EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE
É inaceitável recorrer ao bloqueio de estradas como forma de protesto. Não há dia em que grupos movidos por esta ou aquela causa não interrompam vias públicas, tornando banal o preocupante espetáculo de longas filas de carros, ônibus e caminhões. Em consequência, o transtorno se instala. Mercadorias deixam de ser entregues, trabalhadores não chegam ao destino, estudantes faltam às aulas.
O abuso chegou a tal ponto que cria situações só imaginadas em narrativas de ficção. Na quarta-feira, associados da TelexFree fecharam os acessos ao Aeroporto de Brasília. Durante duas horas, as vias que levam ao terminal ficaram congestionadas. Passageiros precisaram abandonar táxis ou veículos privados para não perder o voo. Seguiram a pé com a respectiva bagagem.
Paradoxalmente, a mobilidade urbana foi o pivô que levou milhares de brasileiros às ruas de cidades dos quatro cantos do país. No início, a multidão protestava contra o aumento das tarifas. Depois, contra a má qualidade do serviço. O descontentamento coletivo procede. O trânsito não poupa ricos nem pobres. Uns e outros tornaram-se vítimas da insensibilidade, negligência e falta de planejamento governamental.
Sem transporte público adequado, os cidadãos perdem a esperança de melhoras no ir e vir. Quem se locomove de carro enfrenta tal congestionamento que mal consegue sair do lugar. Ao chegar ao destino, enfrenta a limitação de estacionamentos e a falta de segurança. Quem anda de ônibus ou metrô não tem sorte melhor. Além de viajar como sardinha por muitas horas, corre o risco de ficar no caminho.
A Constituição assegura o direito de ir e vir. Assegura, também, o direito de reunião e de expressão de ideias. Graças às garantias, o Brasil assiste, há mais de um mês, a manifestações de rua nos quatro cantos do país. Mobilizados pelas redes sociais, milhares de pessoas exibiram a cara de uma nação nova, jovem, surpreendente. Cartazes davam recados que sensibilizaram a população pela sintonia lograda.
O descaso com a saúde, que mata e sacrifica adultos e crianças, somou-se à baixa qualidade da educação, que dificulta a mobilidade social e rouba o futuro. Corrupção, segurança, impunidade, privilégios figuraram entre as mazelas de um país que não se preparou para crescer. Pacíficas, as passeatas receberam o aplauso da população. Vandalismos e outras violências mereceram o repúdio - o mesmo repúdio a que faz jus o bloqueio de estradas. Defensores de tais recursos desconhecem regra primária do convívio social: o direito de um acaba onde começa o do outro.
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