quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Lama na toga

Um tema importante para ser acompanhado por todo e qualquer segmento da sociedade civil organizada, principalmente para os entes corporativos.
Tudo o que decidem afeta, de forma substancial, para o bem ou para o mal, todos, absolutamente todos, na sociedade brasileira.


Lama na toga
 LUIZ GARCIA
O GLOBO 


Juízes devem ser imparciais. Quando aceitam presentes de cidadãos interessados em conquistar a sua boa vontade, a imparcialidade é ameaçada. Essa é uma afirmação aparentemente tão óbvia que deve espantar o leitor a necessidade de fazê-la. No entanto, é preciso registrar, com esperado aplauso da plateia, o fato de que só agora o Conselho Nacional de Justiça está agindo para impedir ações e situações que criem benefícios de qualquer natureza para magistrados, em óbvias tentativas de conquistar a sua boa vontade. 

Há poucos dias, o ministro Francisco Falcão, corregedor do CNJ, propôs ao plenário que proíba o patrocínio, por empresas privadas, de congressos e quaisquer outros eventos de magistrados. É lamentável que essa medida seja necessária, já que a Constituição já proíbe aos juízes aceitar presentes de quem quer que seja. E isso tem acontecido. No fim do ano passado, a Associação Paulista de Magistrados, numa festinha de confraternização, sorteou brindes aos juízes.

E não eram presentinhos: incluíam passagens para cruzeiros e um automóvel. O leitor pode decidir se os generosos doadores gastaram seu dinheiro por singela e desinteressada admiração pela toga, ou se estavam simplesmente fazendo um investimento na boa vontade dos tribunais. 

É saudável e meritório que a indignação com esse, digamos assim, investimento dos doadores tenha partido do próprio Judiciário. A proibição proposta pelo ministro Falcão, no entanto, não foi ainda aprovada: um pedido de vista do ministro Carlos Alberto Reis de Paula interrompeu a votação. 

Além disso, três entidades que representam juízes reclamaram por não terem sido consultadas: defendem o patrocínio e pediram que o assunto seja aberto a nova discussão. Pode-se desconfiar que seja uma tentativa de atenuar a iniciativa moralizadora de Falcão — ou de colocá- la em banho-maria indefinidamente. 

Há um precedente negativo: há pouco tempo, a então corregedora do CNJ, Eliana Calmon, tentou proibir os patrocínios provados de eventos e festinhas de juízes, mas seus companheiros no conselho derrubaram a sua proposta. A opinião pública gostaria muito de conhecer os argumentos usados para isso. Falcão pode ter certeza de que a turma da arquibancada torce por ele e por Eliana.
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