intensos debates nos eventos paralelos, e as parcerias firmadas, provaram que o povo está cada vez mais adiante de seus representantes. Se uma agência de governança global dentro da ONU continua um sonho distante, se o financiamento da sustentabilidade ainda não alcançou o patamar esperado nas burocracias nacionais, resta da Rio+20 a satisfação de ver prefeitos, empresários, ambientalistas, cientistas e outros setores da sociedade de mãos dadas pelos objetivos comuns que não são assumidos pelos países que compõem as Nações Unidas.
Até o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, foi obrigado a afirmar o óbvio, ao lembrar aos signatários do documento final da conferência que o modelo antigo de desenvolvimento está falido. Ecoando as entidades não-governamentais e a repercussão negativa da inação dos líderes, ele disse: “O recurso mais escasso de todos é o tempo, e não podemos mais nos dar ao luxo de adiar decisões”.
Ou fazemos agora o rascunho do futuro, ou penalizamos irredutivelmente as próximas gerações.
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